quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Até amanhã, não, até 2010

Com a gente do tempo a acertar muito razoalvelmente, apesar das bicadas que "choveram" de Santarém e da Régua por descontentamento dos autarcas locais, este ano de 2009, que trouxe mais enxurradas de problemas que cheias de água, está quase a despedir-se, a partir para sempre e nunca mais voltar. Neste calendário imparável, voltar para trás nunca pode acontecer. Lei universal, esta não tem nada de Descartes. É assim e assim mesmo, porque tem de ser.
Por mais que os homens queiram controlar tudo - e há uns mais dominadores que outros e alguns até intragáveis (...) - houve Quem dissesse, um dia, há horas sem fim, que subsistem domínios que não são acessíveis a ninguém. A marcha do tempo é um deles.
Sendo esta a lógica sem lógica, por estar para além dela, vamos ver 2009 a ir para o cesto dos papéis. Saudades, nem por isso... Desejo de melhores dias, isso sim: com a consciência de que a perfeição é impossível, que um outro tempo nos calhe em sorte, antes de cairmos num qualquer abismo sem fundo.
Deste ponto, que o milagre das novas tecnologias põe ao nosso alcance, vou agora sair.
Antes de acenar com lenços brancos a 2009, o meu maior sonho é que todos possam vir a ter um ano de 2010, aquele que se inicia daqui a horas, a abarrotar de tudo o que mais precisam.
Mas há uma certeza que ninguém deve esquecer: o nosso contributo, pessoal e intransmissível, não se atira para o lado. Fazer um melhor ano depende, assim e também, de cada um de nós.
Com tantos e tão inadiáveis desafios, desde o clima e o ambiente à estafada economia, tudo está à nossa espera.
Voltaremos assim que pudermos. Bem haja por nos terem aturado. Que 2010 apareça com as doses certas, é isso que mais aguardamos.
Um abraço...

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Muita chuva e mais dinheiro

De boina na cabeça para não ser tocado pela chuva, andava este pacato cidadão, em dia de temporal, mais um para a nossa conta, pelas ruas de Vouzela, quando, numa ida à CGD, foi abordado por um outro passante, ou o que quer que seja, talvez até cliente normal daquela casa, que lhe propôs uma tarefa inédita, mas tentadora.
(Se quiser saber mais, aguarde uns minutos...)
É Vouzela uma afamada terra de doçaria divinal, daquela que põe a milhas Tentúgal, ao mesmo tempo que ostenta um legado e um património de primeira água, a começar pela Rua da Ponte e a continuar na vetusta Igreja Românica, sem esquecer uma realidade que ultrapassa muito qualquer hipotética potencialidade, em termos locais e concelhios. Se as palavras são material que o vento leva, só uma visita e outra e outra podem fazer desfrutar aquilo que por ali existe, obra da natureza, ideia genial do homem.
Um pastelinho saboreado no Café Central, com mais uma espreitadela à Igreja da Misericórdia, é bom aperitivo para tudo o que mais vier.
E se notícias quiser, logo em frente tem o "NV", com 75 anos de história e muito mais para lhe dar. Enciclopédia regional, a relatar factos e vidas desde 1935 - comemorando, por isso, as suas Bodas de Diamante neste ano de 2010 - recomenda-se o seu estado de saúde...
De coração satisfeito, agora vamos ao episódio dos tais milhões...

Dicas do Dia

Como dissemos, nas nossas andanças por esta nossa segunda terra, que dali são a mulher e as filhas, para já não falar de outros ternos laços familiares, calhou-nos a sorte de ter ido à CGD, três dias antes do fim do ano, a 29, e de termos sido protagonistas de uma verdadeira história de fazer crescer água na boca.
Ao sairmos daquele estabelecimento bancário e altamente banqueiro - que até paga, com o nosso esforço, sussurrram as más línguas, o próprio BPN ... - topámos um humilde cidadão que pedia uma ajuda, veja-se, para carregar dinheiro que queria depositar.
Bateu-nos no ombro uma vez e outra e, qual pobre desconfiado, quase rejeitámos o apelo por um socorro de que tanto precisava.
Rendidos a tal pressão, ali fomos nós. E, na frente de sua carrinha, por sinal de padeiro, segundo cremos, vimos uma caixona de moedas e moedas de euros vivos. Demos-lhe uma mãozada, duas afinal, tal o peso da carga que ajudámos a levar para dentro da felizarda CGD de Vouzela, cerca das 12 horas e trinta minutos do dia que acima assinalámos.
Apanhados de surpresa com tamanha riqueza dos outros que não nossa, logo fomos ver se o Euromilhões nos tinha trazido igual sorte...
Pura especulação: cada cêntimo daquela trouxada fora para outros que não para quem a carregou.
Uma feijoada, comida no Restaurante " Coração de Lafões ", fez-nos esquecer o esforço feito e acabou por recompensar as energias perdidas.
Mas, creiam, porque somos humanos, os olhos ficaram todos, com óculos e tudo, na massa de cobre e prata ou o que quer que seja, que nos fez pôr os dedos das mãos a doer e estas mais pesadas que chumbo.
Como era de outros, que lhe faça muito bom proveito, sobretudo agora que estamos em maré de desejar Bom Ano Novo. Que assim seja....

sábado, 26 de dezembro de 2009

O legado do Natal

Fustigados dias a fio com chuva e vento, que trouxe à costa saloia de Lisboa momentos de tristeza, horror e prejuízos sem fim, para além de outros casos pontuais, mas também com sinais de alerta e preocupação, o dia um depois do Natal 2009 - e é assim que se fazem os calendários, com um ponto de partida como data a celebrar - foi vivido com bastante sol e um céu azul.

As notícias, que nos chegam agora frescas e a toda a hora, deram-nos conta de trabalhos e canseiras por aqueles lados do nosso Oeste, enquanto nós, os felizardos de um Inverno sem estragos, continuamos a abrir garrafas de champanhe e a pensar que a Festa nunca mais pode parar. Mas, neste caso, infelizmente, a verdade não é única, nem universal e aquilo que nos contenta deixa outros carregados de tristeza e sofrimento. Nesta altura, para que lhe mostremos que não estão sós, volvemos também os nossos pensamentos para quem sofre, pensando no tsunami de 2005 e nos estragos que, em 2009, se abateram sobre a região oeste de Torres Vedras e locais das respectivas imediações.
A todos, um fraternal abraço!

Dicas do dia

Familiarmente, coube-me a grande sorte de poder ter a família - aquele núcleo essencial e que tanto amo - junta a mim, por esta época natalícia.
Como o tempo estava convidativo, trouxa na mão, partimos em direcção a Aveiro, que o A25 põe a dois passos. Estrada seca, em vinte minutos, a ria e a cidade dos canais se postaram à nossa frente. Entre Cacia e o "Porto", o tal que não tem clube, mas vive do tráfego marítimo saído e entrado nesta cidade de José Estêvão, está a nascer um pequeno troço de via férrea. Como gostamos de progresso, saudamos esta iniciativa. Achamos, no entanto, que parte encolhida e envergonhada, porque só tem uma via e, ainda pior, nem sequer tem energia eléctrica que faça circular os comboios, o que é falha de palmatória e quebra profunda de visão estratégica. É pena que, em 2009, isto assim aconteça!...
Dada uma curta volta por aquelas bandas, chegou a hora do almoço. Cheios de repastos em centros comerciais, optámos por cheirar a Ria, ali em redor do Rossio e da Praça do Peixe, entrando pelo " Legado da Ria ", onde o serviço e a qualidade gastronómica nos convidaram a regressar.
Com tal opção, ainda tivemos o prazer de passar ao lado de um edifício " Arte Nova ", que, no meio da água e do cheiro à Praça que lhe dá o nome, faz de Aveiro uma terra com marca.
Aquele dia UM depois do Natal de 2009 valeu bem a pena: família reunida, olhos repletos de paisagem e uns assomos de arte, tudo se reuniu para encantar.
E o Restaurante " Legado da Ria " deu mais um ar de sua graça.
Um dia, um tempo qualquer, lá voltarei. Porque o gosto e o olhar assim fazem prescrever tal receita, muito melhor que a que pode vir de qualquer farmácia...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Boas Festas

Amanhã teremos mais um dia de Natal. Pertenço a um sistema de valores que defende um Natal em cada dia que passa. Mas não deixo de ver nesta época um encanto e uma aura especiais.
Logo à noite, em família alargada e muito querida, o bacalhau e as batatas ainda têm um lugar de destaque na nossa tradição, saboreados ao redor de uma quente casa e lareira, na capital do meu distrito - Viseu.
Ano após ano - e Deus queira que por muitos mais - ali estamos todos aqueles que por cá andam. Recordamos com tristeza e saudade quem, por razões naturais, já partiu. Saudamos quem veio de novo, muito bem-vindo, por sinal.
Aos amigos de sempre, um santo e feliz Natal e um ano de 2010 bem melhor que este agonizante 2009.
Um abraço solidário de quem "tanto vos quer"...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Caros Professores Albano Estrela e Alfredo Margarido

No meio de um mundo atribulado que tento ler e perceber, sei que muito devo a uma enorme plêiade de professores e amigos que me têm dado o prazer de com eles partilhar conhecimentos - recebendo muito e dando pouco -, de modo a saber a terra que piso.
Numa espécie de evocação momentânea, por, de repente, me lembrar que nunca posso esquecer essa gente, vêm-me à memória as figuras ímpares de um notável pedagogo, o Professor Albano Estrela, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Lisboa e o Professor Alfredo Margarido, um poço inestimável de sabedoria e humanismo, da Universidade Lusófona daquela mesma cidade.
Com eles, habituei-me a olhar para o mundo de uma maneira diferente: num caso, tentando entender que há sempre tempo e "espaço" para aprender; no outro, descobrindo quão pequeno é o homem face à imensidão do saber e à notoriedade de quem trata as ciências sociais por tu, com um enorme à-vontade e destreza, apesar da idade e da doença que tudo mina, menos a craveira intelectual.
Há tempos, ao ouvir falar numa homenagem prestada ao Professor Alfredo Margarido, fiquei cheio de pesar por não poder ter estado presente. Mas o meu espírito, esse, não faltou, de certeza.
Ao enviar-lhe um abraço, remeto também toda uma merecida gratidão.
Quanto ao Professor Albano Estrela, não mais esqueço a amizade que sempre me tributou, acompanhada de um sem número de ideias e técnicas pedagógicas que ainda hoje transporto comigo.
Nestes docentes, cumprimento tantos outros: as Professoras da escola primária, os docentes do Seminário de Fornos de Algodres, das Escolas e Colégios por onde passei, da querida Escola do Magistério Primário de Viseu, da Faculdade de Letras de Coimbra-História, da Faculdade de Direito da mesma Universidade-Estudos Europeus, das citadas instituições universitárias atrás assinaladas e de tanta, tanta outra gente que me ajudou a crescer.
Para nos sentirmos mais ricos, só o podemos ser se soubermos ver, com um sentimento de gratidão, quem muito nos deu.
Albano Estrela e Alfredo Margarido são apenas dois exemplos - e que envergadura têm! - de tantos que me apetecia referenciar.
Por serem em número interminável e em qualidade digna de tantos encómios, tenho hoje de ficar por aqui.
Mas seria uma falha enorme se não estampasse aqui um outro nome: Padre Milton Encarnação.
A todos, um sentido bem haja.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A terra tremeu

Aquilo que, às vezes, pensamos que só pode acontecer aos vizinhos ou desconhecidos, afinal é uma hipótese que sempre é capaz de nos entrar pela casa dentro. Assim, se há uma qualquer probabilidade de algo acontecer, isso torna-se uma realidade, mais tarde ou mais cedo. Por essa razão, em zona sísmica, mais ou menos acentuada, um tremor de terra, com várias réplicas, veio abanar as nossas terras e fazer despertar ainda mais as consciências para a necessidade de estarmos sempre vigilantes.
Era madrugada e nem toda a gente o sentiu. Englobo-me nesse número, mas sei, porque alguém, que me é muito querida e até fez anos neste mesmo dia 17 de Dezembro de 2009, mo narrou ao pormenor, tim-tim por tim-tim, com um misto de surpresa, ansiedade e certa de que pode contar com mais uma experiência na sua vida.
Por ter nascido muito tempo antes, lembro-me bem de 1969 e de também não saber o que estava a suceder e mesmo se estaria vivo nos segundos seguintes... Sei então o estado de alma que se sente numa circunstância destas.
Mas o grande horror de 1755, esse, infelizmente, foi muito mais longe em estremeção e turbilhão de água e lama, que tudo levou, nesta cidade de Lisboa, à sua frente.
Talvez se tenha aprendido alguma coisa com essa situação, por exemplo, em termos de técnicas construtivas, mas temos de colher sempre mais dados para poder estarmos prevenidos quando outro sismo se lembrar de nós.
Que ele virá, quase é uma certeza. Só não sabemos é em que momento e com que intensidade.
Porque soubemos que o esquema de Protecção Civil se pôs logo em marcha e que, agora, vai avançar para a busca de seus potenciais efeitos negativos, aqui lhe deixamos a nossa gratidão.
Para susto, dizem, este tremor de terra chegou e sobrou. Sem vítimas, cabe-nos saudar essa sua face, mais meiga, menos mortífera.
Mas não podemos deixar de estar sempre de olhos abertos, não vá a má sorte nos bater à porta!...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

"Ler entre linhas" e Dicas do Dia

Ao entrar nas instalações da CARRIS, em Santo Amaro-Lisboa, agora renovadas e arejadas e mais funcionais, dei de caras com uma apelativa exposição de material diverso: como devorador compulsivo de tudo quanto seja informação, fui direitinho a esses papéis, muito mais apetecíveis, para mim, claro, que toda a panóplia de nova comunicação que tudo invade e tudo submerge.
Como papel é isso mesmo, sem quaisquer outras classificações, torna-se mais apetecível se o seu conteúdo tiver força de atracção e poder de nos prender, sem mais demoras: foi o que ali aconteceu.
Por entre aquela parafernália de dados e informações, " A próxima página é a melhor paragem" entrou-me, de imediato, pelos olhos dentro. Descobri então uma ideia genial: extractos de livros para "Ler entre linhas", que me parecem uma iniciativa de sucesso e um bom chamariz e apelo à necessidade de, no meio de dois pontos da cidade, ler e voltar a ler.
Qual escola móvel, esta funciona a contento de todos: valoriza esta empresa de transportes e acrescenta cultura aos seus passageiros.
Parabéns por esta medida e que ela frutifique por tudo quanto é sítio.

