sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Vou partir de 2010

Há partidas que não antecipam nada de bom. Não quero crer, mas pressinto que aí vem borrasca, que o sol ficará mais escuro e mais frio, que as dificuldades caem, uma vez mais, sobre quem mais sofre, que o mundo avança, mas a bola não pula, não salta, não alegra, quase me parece o meu Benfica em maré baixa, esta de agora.
No entanto, sei que tenho de agarrar nas malas e ir por aí fora, da cabeça baixa, a percorrer as ruas enlameadas de um novo ano de 2011, desejado, por um lado, temido, por muitos mais motivos.
No calendário das mudanças, esta tem registo garantido e muito fogo de artifício. No momento em que escrevo estas linhas, há irmãos nossos que já deram o salto, já deixaram para trás 2010. Aqui, na encosta sul da Serra do Ladário, de Oliveira de Frades, ainda se vive o ano velho. Bem nos poderiam dizer, aqueles amigos, se é melhor ou pior o ano que daqui a horas nos bate à porta. Mas estão em festa, que assim continuem! Não os vou incomodar com questões de um foro tão egoísta, como este que estou a viver: saber se vou partir para o sonho ou para o pesadelo...
Ao olhar para o Orçamento de 2011, é de arrepiar o que aí vem.
Ao ver a apatia europeia, quanto a segurar este importante projecto, sinto insónias.
Ao ver que a folha do calendário, que tenho à minha frente, vai ser rasgada, já tenho pena de a ver desaparecer.
Ao ver que tenho de desejar Bom Ano Novo, tenho uma vaga ideia que estou a mentir.
Antes não estivesse.
Até amanhã, em 2011!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Dos PIN aos PIPP, passando pela UMJA

Está na moda falar-se em PIN - Projectos de Interesse Nacional - sempre que se quer viabilizar um grande investimento. Concordo. Mas defendo muito mais a ideia dos PIPP - Projectos de Interesse Para as Pessoas. Num caso e noutro, os enfoques são diferentes: no primeiro, é a economia que prevalece; no segundo, esta valência económica é colocada no centro daquilo que é a essência de todas as comunidades - o Homem.
Ao viver-se mais com preocupações de ordem financeira, esquece-se o cerne da questão, põe-se de lado o objectivo nobre da política, que é o de tudo condicionar ao bem-estar e sucesso de toda e de cada uma das pessoas que habitam o universo e que são nossos irmãos, em qualquer filosofia de vida, ou, pelo menos, assim deveria ser.
Sem esta vertente humanista, a economia e a política - esta no topo - não deixam de ser instrumentos curtos de um progresso que pode ser crescimento, mas não é desenvolvimento, de certeza.
A provar que o Homem tem a suprema primazia, eis a minha UMJA, Banda Juvenil do concelho de Oliveira de Frades, a oferecer-nos, em pleno dia de Natal, um soberbo espectáculo, que contou com uma peça teatral infantil, a cargo dos alunos da sua Escola de Música do 1º ano, logo seguida de um trecho musical pelos elementos femininos mais novos e de um grito de criatividade, a todos os níveis, desde a música à representação em palco.
Como não poderia deixar de ser, uma sala cheia que nem um ovo teve o prazer de assistir e aplaudir um Concerto de Natal de cinco estrelas, ou, melhor, de um céu bem luminoso, num Natal assim muito mais Natal, se isso é possivel.
Aqui, a pessoa apareceu em primeiríssimo lugar, fruto do trabalho e dedicação de umas dezenas de jovens que sabem de música a potes e a oferecem a quem dela tanto gosta.
Bom Ano Novo para quem tanto dá de si em prol da cultura e da música, "formando" ainda a nossa juventude, o maior dos bens para o futuro de todos nós.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Boas Festas e Feliz Ano Novo 2010/2011

Este é o dia de pouca conversa e de muita solidariedade natalícia. As Ceias estão a chegar às mesas, as famílias, hoje, entendem-se melhor. Amanhã não se sabe. O bacalhau, as couves e as batatas já caminham para as panelas. Paira no ar um sentimento de amor. Amanhã não se sabe. O frio diz-me que vivemos em Dezembro e que, amanhã, é Natal. Com este ambiente, tudo indica que estes são mesmo bons dias. Amanhã não se sabe.
Fiquemo-nos por aqui. Antes, porém, enviemos um abraço especial a quem não tem nada disto, assim quente e fofo.
Para todos, Boas Festas e Feliz Ano Novo. Hoje e sempre.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Adeus, " Acontece "

Nestes dois últimos dias, vi partir duas pessoas que me eram queridas: o Professor Paulo Amaral de Figueiredo, em Vouzela, um Amigo de tantas andanças, que, na hora da partida rumo ao Cemitério, fez parar aquela vila, que assistiu, numa medida de grande significado, a um Município encerrado, para melhor homenagear quem assim se despedia, o que mostra bem quanto era estimado na sua terra; sem o conhecer pessoalmente, a notícia da morte de Carlos Pinto Coelho deixou-me meio boquiaberto, por entender que tanta vida, tanto suporte cultural eram o maior dos seguros que, aqui, neste planeta de passagem efémera, sabemo-lo, nos podem ajudar a vencer cada dia que passa.
O Paulo e o Carlos estão lá do mesmo lado. Posso afirmá-lo com convicção. Um entregou-se à sua paixão, Vouzela, outro, espalhou cultura por tudo quanto era sítio de lusofonia.
Com estas duas tristezas, até me esqueço que, em Bruxelas, está reunido o Conselho Europeu, que tem nas mãos duros ossos para roer. Mas, por mais que estiquemos a corda, é de números que ali se vai falar.
E o Paulo e o Carlos tinham outra magia: um dava-nos exemplos quanto à defesa de uma região, outro punha-nos, com brilho intenso, a cultura em casa. Aquele " Acontece " era um primor de momento televisivo, que nunca mais se esquece. Nem é bom que assim pensemos.
Neste duplo adeus, sabemos que um e outro ficarão para sempre connosco.
Um abraço de saudade e admiração.
Paz a suas almas grandes, imensas...

sábado, 11 de dezembro de 2010

Três em um

1 - É com um amargo de boca que vejo sair de cena o " Contra Informação ". Antes de os " Gato Fedorento " o meu padrão de humor estava com essa pequena maravilha do bom gosto em crítica elevada, com piada, com cenário, com criatividade. Vieram esses putos-maravilha e rendi-me: fizeram apear do meu pedestal o anterior programa, mas continuou em segundo lugar.
Agora, ao ver partir essa gente de plástico, mas com cara de gente, sinto-me triste e com vontade de gritar: apareçam por uma qualquer outra porta!
2 - Ao falar de espectáculo, cultura e boa disposição, à escala local, tenho de saudar a ACROF, de Oliveira de Frades, que hoje comemorou trinta anos, bem recheados de muitos momentos de inesquecível onda de simpática oferta cultural, de grande valor, por trabalhar, sobretudo, com camadas jovens. Uma maravilha que merece ser apoiada e continuar a sua tarefa é uma "obrigação" que lhe cai que nem uma luva.
Foi bom estar na sua festa. Na Casa da Aldeia, em Souto de Lafões, evocaram-se o passado e os fundadores. Boa ideia! Mas, sobretudo, escreveram-se palavras de futuro. É esse que, apesar dos anos, ainda espero apreciar por mais algum tempo. Boa sorte!
3 - Cento e dois anos é obra, é muita obra. É Manuel Oliveira no seu esplendor. Parabéns!
Quem assim e aqui fala há anos, muitos, aliás, até achava uma "seca" os filmes deste grande Rei. Hoje, depois de o conhecer bem melhor, tenho de confessar: perdoe-me, Manuel de Oliveira, a minha ignorância de então. Perante tudo aquilo que tem dado ao mundo, viva, viva, viva!...
Três em um foi assim um curto espaço de cultura.
Gostei de escrever estas linhas, disso não tenho a menor dúvida.
NOTA - Quero ainda saudar o aparecimento da nova Revista " Terras de Lafões ", que nasceu da ideia e do trabalho de Júlio Cruz. É sua directora Ester Vargas. Vale a pena lê-la, ainda que eu seja, por motivos óbvios, fortemente suspeito. Procurem-na, que esta publicação já anda por aí...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Relembrar quem assim falou

Com a morte do Professor Ernâni Lopes, já o disse, todos ficámos muito mais pobres, porque, se a crise nos depena de todo, a falta de quem fale com rigor e saber é a maior das perdas. Era assim que eu via este cidadão empenhado. Para recordar o seu inestimável contributo dado à causa das ideias e propostas, recordo umas notas que tirei de um de seus debates, não muito distante, em que interveio com os seus colegas João Duque e Medina Carreira. Falou claro, disse e mostrou em gráfico o que lhe ia na alma ( está bem dito, na alma ) e eu registei em papel rabiscado, aqui expondo, a esmo, o resultado dessa profícua recolha:
- Via útil para o futuro: onde está facilitismo, pôr exigência; vulgaridade - excelência; moleza - dureza; golpada - seriedade; videirismo - honra; ignorância - conhecimento; mandriice - trabalho; aldrabice - honestidade.
Em resumo e desta forma simples, aqui assim retratada sem busca de mais pormenores, estas foram palavras e máximas que me ficaram na memória e que partilho publicamente nesta mensagem número duzentos, que hoje vai para o ar.
Não sei se teremos coragem política para assim agir. Não sei, na medida em que nem todos temos o dom de acreditar na força do que deve ser pensado e dito. Não sei e tenho pena de o não saber, porque cada minuto que passa, em termos de tomada de decisões correctas e palpáveis, é um século de conquistas que se evapora.
Num país assim, em que tudo se atira cá para fora e seja o que Deus quiser, temos de encontrar, obrigatoriamente, a bissectriz que nos conduza ao melhor dos caminhos, a sua " via útil para o futuro ", que o passado tem muito a ensinar-nos e o presente, convenhamos, não abona muito em nosso favor. Mas desta nossa grande doença não teve culpa o Professor Ernâni Lopes, que tudo fez para vivermos de uma outra forma bem mais apetecível... Só que nós, também eu, todos temos culpa no cartório das asneiras e maluquices que quase nos vêm afundando até ao pescoço.
Em sua memória, sigamos os seus conselhos.
Viveremos um outro futuro, disso terei a certeza.
Mas só se bebermos na fonte fresca e cristalina que nos legou.
Neste postal nº 200, é assim que me vou calar. Para sentir o eco das mensagens que até nós fez chegar.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

ASSOL certificada

A ASSOL - Associação de Solidariedade Social de Lafões - mostrou hoje, publicamente, em sessão organizada para esse efeito, no Cine-Teatro, em S. Pedro do Sul, o resultado de um árduo e bem conseguido trabalho de mais de vinte anos, que veio agora a ser coroado com uma Certificação de nível europeu, normas EQUASS, um galardão com muito de inédito, mas, sobretudo, de reconhecido mérito. Parabéns a todos quantos, e muitos foram, colaboraram neste sucesso.
Esta foi uma forma brilhante de assinalar o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, que, assim, teve um significado redobrado.
O galardão citado foi recebido em Bruxelas, no passado dia 17 de Novembro, depois de um longo ano de preparativos e da exigência de uma Auditoria, que confirmou tudo aquilo de que necessitava para poder dar o seu aval positivo em mais de cem itens, todos eles avaliados com nota destacada, ao que apurámos.
De notar que esta Instituição opera nos concelhos de Castro Daire, Tondela, Vouzela, S. Pedro do Sul e Oliveira de Frades (Sede ), espalhando a sua actividade por uma série de serviços e valências, que assim mostraram estar à altura dos desafios que tem pela frente, agora ainda mais responsabilizados, como ali foi salientado.
Com mais esta distinção, são todas as pessoas apoiadas que estão de parabéns, assim como a comunidade no seu todo. Obrigado, ASSOL, por todo o contributo que vem dando desde há mais de duas décadas, repita-se.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Novos autores e autores novos

Esta minha região de Lafões bem pode dar-se por muito satisfeita com o balanço cultural do passado mês de Novembro. De um momento para o outro, Pedro Miguel Rocha, com profundas raízes no concelho de Vouzela e Dulce Martinho, de Oliveira de Frades, deram corda à criatividade, fazendo nascer três obras, três, repita-se: Pedro Rocha, com uma parceria em " Já não se fazem homens como antigamente ", com um conto, em quatro, intitulado " A lâmina do amor ", da Editora Esfera do Caos, e a solo, " Chegamos a Fisterra ", das Edições Ecopy - Prosadores Contemporâneos; Dulce Martinho, com " Sobre a França e a Europa - Utopia e desencanto em Eduardo Lourenço ", assim dando seguimento a uma dissertação de Mestrado.

Com apresentações no Porto, Braga, Lisboa e Oliveira de Frades, o panorama da cultura e literatura portuguesas está, agora, muito mais enriquecido com o contributo destes dois jovens professores e escritores, meus queridos conterrâneos.
No que se refere ao Pedro, trata-se do seu terceiro trabalho. Por acreditarmos que podem fazer muito mais, é isso que lhes pedimos, aos dois, porque todos ficamos a ganhar com o seu labor, entusiasmo, capacidade e genica. Força, malta!

