quinta-feira, 29 de maio de 2008

A espera

Está o país a aguardar o desfecho daquilo que se vai passar no PSD, por ocasião de mais umas eleições, estas também directas. Cansados de se não ver grandes alternativas, todos nós esperamos que, agora, se possa conseguir essa possibilidade. Portugal agradece, como é evidente.
Sem uma oposição credível, não há democracia que se preze. Não ganha o governo, nem os cidadãos podem estar descansados, quanto ao futuro, sobretudo.
Assim, no próximo sábado, talvez um bom fumo branco apareça na chaminé dos nossos ideais e das nossas esperanças, porque são graves, de uma forma cada vez mais aguda, os tempos que vivemos. Este facto, associado a muitos outros, obriga a que se saiba escolher, a sério.
Com várias propostas em cima da mesa, uma delas parece mais sólida que as restantes: oferece credibilidade, reforça contornos de social democracia, acerca-se dos necessitados e das camadas mais desfavorecidas, evidencia firmeza e serenidade, sabe dizer sim e não, mostra-se à altura de uma oposição que caldeia crítica construtiva com aplauso para as boas acções.
Tem idade e experiência, possuindo, também por isso, uma faceta especial: aquela que nos faz acreditar na força das convicções. Por paradoxal que pareça, é ali que está o futuro, o nosso futuro.

terça-feira, 27 de maio de 2008

O protesto das vacas

Nesta crise petrolífera, já não são apenas os seres humanos que berram por todo o lado, impotentes face aos efeitos dos preços altos do gasóleo e da gasolina, que lhes minam o ânimo e destroem a esperança. Também o gado bovino, cavalar e asinino começa a elaborar um caderno reivindicativo com os seus protestos, porque estes animais estão a ser chamados para trabalhos de que se tinham desabituado desde há muitos anos.
Com um sol tão negro, ei-lo que chega a todos, sem apelo nem agravo, desde as casas aos estábulos, ou mais popularmente, aos currais. Se o problema se espalha desta maneira, um pouco por todo o lado e situações, são verdadeiramente difíceis os tempos que estamos a atravessar.
Quando as vacas se não calam, juntando a sua à nossa voz, é certo que os contornos de tudo isto exigem medidas claras, decididas e eficazes : fechar os olhos é o pior dos caminhos.
Não sabemos o que fazer, mas somos de opinião que se não pode assobiar para o lado, por temermos que o desastre seja completo. Por ironia do destino, esta fase arrasadora abeira-se de todos nós no momento em que mais se apregoa a necessidade de se encararem de frente as questões ambientais.
Se o petróleo nos está a fazer estas mossas, talvez mais por acção dos homens que por sua culpa enquanto produto, é hora de se procurarem outras soluções. Mas, como isso demora imenso tempo, não podemos ficar à espera : antes da morte, é urgente actuar e isso só os governantes o podem fazer, que as leis do mercado se estão a revelar um desastre, uma catástrofe de dimensões incalculáveis.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Um cigarro, um cigarro apenas

Entre gestos pequenos( que podem ter até grande impacto) e aquilo que é verdadeiramente importante, optamos sempre por acolher esta opção em detrimento daquelas minudências.
Quando se morre aos milhares, em Nyanmar, por causa de um ciclone e aí se impede, governamentalmente, o socorro, quando, na China, se morre também aos milhares, em virtude de um terramoto, mas com pleno acesso internacional, em termos de apoios, quando, em Portugal, se morre aos bocadinhos, devido a um crescente mal estar e a uma acentuada carestia de vida, tendo como base os aumentos constantes e os cortes nos rendimentos, andamos todos entretidos com a bufarada de um cigarro, que o Primeiro-Ministro se lembrou de inalar.
Achamos que este facto, já confessado e com mostras de arrependimento, não pode passar em branco. Certo. Mas fazer disto um cavalo de batalha política, numa altura em que Portugal revê em baixa toda as suas finanças e economia, é arreliadora miopia.
Tanto mais grave isto é, se pensarmos que o próprio partido do arco do governo, também ele carregado de mazelas e problemas, que deveria estar atento às causas maiores, se entretém a invocar um cigarro, um cigarro apenas. É pena que assim seja, mas esta é a política que temos, a tal que desvia os jovens e espanta os mais idosos, por nela se não reverem.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Bombeiros, obrigado