Dica do dia
Cidadão do mundo na capital, não esqueci a minha terra, essa magia que tem cada vez mais encanto e que bem é capaz de empreendimentos arrojados(...) ao estilo deste - o que relatámos atrás - e doutros.
Se Lisboa é a nossa cidade, Oliveira de Frades é o motor que nos faz mover: aquelas energias, meio mar, meio serra, são tudo e muito mais. Vindas para ficar, por estarem entranhadas no nosso próprio BI, as forças que dali emanam andam sempre connosco.
Hoje, ao pensar que cada amanhã poderá ser melhor, sobretudo depois de termos ao nosso alcance a Barragem de Ribeiradio, foi desta obra que me lembrei para alavancar desenvolvimento e continuar a esperança de um torrão com vida e energias próprias.
Saltou-me à memória, desde logo, a beleza ímpar daquele Vale do Vouga e as suas águas. Vi-as então a crescer e a semearem encanto.
Pensei na "varanda" que o meu amigo Acácio, o da Papelaria Correia, ali tem, em terreno e casa para beneficiar, como um local para quem goste de admirar a natureza e acordar com os pés à beira da água e os olhos na imensidão da futura albufeira.
Ao contemplar esse sonho de um tempo que pode estar próximo, dei uma saltada à Nossa Senhora Dolorosa, vi um largo e um quase Santuário, admirei-o, de novo, quis ganhar estaleca para subir à descoberta da Serra do Ladário e não resisti à chamada do meio-dia. Sentei-me numa mesa da Churrasqueira Ribeiro e ali saboreei mais alguns dos pitéus da nossa região.
Servido a preceito, aí fui eu monte acima, à procura de antas e miradouros, deixando-me espraiar pelo Oceano que tão bem se contempla lá do alto, no Pico das Cruzes ou na aldeia de Lameirolongo.
A Barragem de 2013, o mar de sempre, eis quanto nos podem dar estas terras.
Aparecer é um dever e um prazer.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Sugestões

Se o tempo continuar como está hoje, com um sol a valer, não muito quente, mas agradável, deixo aqui uma sugestão para um passeio familiar ou para um grupo de amigos: uma visita a Oliveira de Frades, ao seu Museu Municipal, porque vale a pena ser esmiuçado de alto a baixo.

Bem colocadas, as suas peças e obras entram pelos olhos dentro, constituindo uma saborosa viagem pela história e enografia locais.

Se vierem com tempo - e após um contacto com a Câmara Municipal, é quase obrigatório espreitar a Anta pintada de Antelas, provavelmente um dos maiores tesouros europeus de arte rupestre contínua e a resistir aos milénios, desde que o génio indecifrável dos nossos antepassados ali deixou aquele primor de uma dádiva que não tem preço: é simplesmente admirável.

Porque a cultura anda de mão dada com a gastronomia, se vier a uma sexta-feira, não parta sem degustar o mais regional dos pratos caseiros, um feijão com couves e carne de porco, no Restaurante Cantinho, na Feira, nesta vila, que faz voltar vezes sem conta para repetir a dose e levar para casa.

De ânimo cheio e estômago aconchegado, dê um salto ao Caramulo, passando pela Anta de Arca e pela aldeia da Bezzerreira, a beleza serrana, por excelência. Com essse vasto horizonte no seu olhar e armário de recordações duradouras, delicie-se com o magnífico Museu do Caramulo, convivendo com os automóveis de sempre, mas - importante e a não perder! - não pode ir embora sem se demorar na sua colecção de arte, desde a antiguidade ao presente-passado muito próximo, o de Picasso, por exemplo.

Um dia, ao regressar a estas paragens, vai descobrir mundos de encantar.

Tentaremos falar deles, sempre que a vontade de os desvendar nos invada o nosso canto das ideias a partilhar.

Quando vier, leva uma carrada de saudades.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Europa e Copenhaga

O meu Rio, o do Eirô, pertinho do A25, meio caminho entre Aveiro e Viseu - 40/40 Km - já mostrou que a tradição de haver cheias antes do Natal ainda anda a razar parte dos tempos de antigamente: dizia, no passado, que, para bem ser, tinha este de rebentar pelas costuras três vezes e trepar o Cortelho, galgar as duas pequenas pontes, fazendo-se ver e ouvir, como convém.
Este ano, já ameaçou uma só vez, mas, mesmo assim, muito longe dessas suas épocas douradas. Se assim é, anda mouro pela costa. É por este e outros motivos que estou a olhar para Copenhaga com esperança e sabida apreensão: se, por um lado, penso que dali, daquela Conferência, podem sair sinais que salvem, enquanto é tempo, o nosso planeta, por outro, receio bem que outros interesses mais imediatos, mais mesquinhos se sobreponham ao bom senso.
Dividido entre estes dois mundos antagónicos, o da crença no futuro e o da entrega ao abismo, por teimosia e descaramento, por desprezo para com os nossos vindouros, continuo vivamente expectante. Mas sinceramente céptico, tenho de o confessar.
Aqui, neste concelho de Oliveira de Frades, onde as energias alternativas têm campo largo e onde a Martifer diz como se devem escrever essas páginas, até já tive o imenso prazer de ver renascer, aí pela terceira vez, a Barragem de Ribeiradio, a que se acrescenta a da Ermida. Estes dois investimentos ficam a dever-se à acção da citada Martifer, de mãos dadas com a EDP.
Se assim acontecesse por todo o mundo, talvez este quadro negro de um ambiente desconjuntado e em farrapos nunca tivesse ido tão longe. É para travar este panorama que está a decorrer, em Copenhaga, este encontro mundial.
Com um novo Tratado de Lisboa já em vigor, com outras alavancas mais, bem pode ser que dali saia fum0 branco. Mas só se os homens assim o quiserem e, sem esse passo, nada feito.
Se ali persistir a cegueira, o meu Rio do Eirõ pode não encher pelo Natal.
Nem outros. Nem outros. Nem outros. Nem outros e muitos mais.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Uma nova Europa

Nem de propósito: depois de praticamente um mês de ausência deste recanto de reflexão e de exposição dos nossos sentimentos, o regresso dá-se no momento em que a União Europeia ganhou um novo fôlego, quando a República Checa, finalmente, acaba de assinar o Tratado de Lisboa!... Feliz coincidência, grande salto na vida de todos nós: esta é uma outra "Europa", aquela que se vai continuar a construir sob um manto diferente, talvez mais profundo, provavelmente mais a caminho de qualquer coisa de novo, novo, de certeza, mas desconhecido quanto baste!
Um baque no computador, que me era familiar, levou-me a esta fuga de contacto com o mundo. Como a minha mestria no manuseamento destas máquinas não é nada por aí além, aquela falta da caixa que tanto me tem acompanhado deu-me cabo da mioleira. Notícias, só aquelas que os outros me traziam, poucas descobertas por mim mesmo, a partir das teclas que agora tenho de novo à minha frente: ao ver que há Tratado de Lisboa, da nossa Lisboa, sinto-me um cidadão com sorte.
Nascido sete anos antes do Tratado de Roma e cerca de 365 dias a antecederem o Tratado CECA, nestas décadas, muitas, as mudanças apareceram aos trambolhões: vi juntarem-se países atrás de países neste imenso projecto comum, assisti aos tempos áureos da adesão de Portugal e da Espanha, vi cair o Muro de Berlim, senti a emoção de ver caminhar para aqui, para a UE, aquelas nações saídas do Império Soviético, admirei Jacques Delors, aprecio a força de Durão Barroso e, agora, vejo o nome da minha capital no edifício legislativo desta nossa Casa. Sou, na realidade, um europeu com sorte, porque vou ter a oportunidade de acompanhar uma ideia-obra que agora tem mais pernas para andar.
Que se vá em frente, assim o desejo!

sábado, 10 de outubro de 2009

Obama, Machado e as eleições

Com a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Barack Obama, em sinal de reconhecimento e, mais do que isso, como um grito de esperança urgente e necessária, cumpriu-se um dever de cidadania: ao distinguir as convicções, mais do que a prática que ainda não teve tempo de fazer germinar uma nova ordem mundial, foi do futuro que se falou e foi do amanhã que se tratou. Se ontem vieram dos EUA sinais de desencanto, agora os sinos parecem entoar um cântico novo e foi esta esperada melodia que o Nobel da Paz quis significar.
Pesa sobre Obama uma outra responsabilidade, a acrescentar à luz que tem feito irradiar: este Prémio diz-lhe que o Mundo espera uma política nova, uma outra postura e um outro olhar. É isso que todos desejamos. Entretanto, meu caro Obama, os meus parabéns, idos de uma pessoa que tanto te estima e admira...
Mas, enquanto festejas este galardão, o meu amigo António Machado, que vive num recanto do mundo que os EUA nem sonham, à beira do Vau, limites de Oliveira de Frades, vive envolto no desgosto enorme de se ver acorrentado a uma pulseira electrónica, que lhe tolhe os passos e o entusiasmo, porque teve a pouca sorte de, há anos, quando o IP5 tinha alguns problemas, colidir com uma viatura de que resultou a morte de vítimas indefesas, que me merecem todo o respeito e consideração. Nesse dia fatídico, o azar, o terrível infortúnio bateu à porta de todos, nesse momento de dor.
Se a morte ceifou vidas, ninguém mais apaga a pressão que isso exerce sobre quem, ido na estrada, talvez tenha provocado - ou tenha sido interveniente nesse acidente -, o que muito o martiriza, sei-o eu de fonte limpa. Mas a justiça dos homens, ao condená-lo assim, mais agrava esse seu sofrimento, essa mágoa que, eternamente, lhe bate à porta.
Para o amigo Machado, vai o meu abraço de solidariedade e de muita amizade, sem pôr em causa a tristeza que, também imortal, se abate sobre os familiares das vítimas dessa dupla tragédia.
Ontem, quando nos cruzámos, nuns minutos de abertura das tão dolorosas restrições, bem me veio à memória o valor supremo da liberdade e da paz, que Obama tanto defende.
Por assim ser, falei hoje de Obama e do Machado, por mais estranho que pareça! Mas, na minha visão, uma e outra destas perspectivas se cruzam e se interligam.
Tal como a realização, amanhã, das eleições autárquicas que são um ponto alto na história democrática do meu querido país. Merecem, por isso, esta referência à parte e um desejo de que os meus compatriotas expressem, de viva voz, o que lhe vai na alma, votando.
Só assim se cumpre a cidadania e se constrói uma terra adulta.
E a minha já atingiu a maioridade, que quero, amanhã, ver fortalecida.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Luto por um amigo

Conheci o Eng. Falcão e Cunha em caminhadas jornalísticas e autárquicas. Habituei-me a estimá-lo e a admirá-lo, até por ser natural do meu distrito, ele de Mangualde, eu de Oliveira de Frades, duas terras unidas por outro traço comum: a industrialização a tempo e horas, ou quando tal foi possível e desejável.
Percorremos vários trajectos na companhia de outro amigo, infelizmente também já desaparecido: João Maia. Juntos, orgulhamo-nos daquilo que fizemos. Mas, no meu caso especial, em relação ao Eng. Falcão e Cunha, que agora nos deixou - o que lastimo e muito me dói - tenho de confessar que lhe devo um nó do então IP 5, hoje A25. Passo a relatar: essa via, em Reigoso, teimosamente, não previa qualquer ligação directa. Face ao descontentamento geral, estes três e muitos outros juntaram-se e o nó nasceu e cá está, forte, sólido, útil e importante, a servir duas zonas industriais e um montão de gente que muito agradece este melhoramento.
Mas, agora, depois de a notícia ter corrido mundo, via comunicação social, é a tristeza que me invade: o Eng. Falcão e Cunha morreu. Paz à sua alma e sentidos pêsames a toda a sua família.
Portugal está mais pobre. Mas a minha sede do concelho já o perpetuou para sempre, em rotunda que ostenta o seu nome, porque aqui a gratidão tem raízes e sabe honrar quem desta terra se não esquece.
Por estar de luto, eis aqui este desabafo. Dedico-o ao Eng. Falcão e Cunha, um amigo que perdi, um exemplo de homem que recordarei eternamente.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Belém: fumo houve, fogo não sei...