Mas nem só de alegrias vivemos nós. A morte do Professor Ernâni Lopes, que muito deu a Portugal, enquanto Ministro, economista, pensador e homem de acção em prol das ideias que defendia e em que acreditava piamente, traz-nos, por outro lado, uma imensa tristeza.

Recordo quanto nos tivemos de esforçar, nos inícios da década de oitenta, para retomarmos o caminho da credibilidade finaceira e a retoma da economia, quando, por sua mão, aqui entrou o FMI. Mas, então, tudo isso valeu a pena, porque sempre falou verdade, por mais que ela nos tenha doído.
Reconheço o êxito da nossa então entrada na CEE, que teve, em si, um grande obreiro.
Enfim, curvo-me perante o Homem e a obra, o Professor Ernâni Lopes.

domingo, 28 de novembro de 2010

Bruxelas a tratar do nosso destino

Este cidadão da Serra do Ladário anda preocupado com o seu país. Por mais que se ate, há logo quem desate. Dados os nós do Orçamento, não sei se daqueles de marinheiro, bem feitos e seguros, se nós de um Zé qualquer, que se desfazem num ápice, já se acena, novamente, com o papão dos juros, temem-se os efeitos bola de neve vindos da Grécia e da Irlanda, toda a gente treme e a União Europeia deixa que este perigoso cai abaixo da montanha-russa a que subimos ao longo de anos se arraste indefinidamente.
Apre, que é demais tanto tacticismo! Chega de dar cotoveladas uns nos outros. Basta de uma mesa onde só se sentam pessoas meio desavindas, que, quando toca de ser solidário, arreda que é Satanás.
Quando os Ministros das Finanças estão hoje em Bruxelas, o Terreiro do Paço dos grandes, pede-se-lhe que olhem para a NATO, que, com todos os seus defeitos e fraquezas, tem uma virtude inquestionável: a capacidade de se entender que um ataque a um dos seus é uma ameaça geral. Logo, a resposta apresenta-se global e participada.
Na UE, vê-se o que, infelizmente, está a acontecer: as finanças de um ou outro membro sofrem ataques descabelados e os demais cospem para o lado.
Assim, não há Euro que resista, nem União que se mantenha com credibilidade e firmeza.
O lema do meu Benfica também aqui pode ser aplicado: " Um por todos e todos por um".
Se persistirmos neste empurra para lá, sejamos todos sinceros: agarre-se um outro projecto que este parece estar defunto, quase a cheirar mal.
Meu caro José Barroso, dê-se um murro na mesa, depressa, alto e bom som. O tempo urge!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Um dia parado para se andar

Estive aqui eu preso na minha indolência de alguém que já não se inscreve nas estatísticas das pessoas activas e, de repente, dei por mim a pensar que uma vida assim tem pouco sentido: ela só é vida se estiver ligada a quem vive momentos de dificuldade extrema e por essa gente faz alguma coisa. Por isso mesmo, passei o meu tempo a ver se havia algo de verdade nos números da greve geral. Este foi um exercício de cidadania, mas que de pouco valeu. O governo aponta para uns míseros vinte por cento, mais coisa menos coisa; as Centrais Sindicais falam na maior greve de sempre e sobem a fasquia até ao céu, aí na ordem dos oitenta/noventa por cento...
Quis ser útil e, uma vez mais, falhei. Se todos têm a sua verdade, esta tem de estar algures, talvez no meio, na esfera do bom senso, na bissectriz das boas atitudes e decisões.
É este, então, o meu contributo à causa da greve, onde gostaria de ter estado e não pude fazê-lo, porque há estatutos que a idade ou as circunstâncias tudo anulam: dizer que é preciso encarar esta contestação como um valente puxão de orelhas a um governo mouco e cego e deixar para os sindicatos a ideia que não se foi assim tão longe quanto fizesse cair S. Bento, o Carmo e a Trindade...
O meio caminho parece-me a melhor solução. Mas há um dado adquirido, de certeza: depois deste dia 24 de Novembro, mais quentes estão as orelhas do governo e, sobretudo, as do primeiro-ministro. Esconder esta verdade, hoje reafirmada, é ser desprovido de uma qualidade que se exige a quem nos governa - ser perspicaz.
Amanhã é o dia 25 de Novembro, uma outra data histórica. Esta e o 25 de Abril são um duo inseparável, por se associarem, em grande escala, à virtude maior do nosso sistema que, mesmo com todas as suas vicissitudes, se chama LIBERDADE. E esta não regateamos, nunca.
A greve de hoje e o dia de amanhã são, em suma, peças da mesma engrenagem: uma vida em democracia, que todos devemos estimar.
Assim, que se lixem os números da greve, porque uns e outros não falam verdade!
Mas a greve falou alto e isso é o que importa.

domingo, 21 de novembro de 2010

Braço a torcer: a Cimeira da NATO valeu a pena

Daqui, da minha varanda de Oliveira de Frades, olhei com desconfiança para a Cimeira da NATO, que acabou de se realizar em Lisboa. Pensei que era mais um passeio pela sua história, que estava minada pela própria evolução do mundo, de onde desapareceu a célebre guerra-fria e o medo recíproco, mas afinal aquilo foi um grande salto para a frente.
Desfeitos velhos conceitos, falecida - e ainda bem! - a cortina de ferro, a busca de outros alargados caminhos veio a acontecer, de modo a abrir as portas à cooperação entre ancestrais "inimigos", o que é francamente positivo.
Porque dar o braço a torcer é atitude de quem sabe reconhecer os seus erros, dou a minha mão à palmatória. Em Lisboa viveram-se momentos de excelência a nível das relações multilaterais e isso é motivo de sobra para nos sentirmos francamente bem com esses desfechos.
Mas há mais: as demais reuniões entre campos de associações diversas, tipo NATO/UE e outras, para além dos encontros que tiveram Portugal no seu centro, são motivos mais do que suficientes para dizermos que, ali, tudo correu de feição.
Há ainda o facto de a nossa organização ter brilhado. Parabéns.
Bons assim em eventos desta envergadura, só nos resta pôr em prática esses mesmos princípios de eficiência e eficácia no nosso dia a dia.
Por ter falhado nos meus cálculos, peço imensa desculpa, porque esta gente da Beira não tem vergonha de se retratar sempre que algo lhe sai mal. Foi o meu caso, sem dúvida.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Zona euro em risco

Isto da nossa crise, afinal, não é bem só nosso. Temos até, talvez, a parte menor deste bolo, que é comido, em grande parte, pela Alemanha e amigos mais chegados. Mas isso não importa. O mal maior é que estamos em perigo eminente de ir pelo rio abaixo, onde a Irlanda já braceja, aflita, a Grécia quase se afundou e nós, os pobres desta periferia das periferias, não demoramos muito a entrar em afogamento total se, entretanto, não forem tomadas medidas de fundo.
Em causa está, em suma, o próprio euro e, no limiar, até o projecto europeu a que tenho batido tantas palmas desde 1985.
Para defender estas duas entidades, não pode haver jogo duplo e escondido. Nenhum parceiro pode esquivar-se a esta luta titânica de moedas a comerem moedas, salvando-se o euro em conjunto de esforços, ou acabamos, mais tarde ou mais cedo, por perecermos todos na derrocada de uma Europa que não soube, ou não foi capaz, de salvar a sua identidade. Essa é que é a história principal, o resto é, como dizem por aqui, em Oliveira de Frades, paleio fiado e balofo.
Em Lisboa vai decorrer a Cimeira da NATO. Que se entendam!
No meio da barafunda europeia em que estamos metidos, mais NATO ou menos NATO que importa? Com uma pontinha de egoísmo, agora é a vez de olharmos para nós. Que se lixe essa mega reunião de Lisboa!
É a minha Europa que está a cair e eu quero defendê-la.
Com isto tudo, até me esqueci de abraçar o projecto da minha Universidade de Coimbra para se candidatar a Património Mundial... Venha essa distinção que bem a merece.
Mas, primeiro, olhe-se para esta moribunda Europa, a precisar de transfusões urgentes!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Adeus, João

Era um homem simples, mas simpático. Atencioso, delicado, acenou-nos, vezes sem conta, ora no Restelo, ora no Saldanha, sempre que por aí passámos. Ao dizer adeus, implicitamente estava a pedir-nos, pela sua atitude, que ali voltássemos, até porque, neste Portugal sisudo, cada sorriso, cada gesto destes tem muito mais encanto.
Tanto deu que se esgotou, partindo para sempre naquele adeus definitivo que ninguém controla. Mas as horas que nos ofereceu, sem greves, nem reivindicações, sem cartazes, nem tarjetas, sem um berro, nem um esgar de desagrado, reservaram-lhe, de certeza, o melhor dos lugares, lá em cima, onde pode acenar-nos, sempre, cá para baixo. Obrigado, João.
Vi-o um montão de vezes. Nunca lhe retribuí aquilo que, sem nada pedir em troca, me deu cada dia que com ele cruzei de carro, mais no Restelo, a caminho de Alcântara, que no Saldanha.
Falhei.
Peço-lhe, João, que me perdoe a falta de sensibilidade que então revelei.
Descanse em paz.
Este João, simples, fez da amizade e do sorriso, do aceno e da saudação um pouco da sua vida.
Deu-se.
Agora, na altura em que deixou de realizar o seu "ofício", resta-nos dizer-lhe adeus, num gesto de gratidão do tamanho da sua alma, que era muito grande...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Hospital Distrital de Viseu com distinção

Aquilo, aquele, este, o meu Hospital é uma Instituição de saúde pública. Depende do Estado, é do Estado, é gente da FP que ali trabalha. Tudo ali tem marca de coisa pública, de bem público, de serviço público.
Por razões que a falta de saúde obriga, tenho tido muitas oportunidades (que não queria) de ali me deslocar e de aguardar atendimento.
Ontem e hoje, vivi essas situações com duas pessoas que me são, obviamente, muito queridas. Num e noutro caso, vi responsabilidade, vi capacidade, vi apoio, vi humanismo nos gestos e nos actos médicos e afins, vi a ânsia de tudo fazer bem, descobri também ansiedade nas respostas que, às vezes, mais tardavam, senti que estava, afinal, no meio de gente que sabe ser funcionário público sem ser uma carga de maus vícios, maus costumes, más práticas, más educações. Nada disto, nada mesmo.
Era a perfeição? Não.
Era o melhor dos Hospitais? Talvez e também não.
Mas que era uma CASA de SAÚDE que quase parecia o céu, por tantas estrelas apresentar, disso não tenho dúvidas.
Que ainda pode brilhar muito mais, que ninguém tal desconheça.
Mas é muito bom o que ali se faz.
Obrigado, em nome também de meus familiares, claro.

domingo, 7 de novembro de 2010

ASSOL no mundo das boas práticas

Tive o prazer e a honra de me ter deslocado à Holanda, a fim de participar numa Conferência Internacional sobre pessoas com deficiência: a Gentle Teaching, um forum de excelência em termos de ver todas as pessoas, todas, como elas são - PESSOAS.

No meio de mais de uma dezena de representações de três continentes, Ásia, América do Norte e do Sul e Europa, esta Instituição de Oliveira de Frades, que tem pólos ainda em Vouzela, S. Pedro do Sul, Castro Daire e Tondela, mostrou o seu grande portefólio de realizações, que são apreciados e louvados nos quatro cantos do mundo.

Os meus olhos viram a forma como a ASSOL é acarinhada. Os meus ouvidos escutaram palavras de um enorme apreço. O meu coração - e é de pedagogia baseada nesta parte do nosso corpo que se trata, quando se fala de Gentle Teaching - palpitou de contentamento nos muitos momentos em que se notava um ambiente de satisfação em redor da comitiva que ali se deslocou.

Se muito há a dizer sobre esta viagem de aprendizagem e oferta de ideias sobre obra feita, o que ficará para as próximas ocasiões, numa primeira impressão, temos de confessar que, tal como afirmou o Professor MacGee, grande mentor e obreiro desta iniciativa, a ASSOL soube, a seu tempo, agarrar esta mensagem de inclusão e pô-la em cima de suas mesas de trabalho, aplicando-a com garra para levar todos os seus apoiados a sentirem-se felizes e gente da nossa gente, GENTE, apenas GENTE.

Se parti com vontade de vasculhar muito do que se deve fazer em matéria de boas práticas, afinal, por aquilo que a ASSOL constrói em cada dia, cheguei à conclusão que, estando muito longe de atingir a perfeição, esta Instituição já mostrou que segue um bom caminho e é por isso que tem praticamente aprovado um projecto de Certificação europeu, pioneiro nessa área, galardão que, a não acontecer nada de muito estranho, virá a receber dentro de dias.
Com pouco mais de vinte anos, tudo isto é fruto de um todo que tem essa juventude e essa bonita idade. A quem ali está, agora, cabe essa felicidade, mas os alicerces vêm de há muitos anos atrás.
Na Holanda, sentimo-nos bem.
Há muito para contar, mas não é hoje que tal acontecerá.
Aguardemos.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Eureka, temos Orçamento!

