sábado, 10 de outubro de 2009

Obama, Machado e as eleições

Com a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Barack Obama, em sinal de reconhecimento e, mais do que isso, como um grito de esperança urgente e necessária, cumpriu-se um dever de cidadania: ao distinguir as convicções, mais do que a prática que ainda não teve tempo de fazer germinar uma nova ordem mundial, foi do futuro que se falou e foi do amanhã que se tratou. Se ontem vieram dos EUA sinais de desencanto, agora os sinos parecem entoar um cântico novo e foi esta esperada melodia que o Nobel da Paz quis significar.
Pesa sobre Obama uma outra responsabilidade, a acrescentar à luz que tem feito irradiar: este Prémio diz-lhe que o Mundo espera uma política nova, uma outra postura e um outro olhar. É isso que todos desejamos. Entretanto, meu caro Obama, os meus parabéns, idos de uma pessoa que tanto te estima e admira...
Mas, enquanto festejas este galardão, o meu amigo António Machado, que vive num recanto do mundo que os EUA nem sonham, à beira do Vau, limites de Oliveira de Frades, vive envolto no desgosto enorme de se ver acorrentado a uma pulseira electrónica, que lhe tolhe os passos e o entusiasmo, porque teve a pouca sorte de, há anos, quando o IP5 tinha alguns problemas, colidir com uma viatura de que resultou a morte de vítimas indefesas, que me merecem todo o respeito e consideração. Nesse dia fatídico, o azar, o terrível infortúnio bateu à porta de todos, nesse momento de dor.
Se a morte ceifou vidas, ninguém mais apaga a pressão que isso exerce sobre quem, ido na estrada, talvez tenha provocado - ou tenha sido interveniente nesse acidente -, o que muito o martiriza, sei-o eu de fonte limpa. Mas a justiça dos homens, ao condená-lo assim, mais agrava esse seu sofrimento, essa mágoa que, eternamente, lhe bate à porta.
Para o amigo Machado, vai o meu abraço de solidariedade e de muita amizade, sem pôr em causa a tristeza que, também imortal, se abate sobre os familiares das vítimas dessa dupla tragédia.
Ontem, quando nos cruzámos, nuns minutos de abertura das tão dolorosas restrições, bem me veio à memória o valor supremo da liberdade e da paz, que Obama tanto defende.
Por assim ser, falei hoje de Obama e do Machado, por mais estranho que pareça! Mas, na minha visão, uma e outra destas perspectivas se cruzam e se interligam.
Tal como a realização, amanhã, das eleições autárquicas que são um ponto alto na história democrática do meu querido país. Merecem, por isso, esta referência à parte e um desejo de que os meus compatriotas expressem, de viva voz, o que lhe vai na alma, votando.
Só assim se cumpre a cidadania e se constrói uma terra adulta.
E a minha já atingiu a maioridade, que quero, amanhã, ver fortalecida.