sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Eureka, temos Orçamento!

Com a consciência clara de que o Orçamento para 2011 é um ataque sem tréguas ao bolso do português-médio, baixo, médio-alto e afins, sinto-me, no entanto, consolado com a sua aprovação, o que resulta do acordo obtido, há momentos, entre o Governo e o PSD.
Ao confiar naquele pedacinho de bom senso que ainda resiste na nossa carga genética, por mais perversa que a queiramos fazer, sempre tive esperança em que o entendimento viesse a ser conseguido. Assim aconteceu. Viva Portugal!
Estranho, porém, a comunicação do Presidente da República, à saída de uma importantíssima reunião do seu Conselho de Estado. Pelo teor das afirmações lidas, fiquei com a ideia que esta boa notícia ali não tinha chegado até àquele momento. Estranha é essa lentidão, tão perto estão uns dos outros!...
Eu, aqui na minha varanda da Serra do Ladário, em Oliveira de Frades, a ouvir a chuva cair, consegui saber essa boa novidade, quase em cima da hora. Pelos vistos, na capital, as comunicações são mais lentas, mas, nalguma coisa, nós, as gentes de cá de cima, tínhamos de ser vencedores...
Pelos vistos, demorou mais a tocar as cercas de Belém, mas não deixará de lá arribar, para gáudio do Presidente-meu-Candidato e das gentes que o acompanham.
Porque queremos um Portugal melhor, esta aprovação antecipada é um bom sinal. E de desgraças a mais estamos cheios até à raiz dos cabelos.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Cavaco com um voto, o meu

Há poucas horas soube da notícia que aguardava com alguma certeza, mas com um misto de ansiedade. Ouvi o Professor Marcelo anunciar que o dia 26, às 20 horas, no CCB, tinha sido escolhido para esta recandidatura, mas pus-me um pouco na retranca, não estivesse ali a nascer mais um de seus factos políticos, daqueles de antigamente e que tanta gente punham de orelhas afiadas...
Enganei-me redondamente no meu raciocínio. Afinal, O Professor Marcelo teve toda a razão antes do tempo. Como o descobriu? Eis mais um enigma e não sou eu que vou desvendá-lo. É até, a meu ver, matéria de pouca monta....
Para mim o essencial resume-se em curtas palavras: o Professor Cavaco Silva recandidatou-se e pode acreditar, desde já, que tem um voto certo - o meu.
Faço-o por ser quem é, por aquilo que tem feito, pelos seus silêncios, pelas suas afirmações, pelas suas deslocações, pela confiança que me inspira, pelo sossego que me traz, pelo passado de seriedade que transporta em si mesmo, por ser digno desse Alto cargo e por Portugal se sentir intrinsecamente sereno, com a firme convicção que ao seu leme há um Homem, o mais certo dos certos que surgiram já como candidatos.
Esta minha escolha não exclui ninguém. Mas inclui o melhor dos melhores e só isso justifica o meu voto.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Outubro 2010/Maio 1968, França

Sou daqueles que, aqui na minha varanda de Oliveira de Frades, acredita em duas ideias: uma, a que diz que a história se não repete; outra, a que assegura que esta área do conhecimento social tem a virtude de nos ensinar. França pode ser - e oxalá que tal não aconteça, por um lado, mas seria desejável que o fosse, por outro - o laboratório desta tese: em Maio de 1968 turbilhou, a todo o vapor, pelas ruas, questionou tudo, remexeu as ciências sociais, acalentou novas esperanças, fez da rua o "parlamento" activo e essa caldeirada, aparecida um tanto a contragosto e a conta gotas, deu volta ao mundo. Na Revolução Francesa, esse fora também o resultado mais visível.

Hoje, em 2010, em Outubro, a rua é, de novo, um palco de agitações e preocupações, aqui a dois metros de minha casa, mesmo que aconteça em França, que o A25 veio fazer diminuir todas as distâncias e a Internet, essa, nem se fala: tudo é tudo e tudo nos chega em cima de si mesmo.