De vez em quando, nisto de eleições, saem umas pedradas, a meio do caminho, que podem ferir muitas e boas cabeças. Foi assim no passado, aconteceu agora e tal não deixará de suceder no futuro, citando La Palisse. A edição deste ano teve o seu epicentro em Belém e os estragos recaíram sobre um assessor (o fumo), não se sabendo a dimensão do fogo que por ali anda a corroer a mobília e a, talvez, abeirar-se, perigosamente, das pessoas.
Dissemos há dias que os tempos não iam bons. Descobre-se, com esta demissão, que o nosso medo tinha(tem) toda a razão de ser. Afinal, esse fogo, de que se não conhecem os contornos, nem está circunscrito, existe mesmo. Só que o Comandante-Mor das operações - por quem nutrimos uma enorme simpatia e nos inspira toda a confiança - não há maneira de desfiar a meada em que tudo sito se tornou. Diz querer fazê-lo depois das eleições, quando os cacos e os destroços já andarem por aí a carpir mágoas de todo o tamanho. Nessa altura, para uns será tarde demais, para outros, a saber a doce mel, teremos o tempo das palmas talvez não merecidas. Isto é, para sermos assim-assim, nem claros, nem obscuros: nesta contenda toda, há forças políticas que já esfregam as mãos e outras que começam de torcer as orelhas, mas é pouco o sangue vital que por ali corre...
Tal como outrora, por força de destinos que se escrevem sempre com vítimas e vitoriosos, desta feita também do agora Inquilino de Belém nasceu a sina já conhecida - a influência, quer queiramos, quer não, nos resultados eleitorais, prevendo-se, salvo algum forte vento contrariador, as mesmas tendências...
Esperando ainda algum esclarecimento adicional e tranquilizador, a minha esperança ainda não morreu, apesar de estar agonizante, entre a vida e a morte.
Mas, em tempo de vindimas, até ao lavar dos cestos temos safra.
A ver vamos...

sábado, 19 de setembro de 2009

Razões do meu descontentamento

Há trinta e cinco anos, em Moçambique, mais propriamente no M'Cito, acordei um dia, já depois de tal acontecimento, com um novo ar: ouvi falar de um país novo, senti-o pela Rádio, contactei com ele nos abraços de meus amigos. Adivinhava-o, desejava-o, mas ele teimava em não aparecer. Por isso, nesse já longínquo mês de Abril outras ondas me molharam os pés. Acima de tudo, passei a sentir-me um homem, um rapaz, até um militar, mais livre, mais cidadão. Descobri que a vida começava a valer a pena.
Sucederam-se os tempos, aos trambolhões, das escolhas, da caminhada até ao cimo das opções a tomar. Tudo aconteceu como que em catadupa, vindos de todos os lados os mais diversos contributos. Aceites uns, rejeitados outros, mais cedo ou mais tarde, tudo começou a encaixar-se.
Então, acreditei que o meu Portugal entrara definitivamente na modernidade política, que as disputas eleitorais eram razão de ser, que a luta pelo poder era necessária e séria, que a democracia, sim, a democracia chegara total, inteira, serena, exigente, indestrutível, participada de corpo e alma.
Ingenuidade minha: os contornos que hoje vejo a nascer de todos os lados estão a levar-me para o descontentamento, para o descrédito, inclusivamente. Isto de se falar em devassar poderes alheios, em minar os alicerces das instituições é mau demais para ser verdade.
Quero acreditar que nada do que se diz e se escreve tem correspondência com a realidade.
Quero. Mas tenho medo, muito medo que de que o meu querer de nada nos possa valer.
E, se assim for, não se calem as vozes, não. FALEM, FALEM, enquanto se está a tempo, porque daqui ao abismo, às vezes, bem pode ser curto o percurso a percorrer.
É mau demais o quadro que nos pintam.
Pede-se um esclarecimento calmo, mas seguro.
Pede-se, não, exige-se.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Duas ideias de grande agrado

Nestes meados do mês de Setembro, caíram-me do céu dos homens e das mulheres, neste que construímos na terra, duas ideias que muito me entusiasmaram: o início do ano lectivo alargado, que fez entrar nas salas de aulas meninos, crianças e jovens, dos 3 aos 23 anos, ou bem mais - e ainda bem , porque nunca é tarde para aprender - ao mesmo tempo que vi ser eleito para o mais alto cargo europeu um amigo pessoal, um cidadão de dimensão mundial, um português que muito honra o país que o viu nascer e crescer, em todos os aspectos: DURÃO BARROSO.
Parabéns, meu caro amigo!
Quando alguém ousa subir, pela segunda vez consecutiva, a tão alto posto, logo me lembro de Jacques Delors, alguém que um dia tive o prazer de ver junto de mim, e que tão excelente serviço prestou à causa europeia. Meu caro Durão, se essa prerrogativa lhe veio parar às mãos, creia que Portugal não pode deixar de estar em pulgas - um feito destes obriga a que estejamos todos, todos, todos de alma e coração com alguém que é um de nossos mais dignos exemplos. Por mim, digo-lhe que a satisfação como cidadão me enche a alma, me alegra de uma maneira ímpar, me diz que vale a pena lutar pela excelência, pelo saber ser e pelo saber estar.
Recordo ainda, comparando-os, o seu trajecto e o de Barack Obama: há tempos, ninguém diria que um português, chamado Zé Manel Durão Barroso, chegaria a "comandar a Europa" e muito menos que um Obama treparia ao mais alto pódio dos EUA. Todos se enganaram. Todos.
Felizmente para a Europa e para o mundo, por estas duas vias, é esta a gente que tem estes cordelinhos, um deles tecido e torcido em solo português: um abraço, Durão Barroso!
Por outro lado, a todos aqueles que ultrapassaram os portões da escola, vencendo medos e desafios, quero felicitar e desejar que tenham o melhor dos percursos: força, Carolinita!
Já agora, para quem anda na estrada a vender sonhos e ilusões, verdades e afins, que a vida lhes corra bem e que vença quem melhor souber cativar a vontade dos portugueses, sabendo eu que o meu voto tem cara de mulher, de esperança, de mudança serena, muito embora queira um Portugal com a velocidade a nunca, nunca fugir da Europa e do mundo!...

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Um contabilista p'ra Selecção, já!

Anda equivocado o meu quase-vizinho, Dr. Gilberto Madaíl, porque, ao contratar Carlos Queiroz, descurou uma preciosa operação de rectaguarda: a escolha de um bom contabilista, que, munido de uma poderosa máquina de calcular, soubesse fazer, sobretudo, contas intermédias. É esse o grande problema do momento. `A míngua de resultados credíveis, resta-nos agora fazer contas de somar, para nós e de subtrair, para terceiros. O pior é se suecos e dinamarqueses preferem as da igualdade, o que vem baralhar tudo e todos, quaisquer que sejam os desfechos futuros.
No campo, jogamos, jogamos, mas não marcamos: em vitórias morais, somos campeões, de certeza. Em matéria de tabela classificativa, os empates, os remates para tudo quanto é sítio, menos para o local certo - a baliza - só nos dão a anterior "satisfação", que nunca nos leva à África do Sul.
Um contabilista p'ra Selecção, já, é o que se reclama.
Esqueçam-se os losangos e o papel dos matemáticos, a geometria dos desenhos lindos, em teoria, porque a hora é de quem saiba fazer, digo, fazer contas e mais contas. Jogar, isso, não é uma questão que agora se ponha, porque os remates nunca levam a direcção e a força necessárias. Nos próximos jogos, sendo que só o próximo pode arrumar todas as botas, use-se outra estratégia, esta da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas.
Mas nada de sondagens, que esse é chão que já deu uvas. Apenas as contas em cima do óbvio, do acontecimento em si mesmo. É que, dizia alguém, prognósticos só depois de se ir para as cabines...
Com mais este sonho a quase ver navios, para animar a malta, aí temos as quase-campanhas políticas, que só Manuela Moura Guedes, sem mais ninguém, conseguiu, um tanto, ofuscar.
Mas esse é um rosário que tem contas (talvez portuguesas e espanholas) e não é para aqui chamado.
Cuidemos apenas da Selecção, que ela bem precisa de todos nós!...

sábado, 29 de agosto de 2009

Agora, é de começar

Quase sem desculpas, estão os motores partidários oleados para se porem em marcha acelerada. Acabadas as férias, retemperados os ânimos, espionadas as propostas dos adversários, só falta dar o apito final para o arranque das festas-comícios.
Portugal está em leilão. Tudo serve de montra de venda, tudo se entrega por dez réis de mel coado. Quase tudo, melhor dito. A dignidade, essa, bolas, não pode entrar nesta roda da fortuna e do azar. Há valores que nunca se alienam, nunca se põem em causa: de tão firmes que são, não admitem controvérsia, não servem para estas questões de entrega por dá cá aquela palha. Ou valem e são pagos por isso, ou, no entender de quem isto não entende, não podem entrar nestas jogadas e, então, para quem pensa por si, mais vale dizer que se parte para outros caminhos.
Os programas partidários, rebuscados e nebulosos, uns, frios e secos, outros, não nos cativam assim por aí adiante. Mas importa caminhar, que ficar parado é entregar a tarefa de decidir a outrem - e isso é procuração em branco -, pelo que admitimos dar o benefício da dúvida a alguém que, sendo bitolada pelo aço, nos parece mais coerente e mais assertiva, isto em termos de projecto para a nação perdida(?) que parecemos ser.

( ... )

A um mês das eleições, continuamos em dúvidas, mas uma certeza temos: é preciso abanar a árvore para outros frutos caírem, que as enxertias, dizem os meus amigos de Oliveira de Frades, sabedores da poda, às vezes, dão bons sinais. Mas acrescentam que não há regra sem excepção e, em matéria de vinha local, há sinais de uma boa colheita à temperatura média dos últimos anos, mesmo que nem tudo tenha corrido às mil maravilhas...
Com a sabedoria popular como boa conselheira, aceitemo-la.
Se nos enganarmos agora, repensemos o futuro.
Mas não deixemos que outros falem por nós: com o microfone na mão, façamos ouvir-nos e, para esse efeito, o voto é sempre a melhor das armas.
Boa noite!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Em vez de emprego, a fuga dos empregadores

Há anos, poucos, acenaram-nos com cerca de 150000 novos postos de trabalho. A crise global, erros nossos e má fortuna, fizeram esfumar este sonho e desígnio nacional. Nem este objectivo se cumpriu, nem os sorrisos apareceram. Ao contário, muitas são as lágrimas de quem se viu sem sustento familiar e pessoal, angustiando neste mar de incertezas e outras tantas desgraças.
Agora, para maior desassossego e aumento da dor, já não são os trabalhadores que se vêem na rua. Chegou a hora de sabermos que aqueles mesmos números, mas em matéria de empresários, se viram obrigados a fechar portas, deixando morrer a capacidade empreendedora que, um dia, os levou a abrir portas.
Se multiplicarmos estes dados por todos quantos deles dependiam - porque é bom saber-se que um agente empresarial cria riqueza, valor e recebe mão-de-obra, a quem paga em pão -, tudo se agrava, tudo nos faz pensar que o mal é muito maior que aquilo que esperávamos.
Já não é só o governo a falhar, é todo o edifício da economia que está a ruir. Ao estarmos muito mais descontentes e apreensivos, erguendo as mãos ao céu, esperamos que outros dias, mais soalheiros, nos batam à porta.
Se não for agora, porque ninguém anda preocupado com a dureza da vida, para se centrar mais na questiúncula política, que, ao menos, seja depois de Setembro e Outubro.
Se a esperança é a última a morrer, cá estamos para ver.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Caldo meio entornado

Quando todos os políticos deveriam estar em férias, até para ganhar fôlego, vêm-nos com um cenário pretensamente negro entre Belém e S. Bento, alimentando a ideia de uma total devassa, que levaria a gente do executivo a querer meter o bedelho em quem só tem por missão ser o garante de nossa estabilidade e sossego. Cheira-me isto a esturro, a material para vender notícia, a brincadeira de muito mau gosto, bem pior que as antigas cantigas de escárnio e maldizer.
Só assim entendo este inexistente (?) enredo, que seria mau demais que tal fosse verdade!...
Como no verão pouco há a dizer, a não ser que se fale das candidaturas entregues, inventa-se o mal e a caramunha, assim se alimentando o mundo da comunicação social. Se mais nada houver a fazer, telefone-se para a Madeira a saber por que carga de água se manda às malvas mais uma lei da nossa nação. Ou então dê-se uma apitadela para Santarém e pergunte-se ao Moita Flores se já recebeu uma qualquer reprimenda vinda de S. Caetano à Lapa.
Mas deixe-se em paz o Professor Cavaco Silva e sua gente, antes que se mine tudo em termos de confiança e de garante da nossa própria soberania.
Sejamos dignos de nós mesmos, a fim de não cairmos num qualquer abismo.
Evitemos que o caldo se entorne de vez. Saibamos ser gente de corpo inteiro, que já é tempo disso acontecer!