Com a consciência clara de que o Orçamento para 2011 é um ataque sem tréguas ao bolso do português-médio, baixo, médio-alto e afins, sinto-me, no entanto, consolado com a sua aprovação, o que resulta do acordo obtido, há momentos, entre o Governo e o PSD.
Ao confiar naquele pedacinho de bom senso que ainda resiste na nossa carga genética, por mais perversa que a queiramos fazer, sempre tive esperança em que o entendimento viesse a ser conseguido. Assim aconteceu. Viva Portugal!
Estranho, porém, a comunicação do Presidente da República, à saída de uma importantíssima reunião do seu Conselho de Estado. Pelo teor das afirmações lidas, fiquei com a ideia que esta boa notícia ali não tinha chegado até àquele momento. Estranha é essa lentidão, tão perto estão uns dos outros!...
Eu, aqui na minha varanda da Serra do Ladário, em Oliveira de Frades, a ouvir a chuva cair, consegui saber essa boa novidade, quase em cima da hora. Pelos vistos, na capital, as comunicações são mais lentas, mas, nalguma coisa, nós, as gentes de cá de cima, tínhamos de ser vencedores...
Pelos vistos, demorou mais a tocar as cercas de Belém, mas não deixará de lá arribar, para gáudio do Presidente-meu-Candidato e das gentes que o acompanham.
Porque queremos um Portugal melhor, esta aprovação antecipada é um bom sinal. E de desgraças a mais estamos cheios até à raiz dos cabelos.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Cavaco com um voto, o meu

Há poucas horas soube da notícia que aguardava com alguma certeza, mas com um misto de ansiedade. Ouvi o Professor Marcelo anunciar que o dia 26, às 20 horas, no CCB, tinha sido escolhido para esta recandidatura, mas pus-me um pouco na retranca, não estivesse ali a nascer mais um de seus factos políticos, daqueles de antigamente e que tanta gente punham de orelhas afiadas...
Enganei-me redondamente no meu raciocínio. Afinal, O Professor Marcelo teve toda a razão antes do tempo. Como o descobriu? Eis mais um enigma e não sou eu que vou desvendá-lo. É até, a meu ver, matéria de pouca monta....
Para mim o essencial resume-se em curtas palavras: o Professor Cavaco Silva recandidatou-se e pode acreditar, desde já, que tem um voto certo - o meu.
Faço-o por ser quem é, por aquilo que tem feito, pelos seus silêncios, pelas suas afirmações, pelas suas deslocações, pela confiança que me inspira, pelo sossego que me traz, pelo passado de seriedade que transporta em si mesmo, por ser digno desse Alto cargo e por Portugal se sentir intrinsecamente sereno, com a firme convicção que ao seu leme há um Homem, o mais certo dos certos que surgiram já como candidatos.
Esta minha escolha não exclui ninguém. Mas inclui o melhor dos melhores e só isso justifica o meu voto.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Outubro 2010/Maio 1968, França

Sou daqueles que, aqui na minha varanda de Oliveira de Frades, acredita em duas ideias: uma, a que diz que a história se não repete; outra, a que assegura que esta área do conhecimento social tem a virtude de nos ensinar. França pode ser - e oxalá que tal não aconteça, por um lado, mas seria desejável que o fosse, por outro - o laboratório desta tese: em Maio de 1968 turbilhou, a todo o vapor, pelas ruas, questionou tudo, remexeu as ciências sociais, acalentou novas esperanças, fez da rua o "parlamento" activo e essa caldeirada, aparecida um tanto a contragosto e a conta gotas, deu volta ao mundo. Na Revolução Francesa, esse fora também o resultado mais visível.

Hoje, em 2010, em Outubro, a rua é, de novo, um palco de agitações e preocupações, aqui a dois metros de minha casa, mesmo que aconteça em França, que o A25 veio fazer diminuir todas as distâncias e a Internet, essa, nem se fala: tudo é tudo e tudo nos chega em cima de si mesmo.

Com o nosso Orçamento no centro de todas as preocupações, agora que até já há equipas negociadoras, com vista a evitar o colapso, sim, o colapso, tudo parece mais calmo e sereno. Mas nada está seguro e será bom que olhemos, ainda que com uma qualquer lupa, para França e analisemos, seriamente, o fenómeno que ali está a acontecer.

Se os números são o que são, o HOMEM é sempre o que é: compreensível quanto baste à sua sobrevivência, um furor se lhe tocam no órgão mais detonador de revoltas, sejam elas quais forem, e este chama-se, linearmente, estômago. Quando esta nossa "peça" está vazia - e muito para lá caminha - e a consciência se encontra turba, a rua, a temível rua, pode emergir.

E, se ela vier com o seu estilo ciclónico, há desastres nunca previsto, nem desejáveis, mas possíveis.

Aprendamos, então, com esta França de 2010, que pode muito bem ser a de 1968 e até aquela do século XVIII, que mudou o mundo e arrredores.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Mirtilo à mesa

Na busca de encontrar experiências novas, eis que, aqui a dois passos de minha casa, a tocar no meu concelho, Oliveira de Frades, damos de caras com um produto agrícola novo: o mirtilo, que é já imagem de marca do município de Sever do Vouga.

Combinando condições naturais com determinação, conhecimento, arrojo e capacidade de risco, a gente do campo entendeu dar esse salto, elegendo este novo fruto como um baluarte económico e uma agradável fonte de receita individual e até colectiva.

Se, nos anos sessenta do milénio anterior, Oliveira de Frades soube agarrar a avicultura, mais ou menos nascida em Tondela, e dela fazer a alavanca do seu desenvolvimento - hoje, aliás, mais apoiado na indústria -e criar condições para estabelecer uma espécie de cluster, em Sever do Vouga esse caminho passou pelo mirtilo.

Nestes cem anos de República, estas iniciativas também podem e devem ser enfatizadas e dadas a conhecer.

Neste final de tarde, depois de ter saboreado uma agradável dose de compota de mirtilo, logo pensei dedicar-lhe este espaço. Sendo uma distinção merecida, nada custa escrever estas linhas em sua honra.

Mas tudo isto foi dito sem esquecer aquilo que ajudou a fazer a minha Oliveira do futuro, que aí está cada vez mais forte e actual, curiosamente mercê, entre outros activos agentes, da força empreendedora da Martifer, filha dilecta de gente de Sever, a terra dos mirtilos, aqui assim retratada.

sábado, 16 de outubro de 2010

Lamento e aplaudo

Com o ar entristecido pela morte de um grande amigo e conselheiro de muito saber, o Professor Alfredo Margarido, com quem tive o privilégio e prazer de trabalhar na Universidade Lusófona, de Lisboa, onde foi meu dedicado, aplicado e saudoso docente de Mestrado, este é um facto que lamento profundamente.
Ouvi-lo horas a fio custava pouco, melhor, era um excelente exercício de aprendizagem activa e abrangente, vendo circular os conhecimentos de uma forma profunda e duradoura. Descobrir em cada um de seus gestos que sofria fisicamente dores incalculáveis, naquela sua cadeira de rodas, era acrescentar valor ao seu papel de professor que nunca mais se esquece.
Saber que morreu é ferida que dói muito. Mas fica-me sempre a consolação de com o Professor Alfredo Margarido ter passado ricos instantes de minha vida. Deixo aqui o meu eterno abraço.
Uma outra lamentação tem a ver com um outro facto palpável e nada apetecível: mesmo com o protesto estampado no rosto, lá passei eu nas novas portagens do A25, ali pelos lados de Aveiro e, por sinal, no primeiro dos dias de um inegável agravamento da nossa vida económica, quando até deveria ter sido entregue um Orçamento draconiano, que só não apareceu a tempo por mais uma grave falha do nosso governo. A custo lá subiu à Assembleia, mas antes não tivesse sido capaz de trepar aqueles degraus, que é desgraça, pela certa, que ali se contém. Chumbá-lo? Isso é que não, porque seria pior a emenda que o soneto.
Quando nem tudo vai mal, o meu destaque cinco estrelas, mais uma e muitas outras, vai para a recente inauguração do novo Centro de Ciência da Fundação Champalimaud, uma iniciativa de excelência e muito adivinhável mérito que se construiu em Belém.
É assim que se anda para a frente. Se o governo puxa para trás, que a sociedade civil, neste e noutros casos, mostre que é capaz de fazer frente ao abismo que, se não arrepiarmos caminho, algum dia nos espera.
Contrariar esse fatal destino é a nossa obrigação.
Esperar por um Estado falido não convém: façamos nós o que nos compete, que essa gente pouco nos dá em atenção e carinho. Muito menos em nível de vida que tenderá para a lástima!...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A minha república é grande

Alguns dias depois do início das comemorações do Centenário da nossa primeira república, quero dizer que o meu entendimento sobre esta matéria, já adiantado no post anterior, passa pela concretização objectiva de actos humanitários e sociais que tenham uma verdadeira dimensão humanista.
Naquele dia, sensibilizou-me imenso que uma Banda de uma pequena mas viçosa localidade do concelho de Oliveira de Frades, a UMJA, tenha sido protagonista de um grande momento simbólico: a apresentação do Hino Nacional, às 10.30 horas, na Praça Luís Bandeira, onde se localizou a primeira Cãmara deste município a partir de 1837 e hoje ali se vê um excelente Museu, que assim se associou às cerimónias nacionais. Com uma plateia muito escassa, deliciou-nos com a magia desse instante, percorrendo, ainda, as principais artérias da vila a assinalar o brilho desse dia 5 de Outubro.
Soube-me bem saber, muito embora à "posteriori", que o feriado municipal deste meu concelho tenha englobado a homenagem a figuras e entidades em destaque, no passado dia 7.
Mas, nesta assumida visão global, a minha grande república estou, curiosamente, a vivê-la olhando para o Chile: o resgate dos mineiros que, há 69 dias estavam soterrados a cerca de 700 metros de profundidade, é, para mim e para toda a humanidade, um hino à república universal e solidária, verdadeiramente dedicada àquilo que é mais sagrado - a salvação de vidas humanas.
Ao ver que os mineiros conseguiram ser salvos, senti que vale a pena viver numa sociedade que me ensinou a valorizar esta face do mundo verdadeiramente universal.
Deito até para trás das costas tudo quanto de mesquinho se tem vivido neste meu país em festa republicana: falar-se tanto de querelas de algibeira é exercício menor - e desprezível - em face da grandeza do gesto que se vive nas minas e deserto do Chile.
Um abraço para toda aquela gente: mineiros salvos, obviamente, técnicos, políticos, operários em geral desta operação que honra todo o HOMEM que se preze.
É, por isso, grande a república em que vivo. Porque me não fecha em nenhuma espécie de fronteiras, que a liberdade é o que mais prezo e a vida, como aquela que foi devolvida aos mineiros do Chile, não tem preço - vale tudo, tudo mesmo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A minha República

Cidadão nascido a meio do século XX, na alma trago a República como suporte do regime em que vi a luz do mundo. Afastado quarenta anos da Monarquia, tenho dificuldade em abraçar este sistema como meu farol. Mas, sempre que os livros me foram ensinando e a escola me abriu os olhos - que eu sou daqueles que muito devo aos meus professores! - para a vida na sua plenitude, habituei-me a não queimar nada sem saber as razões de fundo... Dizer mal da Monarquia seria o corolário lógico do meu percurso de vida.

Não o faço, porém. O mal de um país ou de outro não se mede por esses padrões: há repúblicas com ditaduras de terror, monarquias com as mesmas linhas, contrastando com repúblicas de brilho resplandescente em matéria de respeito por tudo quanto seja direito e dever humano e monarquias que nada ficam atrás destas opções.

Não é por aí que se deve ir.