Com o nosso Orçamento no centro de todas as preocupações, agora que até já há equipas negociadoras, com vista a evitar o colapso, sim, o colapso, tudo parece mais calmo e sereno. Mas nada está seguro e será bom que olhemos, ainda que com uma qualquer lupa, para França e analisemos, seriamente, o fenómeno que ali está a acontecer.

Se os números são o que são, o HOMEM é sempre o que é: compreensível quanto baste à sua sobrevivência, um furor se lhe tocam no órgão mais detonador de revoltas, sejam elas quais forem, e este chama-se, linearmente, estômago. Quando esta nossa "peça" está vazia - e muito para lá caminha - e a consciência se encontra turba, a rua, a temível rua, pode emergir.

E, se ela vier com o seu estilo ciclónico, há desastres nunca previsto, nem desejáveis, mas possíveis.

Aprendamos, então, com esta França de 2010, que pode muito bem ser a de 1968 e até aquela do século XVIII, que mudou o mundo e arrredores.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Mirtilo à mesa

Na busca de encontrar experiências novas, eis que, aqui a dois passos de minha casa, a tocar no meu concelho, Oliveira de Frades, damos de caras com um produto agrícola novo: o mirtilo, que é já imagem de marca do município de Sever do Vouga.

Combinando condições naturais com determinação, conhecimento, arrojo e capacidade de risco, a gente do campo entendeu dar esse salto, elegendo este novo fruto como um baluarte económico e uma agradável fonte de receita individual e até colectiva.

Se, nos anos sessenta do milénio anterior, Oliveira de Frades soube agarrar a avicultura, mais ou menos nascida em Tondela, e dela fazer a alavanca do seu desenvolvimento - hoje, aliás, mais apoiado na indústria -e criar condições para estabelecer uma espécie de cluster, em Sever do Vouga esse caminho passou pelo mirtilo.

Nestes cem anos de República, estas iniciativas também podem e devem ser enfatizadas e dadas a conhecer.

Neste final de tarde, depois de ter saboreado uma agradável dose de compota de mirtilo, logo pensei dedicar-lhe este espaço. Sendo uma distinção merecida, nada custa escrever estas linhas em sua honra.

Mas tudo isto foi dito sem esquecer aquilo que ajudou a fazer a minha Oliveira do futuro, que aí está cada vez mais forte e actual, curiosamente mercê, entre outros activos agentes, da força empreendedora da Martifer, filha dilecta de gente de Sever, a terra dos mirtilos, aqui assim retratada.

sábado, 16 de outubro de 2010

Lamento e aplaudo

Com o ar entristecido pela morte de um grande amigo e conselheiro de muito saber, o Professor Alfredo Margarido, com quem tive o privilégio e prazer de trabalhar na Universidade Lusófona, de Lisboa, onde foi meu dedicado, aplicado e saudoso docente de Mestrado, este é um facto que lamento profundamente.
Ouvi-lo horas a fio custava pouco, melhor, era um excelente exercício de aprendizagem activa e abrangente, vendo circular os conhecimentos de uma forma profunda e duradoura. Descobrir em cada um de seus gestos que sofria fisicamente dores incalculáveis, naquela sua cadeira de rodas, era acrescentar valor ao seu papel de professor que nunca mais se esquece.
Saber que morreu é ferida que dói muito. Mas fica-me sempre a consolação de com o Professor Alfredo Margarido ter passado ricos instantes de minha vida. Deixo aqui o meu eterno abraço.
Uma outra lamentação tem a ver com um outro facto palpável e nada apetecível: mesmo com o protesto estampado no rosto, lá passei eu nas novas portagens do A25, ali pelos lados de Aveiro e, por sinal, no primeiro dos dias de um inegável agravamento da nossa vida económica, quando até deveria ter sido entregue um Orçamento draconiano, que só não apareceu a tempo por mais uma grave falha do nosso governo. A custo lá subiu à Assembleia, mas antes não tivesse sido capaz de trepar aqueles degraus, que é desgraça, pela certa, que ali se contém. Chumbá-lo? Isso é que não, porque seria pior a emenda que o soneto.
Quando nem tudo vai mal, o meu destaque cinco estrelas, mais uma e muitas outras, vai para a recente inauguração do novo Centro de Ciência da Fundação Champalimaud, uma iniciativa de excelência e muito adivinhável mérito que se construiu em Belém.
É assim que se anda para a frente. Se o governo puxa para trás, que a sociedade civil, neste e noutros casos, mostre que é capaz de fazer frente ao abismo que, se não arrepiarmos caminho, algum dia nos espera.
Contrariar esse fatal destino é a nossa obrigação.
Esperar por um Estado falido não convém: façamos nós o que nos compete, que essa gente pouco nos dá em atenção e carinho. Muito menos em nível de vida que tenderá para a lástima!...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A minha república é grande