sábado, 8 de agosto de 2009

Meu caro Solnado

Vi, há momentos, uma notícia que me arrepiou: morreu Raúl Solnado. Desde há tempos tem este local estado calado, mudo e quedo. Ao regressar, gostaria de o fazer em tom de festa e alegria, espalhando entusiasmo a rodos. Não vim a terreiro porque motivos dessa ordem e com esse quilate não abundavam. Preferi, então, andar com a viola no saco.
Mas este choque de ver partir Raúl Solnado, a alegria por excelência, fez-me repensar o meu teimoso amuo, obrigando-me a vir aqui registar o meu profundo pesar por esta triste e inconsolável viagem deste amigo do riso, da boa disposição, da inteligência criativa e brincalhona.
Volto atrás e vejo-o no ZIP ZIP, com Carlos Cruz e Fialho Gouveia, ouço-o parodiar a guerra, assisto a inesquecíveis momentos de bom humor de alta qualidade, pouca ofensa e muita crítica envolvida em papel celofane, nunca mais esqueço o bom homem e o grande actor que ele foi.
Se pudesse, queria que voltasse a estar connosco, assim de carne e osso, mas, sendo isso impossível, vou recordá-lo para sempre como alguém que me ensinou a encarar a vida com um sorriso nos lábios.
Pela lição contínua que foste, por inteiro, recebe, Solnado, o meu sentido bem haja.
Espera por mim e, quando eu chegar à tua beira, volta a dizer-me tudo, quase sem falar, com os teus gestos e silêncios que eram também um encanto. Podes ficar calado, que eu me fartarei de rir. Porque tu nasceste com esse dom: transmitir alegria e, agora que te encontras desse lado, não vais perder, acredito, essas costela animada e bem festiva. É assim que te vou recordar sempre.
Um abraço.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Inverno em S. Bento

Estamos em Julho, quase em Agosto. Por estranho que pareça, chove em S. Bento, praticamente de uma forma torrencial. Com ventos fortes e vindos de várias direcções, não há guarda-chuva que valha, nem capa que cubra os fatos daquela gente.

Agora, uma das grandes vergastadas chegou do " Compromisso Portugal ", que ali entrou de enxurrada. Portas e janelas tombaram e as salas ficaram inundadas. Com tal bátega de água, andam numa fona os mordomos daquela casa e o seu senhorio-mor, afadigado com novas promessas, teve até de calçar botins e pôr-se a andar pela estrada fora, que são difíceis os tempos presentes e poucos auspiciosos os que aí vêm.

Com tal borraça, diz o citado " Compromisso " que não estamos nada melhor do que há quatro anos. Lá se começa e descobrir que de pouco valeram os sacrifícios pedidos e que as reformas estruturais ou ficaram a meio, ou mal saíram do baú onde se encontravam.

Sócrates não fica bem no retrato que estes críticos lhe tiraram, mas, deve dizer-se a propósito, que as culpas não são todas suas: os temporais da crise global não podem ficar de fora deste quadro, nem a nossa, talvez, apatia em circunstâncias que exigiam de nós um comportamento mais activo e um rigor mais selectivo.
Todos somos culpados, mas uns mais que outros e o Primeiro-Ministro, que tem a honra de ser o timoneiro, está entre aqueles que maior responsabilidade tem, para o bem e para o mal. Alega o " Compromisso " que, nestes quatro anos, tendeu mais para o abismo que para o céu. E isso é que nos preocupa e nos tira o Verão mesmo em Julho, quase em Agosto.
Se chove em S. Bento quem se molha somos, afinal, todos nós.
Nem o deputado Manuel Alegre, com 34 anos de Parlamento e hoje em maré de despedida, escapa a este temporal, por mais que queira fugir de um comboio onde passeou anos e anos a fio.
Nem ele. E muito menos todos aqueles que, com as suas atitudes e comportamentos, puseram em risco o bom nome de um país que merecia outros políticos.
Refiro-me, obviamente, aos estilhaços do BPN e às vergonhas que por lá se passaram.

domingo, 19 de julho de 2009

Espanha, aqui tão perto

Saio de casa, meia distância entre Aveiro e Viseu, para, passado pouco mais de hora e meia andar, regalado, por terras de Espanha, tudo isto porque o A25 nos traz o mundo às mãos, por dá cá aquela palha.
É, por isto, que dou comigo a pensar: as grandes obras só estão a mais se tivermos a vantagem de as possuirmos. No meu caso, sou um felizardo, quanto a este aspecto das acessibilidades, que faltas há-as por aqui até dar com um pau...
Mas voltemos ao tema deste momento - a ida a Espanha. Foi um mimo ver aquela Cidade Rodrigo com o património elevado a prioridade absoluta em termos de recuperação, imagem e cartaz turístico. A zona nobre em redor da Praça Maior é toda ela uma evocação extrema da arte e engenho dos nossos antepassados ibéricos, colocando a pedra no topo dos materiais.
Com um Centro assim, apetece ali viver e olhar sempre para trás antes de fazer subir mais um qualquer prédio novo, daqueles que são iguais em todo o lado, com cimento, paredes direitas, varandas a metro, sem sabor, nem cheiro.
Ali, em Cidade Rodrigo, é obrigatório olhar para o céu, que cada esquina, cada arcada, cada janela, cada portada, cada palmo, em suma, merece uma atenção especial. Quando, nas nossas urbes, os Centros Históricos são, em geral, uma lástima de abandono, desassossego, sujidade e um desperdício dos nossos valores, aquela lição ficou-me na retina e na memória. Para que conste, aqui a conto tal como a senti.
Por outro lado, foi com prazer que vi, numa montra, uma alusão turística à nossa Costa Nova, com preços de fazer inveja aos da " casa " - 38 euros por um dia de estadia, 90 por um fim de semana inteirinho. Eles lá sabem as linhas com que se cosem, mesmo quanto a preços...
Esta referência pôs-me ainda esta questão: o seu mar é o nosso oceano e ponto final. Porque têm de passar por estas bandas de Lafões, saibamos apanhá-los, em vez de os vermos viajar apenas, olhando para as nossas placas. Precisamos, para esse efeito, de uma outra estratégia e de outras políticas em favor de um turismo de captação e permanência...
Com as horas a fugir, venho por aí fora e dou com as Torres de Pinhel também bem preservadas, mas ainda longe do esforço conjunto que vi em Espanha. Há por ali uns atropelos, uns " modernismos " incrustados que bem se dispensavam. Mas aceitam-se razoavelmente.
Como começo de reanimação desses pedaços de história, ali em Pinhel já vi algo que me agradou. O mesmo poderei dizer de Marialva, de Sortelha, de Monsanto e um pouco ainda por mais um punhado de sítios apetitosos e de boa figura. Mas Cidade Rodrigo a todos esses aglomerados leva a palma... Importa agora é sabermos colher informação para a aplicarmos depois, que copiar os bons exemplos não é nada que se possa levar a mal.
Em caminho para a Guarda, dei de caras, à beira de uma via bem rasgada, com uma anta, mesmo à mão de semear: a da Pêra do Moço, que nos entra pelos olhos dentro. Bem conservada, bem estimada, é um bom modelo de trabalho e esforço colectivo no sentido de salvarmos o muito que nos resta de um passado que não podemos perder.
Mas, por mais que diga, nenhuma das antas que conheço - e são muitas - ultrapassa em arte e beleza a minha - a de Antelas, aqui no concelho de Oliveira de Frades. Essa, sim, essa é de se lhe tirar o chapéu e chorar por mais. Sempre.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Nova vida do Parlamento Europeu

Quando se comemoram trinta anos após a primeira eleição directa dos deputados do Parlamento Europeu, ei-los agora a reiniciar funções, muitos como caloiros, com vista a um novo mandato.
Para quem sente este projecto como uma parte substancial da sua cidadania - como é o meu caso, confessando-o sem quaisquer peias -, ver aquela gente ser minha representante a tão alto nível é um privilégio e uma honra. Nada me incomoda que ganhem, dizem alguns, um balúrdio. Espero é que consigam prosseguir a árdua e ingente tarefa de dotar esta nossa UE da força necessária para ser capaz de liderar o mundo, em ideias, em projectos e em boas práticas.
A minha Europa tem de ambicionar sempre essa dimensão: ser um exemplo e um baluarte de todos os mundos novos, este que esperamos e os mais que vão, necessariamente, aparecer, que isto da história nunca, nunca mesmo, está concluída e há sempre muito de imprevisível a bater-nos à porta.
Nestes dias, os deputados europeus andaram numa lufa-lufa para conhecerem os cantos à casa e até arrumarem as suas trouxas. Para além disso, creio eu, trataram de entabular conversa com os seus pares, de modo a não partirem do zero absoluto. Que tudo isso lhes tenha servido de pontapé de saída para os trabalhos que têm pela frente!
Em Bruxelas, Estrasburgo e Luxemburgo, que conheço razoavelmente, não se pode brincar à política, nem as capelinhas ali fazem sentido: ou se é capaz, ou então é melhor arrepiar caminho e regressar a casa, que outros deverão pegar nesses objectivos grandes, de modo a não perder esse carácter visionário - sempre preciso e essencial - de que a Europa tem vivido ao longo dos tempos.
Convém dizer-se que este é o projecto maior, em termos de capacidade e paz afirmativa, de uma Europa que, não esquecendo o Império Romano, o esboço de Carlos V, a tentativa de Napoleão, etc., alguma vez tem trilhado. Essa é a responsabilidade que recai sobre a cabeça desses mais de setecentos nossos representantes, vinte e dois deles, por sinal, portugueses.
Daqui a uns tempos, um outro pilar, o da Comissão presidida pela segunda vez por um nosso conterrâneo - Durão Barroso - vai entrar em funções também.
Mas agora foi a hora de esta gente não assinar o ponto apenas, mas comprometer-se com o nosso futuro europeu, onde tem de estar inscrito o sentir deste recanto, que não pode, nunca, ficar arredado desta sua nobre e alta missão: inscrever Portugal nesta caminhada colectiva, peso que quero que recai-a, inteirinho, sobre os ombros destes nossos amigos - 22 - que ali têm de prestar o melhor dos serviços.
Foi para isso - e só para isso - que foram eleitos.

domingo, 12 de julho de 2009

Nova forma de desenvolvimento

Está de rastos o esquema de desenvolvimento que tem norteado - com acentuados desvios - o nosso mundo. Ideias e programas, tudo tem andado às avessas. Com muito mais tecnologia, com a ciência em ponto altíssimo, com as máquinas a quase fazerem esquecer a necessidade do homem, o que se afigura desastroso, nada disto resulta em termos de verdadeiro progresso para a humanidade.
Cada vez mais, cavam-se fossos e aumenta a miséria e a desgraça, reforçam-se perigosamente desníveis sociais, distanciam-se os muito pobres dos poucos imensamente ricos, caminha-se para um qualquer abismo e nós teimamos em nada querer fazer para alterar radicalmente este quadro.
Ainda há poucas horas, vi correr Mogadíscio para o terror em que se mantém há anos, com a morte a espalhar-se pelas ruas sem ordem e sem sossego. Ouvi também falar de um Iraque a ferro e fogo, senti o choro de gente que sofre por não ter eira nem beira, nem pão nem saúde, nem feficidade nem alegria. Um pavor!
Vejo reunir os 8, os 20, os 12, os 1000 e tudo continua praticamente na mesma.
Descobri, no Vaticano, uma fresta de esperança: a encíclica " Caritas in Veritate ", que infelizmente não conheço ao pormenor. Associo-a ao Presidente dos EUA, Barack Obama, ao novo Parlamento Europeu a uma nova UE, ao diálogo inter-civilizações e a todos os esforços, tendentes a encontrar um mundo novo.
Misturando tudo isto, talvez se dêem passos mais seguros, de modo a termos uma maior e melhor redistribuição da riqueza, um outro mecanismo de desenvolvimento sustentado, justo e equilibrado, que o actual modelo já provou que está esgotado e morto.
Também Portugal deve saber aproveitar a oportunidade de duas eleições para dizer o que, de facto, quer: ficar como dantes não basta...
É preciso arrojo nas políticas e nas decisões, antes que seja tarde demais.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Um relatório desalinhado