Há um elemento que aponto como marco essencial: o facto de, numa República, o sufrágio universal poder fazer de cada ser humano o supremo responsável pela sua nação, enquanto que, na monarquia, este lugar não sai das mãos de uma família instalada no topo da pirâmide, o que leva a que essa prerrogativa já esteja, de início, corrompida por um qualquer direito que, confesso, me não parece lógico, nem sustentado em qualquer base vista à escala da sociedade em que me encontro.
Quanto ao mais, democracia plena vejo-a em tanta monarquia e república do meu tempo que, só por aquele motivo, me coloco ao lado da minha República de 5 de Outubro de 191o. Felicito-me por poder saber que Lula da Silva, Barack Obama (etc.) subiram aos mais altos postos do Brasil e dos EUA, suportados por regimes republicanos, mas também Juan Carlos, de Espanha, não deixa de estar nos meus "favoritos", ele que é chefe de uma monarquia, por sinal restaurada já no último quartel do passado século vinte.
O marco diferenciador está num outro lado: o pensar e o agir dos homens de cada tempo mais do que o envelope que contém a folha do texto que subscrevem.
Neste momento, no meu país, quero felicitar o Centésimo Aniversário da MINHA República, que amanhã se comemora, ao iniciar o respectivo programa. Ponto final.
Mas tenho de confessar que todo este ar de festa se encontra envenenado pela guilhotina e pela arca frigorífica em que vive a sociedade portuguesa: com tantos cortes e congelamentos, nem a Sibéria poderia ser pior.
Esqueçamos isso, porém.
Daqui a pouco tempo, passam cem anos sobre o arranque da República. Bem haja, por isso!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Novo ano escolar e outros temas

Sei que estou atrasado com este comentário. Se dissesse o contrário, falsearia até o meu percurso de vida, porque a educação atravessa-o em grande parte.
Mas tenho evitado tocar neste assunto por um único motivo: as contradições a que assisto nesse sector, que sempre entendi como um mundo em que a concórdia com ele convivesse em total comunhão de bens. Nada disso está a acontecer. Vejamos: mal abre o ano escolar, logo desperta o programa "Escola Segura", aquele que leva o policiamento para as portas e arredores das nossas escolas como se de um gueto de delinquência se tratasse...
Choca-me esta dicotomia: em vez da formação que se espera, desejada e alimentada por todos, impõe-se um sistema que usa meios policiais para se afirmar e viver. Tendo uma grande consideração por todos esses profissionais, não posso aceitar, por outro lado, que o seu local de trabalho possa ser um qualquer estabelecimento de ensino/aprendizagem/formação/humanização de todo e qualquer conhecimento.
Ver aqueles carros chegar, antes de todos os agentes escolares, quero crer que há outros caminhos a percorrer: fazer da escola um desejo e uma outra forma atractiva de atrair quem dela se quer abeirar, indo por bem, é um imperativo. Rodear todo o sistema de homens fardados e armados é desvirtuar o próprio conceito de educação.
Entendo, por isso, que a socialização de todos, a começar pela nossa infância e juventude, reside noutras esferas: a família, em primeiro lugar, a sociedade no seu todo em geral, por acréscimo.
E, dentro desta, têm lugar destacado as nossas colectividades.
Por aquilo que conheço, a minha UMJA, aqui na encosta da Serra do Ladário, concelho de Oliveira de Frades, lugar da Sobreira, está a cumprir um enorme papel de destaque.
Com um passado de êxitos em termos de trabalho com esta malta nova, o seu recente Festival TIM - e todo o programa que o envolveu - veio confirmar isso mesmo.
O encontro de Bandas, a organizadora, a de Ribeiradio, ali, do outro lado da Serra, e a de Salzedas trouxeram o testemunho desta verdade: quando todos formam, ninguém sai a perder e todos ganham. Talvez fique com a cara à banda a "Escola Segura", mas isso agrada-me, verdadeiramente, com o devido respeito para aqueles profissionais que não têm culpa nenhuma, como é lógico.
Repensar a escola e a nossa maneira de ser, ser e estar, é urgente, necessário e imperioso.

sábado, 11 de setembro de 2010

11 de Setembro

Duas efemérides me vêm, de rompante, à memória, quando olho para o dia 11 de Setembro: a primeira faz-me ir até Alcafache e recordar o horror do acidente ferroviário, há 25 anos,na linha da Beira-Alta, onde, por entre ferros retorcidos, carruagens desfeitas e chamas, muitos nossos conterrâneos perderam a vida, tantos que ainda hoje ninguém sabe, ao certo, quantos faleceram; mas são as Torres Gémeas, em Nova Iorque, que vira meses antes, que, naquele fatídico também dia 11 de Setembro de 2001, mais me atormentam: espinho cravado no mundo da desejada sã convivência entre gerações, cada areia, como a ameaça de um qualquer Reverendo evangélico de queimar o Corão, pode pôr tudo a perder.
A chaga dos milhares de mortos, os efeitos nefastos directos e paralelos que aquele ataque desencadeou, como a nunca explicada Guerra do Iraque, são sempre um pesado cutelo que pesa sobre as cabeças de toda a humanidade.
A cada ano, temo sempre o pior. Mas, felizmente, parece que o bom senso está a ganhar, esperando que assim aconteça sempre, para bem de um futuro carregado de incertezas e dores.
A nível interno, vejo que a (in)justiça nos corrói de alto a baixo. Agora, isto dos computadores teimosos é mazela que tinha de ser evitada a todo o custo. Num processo deste melindre, nada disto poderia continuar a mancha negra que tanto empobrece esse edifício em ruínas.
No meio desta trapalhada, culpados há-os, de certeza. Vítimas também, de um lado e outro daquela débil barricada.
Até a "convicção" do Tribunal me confunde, por ser um defensor da real descoberta da verdade e não aceitar que se decida com base nesse apregoado princípio. Mas, à falta do melhor, do mal o menos.
Agora isto de culpabilizar as máquinas não me entra pelos olhos dentro. Nem pela minha fraca capacidade de compreensão.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

No rescaldo do acidente do A25

Vinte e quatro horas depois do pavoroso acidente em cadeia de ontem, no A25, na zona das Talhadas do Vouga, nada faz supor que ali se viveram, das dezasseis horas em diante, momentos absolutamente dramáticos.
Hoje, apenas ali se vê uma equipa a reconstruir parte do pavimento que as chamas destruíram, no sentido Aveiro-Viseu. Ontem, foi o caos total, o desespero e dor, muita dor, porque houve quem partisse para sempre, assim terminando suas viagens terrenas. Paz à sua alma! Mas os feridos, alguns deles, ao que sabemos, ainda em estado grave, merecem também uma nossa palavra de conforto.
Por vizinhança do local desta catástrofe, pude observar o pandemónio que se gerou, em termos de um eficiente socorro e demais estruturas de apoio, que marcaram pontos no panorama das respostas nacionais a dar em casos desta envergadura.
Mas, minutos antes daquele momento fatal, por ali circulei, entrando em Aveiro e saindo no nó de Reigoso-Oliveira de Frades. Posso então testemunhar que era absolutamente negro o nevoeiro que se fazia sentir, misturado com uma intensa e persistente chuva, a primeira deste verão - o que pode explicar, em parte, o que ali sucedeu - e que as condições de visibilidade e de condução eram do pior que pode haver. Por sua vez, o piso, a escorregar como manteiga, era um outro factor negativo que contou, assim o cremos, para o terrível desfecho deste monumental e trágico desastre.
No entanto, urge que saibamos não diabollizar este A25, já que, na nossa história, o imprevisível acontece sempre, quando e onde menos se espera. Via de montanha, em dia de chuva e denso nevoeiro, propiciou, naquela hora, tão triste e grave situação. Mas houve factores, talvez de ordem humana ou mecânica, que não podem ser descartados.
Para nos ajudar a compreender a ideia de que o A25 não é uma perigosa excepção, vejamos:
- Santarém, 2001, A1, com 105 carros envolvidos, 4 mortos e 73 feridos;
- Torres Novas, A23, em 2004, com 85 veículos e 23 feridos, sem vítimas mortais;
- Aveiras, A1, 2005, com 4 mortos, 2 feridos graves e 30 ligeiros , num total de 80 viaturas;
- Ontem mesmo, nos Açores, outro despiste em cadeia com 12 carros.
Por aqui se vê que não é o A25 que tem de ser catalogado como estrada maldita. É o azar e, talvez, um pouco de descuido dos condutores, o que é grave.
Mas também é caso para pensar que as vias alternativas não estiveram, de maneira nenhuma, à altura das respostas que seriam de exigir-se.
Cabe a quem decide vir a reponderar a estafada questão das portagens, que aqui não podem ser aplicadas de modo algum.
Sabia-se. Confirmou-se ontem pelas piores e lamentáveis razões.
Aqui, a dois passos de minha varanda, onde as vias secundárias rebentaram pelas costuras e mais adensaram a dimensão trágica daquele fim de tarde,ainda se não fala doutra coisa e que importa esquecer, mas dele, deste emaranhado de carros e sofrimento ímpar, não podemos deixar de tirar as devidas lições. Todas e todos.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Escolas a fechar, país a desertificar

De olhos fechados, diria que este encerramento, em massa, das nossas escolas, nos últimos anos, é reflexo de medidas desabridas, não-pensadas, aparecidas ao acaso. Aprofundando esta questão, constata-se que tem um pouco de tudo: aquilo que dissemos e, infelizmente, bastante de realidade actual.

Foge-se das aldeias, escapa-se o pessoal dos centros históricos e tudo se desertifica. O interior passa a quase reserva natural, o casco velho das nossas cidades vai pelo mesmo caminho do despovoamento, converttendo-se em amontoado de pedras e ruínas.

Fecham, de seguida, as escolas. Perde-se o fio de vida que poderia fazer ponte entre o passado e o futuro. Ontem, foram as mais pequenas, hoje desaparecem aquelas que têm menos de 21 alunos. Amanhã, as de quarenta, de cinquenta e o que me assusta é este passo acelerado para os grandes centros, a milhas de distância do berço familiar. O autacarro vai ser rei e senhor para as crianças de cinco/seis anos em diante. O acordar far-se-á sentir na noite escura, altura em que os olhos mal se abrem e assim continuarão pelas estradas fora.

Chegar à grande escola, impessoal e distante, vai ser um sacrifício de meses e anos.

Mas são estas as opções que povoam o "sonho" de quem decide. Cá, por nós, ficaríamos pelo meio termo: nem estabelecimentos de reduzida dimensão, nem esse pavor de umas casas enormes onde tudo mexe e a pessoa perde-se um pouco...

No momento em que me dizem que vão ser trancadas mais 701 escolas, é de pesar que tenho de falar.

O meu país desertifica-se e está cada vez mais pobre, mais cinzento, mais sem vida e sem entusiasmo. Culpados? Todos nós, de certa maneira. Mas há quem tenha uma responsabilidade maior e aqueles que nos legaram uma nação que se aninha, quase toda, à beira-mar estão entre os maiores de todos os coveiros.

Tudo isto dá que pensar.

Mas é sempre verdade: por cada escola que se fecha, abre-se a porta ao avanço do deserto e é, por mais que esta frase cheire a conceitos ultrapassados, uma espécie de farol que se apaga.
Se as escolas ditas pequenas não têm bibliotecas, ginásios, piscinas, etc.etc, criem-se alternativas, que se possam, por exemplo, estender a toda a comunidade, numa perspectiva intergeracional.
Mas pôr as crianças a devorarem quilómetros de estradas, no meio de um sono matinal e ao fim da tarde e princípio de noite, não é resposta que se cheire.
Encerrar um estabelecimento minúsculo, sem hipóteses de sociabilidade, impõe-se.
Trancar as portas a eito, brada aos céus.
Eliminar todas as que têm menos de 21 alunos, dá que pensar.
Fazê-lo a escassos dias do início de aulas, não tem classificação...

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Adeus, dorido, meus Bombeiros

Sinto que o céu está demasiado escuro, mesmo que seja ainda dia e muito dia. Não é apenas o fumo intenso que o tolda. Não. Nele se pode ver que tombaram, em plenos incêndios, dois Bombeiros, um em S. Pedro do Sul, o fogo dos fogos deste ano de 2010, outra, em Gondomar.
Vê-los partir é uma dor-ferida que dificilmente deixa de sangrar. Cair em maré de dádiva total aos outros e seus bens é uma ida cheia de glória, mas é um sacrifício que nos esfrangalha o próprio ânimo.
Se este calor de Agosto se revela estranho, porque queima em Portugal e na Rússia e arrasa de água o centro desta nossa Europa, por aqui são demasiado fortes os seus sinais. A morte é, sem dúvida, o mais duro golpe deste Verão quente e cheio de fumo.
Se o calor mata por si mesmo, se este potencia outras causas de partida anunciada, o desenlace de gente que tudo dá sem nada querer em troca, os Bombeiros, torna-se um peso demasiado, um poço sem fundo de tristeza e desconsolo.
Mas este facto de saber que a morte os encontrou em actividade meritória e voluntária, em vinda sem regresso para ajudar os outros, mais nos faz sentir o apreço enorme - e sem medida que temos por estas pessoas de alma enorme! - que nos prende da cabeça aos pés.
Alcobaça e Lourosa estão de luto.
Mas eu também.
Dolorosamente, muito doridamente.
Obrigado, amigos que nos deixaram.
Saibam que nunca vos esquecemos, assim como recordamos Sintra, Águeda, Armamar, Oliveira de Frades, Ventosa-Vouzela e tantos outros locais onde um qualquer Bombeiro caiu, bem de pé, para sempre.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Viseu em alta

O dia de hoje, que assinala setenta e cinco anos de Rádio pública, trouxe a Viseu, numa outra vertente, uma irmã mais nova dessa mesma RDP, a sua actual vizinha, RTP 1.
De manhã, passeou-se por Tondela, uma terra cheia de trunfos, incluindo o seu Presidente de Cãmara, que por ali foram desfilando um a um. Ao assistir a esse programa, apercebi-me de que, no Caramulo, há uma grande jóia museológica e uma menina, a Susana Tavares, que tão bem a mostrou. Arte em geral e automóveis, em particular, eis dois bons motivos para uma enriquecedora visita cultural ao Museu ali existente.
À tarde, Viseu recebeu o arranque da Volta a Portugal em bicicleta, facto que serviu de base para uma boa olhadela por essa bela e velha cidade, cada vez mais nova e atraente, tão forte tem sido a marca deixada pelo Dr. Fernando Ruas, seu Presidente de Câmara e com o mesmo cargo na ANMP.
Foi assim um dia em cheio para este distrito.
Mas é muito maior para a RDP, a festejar as suas Bodas de Diamante. Parabéns!
Já agora, apetece-me dizer que tem a mesma idade de um notório meio de comunicação regional, o "Notícias de Vouzela", que está em festa por esse mesmo motivo.
Com a Volta à nossa volta, que tudo corra bem!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A morte à minha beira