Quando se está a entrar numa fase oficial de defesa da floresta, pondo em cima da mesa uma série de dispositivos e meios, uma palavra especial vem-nos logo à cabeça: Bombeiros. São estes homens e mulheres, rapazes e raparigas, membros do corpo activo e dirigentes, que estão na base de todo este edifício institucional, sobretudo na mais querida das suas vertentes - o voluntariado.
Disposta a tudo dar, em qualquer situação de entrega ao outro, gratuitamente e de uma forma verdadeiramente altruísta, esta gente oferece-nos o maior exemplo da mais pura cidadania, aquela que passa( se, no limite, tal for necessário) pela entrega total e absoluta, oferecendo a própria vida, como, infelizmente, já tem acontecido.
Hoje, fala-se numa nova etapa temporal, definida a nível superior, mas os Bombeiros não precisam de saber isso para arrancarem, sempre e com toda a sua dedicação, mal soa a chamada. Quase sem meios, cheios de deficiências de toda a ordem, apenas lhes interessa um objectivo superior: serem úteis a todos nós, na defesa da floresta,ou de quaisquer outros bens e, muito em especial, das nossas próprias vidas.
Gente de grandes ideais, o outro é a medida das suas preocupações. Por tudo isto, merecem toda a nossa gratidão e bem haja. Obrigado, Bombeiros!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Fátima

É espantoso ver que os caminhos que nos conduzem a Fátima se encontram pejados de peregrinos, que para o Santuário se dirigem em busca de conforto, em cumprimento de promessas, em romagem de fé e esperança.
Num mundo onde abundam os motivos de preocupações, esta procura do aprofundamento espiritual é uma daquelas continuidades do nosso viver individual e colectivo que merece um estudo e uma atenção especiais, tanto pela sociologia, como pela própria teologia, esta com mais razão, claro está, decorrente da sua existência e do seu objecto de estudo no panorama das ciências.
Pelas estradas fora, por entre perigos e dores - que, este ano, já passaram pela tragédia dos acidentes, infelizmente - circula uma vontade firme e segura de chegar a Fátima, para aí entregar promessas e dificuldades, fracassos e êxitos, quer chova, quer faça sol. Se, na Idade Média, também os caminhos já apresentavam populações em diásporas de amargas vidas, o ambiente de festa e de ânsia de novidades era então uma outra dimensão, que se não pode desprezar.
Mas, hoje e agora, quando o mundo está todo praticamente nas nossas mãos, pelo que aqueles aspectos não têm a pertinência de outrora, compreender estes gestos revela-se difícil, à fria luz do conhecimento humano. Só a fé nos leva a entender estas caminhadas, estas peregrinações, este permanente salto para um outro mundo, que nem todos conseguem entender.
Vê-se que ele existe nas vias que cruzam o nosso mapa: quem nelas se entrega assim, acaba por nos dar a mostra que a religiosidade é intemporal e universal, ainda que valores e crenças sejam divergentes. Mas isso que importa? É na diferença, afinal, que todos somos iguais.
Fátima demonstra-o também.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A fome

São de arrepiar os sinais que, um pouco por todo o lado, nos mostram evidentes marcas de fome, uma chaga de contornos imprevistos e incalculáveis. Quando escasseiam os produtos básicos e se escondem os cereais, para mais tarde os rentabilizar, é uma espécie de bomba com retardador que se tem entre mãos.
A alastrar como óleo derramado e com efeitos de perigosa e preocupante bola de neve, este pesadelo deve pôr-nos a pensar, seriamente.
Com a busca de novas formas de energias alternativas, a hipótese dos biocombustíveis não parece ser um caminho inócuo, por poder implicar desvios de monta, de que a falta de alimentos ou a escalada de preços dos cereais são uma eventual consequência, brutal e perigosa.
Esse é então um caminho a repensar, mas outras vias não podem ser descuradas, desde a água ao vento, passando pelas ondas do mar e pelo sol. Sem provocarem efeitos colaterais, a elas não se vai assacar a responsabilidade pelo crescente fenómeno da fome em larga escala, antes pelo contrário.
Deixemos, por outro lado, a terra para quem dela precisa, dinamizando bons cultivos e excelentes práticas, que o mal endémico está na deficiente afectação de recursos e nos desperdícios: uma outra política e uma outra ética são mais precisas que, propriamente, o pão para a boca. Mas, acrescente-se, sem este nada feito, como é evidente.