Tenho pena que na Assembleia da República ainda não tenha havido um curso, integrado no programa " Novas Oportunidades ", destinado a ensinar métodos de elaboração de relatórios, que agradem a todos e sejam o reflexo de tudo aquilo que devem conter: a matéria versada nos temas que servem de base à sua existência. Se não preencherem estes requisitos, de nada servem e bem podem seguir o caminho do caixote do lixo.
Como pontos a abordar, eis algumas pistas:
1 - Saber escrever bem, em português de primeira
2 - Introdução e corpo do relatório
3 - Os diversos contributos
4 - Leitura e releitura
5 - Eventuais correcções
6 - Apresentação experimental
7 - Entrega final
8 - Discussão generalizada
9 - Tempo de aprendizagem: um mês, em regime pós-laboral
10 - Formadores: gente independente e séria
11 - Avaliação: um teste que não fale do Banco de Portugal
12 - Certificado final
Posto isto, é hora de se saber que isto de andar a brincar aos relatórios já não é jogo que se ponha na mão daquela gente que ali se senta para, dizem os entendidos, nos defenderem e representarem.
Mas, se, depois de meses de trabalho - e até parece que foi muito bom - se desentendem no momento de passarem a limpo as devidas conclusões, algo ali vai mesmo muito mal.
Precisam, então, de escola e depressa. Quando se aproximam as próximas candidaturas, exija-se um requisito básico: ser capaz de fazer um relatório digno. Só assim, cumprida essa formalidade, podem assinar a respectiva adesão, tal como aquela que tem a ver com a necessidade de preencher uma, uma só lista e nada mais. Embarcar em dois veleiros, à espera de um deles chegar a bom porto, não é política que se cheire, porque nela se vê um interesse muito pessoal e pouco social.
Aplicadas estas regras, mesmo com efeitos rectroactivos, é um dever de cidadania e um imperativo ético.
Boa sorte para todos!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Tópicos para um Portugal melhor

Com uma ponta de egoísmo, sinto-me bem por viver numa terra - Oliveira de Frades - que tem um pouco de tudo e pode até ser apontada como exemplo de um modelo de desenvolvimento de sucesso. A dois passos, cruza-a o A25, no seu seio tem uma potente zona industrial, que, com menor ou maior dificuldade, lá vai resistindo à crise. Desemprego é vocábulo aqui não muito comum. Progresso, apreciamo-lo um pouco por todo o lado. Ar de sucesso também. Com tais ingredientes, este meu recanto, sem ser um oásis, há muito tempo que deixou de ser um sítio atrás do sol-posto...
Sinto-me bem por isso.
Ao aproveitar recursos, soube agarrar ainda as energias renováveis, alavancou algumas iniciativas de boas práticas em turismo, não perdeu a pedalada da avicultura, muito embora tenha desperdiçado grande parte de sua agricultura, qual sinal dos tempos...
Numa outra vertente, pegou em equipamentos que lhe conferem um razoável estilo de vida e um pendor cultural que também nos agrada, sobretudo o seu Museu, uma preciosidade de se lhe tirar o chapéu e o vigor associativo que se nota aquém e além.
Perto do mar e a apresentar como pontos altos e fortes as elevações do Caramulo e da Gralheira,
com a minha Serra do Ladário pelo meio, tem nos Rios Vouga, Alfusqueiro, Teixeira, Águeda e o meu Eirô, outros motivos de interesse.
Com as antas de Antelas - a mais rara jóia da pintura rupestre mundial - e de Arca, além de muitas outras, como imagens de um património que nos enche de orgulho, aqui há de tudo, para se contemplar e, mais do que isso, para se viver intensamente.
Estes são tópicos para um Portugal melhor.
Mas se não virmos avançar a barragem de Ribeiradio, se não assistirmos ao arranque de um sistema de saúde capaz e moderno, se não concretizarmos o apoio consequente à terceira idade, se não olharmos a sério para a sustentabilidade ambiental, se o QREN não deixar concluir as obras de saneamento básico em falta, se a justiça teima em não descolar da cepa torta, ainda não podemos dizer que é plena a nossa satisfação.
Se nunca o será, que, ao menos, se aproxime do seu ponto acessível e possível, o que ainda não acontece, como se pode deduzir destas linhas.
Com dois actos eleitorais em vista, um do foro nacional, outro à esfera local, é chegada a hora de todos assumirem as suas responsabilidades. Se assim for, Portugal e a minha terra serão bem melhores, o que se saudará com entusiasmo e alegria.
Assim venha a ser conseguido este nosso desejo e anseio!
Eis então mais uns dados para um Portugal melhor

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Apoio ao combate à leucemia

Depois de uns tempos de paragem, este regresso acontece numa altura em que andam agitadas as águas políticas - que se amanhem! - e serenas as da solidariedade activa e altamente construtiva. Por um lado, por uma intensa e altuísta acção de Duarte Lima, a Associação Portuguesa contra a Leucemia teve hoje um dia muito especial - o seu.
Quanto são importantes estes movimentos, todos nós o sabemos. Mas poucos têm o arrojo e o discernimento para lhe dar corpo e os colocar em velocidade cruzeiro. Duarte Lima conseguiu esse feito e, agora, os doentes com esta terrível patologia podem respirar um pouco e ter uma acrescida esperança em conseguir a cura tão ansiosamente desejada. Honra lhe seja por isso!
Sem poder partilhar o movimento de tudo dar até à medula, por razões de idade, daqui nos associamos a tão generosa atitude que a televisão nacional tão bem divulgou.
Quando olhamos para estes gestos, vem-me sempre à memória a lembrança de meu irmão que, tratado com especial cuidado, durante cerca de uma década no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, de 1966 a 1975, não conseguiu vencer o flagelo de um cancro que o levou aos catorze anos, mas que nunca mais abandonou a sua família, tal a força que mostrou durante todo esse tempo... Para quem tudo lhe deu nessa prestigiada unidade de saúde de então, vai o meu profundo agradecimento, extensivo a minha família que, nessa cidade e por aqui, foi incansável, assim como todos os nossos amigos e vizinhos.
É por tudo isto que estas campanhas têm, para mim, um significado muito especial.
Quero, assim, enviar ao Duarte Lima e seus companheiros de caminhada um forte abraço e um comovido agradecimento.
Englobo neste sentimento todos aqueles que olham para o outro com esta atenção. Assim, ao Pedro Miguel Rocha que, amanhã, vai apresentar o seu " Juntos temos poder ", também não posso deixar de felicitar e desejar, em nome da AMI, os maiores êxitos e venturas, que bem merece ser assim distinguido, tão nobre foi este acto de escrever um livro para o ofertar a essa prestigiada instituição - a AMI.
É com estas acções que se faz um mundo novo. Nunca com aquelas que hoje aconteceram na Assembleia da República, uma vergonha das vergonhas que, às vezes, nos incomodam.
Mas, essas, que se esqueçam!
Agora, vivam os bons exemplos, estes que aqui apontei!

terça-feira, 23 de junho de 2009

Eleições: tudo ao molho e fé em Deus

Com dois actos eleitorais em disputa, um com marcação com selo do Primeiro-Ministro - as autarquias - e outro da responsabilidade do Presidente da República - as legislativas - , está aberto mais um eventual fosso entre estes dois pólos. Se, no primeiro caso, se defende que cada eleição tenha um dia em exclusivo, no segundo, começa de fervilhar a ideia de que tudo se pode juntar, em nome da poupança...
Pessoalmente e por razões de essência democrática, por força de dar voz separada a quem assim a deve ter, inclinamo-nos para dois momentos, claramente distintos, que isto de falar de poder local nada tem a ver com o grande vozeirão nacional. Em cada esquina, haverá uma proposta, que só é coberta, em muitos casos, pelos partidos por assim ter de ser, em nome da facilidade processual. Mas o que se avalia é a ideia, é o projecto, é a convicção do conhecimento próximo e pessoal. Quanto às legislativas, o caso muda de figura, para se centrar nos figurões: os nomes televisivos, que todos os dias nos entram pela porta dentro. São duas lógicas em confronto, pelo que não podem ser amalgamadas num caldeirão único, por mais que queiramos poupar uns cêntimos. A dignidade da democracia, repetimo-lo, não se pode medir por essa bitola do colchão, ou do travesseiro. Tem os seus custos e um deles é este de lhe conferir um espaço e um tempo próprio!...
Quando se pensa (queremos que assim não aconteça) juntar tudo num mesmo saco e esperar que desse molho incaracterístico saiam os melhores resultados, por menos dinheiro, é confundir ainda mais as nossas gentes, que têm o direito de fazer escolhas com calma e serenidade.
Se estamos mais distantes da área governamental que da presidência, somos levados a esta aparente discordância por defendermos, acima de tudo, a possibilidade de escolher sempre, e na devida altura, os nossos representantes.
Por acaso, este ano fez aparecer três actos eleitorais. Coincidência de calendário, que não anulação da democracia. Se, por outra hipótese, tivessem sido objecto de um outro tempo, nada destas confusões estariam a acontecer. Pensemos assim e deixemos de lado a esfera dos números. Poupemo-los noutras rubricas, nunca no exercício do mais puro direito e dever: o de votar, sabendo para quê e para quem, sem quaisquer dúvidas ou engulhos.
Tudo ao molho e fé Deus? Não, Senhor Presidente, por favor!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A minha tropa e o Ronaldo

Quase década e meia antes de Cristiano Ronaldo ter nascido, andei eu pela Madeira, em trajes militares e civis, porque ali me chamou o serviço militar obrigatório e quase universal. Ligado ao então BII 19, instalaram-me lá em cima numa espécie de dependência da Força Aérea, a pouca distância do Pico de Barcelos, mas este do Funchal, esclareça-se.
O Verão de 1972, numa ilha bem diferente do que é hoje, foi ali passado, entre o quartel e as piscinas do Lido, as esplanadas à beira-mar, as costas do norte e do sul, desde o Caniçal ao Porto Moniz. Naqueles paraísos, até o futuro, daí a meses, pouco nos preocupava. Moçambique e o M'Cito, lá onde o comboio marcava o rimo e as horas, sendo mensageiro e local de trabalho, nem sequer eram imaginados.
De Ronaldo ninguém falava e mesmo o Dr. João Jardim, que tem um estilo em que me não revejo de maneira nenhuma, mas uma obra que admiro e respeito, nunca dele ouvira falar. Os noventa e quatro milhões de euros de hoje, pagos por Cristiano, comparados com os noventa escudos que, mensalmente, ali nos caíam nos bolsos, são qualquer coisa de um outro mundo. Até aquelas terras, trinta e sete anos depois, nada têm a ver com os tempos que ali vivemos.
Pelo meio, andámos nós, militares da CC 4941, nas escaldantes paragens de um mundo onde Deus parecia nunca ter chegado, mas que a muitos de nós amparou com Suas mãos, algures entre Tete e a Beira, com Moatize, Caldas Xavier, o nosso M' Cito, Doa, Mutara, Rio Zambeze e Sena entre as muitas localidades que se nos tornaram familiares. Durante mais de dois anos, a vida teve ali um interregno, duro, doloroso, mas real.
Quis o destino que, no passado dia 11, nos tivéssemos reunido, em sentida confraternização e convívio, na Quinta do Pinheiro, meio caminho entre Alcobaça e a Nazaré. Neste vivo e revivificante reencontro, senti saudades do Capitão Brás Pinto, do Soares, do Freitas, do Malheiro e de todos aqueles que só estão connosco em pensamento e recordação, que a morte os levou para sempre.
Creiam que, ali, me esqueci de Ronaldo e da vida de hoje. Praticamente sem querer, só me sentia transportado a 1972-1974, à Madeira e a esse imenso Moçambique, um tempo sem tempo que me coube enquanto jovem e português. Relembrei Zeca Afonso e as conversas à mesa em redor de um outro mundo, que estava sempre em choque com aquele que nos puseram à frente. Não esqueci o gozo que nos dava conspirar todos os dias, ainda que nalguns deles comessem, ali mesmo, agentes da DGS/PIDE, em trânsito.
Dia a dia, de 1972 a 1974, muito ali se criticou o regime, tanto que Brás Pinto teve de ir prestar esclarecimentos a uma ZOT de Tete, que sempre mostrava a sua preocupação com o ambiente que no M'Cito se vivia.
Mas foi esse espírito que, animando-nos, nos dava força para alimentar o sonho de um dia regressar.
E assim aconteceu, como se demonstrou neste regresso simbólico a África, no dia 11 deste mês.
Um abraço amigo para todos aqueles que, comigo, estiveram no M'Cito, para calcorrear milhares e milhares de quilómetros em comboio, com os olhos nas cargas críticas que seguiam para Cabora Bassa e o coração ao largo...
Eterna saudade para quem, sendo dos nossos, já ali não pôde estar. Até sempre.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Menos e mais

Sem gostar de andar armado em classificador de gentes de que sei sempre pouco, porque outros têm o dever de, neste dia 10 de Junho, distinguir e voltar a distinguir, vou cair, não sei por que carga de água, na tentação de espalhar mais e menos, tendo em conta a minha cabeça e só a minha cabeça. Ei-los:
Mais - Luís de Camões, Aníbal Cavaco Silva, Paulo Rangel, Manuela Ferreira Leite, José Eduardo Betencourt, Nuno Melo, Miguel Portas(...), Basquetebol do SLB, Meteorologia e a chuva, Força Aérea Brasileira e demais entidades envolvidas na operação 33o, incluindo a França e seus apoiantes, Luís Vasconcelos, Oliveira de Frades, pela excelente sinalização toponímica que está a colocar na sua vila, ex-Provedor da Justiça.
Menos - José Sócrates, Vital Moreira, Víctor Constâncio, Paulo Pereira Cristóvão, Luís Filipe Vieira, Carlos Queiroz, cidade de S. Pedro do Sul, tão nova e tão fraquinha, mesmo que ainda ande de chupeta, ou quase não tenha nascido(...), Assembleia da República no seu todo.
Assim-assim - António Carlos Figueiredo, S. Pedro do Sul, porque não quis perder a oportunidade de ser um citadino com cara de quem só veste esta fatiota porque o QREN assim o exige(...)
A razar a trave - Telmo Antunes, Vouzela, por não se calar face ao intrigante enredo que, em Lafões, minou o sector da saúde(...)
Nem sim, nem sopas - Os portugueses que não quiseram votar, porque eles lá sabem qual a razão que os levou a ficar em casa.
Haverá mais, talvez...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Dia da Criança