Se parece estranho este título, passo a explicá-lo: nas últimas horas, soube do falecimento de duas pessoas a quem me sinto, por mil laços de afinidades, muito ligado, quer pela via dos Bombeiros, quer pela minha outra costela, a do jornalismo.
Ontem, aqui tão perto, na Mealhada, um acidente de viação roubou a vida a um Soldado da Paz, atirando para as camas dos hospitais outros seus colegas. Foi o primeiro sinal de dor que me bateu à porta, aqui no meu recanto, em Oliveira de Frades.
Ainda não estava refeito desta pancada - e quem pode estar, depois de saber que morreu alguém que tudo deu à causa pública! - e logo um outro alerta, também muito pesado, me chegou de Lisboa.
As notícias da manhã traziam algo de triste para o mundo do jornalismo: o desaparecimento de Mário Bettencourt Resendes era, afinal, uma realidade que me custa a aceitar...
Impotente para travar tão dura novidade, convertendo em notícia, quem dela fez estilo e prática de vida, resta-me pensar que, na roda da vida, ninguém escapa ao fatal destino.
Sem o conhecer, convivi vezes sem conta com Mário Resendes, quer como leitor do seu jornal, o "DN", quer como ouvinte e espectador de muitos de seus comentários.
Concordei e discordei inúmeras vezes. Mas lê-lo e ouvi-lo sabia-me sempre bem.
Fica-me agora a certeza de que só o encontrarei algures, não sei bem onde.
A estes amigos que acabei de perder, que vivam em paz.
A seus familiares, os meus sentimentos de profundo pesar.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Escolas a encerrar

Que as escolas encerram, disso não tenho dúvidas. Algumas delas, sejamos claros, o fruto desta época, a demografia negativa, a desertificação irritante e evitável, o desmando em planear correcto e com uma visão de futuro, tudo isso fez descambar o mundo em que vivemos décadas e décadas, num processo que não é assim tão velho como parece, levando ao fecho de muitos estabelecimentos escolares.
Se a educação obrigatória é um fenómeno novo, se o Plano dos Centenários nasceu na década de quarenta do século passado- o que mostra mais uma das características efémeras das nossas políticas - e se, ainda há pouco tempo, andámos para aí a erguer bandeiras de escolas em cada canto, agora estamos a pagar a factura dessas ideias e sonhos: ter as nossas crianças a aprender à beira do borralho é chão que deu uvas. Mas tudo pode ter uma segunda oportunidade e, um dia, talvez se volte à primeira forma...
Agora é a maré de se avançar para os mega agrupamentos, para a escola sem rosto, para a educação deslavada, para o primado do autocarro e o fim dos professores, educadores, agentes sociais, dinamizadores das comunidades, pensadores, ensaiadores, autarcas, amantes das culturas locais, enfim, gente de corpo inteiro que, a par do seu local de trabalho, dava muitos outros ares de sua graça.
Tudo isto está a fugir.
Até em Oliveira de Frades.
Se o " Expresso " pede um ponto para assinalar mais uma escola que tranca as portas, este ano, em Oliveira de Frades, tal não se não vai fazer. Felizmente. Mas a ESCOLA GRANDE está a caminho, mais ano menos ano e o MEGA AGRUPAMENTO, esse, até já nasceu de parto doloroso e com pais duvidosos. Mas viu a luz do dia, infelizmente.
Se não defendo as escolinhas de bolso e de lareira, a média de 70/100 alunos no primeiro ciclo, a interligação com os Jardins de Infância que se ergueram e agora estão mal aproveitados, antes que se pense nas creches locais, seria uma bitola a considerar, numa dinâmica que fizesse instalar comunidades escolares e sociais integradas, de modo a valorizar as valências desportivas, as bibliotecas, os centros diversos.
Ao Ramiro Marques, que tanto se debruça sobre estes temas, um abraço, oferecendo-lhe esta reflexão.
A quem decide, que pense bem antes de dar machadadas sem retorno.
A educação é valiosa demais para andar sempre em experiências.
Disso está o mundo cheio e a formação vazia...

terça-feira, 27 de julho de 2010

Obrigado, Bombeiros

Olho para o céu e não o descubro: todo ele é um manto escuro que esconde um sol cor de fogo, como há pouco presenciei, a absorver as chamas que, cá em baixo, devoram mato, apavoram pessoas e destroem bens. Por aqui, de olhos postos na minha Serra do Ladário, há horas em Águeda, tive, uma vez mais, a sensação de que o Verão traz sempre, quase ciclicamente, estes problemas. Tudo arde, tudo se consome nessa voragem assustadora e, por entre lágrimas de dor e de desespero, um grupo de heróis, os Bombeiros, os homens da terra e do céu, que tudo fazem para nos salvar, dão tudo de si.
Saem de casa e não olham para trás. O dever, o espírito de missão e visão que um dia juraram, falam mais alto que a própria angústia familiar no momento em que se fecha a porta de casa e se abre a do coração voluntarioso, que não rejeita qualquer espécie de sacrifício.
Egoísta, o olhar para mim mesmo, escrevo, na minha varanda, este sentido desabafo, mas não mexo uma palha para, com eles, sentir o prazer da dádiva total, quando vêem que o fogo se foi e a esperança renasceu...
É por isso que tanto admiro essa gente de alma grande!
Para os Bombeiros, todos eles, vai hoje, foi ontem e irá amanhã a minha enorme, imensa gratidão.
Mas, neste dia negro em que o cheiro a fogo e a fumo me entram pelo nariz dentro e o meu céu está fusco, triste e cinzento, quero enviar um abraço especial para a malta dos Bombeiros da minha terra, Oliveira de Frades.
Bem haja.
Que o vosso exemplo de trabalho e dignidade tenham a recompensa que tanto merecem.
Um abraço!

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Férias: amanhã poderemos tê-las?

Às vezes, sinto que esta página fica em branco, porque pouco, de monta, tenho a dizer. É a velha teoria do jornalismo que nos mostra a angústia da folha de papel sem nada escrito, tempos sem fim, porque o autor bloqueou. Não é bem o caso, mas para lá caminha: olho para Lisboa e só vejo água do Tejo e um deserto de ideias políticas daquelas que nos possam interessar; viro-me para Bruxelas e também se descortina apenas um leve ar de quem ainda não sabe o que fazer com esta crise prolongada e, cada vez mais, imprevisível. Voltar-me para os EUA, por estranho que pareça, em matéria de políticas sociais, é uma espécie de salvação para as minhas angústias.

A pátria do liberalismo dos olhos fechados, a terra que foi mãe da crise de 1929 e cavou fundo os alicerces da hecatombe de 2008 em diante, foi capaz, por obra de Obama, de criar uma lei-tampão do mundo das finanças.

A minha Europa, mergulhada em crises de identidade, ainda não se (re)encontrou. O meu pais, carrregado de problemas, atira-a à Constituição como num grito de alerta para a saída da crise.
Compreendo esta fuga para a frente: quem vem de novo, busca um palco onde possa gritar alto o que pretende para a sua nação.
Mas esquece-se de um pormenor: o que nos falta, agora, é pão, não palavras.
Sabes, Pedro, a pedra de que precisamos é outra. A revisão constitucional é necessária, mas só lá mais para diante.
No entanto, compreendo tuas ideias e intenções. Mas há um ponto que não podes esquecer: a carga de política social é um dado que dificilmente se pode mexer.
Nesta minha terra, Oliveira de Frades, ainda sentimos o chapéu de uma Zona Industrial que dá algum conforto. Mas tememos algumas sombras que andam pelo ar.
Peço-te um outro cuidado: não deixes morrer a Barragem de Ribeiradio/Ermida, não a abandones, agora que, dizem, a Martifer vai sair desse comboio.
Mas faz tudo para termos uma Barragem com água, muita água e, por via disso, muito turismo.
Não deixes que essa "coisa" das reversíveis aqui se instale.
A energia eléctrica é um bem, mas a terra seca e ressequida de um rio estragado, se o não deixarmos armazenar a água que gera, é medida bem pior que o soneto.
Vês, com estas considerações, Pedro, que a minha Constituição - se bem que te compreendo! - se escreve com pontos mais práticos.
Este e outros: a manutenção da SCUT em zona que não tem alternativas credíveis, neste meu A25, a defesa das escolas, duas ou três, no meu concelho e não uma apenas, com muito autocarro e pouca vida local, a continuação dos apoios às IPSS, etc. etc...
Deixa, Pedro, que mais gente sonhe e possa ter férias, sinal de que o mundo estará bem melhor.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Futebol e justiça

À primeira vista, isto de futebol e justiça não são peças do mesmo tabuleiro. No primeiro caso, a bola nem sempre é dada como tendo entrado na baliza do aniversário, ou foi empurrada por jogador em fora de jogo, como assistimos neste Campeonato do Mundo. Quanto a Portugal, que ganhou só bem num jogo e com uma abada e pouco mais fez nos outros, tenho de confessar que, muito embora em situação irregular, perdeu bem com a Espanha, que agora confirmou a sua entrada na Final. Quem não quer marcar, aparece derrotado e a nossa equipa deixou sempre a ideia de andar a sonhar com milagres de Fátima...

Agora, por entre assobios e esgares de raiva, resta-nos começar uma outra caminhada: o Campeonato Europeu. Com quem? Venha o diabo e escolha...

Aquela do "feeling" foi chão que deu uvas e nem o BES nos salvou.

Se falassem em vontade e coragem, em arregaçar as mangas e avançar, sem medo, pelo mar dentro, talvez os resultados fossem outros. Como nada há a fazer, adeus África do Sul, sem honra nem glória, mas com uma almofada carregada de uma França que fugiu, assim como a Inglaterra, o Brasil, a Argentina, a Itália e, talvez, outras selecções mais favoritas...

De futebol, pouco nos apetece falar.

Da PT/Telefónica, aguardamos o desfecho da sapatada dada pelo Governo, que merece o nosso aplauso.

Das SCUT, que defendemos nos casos em que circulam por terras ainda empobrecidas, nada a dizer: de trapalhada em trapalhada, não há passo que se adivinhe.

Das Presidenciais - e isto porque estivemos muito tempo em hibernação - também não nos apetece mandar qualquer "bitaitada". Cavaco aí está, Alegre disse que quer estar... Nobre, nem sim, nem sopas, nem lá vou, nem lá faço míngua...

Da vida, com um IVA mais gordo, nem vale a pena opinar. É comer e calar.

Mas não quero calar, nem posso, o que sinto em relação à justiça.
É um pouco igual ao futebol: pouca gente a entende e poucos nela acreditam...
Fui hoje mesmo a um Palácio desse sector, feito com sangue e suor dos presos de Viseu.

Tudo bem: ali compareci, por dever de ofício voluntário, em representação de uma IPSS de Oliveira de Frades, que tem um papel notável em trabalho com pessoas com deficiência.

Chamado, apresentei-me perante Sua Excelência a Magistrada em serviço neste mesmo dia. Do outro lado, alguém que discorda, como lhe compete, da decisão ali em análise.

Entrámos. Era o Tribunal do Trabalho. Eu, como agente "patronal" só por ter funções associativas que tal implicam. A outra senhora por estar no seu papel de contestar aquilo que entendemos ser a correcta posição da Instituição que represento.

Entrámos no Gabinete.

Cumprimentos, de mão estendida, ei-los para os nossos representantes, os advogados respectivos.

Para nós dois, nada. Apenas um curto olhar.

É esta justiça que, de olhos vendados, também não tem coração, nem alma e, por isso, dá-se ao "luxo" de ignorar os cidadãos. Talvez até nem civismo. Sempre que de mim alguém se abeira, sempre o cumprimento, levantado e de mão estendida. "Ontem", no exercício de outras funções - e que tarefas! - nunca deixei de assim proceder.

É esta justiça seca, que não pensa que é gente a gente que ali vai, que me choca e me espanta, neste meu Portugal de homens e mulheres de corpo inteiro, nem que as mãos magoem com seus calos, nem que haja um ar que tresande... Que nem era o caso, por sinal.

Justiça humana só a vi - e aqui o disse uma vez, uma só vez, em Oliveira de Frades, em que uma Magistrada teve o cuidado de descer à rua e explicar o que estava a acontecer.

Em centenas de outras situações, reinou esta gritante distância, apatia e - vamos lá! - uma certa arrogância.

Carta aberta ao Senhor Ministro da Justiça:

- Trave, V.Exa, isto, antes que tudo se desmorone. Até o respeito pelo ser humano, pelo cidadão que somos todos nós.