Nada melhor do que, ao evocar este dia, começar com palavras grandes a recordação de quem, sendo pequenino, é para nós de um tamanho incomensurável: VIVA A CRIANÇA!
Recuando no tempo, anos e anos, vêm-nos à memória a lembrança de quem fomos, o orgulho de quem nos sucedeu, a alegria das meninas e meninos que povoam o nosso mundo, que hoje é bem melhor que o nosso, mas também a angústia de sabermos que, em lados demais, se regrediu, se andou para trás, se atropelam as crianças, se matam os seus sonhos, se amputam os seus desejos, se cava mesmo a sua antecipada sepultura.
Nesta terra de terríveis opostos, o Dia da Criança é muito pouco para o muito que, em seu favor, tem de ser feito. Sendo um grito de alerta, vale isso mesmo. Mas é pouco. Se a festa alegra, a inércia angustia, destrói.
Hoje, 1 de Junho, VIVA A CRIANÇA, mas sempre e em todo o lado!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Uma excepção na justiça portuguesa

Começo esta crónica com uma declaração de interesses: até prova em contrário, sou um crítico acérrimo do sistema judicial português e não vejo nele qualquer sinal de grande confiança, sentindo mesmo que caminha de mal para pior. Temo as consequências que, resultante desta constatação, podem vir para a minha terra, o meu país, os meus concidadãos. Abertamente, não creio que a nossa justiça seja aquele primor de organização e instituição que sempre me tentaram fazer ver e aceitar.
Mas, como em tudo, há poderosas excepções, o que, talvez, confirme esta triste regra. Uma delas é esta: em Oliveira de Frades, aqui bem à beirinha do A 25 e não no fim do mundo, há uma Juíza, assim mesmo, com total toque de cargo feminino, que prima pela boa educação e pelo respeito por quem ali vai em busca de decisões, ou mesmo de consensos e acordos.
Quando, por qualquer motivo, não pode dar seguimento aos actos inerentes à sua nobre função, tem o cuidado de chamar todos os intervenientes, a quem explica, tim-tim por tim-tim, as causas de tal anomalia.
Tiro-lhe, por isso, o meu chapéu, apontando este modelo de funcionamento como uma boa pratica a seguir pelos seus sisudos(as) colegas, que, em casos semelhantes, se fecham em copas, enviando um seco recado por qualquer um(a) de seus(suas) funcionários(as), sem um simples pedido de desculpas.
Porque esta Juíza sente que tem gente à sua frente, porta-se à altura do mundo das relações civilizadas, o que só a dignifica e, por arrasto, muito prestigia esse combalido reino da nossa justiça.
Humanizar os serviços é um dever e um código que cabem bem nas sebentas de quem tem por missão tratar das coisas do direito. Mas há mil e um de seus agentes directos e altamente responsáveis que nunca assumiram patavina destes ensinamentos - o que se lamenta e se condena com todas as letras.
Esta Juíza, pelo menos por duas vezes - tantas como aquelas que presenciei - deixou esta sonora lição. Parabéns, por isso. Nunca esmoreça quanto a esta matéria: aquelas pessoas, que por ali se amontoam ( outro aspecto a corrigir ), não esquecem a consideração que, sendo-lhes devida, só com V.Exa tem sido conseguida!
Se há mais destes bons exemplos, ainda bem. Mas, então, tenho o azar de conhecer estes e só estes...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Políticos na estrada

São aos milhares em vinte e sete países, os da UE, aqueles políticos que tentam convencer os eleitores a darem-lhe os seus votos. De terra em terra, o Parlamento Europeu adquire agora maior encanto na despedida do mandato anterior e na chegada de uma nova Casa.
Na estrada, vendem-se promessas, inventam-se sonhos, dá-se o que se tem e até aquilo que nunca se viu: de bolsos desvirados, sem um tusto, falam em milhões; de calças rotas, apregoam fatos de cetim; de barriga vazia, arrotam marisco; de cabeça sem nada, até parecem ser reis de tudo, mas, afinal, de nada.
Esta é a visão que temos dos políticos e das campanhas. Mas não devemos ver assim um exercício de cidadania, que é este, o de escolhermos os nossos representantes no Parlamento Europeu. Afinal, ali se joga o nosso destino, o nosso, que é, ao mesmo tempo, português e europeu, europeu e português. Naquelas sedes, de Bruxelas ao Luxemburgo, passando por Estrasburgo, é a nossa vida, a nossa, que está a ser repensada. Esta votação requer, por isso, uma atenção especial. Deixar para outros uma decisão, que a nós diz respeito, pode ser um risco, uma grossa asneira, que ninguém tem o direito de agir e decidir por cada um de nós, a não ser que lhe transfiremos, por uma espécie de procuração, o nosso destino - o que só se deve fazer se houver a maior das confianças - e isso só em último caso. Regra de ouro: primeiro pegar no que é nosso, nem que isto pareça egoísmo, e só depois fugir da cena... Mas, repensando, votar, votar sempre e em consciência.
É isso que se deseja no próximo dia sete de Junho.
Ouvir, ver e decidir, eis o melhor dos lemas.
Ficar em copas é matar a Europa que queremos viva, bem viva, cada vez mais viva.
Diz isto quem mora numa aldeiazinha, à beira da Serra do Ladário, sempre a olhar para o Caramulo e para Lisboa, onde as filhas, pensando diferente, por serem livres, vão votar em quem quiserem, mas não faltarão a esse exercício de um dever, que muito gostamos que sejam elas a gerir.
Qualquer que seja a sua escolha, para nós é a melhor do mundo, mesmo que nada tenha a ver com as nossas opções.
Só assim seremos livres e conscientes. Só assim.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Dia da Autonomia do Poder Local

Vi no calendário que hoje, dia 20 de Maio, se assinala a Autonomia do Poder Local. Para a nossa realidade política e social, se há datas com substância esta é uma delas. No pódio desses eventos com direito a dia especial, não pode ficar muito longe dos lugares cimeiros.
Na escala das decisões, a da proximidade, a das Juntas de Freguesia, a das Câmaras Municipais, tem um lugar de relevo quanto aos seus destinatários: os cidadãos. Deve-se isso à feliz ideia de a nossa Constituição ter elencado entre os seus valores e prioridades, em termos de desenvolvimento e de organização do Estado, o poder local como primeiro repositório das medidas a tomar em favor de toda a nossa gente. Com um poder central distante, um poder regional ainda no segredo dos deuses, as autarquias são o sinal, a marca e o peso mais decisivo e importante que todos nós encontramos para resolver as questões do dia a dia e, mais do que isso, projectar o futuro e fazer sonhar com novos dias.
Ao entregarmos a quem está connosco na rua, no café e em todos os locais das nossas vivências o próprio destino, estamos a dar o maior contributo à causa da confiança e da democracia. É, por isso, que as eleições autárquicas despertam tanto entusiasmo e tanta participação, um pouco a contra-vapor com o que acontece com os demais actos eleitorais...
Mas o grau de adesão a este sistema tem a ver com o facto de esses cidadãos, que recebem a transferência de poder, terem uma voz e uma capacidade de deliberação que lhes advém do voto secreto e universal que receberam. Esse é o seu maior trunfo e o selo da Autonomia que hoje estamos a celebrar.
Se, algum dia, concretizarem o descabido método da escolha indirecta, chegou a sua própria morte. Di-lo quem viveu com uma grande "fé" as autarquias e quem sabe distinguir entre um poder com dignidade e o exercício de funções sem o devido suporte - a eleição.
A Autonomia do Poder Local, digamo-lo sem tibiezas, é um dos maiores tesouros do pós-25 de Abril. Mas só assim continuará se o sufrágio de todos os seus protagonistas nunca for posto em causa.
Para que mantenha a sua vitalidade, nunca se lhe corte a raiz: as eleições directas e universais.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Dicas para um bom professor

Disseram os jornais que o Ministério da Educação teve o extremo cuidado de fornecer textos de leitura obrigatória, como conduta, por alturas dos exames de aferição que estão a decorrer no 1º ciclo, nas disciplinas de Português e Matemática. Queixaram-se de que aquela foi uma prática algo estranha, descabida e até a resvalar para o ridículo. Nada disso. É nossa opinião que pecou por escassa, faltando-lhe muitas outras indicações. Adiantamos algumas mais e ficam sempre muitas outras no tinteiro, mas, quanto a isso, paciência...
- Carregue na campainha de entrada. Diga " bom dia " ao segurança.
- Dê dois passos, antes de começar a subir a escada.
- Ponha um pé antes do outro, em cada degrau.
- Páre no patim cimeiro e olhe para baixo, a ver se vem alguém atrás de si.
- Se vier, aguarde. Cumprimente com um sonoro " Bom dia ".
- Bata à porta do Director e sorria, pois está a ser filmado.
- Diga-lhe, a sorrir, mas quase com a boca tapada, que ali está para servir as regras, a lei e a ordem e ler tudo o que de Lisboa vier, de fio a pavio.
- Recue devagarinho, sempre a olhar para o Senhor Director.
- Repita: " Bom dia " e acrescente "muito obrigado".
- Receba as provas, abrace-as, leve-as com cuidado, mas peça que alguém o acompanhe, que pode dar-se algum incidente e ficar sem essas preciosidades.
- Caminhe, em bicos de pés, em direcção à sua sala. Conte pelos dedos todos os alunos, para não se enganar no número que tem a seu cargo. Repita três vezes esta operação e respire fundo.
-Entregue os exames e leia, com um cuidado redobrado, a lenga-lenga que lhe chegou às mãos, frase a frase, sem qualquer omissão ou alteração.
- Aguarde pela conclusão de todas as provas e não esqueça os avisos prévios, estilo " têm 15 minutos ... 14 ... 13... 12 ... 1... 0. ". Receba-as e meta-as no cofre que lhe deve ter chegado também.
- Corra para a GNR e dê-lhe tudo isso, rápido e sem conversas.
- Siga para casa, estenda-se no sofá e inspire, expire, inspire, expire, que passou o pesadelo.
Amanhã tudo voltará à normalidade, que este episódio foi apenas um excesso, a não repetir, se houver um Ministério que saiba aquilo que deve fazer.

domingo, 17 de maio de 2009

Falar por falar

Às vezes, é mesmo assim: uma espécie de bloqueio atravessa-se à nossa frente, erguendo uma muralha, e quase não nos deixa falar, escrever, dizer qualquer coisa de jeito. Ou então a catadupa de notícias, de casos e mais casos, é de tal maneira avassaladora que não há ponta por onde se lhe pegue. É, muito provavelmente, este o sintoma de que estou a sofrer: uma congestão indigesta dessas trapalhadas em que vivemos. Vejamos:
- De Alcochete e do Freeport só nos vêm cenas tristes, tal como esta de, dizem, haver a hipótese de interferências estranhas na evolução do processo parado, que não anda, nem desanda. A ser assim, é mau demais. Bem pior do que tudo quanto imaginávamos.
- Da justiça, dizem, os magistrados estão tão mal vistos, que chego a corar de medo e de vergonha.
- Do Bairro da Bela Vista chegou mais um sinal social e de polícia, que não pode deixar-nos de braços cruzados, nem a olhar para o ar. É preciso agir depressa e bem, antes que se entorne todo o caldo.
- Do Minstério das Finanças e do seu parceiro do Emprego, as evidências são de arrepiar, com tanta queda e tanta subida: tombam os índices económicos, trepam as estatísticas do desemprego, o que é dramático.
- Do Manuel Alegre não saiu nada de novo, a não ser o contraste com a sua frase mais emblemática: agora, dizem, vai mesmo calar-se, porque lhe vai faltar palco e a comunicação social esquecê-lo-á bem mais apressadamente do que aquilo que se julga. E, em 2011, nem o PS dele se recordará para o combate presidencial... Este meu amigo simpático de Águeda, ali junto ao Restaurante Ribeirinho, parece ter escrito o seu destino: caçar, pescar e escrever poesia, tarefas que faz a preceito e com arte. Boa sorte!
- Neste tropel de notícias tristes, destaco, pela positiva, a voz da Igreja, quanto à entrega, uma vez mais, às causas sociais, via apoio às vítimas da crise.
Valha-nos isto, para nos sentirmos com algum pingo de energia. Só isto justifica que tenhamos vencido a muralha que tínhamos à nossa frente.