Hoje, em Viseu, no Tribunal do Trabalho, senti-me mal, até comigo mesmo porque tive de ficar calado demais, quando me apetecia dizer " Olá, como está, Senhora Doutora" . Era o mínimo que me ia na alma. E um sinal de respeito, que não usei, porque percebi o silêncio que ali vi...
Era a justiça, pronto.

domingo, 6 de junho de 2010

Lá está a Selecção no Cabo das Tormentas

Aquela terra, a da África do Sul, tem na história portuguesa um lugar especial. Cheira a passagem de pimenta, a noz moscada, a gengibre e todas essas especiarias que, nos idos anos de 1500 e poucos mais, Portugal conseguiu desviar da rota terrestre, então em mãos das repúblicas italianas. Passado aquele Cabo, o das Tormentas, por Bartolomeu Dias, logo o Gama haveria de chegar à Índia e abrir as sacas para trazer a canela pelos mares Índico e Atlântico, também mais esta riqueza, que Lisboa fez despovoar, até pelo seu cheiro.
Hoje, cinco séculos e pique depois, os navegadores, disse-o Carlos Queirós, são outros. Não choram nas naus, não vestem trapos, não saem sem eira nem beira, não sabem o que é querer comer e não ter pão à mesa, para si e para os seus, não partem na incerteza de não voltar, que a sua sepultura, nessas épocas recuadas, era o mar revolto, assanhado e pouco meigo. Nada disso. Também pouco desses sinais de grandes façanhas, à dimensão de tão fortes antepassados.
Hoje, convenhamos, os tempos são outros. Saem os nossos "heróis" de um hotel dourado, em Oeiras, passam pelo Parque Eduardo VII em pose de vedetas, a disputarem o lugar com Tony Carreira, vêem-se aplaudidos por cerca de 80000 entusiastas ( de Carreira ou da Selecção, ou de uma operação bem conseguida por juntar as duas faces da moeda?), desfilam pela passerelle, acenam um adeus, dormem uma soneca em avião meio vazio, aterram em aeroporto seguro, sentem o calor do nosso povo - que maravilha sentir estas palmas em terras tão distantes! - e logo partem para um outro Hotel de sonho, que foi preparado ao pormenor.
Entre os heróis de quinhentos e as esperanças de agora vai a diferença entre um querer feito de desejo e necessidade e a "magia" de um desporto que, vivendo sobre um ninho de gente bem mimada, transporta consigo a ideia de que os seus êxitos são pau para toda a colher: enriquecem o nosso ego e, por estranho que pareça, fazem esquecer dificuldades e perigos.
Como quer que seja, que estes "navegadores" sejam um pouco do alento que precisamos!
E que estejam à altura de levar o seu barco a bom porto, aprendendo a lição daqueles que, naquelas terras, içaram um padrão que não mais faz esquecer a presença portuguesa por azimutes tão distantes.
Sem saudosismos, mas com gratidão e reconhecimento pelo nosso passado, nesta hora de partida para o Mundial de Futebol, esperamos que a chegada seja tão coroada de êxitos quanto o foram muitas daquelas que, entrando pelo Tejo dentro, por entre dores e lágrimas, abraços e aplausos, traziam taças e riquezas que, por cá, sabiam a mel.
Não queremos pedir muito. Mas fica-nos bem esperar que tanta palmada nas costas e tamanhos salamaleques tenham o retorno que se aguarda.
Para um país em crise profunda, agastado consigo mesmo e com meio mundo, umas vitórias, vamos lá, aquecem-nos o coração, que do estómago alguém terá de cuidar.
Mas isso é tarefa para outros jogos e outros estádios, em Lisboa e em Buxelas, a muitas milhas da África do Sul...

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Selecção pobre até nas músicas

Ao vermos que o mês de Maio está a acabar e a nossa Selecção se apresta a sair da Covilhã, hoje vamos falar de uma das opções tomdas.
Pouco discutimos os jogadores escolhidos.
Entendemos, no entanto, que há falhas graves.
Que não foi gente que devia ter ido, que outra ali está que, talvez, a nosso ver, não é a mais ajustada.
A ver vamos.
E prognósticos, alguém o disse, só no fim do jogo.
Mas há uma opção que tem o nosso frontal desacordo: é a canção que serve de suporte à Selecção.
Em terra de poetas e autores de grande mérito, é um erro de todo o tamanho ir buscar ao estrangeiro o tema motivador.
Nada temos de xenófobo. Nada.
Mas uma canção, em inglês, choca-me.
É a selecção portuguesa que ali está a representar-nos e bem poderia ouvir, de manhã à noite, música da nossa.
Boa, bem feita e digna de ser mostrada ao mundo.
Se tenho de aturar a VUVUZELA - e até me agrada um pouco, por cheirar a Vouzela - em cada momento do Mundial, dêem-me, em contrapartida, música da minha.
Mudem lá o disco, que ainda vão a tempo!
Já agora: joguem bem, que aquele desafio com Cabo Verde foi uma lástima.
Ainda vão a tempo. Lá na África do Sul...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

M e M

Esta é uma terra em que os "M" têm uma certa importância, melhor dito, um capítulo à parte: Mourinho é o que é; Marcelo, o Rebelo de Sousa, também não deixa de ter o seu pelourinho com abas largas, porque o seu pouso, o das televisões, só agora teve um desfecho - TVI - e, por aquilo que se viu e ouviu, não é de abastardar esta sua cátedra...
Marcelo tem palavra, descobre a careca de todos, adivinha o coração de seus visados, desmonta-os todos, de alto a baixo, sem contemplações e com voz de anjinho. Mourinho, esse, com ar azedo, se isso for bom para o seu projecto, apresenta obra, da cabo a rabo: foi feliz em Portugal, no Porto, continuou esse invejável estatuto em Inglaterra, prolongou-o por Itália e, rezam as bruxas, não deixará de fazer o mesmo em Espanha, no Real dos Reais.
Com dois métodos e dois esquemas, um e outro são uma espécie de gente que nos deve motivar: se um fala e é aceite, o outro concretiza e mostra que Portugal, afinal, não é um qualquer reino de bananas, mas um país com nível...
Com um terceiro lugar nas tabelas do futebol mundial, com um técnico que é estrela cintilante, com um Eusébio, um Figo, um Cristiano Ronaldo, a culpa de termos um Primeiro-Ministro que teve azar no tempo em que governou, porque mostrou garra, mas esqueceu-se de analisar as condições económicas que o mundo apresenta, não nos cabe, de certeza. Se não votámos nele, sentimos que tudo isto é mau, que a vida a encarecer, talvez, não tenha apenas o seu carimbo, mas não podemos deixar de ver que errou bastante...
Mas o meus Mourinhos são outros, aqui em Lafões e Oliveira de Frades. Dão pelo nome de Martifer, Portax-Iberoperfil, Rações Classe, Pereira e Ladeira, Campoaves, Sequeira e Sequeira, Perfisa, Notícias de Vouzela, que, este ano, comemora 75 anos de idade, Misericórdias e Bombeiros de Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela, ASSOL, Barragem de Ribeiradio e tantas outras gentes e instituições desta Região de Lafões que, estando em subida, não pode assistir ao folclore do aumento das portagens sem dizer que esse é um discurso para quem não sabe que a EN16 está entulhada de todo e que o Índice de Desenvolvimento desta zona ainda anda longe daquilo que, sendo necessário, nem aí chega...
Ao terminarmos este mês de Maio, que foi de um negrume que até nos assustou, a ponto de ficarmos calados desde o seu início, porque tudo cheirou a descalabro, desde as finanças, aos impostos, às decisões políticas, só sentimos algum alívio na Covilhã, mas até esse é um ponto em que tudo, não sendo capaz de ser árvore de grande porte, se fica por uma vulgar Queiroz, que, nesta minha terra, tem ar de planta sem pinta de saltos altos: mas, porque o fruto depende de muitos factores, o melhor é sabermos esperar...
M e M têm um lugar especial. O resto é uma qualquer lástima, salvo as estrelas da minha terra, que alumiam com algum brilho e esperança, tantos são os pergaminhos, de idade e valor, que nos podem apresentar.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Gaivota na areia, sinal de peixe tramado

Chega a rede. Pelos buracos da sua malha, escapam-se os peixes sortudos que, a tempo, ainda reentram na água, de onde saíram segundos ou minutos antes.
Outros, porém, rejeitados ou desastrados, acabam por se perder nas areias finas e amarelas, pisados, torturados, ou arrancados para sacos intrusos ou, então, papados por bandos de gaivotas vorazes que lhes chamam um figo.
Se os seus amigos de caminhada final, entre quatro fios, vão ser cobiçados por quem não dispensa um bom prato saído do mar-ventre generoso - e agora, de novo, tão falado, a partir da palavra presidencial - e sempre pronto a ajudar-nos, aqueles infelizes nem isso conseguiram.
Mas cumpriram uma outra missão: alimentaram parte deste nosso universo que tanto precisa de preservar a diversidade, de que as gaivotas são parte integrante e bem desejadas.
Assim, uns e outros, afinal, neste mar da Vagueira, dia a dia, quando o mar se mostra manso e chão produtivo, têm o fim que o destino lhes ditou: ou correrem para as bancas novas e provisórias, ou serem repasto das aves que fazem do mar, do céu e da terra um espaço tripartido, sendo, por isso, muito mais felizes que nós: sem impostos, sem medo de bancarrrotas, sem especulações e "ratings", sem gravadores metidos ao bolso, sem uma Grécia a afundar-se e um euro a cair aos trambolhões, ei-las gaiatas, a ir e vir, quando muito bem lhes apetece.
A elas, ninguém chateia.
Nem o medo do futuro as apavora.
E a nós espreme-nos até ao tutano.
Uma " gaivota voava, voava, voava ..."
E nós, aqui num chão prenhe de lodaçal, vemo-nos descambar, hora a hora, se outros tempos não vierem...

Três "S"

Isto da idade conta-se também com as letras do alfabeto: chega um dia e os "s" caem sobre nós. Quando chegam três duma só vez, até as notícias, acerca de cada uma dessas pessoas, têm tendência para mudar. Começa a falar-se no sexagenário, a medida etária que, a partir desse virar de página, mais se usa.
Tudo muda. Menos uma verdade: dez anos depois do meio século já cá cantam.
É bom? Não sabemos.
É mau? Esperemos que não.
É o que é e nada mais.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Preocupado, mas alegre

Estes últimos dias têm-me trazido emoções de sinais muito contrários: ontem e hoje, vivo sob o peso de um problema, o da vida económica portuguesa, que me aflige de uma maneira preocupante, tal é a situação real, tal é a força de quem usa todos os meios para nos tramar, logo a seguir à Grécia.
Isto de termos à perna as agências de rating, aquelas que manobram os números em função também de interesses escondidos, não é flor que se cheire.
O estado calamitoso em que nos encontramos também não ajuda nada no sentido de evitarmos estes ataques.
As nossas finanças, a nossa economia, a nossa capacidade produtiva andam pelas ruas da amargura. Mas nada disto é justificação para sermos enterrados vivos, atirados às feras de um mundo em que as regras da decência nem sempre vêm ao de cima.
No entanto, caiu-nos o mundo em cima e, agora, há que reagir. Aparecem aqui os meus sinais de alegria:
Primeiro - O entendimento entre Sócrates e Passos Coelho, numa visão de estado de que já tinha saudades.
Segundo - A forma empenhada como decidiram combater a crise e enfrentar estes momentos adversos e de pânico.
Terceiro - Pouco ligado com este tema, mas encaixando no meu raciocínio, quero destacar o ambiente que vivi no Luxemburgo, nas comemorações dos trinta anos do C.A.S.A - Centro de Apoio Social e Associativo, a que preside um meu grande amigo, Comendador José Ferreira Trindade, de Vouzela, porque ali senti, perante o Grão-Duque e sua Esposa, o carinho que aquele país nutre pelos nossos compatriotas, aqueles que fazem do Grão-Ducado a excelência do desenvolvimento que ali se vive.
Se a nossa comunidade representa tanto nos pouco mais de 500000 habitantes, o seu exemplo prova que, um dia, seremos capazes de sermos fortes, audazes e corajosos, atirando para trás das costas os problemas, vencendo-os, para procurar um melhor futuro, que tanto tarda.
Nestes dias de tristeza e alegria, saibamos andar para a frente.
Ouvindo os gritos de um Portugal que quer ser grande, pensemos o Estado na medida de suas necessidades e esqueçamos a politiquice para as calendas gregas.
A hora é dura, mas o nosso ânimo também não é daqueles que se dobra perante as dificuldades.
Gestos de grandeza precisam-se a agradecem-se!

sábado, 17 de abril de 2010

Cabo Verde

Meu caro, Mário Soares:



Reli hoje um cartão do MASP I em que agradeces o meu contributo para o teu sucesso nas eleições presidenciais de então. Nessa altura, fi-lo com a maior das convicções. Nas circunstâncias desses tempos - e nada escapa ao binómio decisão/momento - era essa a minha sincera opção.



Tudo em ti convergia para esse desfecho. Mais aquilo que era superior, estilo relações internacionais e presidência da república, que as questões "comezinhas" do governo de todos os dias, inclusivamente as tarefas de um primeiro-ministro ( que não foram o teu melhor desempenho), me levaram a escolher-te para o digno PR que foste.



Não estou arrependido.



Sou daqueles que dizem que tive, contigo, um bom PR.



Mas esta de vires dizer que nunca concordaste com a independência de Cabo Verde - tu, o grande obreiro da descolonização, para o bem e para o mal e isso não se discute, porque o tempo de então assim fez lavrar a terra! - traz água no bico: ou tens má memória, ou queres dizer que um dos melhores exemplos de sucesso como país descolonizado(Cabo Verde), afinal, foi um teu erro crasso, ao deixares que assim se processasse todo esse caminho.

Não creio que estejas arrependido de ter dado à luz um país de sucesso. A falar português, Cabo Verde é um exemplo vivo de como realizar desenvolvimento e saber trilhar caminhos de futuro.

Podes, neste caso, orgulhar-te do trabalho produzido. Noutros casos, infelizmente, nem tudo correu tão bem quanto aqui: sangue, lágrimas e prantos foram derramados em quantidades arrepiantes. Mas, em Cabo Verde, que o meu amigo Arlindo, do mestrado na Lusófona, tão bem testemunha, a via encontrada foi uma pista TGV.
Não te arrependas, então Mário Soares, de teres aberto esse caminho, nem de teres ganho essa corrida ao Cunhal, quando andavam os dois em competição acesa pelos novos destinos de Portugal , que, bem ou mal, tiveram a sua história e é isso que hoje importa saber ler.
E Cabo Verde é uma de suas boas páginas.

domingo, 11 de abril de 2010

Um abraço para o mundo carioca

Não conheço o Brasil, muito menos a sua jóia da coroa, o Rio de Janeiro. Mas todo o meu universo e história pessoais têm muitos desses ecos do outro lado do mar, desde a carta de Pero Vaz de Caminha àquele relógio que, um dia, o meu Tio Abílio me trouxe, assim como um carro de corda, pesado que nem um pedregulho - a fazer as delícias dos meus companheiros de brincadeira -, objectos que nunca mais esqueci. Nunca, meu saudoso tio!
Da minha prima Maria, que a minha mãe tanto evoca, tive o prazer de a contactar assim como os familiares mais directos, que, há poucos anos, aqui estiveram e foram dormir às Termas de S. Pedro do Sul. Estes os laços de Oliveira de Frades. Mas não quero, nem devo esquecer, aquelas ligações que me vieram pelo casamento, esse momento dos momentos da minha vida, acontecidos pelos arredores de Vouzela, ali, ali onde Decepado do Toro, D. Duarte de Almeida, dizem, nasceu e viveu parte de sua vida.
No meio destas recordações, estranho seria não recordar aqueles nossos irmãos de sangue e de comunidade que perderam as suas vidas por entre morros desfeitos de lama e chuva, muita chuva. Que dor a dessa gente, que dor a minha por ver que assim partiram!
Sentidos Pêsames a todas as famílias e um abraço eterno - porque sou daqueles que acredito num Mundo para além deste! - para quem assim se despediu, sem apelo nem agravo, das contingências de um tempo, cujo segundo depois daquele que agora vivemos, não tem qualquer controlo humano...
De momento, perdoa-me Passos Coelho, até me esqueci do discurso de estado que fizeste hoje, domingo, no Congrsesso do PSD. Gostei muito das tuas palavras.
Mas o meu coração está com quem sofre, desde o Brasil à Polónia, terra que viu desaparecer, tragicamente, o seu Presidente da República e tanta outra grata gente desse país nosso parceiro de caminhada europeia.
Num lado, Rio de Janeiro, foi a tempestade que ditou a mais terrível das sentenças para centenas de vítimas, noutro, a Rússia, foi um avião que, talvez, também não conseguiu fugir aos efeitos da atmosfera e suas contingentes partidas, que a todos apanham desprevenidos.
Sempre a morte, sempre o fim de quem por aqui anda e nos escapa assim, com muita tristeza.
Por isso mesmo, até esqueci o Congresso de Cascais, talvez por isso mesmo e uma outra circunstância: acontecer na Linha...
Chiste à parte, que todos olhemos para quem mais sofre: Brasil e Polónia!
E curvemo-nos perante a memória de quem nos abandonou!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Estranhas dúvidas, desde o inquérito ao Leandro a outros mais

Por norma, por defeito de fabrico, por experiências pessoais e profissionais, tenho particular aversão a Comissões de Inquérito e quejandos. Cheira-me, antecipadamente, a um céu carregado de núvens, a um mar com ondas repletas de óleos e outros meios de poluição e, por esses factos, não estou com um pé atrás: ponho logo travão às quatro rodas, acciono todos os bloqueios e, tremendamente expectante, ponho-me à coca, olho de lado, ouvido desconfiado quanto aos resultados que, sei, me vêm ter às mãos.
Como historiador, uso então todos os crivos possíveis e imaginários, a que junto o mais requintado sistema de funis. Pouco daquilo que é produzido nesses cenários me entra pela cabeça dentro: de cem argumentos, talvez fiquem, aí, uma meia dúzia e das pequenas, porventura mesmo com menos de seis unidades, se este fenómeno da matemática alguma vez é possível... Nunca, creio eu, mas arrisquei esta ideia... Peço perdão por isso.
Aquilo que me fizeram chegar, pela Comunicação Social, de que o Leandro nunca foi vítima de agressões continuadas e sistemáticas, para me esquecer do inglesismo subjacente a estes comportamentos condenáveis, não me parece muito lógico. Desconfio, piamente, das conclusões tiradas pelas Instituições que pegaram nesse assunto. Oficiais, para melhor se entender o contexto em que proferiram tão doutas deduções.
Se o Leandro também podia ter alguns pecados em seu desabono, disso pouco duvido, que ninguém é santo de pau, quando o ambiente adverso, ao que dizem, turbilha de todos os lados.
Mas sair da Escola a correr para se atirar ao Tua, traz água demais no bico, muito antes das correntes assustadoras que o arrastaram consigo. Para sempre.
Este inquérito, que me desculpem os seus responsáveis, tem um odor agreste a esturro e a outros ingredientes muito duvidosos... Para mim, o Leandro morreu porque aquela Escola - e, com ela, um pouco todos nós - falhou. Redondamente.
Lavar as mãos à Pilatos, perdão, não me parece o melhor dos caminhos no campo da responsabilização educativa e social que se exige, que se exige, de uma Casa de Educação.
Se me engano, repetidamente, acreditem que o faço por convicção profunda: o Leandro não se foi embora por dá cá aquela palha.
Que deve ter tido as suas terríveis e inquietantes razões, disso pouco duvido. Ou nada, melhor dito.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Páscoa

No intuito de preservar raízes e valores, a Páscoa, para mim, ainda tem encantos, muito embora a uma escala menor, de outrora. Olho para Quinta-Feira Santa e ponho-me a pensar no seu grande alcance, amanhã será uma Sexta-Feira especialíssima, a Santa das Santas sextas, enquanto o Sábado, véspera de Páscoa, é um interlúdio entre um tempo roxo e o Domingo, esse, da verdadeira Páscoa.
Curiosamente, na região em que vivo, Lafões, o Sábado tem nome e acto de monta: nele se assinala o Dia da Amizade, em almoço alusivo a essa força da nossa comunidade, o que vai acontecer em Queirã-Vouzela.
Nos tempos seguintes, domingo, segunda e dia da Pascoela, haverá a Visita Pascal, algo que ainda se não perdeu, por estes lados.
Hoje é dia de enganos. Sendo a tradição uma sombra do que era, não meti qualquer peta. Melhor: ao tentar fazê-lo, fui logo descoberto. É a idade a congelar a frescura de outros tempos.
Mas a Páscoa, sendo um assunto sério, mesmo que se esteja em 1 de Abril, não passa por qualquer brincadeira.
É assim e assim mesmo: Páscoa.
E ao domingo, claro.

domingo, 28 de março de 2010

Mudança de hora

Na minha terra, tudo muda: as árvores verdejam, as andorinhas aparecem, o cuco começa de cantar e até o relógio diz que a hora é de mudança, que se deve rodar o relógio 360 graus, que se tem de dormir menos e olhar mais para o horizonte soalheiro, que, amanhã, o despertador toca mais "cedo". É uma chatice para muita gente, um embaraço para os dorminhocos, mas é um sinal de esperança para o mundo que quer progredir. Com mais sol a iluminar-nos, menos energia se gasta. É o ambiente, é o futuro que agradece.
Aqui, pelos lados de Oliveira de Frades, onde a UMJA encanta com seus acordes, estas são verdades que consolam. Mas sem a grande alteração que mais se anseia - a da radical entrada em vigor de um outro paradigma de governação - e que é justo esperar-se, a MUDANÇA ainda não tem a graça que deveria ter. O autor destas linhas, desde há meses, tem na mente um projecto e um timoneiro. Ele apareceu, legitimado pelo voto de quem o deveria escolher, fortemente consagrado pela expressiva maioria que o sufragou e, agora, num calendário que o tempo e só o tempo será capaz de pôr em prática, só resta aguardar pela força de seus argumentos.
Bons? Para mim, têm muito de agradável.
Último grito? Quem será capaz de o dar?
Esperança? Quanto baste, mas ainda algo tímida.
Se até o meu e o seu relógio mudou, qual a razão que impede a tomada de um outro caminho, de uma outra linha de rumo?
No horizonte de Portugal, exige-se um novo rumo: Passos Coelho pode(?) ser a solução.
Para mim e para já, até pelo voto que lhe dei, essa é a proposta.
Ideal? Não. Mas todo o óptimo não se dá com o bom...
Possível? Eu acredito...

quinta-feira, 18 de março de 2010

quarta-feira, 17 de março de 2010

Não sei se PECo...

Isto está a ferver: anda tudo em polvorosa por causa dum tal PEC, que ameaça dar cabo de todos nós. Todos? Talvez não. Há sempre uns felizardos que escapam a tudo aquilo que é mau, mas isso é mel que só chega a poucas mesas. Na grande maioria, mais que absoluta, quase total, o tal PEC começa por enganar: dizem que não aumentam impostos, mas cortam nas deduções, apesar de, muito prosaicamente, chegarem até a criar um simbólico escalão acima dos 150 mil euros de rendimento; não querem mais gente na Função Pública, mas retardam a idade da reforma; pretendem acabar com a fome e com a miséria, mas cortam nos apoios sociais; desejam mais emprego, mas levam os incentivos a dar às PME, PPPME e outras que tais; enfim, são um nosso colega Frei Tomás de corpo inteiro: olha para o que eu digo, não vejas o que eu faço...
Eu sei, cá no meu burgo de Oliveira de Frades, onde o investimento tem sido uma constante, que um qualquer PEC é necessário. Mas não é aquele que nos estão a impingir: este não é crescimento, não é estabilidade, não é futuro, não é árvore que preste - por mais que agora a defendamos -, não é flor que se cheire. Retirando tudo a quem já pouco tem de seu e de esperança, este PEC merece ser totalmente reformulado, adiado, repensado, reequacionado, triturado, queimado e só um novo pode ter pés para andar.
É preciso arregaçar mangas, vamos a isso. Mas todos e mais equitativamente. Temos de endireitar as finanças públicas, assim seja. Mas não fiquemos só pelo corte nas despesas, reanimemos as receitas. Não caiamos sobre a sacrificada classe média, ajudemo-la para que se estimule o consumo, a produção, o emprego, os fluxos financeiros, o movimento, o sangue vivo da economia, sendo que é um leigo que está a falar de tudo isto.
Com este documento, não sei mesmo se com ele PECo de todo e isso fere o meu sistema de valores, onde o PECado ainda conta alguma coisa, mesmo sem confissão formal.
Quero reerguer o meu país, mas isso tem de ser obra de todos e um outro projecto de engenharia e de arquitectura é absolutamente necessário. Mesmo que se tenham de aguardar mais alguns dias.
No meio de tudo isto, até o autismo governamental me incomoda e me revolta.
Tanto ou mais que o tal PEC.
Assim não quero PECar mesmo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

" A mim ninguém me cala "

Perdoe-me, Manuel Alegre, por lhe ter usurpado esta frase, eu que não penso, sequer, votar em si e até já tenho voto e Presidente meio decidido. Compreenda, por isso, o meu embaraço: sem ser seu apoiante, saco-lhe, no entanto, a ideia: " A mim ninguém me cala ", nem uma qualquer deliberação vinda de terras de D.João V. A mim, nunca!
Estranho até que este tema possa ali ter sido invocado e - muito pior que isso - votado por maioria. Não estive lá, mas repugna-me tal decisão.
Por tudo isto, " A mim ninguém me cala ". Nunca!
Só não falo mais, por hoje, porque me não apetece. Só por isso.