sábado, 9 de maio de 2009

Obrigado, Finanças

Aqui está quem , em nome de minha mãe, mas sem qualquer serviço encomendado, se revoltou pelo facto de lhe estarem a exigir uma declaração de IRS, relativa a 2007, porque não teve nisso qualquer culpa. Disse então que era um exagero e um excesso de falso zelo, que só servia para desacreditar o Estado e nada acrescentava ao erário público.
Vejo agora que se pretende recuar, o que só revela, Senhor Ministro, um sinal de humildade e de bom senso, mas não havia, sejamos francos, outra saída. Querer ser mais papista que o papa era asneira da grossa e uma prova de falta de humanismo e até de tacto. Rever tudo de novo é, assim, bom caminho. Mas tem de se ir até ao fundo e fazer arquivar tudo quanto a estes processos diga respeito, que as meias-medidas só acabam por estragar tudo e deixar sempre alguém com razões de queixa.
Saiba ainda, Senhor Ministro, que em gente de tão baixos rendimentos todo o cêntimo que se lhes poupe e toda a chatice que se lhes não dê são obras de misericórdia, que terão justa paga e V.exa nada perderá com estas e outras medidas.
Em nome de minha mãe, que até talvez - e ela lá o sabe! - não vote nas suas listas, o meu bem haja, aqui expresso, sabendo eu - aqui o reafirmando - que não terá o meu voto. Mas tem sempre a minha consideração. Obrigado por assim ter agido.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Maio, o meu mês

Sem ser hábito nesta casa, hoje vou falar um pouco de mim, para agradecer aos meus pais o dom de me terem colocado no mundo num dia cinco deste mesmo mês de Maio, há anos, há muitos anos. Por me terem permitido usar a faculdade de usufruir de uma vida, que muito me honra, por tudo terem feito por mim, ainda que sempre debaixo de grandes dificuldades, por terem dado tudo e tudo a quem não conseguiu andar comigo muito tempo, que a dolorosa morte o levou ainda criança - que dor, que saudades! -, quero agradecer-vos, queridos pais.
Com um pesar enorme, tu, pai, só me escutas já do outro lado, pelo que todos os dias, todos, te revejo em pensamento, mas tu, mãe, estás aqui comigo. Continua assim por muitos, muitos anos e perdoa-me as incompreensões, os choques de gerações, mas crê que te amo muito.
Neste andar pelos anos, ganhei muito, muito com a família que tive desde esse longínquo cinco de Maio e com aquela que tive a sorte, muita sorte, de ter encontrado pelos anos fora, construindo-a sempre com um entusiasmo enorme, enorme.
Por tudo isto, sinto-me feliz. Fiz pouco? Fiz muito? Fiz tudo o que podia e devia?
Sim e não, não e sim.
Mas, acima de tudo, tenho tentado ser sempre melhor hoje que ontem e desejo manter esta ânsia de fazer mais e mais, mas bem, muito bem, daqui para a frente.
Por ter da vida a noção de que nada há melhor que ela, que não tem preço, que é um valor indestrutível, que é o mais supremo dos bens, estimo-a com todas as minhas forças e quero continuar a partilhá-la com aqueles que me são queridos, muito queridos. Porque sozinho não sei viver, nem isso importa. Só em comunhão é que é bom festejar esse dia cinco de Maio, sobretudo com a minha família chegada, muito chegadinha, ao meu lado.
Se para o ano cá estiver, desde já agradeço ao Alto essa dádiva, que, evidentemente, muito me satisfaz. Mas com toda a minha gente, claro.

sábado, 2 de maio de 2009

Um dia depois de 1 de Maio

Aqui estou eu na minha varanda. O sol já se pôs, há minutos, escondendo-se, numa caminhada que o leva para o Ocidente, lá onde eu não sei onde fica, para voltar amanhã. Ontem foi dia 1 de Maio e o calendário, coordenado com a história da luta por uma vida mais digna, vem dizer-nos que é preciso parar, recordar velhos sofrimentos e partir para outros paradigmas, bem mais condizentes com a dignidade que temos o dever de abraçar e divulgar.
Olhei para esse dia com o respeito que ele me merece. Lembrei-me de quem trabalha e daqueles que perderam esse direito, ou ainda o não alcançaram. Entristeci-me com todos eles. Num caso, por saber que nada do que foi conseguido é seguro, noutro, porque a ânsia de encontrar um porto de abrigo fala mais alto que qualquer outro objectivo. Numa altura em que a liberdade de escolha está ameaçada, saber que se tem um ancoradouro dá ânimo e fortalece quem quer que seja. Mas isto não é tudo: nesta dúvida, nesta asfixiante incerteza, nada pode avançar com a pedalada que se deseja e isso não augura um mundo por aí além...
Celebrar o dia 1 de Maio serve de alento para quem sabe que pode contar com o pão salvador, mas não contenta quem o não tem. Cantar por uns e verter lágrimas por outros é o caminho que, por mais que nos doa, temos de seguir.
Ontem pensei nisso mesmo. Estranhei, condenando-o com todas as minhas forças, aquele sururu que aconteceu na manifestação da Intersindical, mas não lhe dou todo o significado da data em apreço. É lamentável que se entre pelo campo das agressões, mas temos de ver que estes tempos não vão de maré para quem sofre, para quem nada tem e pouco espera. Sem poder ser justificado, pedidas as devidas desculpas, é hora de ver que é necessário encontrar formas de resolver estas e outras situações bem complicadas e o 1º de Maio nasceu para isso mesmo.
Dele retiro a essência e sacudo a espuma. Que a crise não suporte todos os atropelos, eis um desejo e uma aspiração, sincera, serena e, sobretudo, muito pensada...
Ontem foi dia 1, amanhã será dia 3. É do futuro que quero que se fale e não de um passado que já mostrou as suas debilidades e pontos fracos. Partamos, então, em frente, que se faz tarde!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Novas tecnologias nas campanhas

Este é um bom sinal: o aproveitamento das novas formas de comunicação, para informar, atrair e , por mau ricochete, " moldar " os cidadãos tem a grande virtude de mostrar que se está atento a este recente fenómeno, que o Presidente Obama sabiamente explorou até ao tutano. Em Portugal, a moda está a chegar e parece pegar. Bem-vinda seja ela!
Com tais ferramentas, espera-se que, concomitantemente, haja mais cuidado no conteúdo que se veicula ou se pretende que entre nas camadas populacionais. Não basta ser-se moderno na forma, sendo necessário e urgente que os políticos se consciencializem que têm de cuidar melhor das suas missões e funções, enriquecendo o conteúdo.
Abrir o telefone ao comum dos mortais, dar-lhe todos os programas sociais, que a Internet faculta, pôr-se a jeito para ouvir são bons caminhos. Mas são pouco, ou mesmo nada, se as mensagens recebidas caírem em saco roto, se as ideias postas à disposição dos seus destinatários não valerem dez réis de mel coado, se isto não passar de um vulgar "mostrar serviço", se se ficar pela aparência de que se está a par do que é "fixe", isto é, se o testo não der com a panela.
Como somos gente de bem, não desconfiamos das intenções, por exemplo, para citar os casos mais recentes, do PSD e do PS, mas ficamos sempre com um pé atrás, porque, com frequência, quer dar-se mais do que aquilo que se possui, até para não perder o dito comboio das novas tecnologias... E isso pode deitar tudo a perder e fazer sair o tiro pela culatra.
Com o coração aberto, aguardemos e participemos todos nesta grande obra que é construir um mundo melhor.

sábado, 25 de abril de 2009

Um 25 que foi a 26

Perdido na imensidão moçambicana, algures entre a Beira húmida e Tete seco e a ferver de calor, não tive a sorte de ter contactado com o 25 de Abril no dia em que teve mais encanto. Um tanto ao retardador e a conta-gotas, só com ele comecei a conviver no dia seguinte: 26, obviamente. Mesmo assim, veio ter comigo mais lento e vagaroso que um pachorrento caracol. Apareceu carregado de nevoeiro, atascado da dúvidas, incerto e inseguro. Ali, onde tudo era escorregadio e a vida andava sempre amarrada com arames mais finos que linha de renda, nada podia ser visto como seguro ancoradouro. Nem o 25 de Abril, lá do "puto", que se percebia sem se perceber, de que se falava sem nada se saber, mas que se vivia porque assim tinha que ser.
Em Lisboa, os camaradas das armas, caldeavam-nas com ramos de cravos. Ali, ao lado do Zambeze, a jusante de Cabora Bassa, em cima dos carris da via-férrea Beira-Tete, não se viam nem cravos, nem espingardas mansas: eram material a sério, pronto para o que desse e viesse.
No dia 26, começámos a acreditar que algo de novo acontecera. Disseram-no os rádios de algibeira, sussurraram os comandos, cochicharam uns e outros, mas ninguém sabia nada de nada.
De repente, lembrei-me das Caldas, do passado dia 16 de Março, quando, por coincidência, me encontrava na então metrópole. Fez-se luz e um incrível " Eureka ": aquilo era mesmo uma vida nova, aquela com que tanto sonhara e que, por vias enviesadas, me chegava às mãos. Lera-o nas cartas amigas, nos jornais meio clandestinos, estilo " Independência de Águeda ", " Comércio do Funchal ", " Opinião " e, sobretudo, devorara-o, horas a fio, nas canções de Zeca Afonso, que ouvíamos a torto e a direito, com a conivência de todos e o agrado de muitos.
Descobri, então, que em Lisboa se ia escrever a história de uma outra maneira.
E chorei de alegria.
Mesmo a 26, o meu 25 de Abril de 1974 veio para ficar.
E marcou-me.
Para sempre.
Mas quero deixar de lado os excessos que teve.
Dele guardo a essência: a liberdade, a democracia, o humanismo, o rasgar de horizontes.
Dele retenho o Portugal novo que fez despontar. E o homem novo que fez em cada um de nós.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Dia Mundial do Livro

Hoje é um dia especial, porque nele se assinala um dos pilares básicos da cultura de um povo, convertendo-se em poderosa alavanca de um desenvolvimento integrado e sustentado: o livro, essa fonte de conhecimento, de pensamento, de reflexão, de acção consciente e construtiva, de prazer, de enriquecimento individual e colectivo.
Antes deste computador, que suporta a minha escrita e me fornece muitas leituras, me traz novidades, notícias e muito do que se passa e se viveu por todo o mundo, era na lousinha, no caderno e nas folhas que imprimia as minhas letras e dava forma aos textos e ideias, assim como era apenas no livro que bebia grande parte daquilo que aprendi e sou. Por tudo isto, transporto comigo a mais bela de todas as cargas: a dos livros, que me enfeitiçam, me entram pelos olhos dentro, me convidam a, com eles, confeccionar o mais nutritivo dos alimentos, me consomem alguns, muitos, euros, me enchem a casa, me atafulham os armários, me fazem andar sempre numa fona à procura de espaço para os colocar, os olhar e, depois, os arrancar desses pedestais e, novamente com eles, partir para longas caminhadas...
Sem eles, talvez o meu mundo não fosse aquilo que é. Talvez, não. De certeza, evidentemente.
Hoje, quando um dia lhe é consagrado, teço-lhe um hino de agradecimento, dizendo que nem o citado computador, que muito aprecio, deles me faz separar.
Mas tudo isto é assim, porque as minhas professoras da velhinha e inesquecível primária, aquela que ensinava e transmitia valores, me estimularam a consumi-los, com voracidade, com interesse, com força, com alegria. A elas devo esse enorme favor, que, em minha casa, o livro só entrava por essa porta - a da escola, antes e depois das aulas, sobretudo depois de horas e horas de sala de aprendizagem, de muito estudo, de viagens sem fim pelos comboios virtuais, pelos rios que não eram melhores que o meu, o do Eirô, mas que tinham honras de cátedra, eles e os seus afluentes, de passeio pela história de Portugal, do Minho a Timor, pela geografia, pelos ossos e demais partes do corpo humano, pelas plantas, com tronco, espique, colmo, caule, folhas, flores e frutos, pelas rochas, pelos ditados, redacções, palavras difíceis e tantas coisas mais. Agradeço a meus pais, que sempre me mostraram que o saber não ocupa lugar. Integro aqui todos os meus professores, que fui encontrando pela vida fora.
Mas uma palavra especial é devida ao falecido benemérito, Comendador Manuel Fernandes Gomes, que ao concelho de Oliveira de Frades (entre outros), a todas as suas escolas, ofereceu, quando esses gestos eram raros, bibliotecas, em armários próprios, que, a partir das décadas de cinquenta e sessenta do século passado, fizeram, então, as minhas delícias. Sei que hoje, dia 23 de Abril de 2009, ainda por aí andam. Essa longevidade é o maior dos elogios que se podem fazer a essa dádiva tão especial, mas, sem a visão altruísta e visionária, do Comendador Manuel Fernandes Gomes, nada disso teria sido possível. Bem haja, esteja onde estiver. A minha gratidão eterna aqui fica.
O mesmo quero registar, quanto à Fundação Calouste Gulbenkian e às suas carrinhas ambulantes. Obrigado, também.
Porque hoje é Dia do Livro, há hinos que não podem ser esquecidos e o do reconhecimento está nessa primeira linha, como é óbvio.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O excesso das Finanças

Que andam mal as finanças portuguesas e mundiais, isso nós sabemos de cor e salteado e o FMI não se esquece de o relembrar, como agora aconteceu ao prever uma queda do PIB em 4,1%, enquanto o nosso BP, bem mais meigo, se inclina para os 3,5%. Mas garante o Primeiro-Ministro, em mais um festim na Assembleia da República, ainda há poucos minutos, as despesas, na ordem dos 21%, estão debaixo de controle, o que nos deixa mais aliviados, se a realidade o não desmentir, dentro de poucos dias. A ver vamos...
Mas duro de ouvir foi a sua teimosia em permitir que os idosos, aqueles que pouco recebem e a quase tudo se calam - estranha sina! -, venham a ser punidos com coimas, por não terem entregue a declaração do IRS, referente a 2007, assim procedendo porque nunca lhes passara pela cabeça que estavam perante tão bizarra obrigação. Por interpostas pessoas e vias, fizeram ecoar as trombetas do seu descontentamento, aqui mostrando que não querem ficar sempre calados, mas parece que as suas vozes se perderam, ou, ao baterem na portas de S.Bento, só encontraram a força empedernida de quem apenas lhes passa cartão para receber os seus votos...
Conscientes de que têm o dever de responder às solicitações do Fisco, o tal cesto dos velhos impostos, quanto a 2008 não regatearam qualquer entrega. Sem acessos a "offshores", deram-se ao trabalho de ir às Finanças, ou até pela Internet, para não deixarem esse seu dever passar ao lado. Outros, porém, nesse mesmo momento, desviaram somas infindas e toda a grande gente se cala, mas aos idosos tudo fazem para lhe sugarem mais uns cêntimos. É isso um abuso e uma descarada medida que, sem um pingo de vergonha, arranca a estes nossos amigos mais sono que, propriamente, dinheiro. Mas onde pouco há, uma migalha que se tire faz mossa e da grossa.
Para que conste, o caso é este: como antes os montantes recebidos estavam isentos, agora em 2009 repesca-se 2008, face a novos valores, o que pode ter alguma lógica. Mas ir até 2007 é um disparate de todo o tamanho e até uma ofensa à dignidade e integridade desta nossa querida gente.
Recuar, aqui e agora, impõe-se. Avançar é cair no ridículo de uma decisão que a todos faz perder.
Se assim for entendido, eis uma sugestão: se a indignação não chega, passe-se à desobediência civil... Eles, aqueles que têm um coração mais duro que um calhau, bem merecem que assim se proceda. Vamos a isso!...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Balanço da Primavera em dia de Inverno

O Banco de Portugal falhou na escolha do dia para apresentar o Relatório da Primavera. Com a chuva que cai e o frio que se faz sentir, estava mesmo a ver-se que dali não sairia qualquer coisa de sossego. Assim foi: uma desaceleração de mais de três por cento ao ano, uma forte quebra na expectativa de crescimento, um certo ar de deflação, uma visão de desemprego que ronda os limites do equilíbrio, uma esperança adormecida, para não dizer em coma, um mundo que teima em não encontrar meios e formas de sair da crise, um país carregado de dores de um parto que nunca mais faz aparecer o bebé do nosso contentamento, uma terra que, disseram, só se salva se a outra parte da Europa der sinais de ser capaz de saltar do abismo em que se encontra, eis um quadro que nada nos agrada.
Valha-nos esta consolação: o PSD, do saco das hipóteses, tirou aquela que, sendo a mais cinzenta, traz o selo MFL, descartando todas as pressões, mesmo a de S. Marcelo que tanto acenou com o Dr. Marques Mendes. Recaindo a opção no Dr. Paulo Rangel, aí temos uma cópia do CDS, que também descapotou a Assembleia da República para descalçar a bota da Europa. De uma rajada, a direita não foi capaz de sair dos baralhos com que sempre tem jogado, o que pode ser uma virtude - a da continuidade e a da persistência - mas também uma desvantagem - a da inacapacidade de se abrir à sociedade.
Salvo uma ou outra excepção, os partidos, todos eles, parecem olhar para o Parlamento Europeu como um expediente a resolver e não como a escolha dos nossos representantes para o mais alto órgão da nossa UE. Tenho de dizer que isso é um erro de todo o tamanho e uma visão mesquinha, quando a realidade imporia outro raciocínio e outro rasgo: apresentar trunfos em vez de manilhas, reis ou até uma espécie de duques... como se isto seja um acto de menor importância.
Sendo este o último dos dados em presença, arrancado a ferros, quase a cesariana, agora é altura de se ver quem, tendo dedos - ainda que tortos - melhor toca guitarra. Sem qualquer Carlos Paredes em palco, com uma plateia entristecida com as notícias vindas do Banco de Portugal, com uma Europa ainda não totalmente segura de si, não é animadora a peça que nos vão oferecer. Mas venha ela, que é preciso dar voz ao povo e as eleições servem para isso mesmo.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Eleições europeias

Nos bastidores das organizações partidárias, vai grande azáfama para colocar na rua os nomes que irão a sufrágio universal. Às pinguinhas, nuns casos, de chofre, noutros, essa gente começa de dar a cara e até já se vêem algumas das frases-chave e digamos que, num dos exemplos que descobrimos, não abunda a originalidade, nem as ideias são grande coisa... Melhor: não passam de uma manifesta evidência, que todos nós trazemos desde o berço.
Isto do " Nós, europeus ", que o PS atirou para os cartazes, sendo " meio fixe ", não acrescenta um pingo de reflexão sobre os desafios de uma nova Europa e de um novo mundo, que têm de ser reerguidos a partir dos destroços da crise que tudo abalou.
Naquela mensagem só nos é repetido que, para fazer recordar o nosso BI, somos habitantes de um continente, que é nosso por natureza. Mas, em política, temos de saber ir mais longe do que e óbvio: transmitir objectivos, inspirar novos contributos, atrair votantes - que a abstenção adivinha-se disparatada, por razões que devem ser combatidas -, dinamizar novas práticas, oferecer outra filosofia, outra economia, outra e mais activa cidadania, dizer qualquer coisa de valor e "aquilo" não mostra nada disso.
Como estamos na fase de arranque, esperam-se mais arrojo e mais ideias. Se ficarmos por "ali", então não se admirem que a opção seja ficar em casa, o que se revela altamente prejudicial numa Europa que precisa que lhe "berrem" aos ouvidos, gritando: VAMOS FAZER ALGO DE NOVO, que o que temos já passou a sua validade.
Mas saibamos aproveitar quem mostrou saber disso e o Dr. Durão Barroso é uma dessas pessoas, assim como a Dra. Ana Gomes e tantos outros dos valores que, nos diversos órgãos, se vão notabilizando.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Para Aquila, já!

Em horas de dor, o nosso coração cai sempre para aqueles lugares onde a tragédia aparece, sorrateira, ameaçadora, destruidora mesmo, sanguinária, suicida, que tudo leva à sua frente e não pode deixar ninguém de lado, quando a solidariedade mais se impõe.
Neste momento, é altura de partirmos para Itália, mais concretamente para a zona de Aquila, a fim de cumprir a máxima pombalina de, primeiro, cuidar dos vivos e, logo a seguir, enterrar os mortos. Dói-nos a partida de toda esta gente, custa-nos ver o sofrimento daqueles que, por entre os escombros, choram o seu dorido destino e anseiam por uma ajuda salvadora.
Correr para Aquila, solo irmão, é um dever e um imperativo. Itália precisa de todos nós, sendo contagiante a vontade de auxiliar uma terra, uma zona, uma nação e um pedaço de mundo que tanto sofre. Se a natureza ali marcou uma passagem de destruição, aos homens cabe contrariar, quanto possível, os seus efeitos.
Ser solidário é dar tudo, sem nada reclamar em troca. Provam esta teoria e este espírito os nossos e os demais bombeiros e até o cidadão anónimo.
Como, fisicamente, por aqui temos de ficar, para Aquila segue o nosso testemunho de pesar por quem nos abandonou, assim tragicamente, e os nossos votos de saúde e felicidade - a possível, quando a desejável está minada por força das circunstâncias - para aqueles que sobreviveram, incluindo, logicamente, os nossos compatriotas que ali se encontram.
Se as lágrimas embaciam todos os olhares, que o sol limpe estes rostos de desânimo e os ajude a percorrer os caminhos novos que, necessariamente, há que trilhar, uma vez mais.

domingo, 5 de abril de 2009

Outro mundo a caminho

Com as cimeiras que decorreram, por estes dias, na Europa, o mundo parece que pode começar a respirar de alívio, tão grandes foram os passos dados. Combatida a descrença no êxito destes encontros com as respostas aplaudidas, estamos na fase em que somos levados a acreditar que " Sim, é possível ", que a crise pode ser derrotada, se os homens se entenderem. Para a História ficarão os sorrisos e os abraços dos governantes mundiais - de parte deles, claro -, enquanto que, para o cidadão comum, como nós, resta sonhar com esses novos dias, que os actuais são negros como a ferrugem, como já dissemos.
Mas, como todo o pobre desconfia de esmolas aos trambolhões, atrás de uma dura crise não queremos que outra se venha a gerar. É que, vaticinam muitos economistas, a seguir às depressões, vêm geralmente os disparos na inflação e, com esse fenómeno, aí veremos os juros, de novo, a trepar, como se o seu mundo só pudesse passar pelo afogamento das pessoas e das empresas.
Não queremos que assim seja, apelando aos mecanismos de regulação, vigilância e controle, que vimos estampados nos acordos estabelecidos, no sentido de estarem atentos e, mais do que isso, actuantes. Fugir dessa responsabilidade é cavar, uma outra vez, a sepultura da saúde financeira e económica mundiais, esse cancro que ameaçou vitimar-nos a todos e que, agora, viu o pescoço torcido, mas sem ter dado, lamentavelmente, o último suspiro.
Com Obama, o seguro das nossas vidas está mais protegido, mas não é o único factor a ter em conta. Sem o nosso contributo, nem esse novo valor e esforço americanos serão suficientes para nos salvar.
O fio, que nos liga à ténue vida, é demasiado frágil e só uma vontade individual e colectiva muito fortes tem o condão de o reforçar. Que assim seja !

terça-feira, 31 de março de 2009

Grande Diogo!

Não conheço o Diogo de que pretendo falar.Mas isso não importa, quando a sua vitória, numas Olimpíadas de Matemática, o papão devorador de todas as boas intenções dos nossos estudantes, me dá um enorme consolo: é que esse rapaz, o Diogo Meneses, é um dos moços da minha região, que se junta, assim a um outro génio, o Bandeira, este já a pisar e a brilhar nos bancos da Faculdade.
Este Diogo de menos idade, o que aqui retrato hoje mesmo, acabou da ganhar a Medalha de Ouro, relativa aos 8º e 9º anos, pelo que me deu uma alegria imensa.
Estou-te, meu rapaz, muito grato pelo favor que me colocas, assim , de mão beijada, em cima da minha mesa de trabalho. Felicito-te, a ti, teus familiares, amigos, colegas e, sobretudo, professores da EBI de Oliveira de Frades, porque este troféu é uma vitória tua, sem dúvida, mas não deixa também de pertencer, um pouco, a toda aquela gente que enunciei.
Com este feito, que o é, com todas as letras, vens, afinal, dizer-me que, no mar encapelado da nossa educação institucional, ainda há excepções que valem mais que mil palavras, assim roubando o velho ditado popular para aqui o aplicar.
Diogo, não sei quem és, mas isso, para mim, não tem qualquer importância, repito. Basta-me saber que frequentas uma Escola da minha zona para me sentir todo vaidoso.
Bem haja, meu amigo. Mas não te ponhas a olhar para esta vitória como se fosse a última. Não. Faz dela o ponto de partida para outras subidas ao pódio, mas sempre, sempre, com o ouro ao pescoço, que a perfeição deve ser a medida dos nossos objectivos!
Parabéns e boa sorte!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Apagão ambiental e desportivo

Era dia de jogo de futebol decisivo para a nossa Selecção - por mais que isso seja escamoteado - quando, em nome da saúde ambiental, foi decidido apagar os diversos sistemas de iluminação. Tomada à letra, esta mensagem surtiu um efeito perverso: os rapazes da bola, com a recta intenção de colaborarem com a iniciativa em causa, tudo fizeram para a pôr em prática, permanecendo na mais negra sombra, pois nunca conseguiram descortinar qualquer fresta de baliza, tão escuro esteve o Estádio do Dragão.
Está encontrada a razão do empate: nem os portugueses se aplicaram pouco, nem tiveram falta de sorte, nem os suecos foram assim um colosso por aí além, devendo-se tal desfecho à escrupulosa colagem à campanha mundial em curso.
De agora em diante, depois de tantos pontos desperdiçados, este sacrifício ambiental não deixará de dar os seus frutos. Com a luz toda, em Portugal e no estrangeiro, não mais um empate ou uma derrota atacará os pupilos de Carlos Queirós, a não ser que outros valores, mais altos - digo, mais baixos, pedindo perdão por este engano! - apareçam, vindos de outras esferas e instâncias.
Têm, assim, toda a desculpa aquelas gentes da bola, desde o Cristiano Ronaldo ao Eduardo, sem esquecer, como é óbvio, o nosso seleccionador.
Para todos, um fraternal abraço e votos, se ainda for a tempo, de muitos êxitos.