domingo, 14 de março de 2010

Sazonalidades

Anda a economia preocupada com a velha questão das sazonalidades e, afinal, a vida é o primeiro desses factos. Ainda hoje, na Vagueira, um cidadão brasileiro, que o destino trouxe a Portugal, ao entrar para o almoço, caiu, estatelou-se no chão e, de repente, nada mais pôde fazer senão aguardar a vinda de uma ambulância - que apareceu a tempo, mesmo que tarde demais para quem duvida sempre do segundo que se segue àquele que se vive em cada sopro de vida - e partir para o hospital. Bom tratamento lhe desejo, a par de uma duradoura recuperação!
Este episódio, ocorrido em terra de sazonalidade por natureza, por ser apetecida como praia, fez-me avivar a ideia que estas ocorrências frequentes em certas épocas e escassas noutras, não são assim algo de estranho: a vida é sazonal para cada um de nós, porque aparecemos esporadicamente e logo desaparecemos; tem igual significado para quem vive dos fenómenos turísticos e os vê evaporar-se, por dá cá aquela palha, mal haja, neste caso, um arrufo do tempo; o mesmo se passa com as crises, que nunca nos deixam, bastando recuar até 1929, 1914/18, 1939/45, 1973, 198o..., para cairmos no enorme trambolhão que ainda agora nos assola.
De sazonalidade se pode falar, queridas filhas, em mensagens que seguem, de Oliveira de Frades, para o Caramulo e para Lisboa, em termos políticos: os bons, os verdadeiros, só se notam quando o rei faz anos. Sazonais quanto baste e demais, pena temos que não permaneçam junto de nós em cada dia do ano...
Estes tempos, estes, são de uma agreste sazonalidade: o sol não aquece, a chuva, por ser muita, já incomoda e aquilo que devia ser espaçado, sazonal e meigo, torna-se um pesado fardo, um incómodo de todo o tamanho.
Acreditem, no entanto, queridas filhas, que, a ler essas lições pelos exemplos dos nossos antepassados, novos tempos virão: a "não-sazonalidade" governativa, a boa entrega do nosso destino colectivo, a ideal e a necessária, não deixará de aparecer. Ainda que demore, é esta a minha esperança e, sei-o, também a vossa.
Acreditem, filhinhas! Boa noite, Lisboa, olá Caramulo!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Um passeio por Mafra

Para rever o fausto de D. João V e dar uma miradela ao Convento de Mafra, o PSD, em fase de turismo cá dentro, pouco mais que de pé descalço, resolveu mobilizar(?) o seu pessoal e ir até até à terra que tem por costume um Ministro a governá-la. Com sede de poder, perdido há anos, basta-lhe este consolo-terminação.
Só assim se compreende este Congresso. Nascido de um monte de caprichos, concretizou-se para na televisão aparecer todo aquele ambiente de festa, agora muito mais amortecido que em tempos de eleição com brilho, impacto e força. Mesmo assim, dizem, negoceiam-se esta tarde as entradas em maré de Telejornais, porque esses são momentos solenes...
Fora isso, pouco mais dali sairá. Talvez uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.
No entanto, pode muito bem acontecer que haja algum frenesim, quando - noticiou-se - Santana Lopes, o mordomo-mor deste festim, subir ao palco e proclamar o seu desejo de ver Marcelo em S. Bento e um dos outros seus companheiros em S. Caetano à Lapa, despido de tudo, para deixar brilhar quem, muito desejado, não se quis atrever a ir a votos. Imaginação, vemos que a há a rodos, mas quanto a realismo e veia política, nem pitada, por estranho que pareça...
Quando à oposição se exige seriedade e acção, sai-nos na rifa este entremês, sem lei nem roque.
Que quem se coloca no terreno como futuro líder, saiba resistir ao encanto de abrilhantar um espectáculo destes, que isso de servir de animador cultural não é bem a vocação que se pede a quem tem de pensar no nosso devir.
Com um presente tristonho quanto baste - e é demais - esta passeata até Mafra não vem nada a propósito, pelo menos no nosso modesto entendimento...
Como a temos entre mãos, divertamo-nos com ela.
Mesmo sem vontade, deve acrescentar-se.

terça-feira, 9 de março de 2010

Adeus, Leandro

Escrevo-te esta carta, Leandro, talvez já um pouco atrasada, porque muito tenho sentido a tua falta, mas tive dificuldades em me dirigir a ti, assim na primeira pessoa, até por desconhecer a tua morada terrena, pois andas perdido nas águas do frio Tua. Sei apenas que estás em Bom sítio, que os miúdos, como tu, que tanto sofreram até chegar a este triste destino, bem merecem ir para o melhor dos lugares. É Aí que estás, de certeza.
Olha, fala-te quem vive no meio do sector do ensino. E, nesta hora, sinto-me muito mal, profundamento abatido: o meu sistema de educação falhou, porque morreu um de seus alunos, vítima duma crueldade pegada, que muito custa aceitar que ninguém tenha travado tais comportamentos absolutamente condenáveis.
Há responsáveis, de carne e osso. Nenhum deles pode descansar enquanto lhe pesar a dor de terem contribuído para que tu, caro Leandro, te tenhas atirado ao Rio.
Partiste. Deixaste-nos. Fizeste-lo, por estares abafado pela dor surda que te matou aos poucos.
A Escola toda, enquanto sistema, não pode estar também quieta e calada, como se nada tivesse acontecido. Ninguém pode atirar para canto. Ninguém, de Lisboa ao Porto, sem esquecer Mirandela.
Leandro, desculpa esta nossa falha colectiva. O teu e nosso país tem carradas de falhas e esta é uma das maiores: permitir que perdesses a alegria de viver aos doze anos é um horror que nos deve envergonhar a todos.
Perdoa-nos! Um abraço para a tua família e amigos.

sexta-feira, 5 de março de 2010

O "Público" e eu próprio

Estou velho. O cabelo, parte dele, já me tinha caído em barda. O bigode tinha flores de neve, menos que as actuais. O gosto por jornais, com tanta idade quase como a que hoje tenho, talvez fruto do saudoso "Século" que tantas vezes li na loja do Ti' Manel da Ponte, era já um soboroso vício, uma incorrigível mania. Lê-los tem muito de imperioso, de repentino e não há lugar que resista a um dessas boas leituras.
Algo exigente na sua escolha, passeio-me gostosamente pelo "Expresso", sinto-me em casa com o meu "Notícias de Vouzela", recordo o "Notícias de Viseu", o "Diário" da mesma terra, na sua fase inicial, versão Fernando Abreu, não esqueço ainda o "JN", do Porto, todos estes porque bastante de mim mesmo lhe dei ou continuo, com imenso prazer, a fazê-lo, ora como corespondente, ora como colaborador, ou, muito especialmente, como elemento de equipas que lhes deram ou dão vida...
O "Público" apareceu-me, no meu dia a dia, logo na sua primeira edição. Anos a fio, devorei-o, diariamente, sobretudo de 1994 a 2005, altura em que a Papelaria Albuquerque, desde a sua sede-mãe até à nova, aquela que escondia o "Avante" para o entregar aos seus sabidos leitores e, por entre dois dedos de conversa e uma sandes de bolos de bacalhau, algum tempo antes, o amigo Zé desfiava tudo quanto sabia em termos de novidades da terra - Oliveira de Frades. Com funções profissionais ali por perto, repito, obrigatório era levar sempre, debaixo do braço, o amigo "Público".
Hoje, comemora os seus vinte anos. Parece que foi ontem que o comecei a ler. Pela ajuda que me deu, bem haja. Pelo aniversário, parabéns!
É perfeito? Nunca. Também essa qualidade não é possivel, porque esse estado de vida nunca se consegue em qualquer obra humana - por isso mesmo. Mas tem sido um jornal do seu tempo, que agora povoa menos a minha sede de páginas com tinta que suja quase os dedos, porque o "I" veio, em parte, tirar-lhe essa primazia.
Mas, por ter vivido com ele intramuros, anos e anos, tenho pelo "Público" uma estima especial.
Longa vida lhe desejo. Muito longa, aliás.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Passos para Mudar

Não sei porquê, mas dou comigo a questionar-me sobre o actual momento político. Olho para o Governo e vejo, com tristeza e inquietação, que são mais as quezílias de meia tigela que as grandes linhas de rumo de que tanto precisamos, mais até para o futuro do que para o presente.
Viro-me para as oposições e também me não agrada aquilo que (não) oferecem em desejada alternativa. Pessoalmente, dentro do espaço político em que me revejo, pedem-me uma opinião e uma decisão: há dois anos, fui pela esperada segurança e conhecimento, pela maturidade e também pela novidade de ver uma mulher na liderança partidária.
Mas, pouco tempo depois, muito pouco, aliás, descobri que, de certa forma, me tinha equivocado. Como não podia voltar atrás, fui-me entretendo com o desenrolar dos acontecimentos, sem ver que se pudesse ir muito longe... A hora era de aguardar e fi-lo, serenamente.
Agora, na hora de se avançar para a busca de novos caminhos, apetece-me dizer que me inclino para ver ao leme deste projecto aqueles Passos que querem Mudar, porque temo, neste momento, as rupturas e também um certo ar de continuidade que, por outro lado, se vem anunciando. Na dúvida, sim, na dúvida, esta é a opção possivel, enquanto Cristo não descer à terra...
Sem essa miragem à mão, estes Passos parecem-me a melhor das três hipóteses.
A ideal? Não. Longe disso.
Mas é a realidade que tenho à minha frente... E por ela me deixo embalar.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um abraço, amigos madeirenses

Estão-me no coração todos os amigos madeirenses que, comigo e com muitos outros então rapazes de pouco mais de vinte anos, partiram do GAAC e do BI 19 para o M'Cito, zona de Tete, para constituir a CCaç.4941. Antes, tínhamos vivido meses de formação naquela terra, um paraíso mesmo para um militar que ali fora colocado, transitoriamente.
Ao assistir ao drama que ali desabou, no passado dia vinte, vêm-me à memória tantas recordações, tantas emoções e, nesta hora negra, o turbilhão de dúvidas e incertezas, angústias e medos mais me atormenta. De toda essa gente e de seus familiares, nada sei. Espero que estejam todos bem e que saibam ultrapassar estas dificuldades.
Daqui do Continente, recebam um abraço solidário, tão forte quanto aqueles que sempre trocámos, lá longe, onde a chuva, que tamanha dor lhes causou, era, por ironia do destino, naquela altura, um dos bens mais escassos.
Ali, na via férrea da Beira para Tete, imperava o calor: o real e o outro.
É este, o outro, que aqui evoco. Com muita emoção, com enorme esperança.
Que estes dias de tristeza sejam, em breve, a outra parte do futuro risonho que a todos desejo.
Aos meus particulares amigos madeirenses, que tudo de bom lhes aconteça!
Àqueles que não conheço, mas que sinto como irmãos de sempre, os mesmos desejos e votos aqui expresso também, como é meu dever solidário.
Coragem, irmãos! Força! Muita força!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Voar para a Madeira

Conheci a Madeira, enquanto ali prestei serviço militar em 1972. Foi terra que logo me encantou. Depois disso, por razões profissionais e outras, várias foram as vezes que me desloquei a esta Ilha. Do seu encanto, quase tudo está dito e nunca se conseguiu retratar, de corpo inteiro, tanta maravilha, tanta graça e tanta beleza e trabalho feito.
Mas o que muito nos dói, no dia de hoje, é a terrível tragédia de que está a sofrer. Muitos são os escombros e os destroços. Infinitamente pior - e sem qualquer remédio - é a onda de morte que acompanhou este temporal, ceifando dezenas de vidas e deixando muitas pessoas a caminho dos hospitais, segundo as últimas informações. As imagens que nos chegam mostram a dimensão de tão assustadora realidade e ainda se não descobriu tudo.
A Madeira está de profundo luto. A Madeira precisa da nossa generosidade. Voemos para ali, depressa, que aquela gente bem merece a nossa solidariedade.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

De um banquito para um cadeirão

Dizem que somos terra pequena, que não passamos de um qualquer torrão à beira-mar, mas daqui sai gente da alta, como se vê agora com a ida de Víctor Constâncio para a vice-presidência do Banco Central Europeu, o conhecido BCE.
Deixa assim de dirigir o nosso Banco de Portugal, mas não perde importância nem, talvez, proveitos. Se esses pormenores não nos importam, por cheirarem a buraco de fechadura, como alguém dizia há dias, o relevo vai todo inteirinho para esta escolha, que não pode passar despercebida a quem gosta de ser quem é: gente que se sente com aquilo que acontece a cada um dos seus compatriotas. E este caso de sucesso sabe bem reconhecê-lo, verdade seja dita.
Agora, daqui a meses, vai haver mudanças na grande casa do dinheiro português. O senhor que se segue é, para já, uma enorme incógnita. Eu não sou, de certeza absoluta.
Mas que vou estar atento, isso posso garantir. Fica, no entanto, uma sugestão: aproveite-se esta oportunidade para trabalhar com razão de estado aquilo que com o estado tanto mexe. Por qualquer prisma que o vejamos, mais social, menos liberal, mais regulador, menos controlador, o estado, o nosso, não pode ser deixado ao acaso nem ao capricho de ocasião. Pede-se uma outra postura: elevação, eis o termo que me ocorre, de momento.
A mesma palavra gostaria de a ver aplicada à adivinhada contenda que começa a estalar no PSD e já não é sem tempo.
Com três candidatos, pelo menos por agora, dirimam-se argumentos, mas preserve-se o essencial: eleve-se então o discurso, para se poder ver ao fundo do túnel uma qualquer alternativa, credível e apetecida.
É isso que se aguarda, tanto aqui na Vagueira, como lá em cima, na encosta da Serra do Ladário, terras de Oliveira de Frades, que ontem tiveram mais encanto com o manto de neve que as ornamentou.