Alguns dias depois do início das comemorações do Centenário da nossa primeira república, quero dizer que o meu entendimento sobre esta matéria, já adiantado no post anterior, passa pela concretização objectiva de actos humanitários e sociais que tenham uma verdadeira dimensão humanista.
Naquele dia, sensibilizou-me imenso que uma Banda de uma pequena mas viçosa localidade do concelho de Oliveira de Frades, a UMJA, tenha sido protagonista de um grande momento simbólico: a apresentação do Hino Nacional, às 10.30 horas, na Praça Luís Bandeira, onde se localizou a primeira Cãmara deste município a partir de 1837 e hoje ali se vê um excelente Museu, que assim se associou às cerimónias nacionais. Com uma plateia muito escassa, deliciou-nos com a magia desse instante, percorrendo, ainda, as principais artérias da vila a assinalar o brilho desse dia 5 de Outubro.
Soube-me bem saber, muito embora à "posteriori", que o feriado municipal deste meu concelho tenha englobado a homenagem a figuras e entidades em destaque, no passado dia 7.
Mas, nesta assumida visão global, a minha grande república estou, curiosamente, a vivê-la olhando para o Chile: o resgate dos mineiros que, há 69 dias estavam soterrados a cerca de 700 metros de profundidade, é, para mim e para toda a humanidade, um hino à república universal e solidária, verdadeiramente dedicada àquilo que é mais sagrado - a salvação de vidas humanas.
Ao ver que os mineiros conseguiram ser salvos, senti que vale a pena viver numa sociedade que me ensinou a valorizar esta face do mundo verdadeiramente universal.
Deito até para trás das costas tudo quanto de mesquinho se tem vivido neste meu país em festa republicana: falar-se tanto de querelas de algibeira é exercício menor - e desprezível - em face da grandeza do gesto que se vive nas minas e deserto do Chile.
Um abraço para toda aquela gente: mineiros salvos, obviamente, técnicos, políticos, operários em geral desta operação que honra todo o HOMEM que se preze.
É, por isso, grande a república em que vivo. Porque me não fecha em nenhuma espécie de fronteiras, que a liberdade é o que mais prezo e a vida, como aquela que foi devolvida aos mineiros do Chile, não tem preço - vale tudo, tudo mesmo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A minha República

Cidadão nascido a meio do século XX, na alma trago a República como suporte do regime em que vi a luz do mundo. Afastado quarenta anos da Monarquia, tenho dificuldade em abraçar este sistema como meu farol. Mas, sempre que os livros me foram ensinando e a escola me abriu os olhos - que eu sou daqueles que muito devo aos meus professores! - para a vida na sua plenitude, habituei-me a não queimar nada sem saber as razões de fundo... Dizer mal da Monarquia seria o corolário lógico do meu percurso de vida.

Não o faço, porém. O mal de um país ou de outro não se mede por esses padrões: há repúblicas com ditaduras de terror, monarquias com as mesmas linhas, contrastando com repúblicas de brilho resplandescente em matéria de respeito por tudo quanto seja direito e dever humano e monarquias que nada ficam atrás destas opções.

Não é por aí que se deve ir.

Há um elemento que aponto como marco essencial: o facto de, numa República, o sufrágio universal poder fazer de cada ser humano o supremo responsável pela sua nação, enquanto que, na monarquia, este lugar não sai das mãos de uma família instalada no topo da pirâmide, o que leva a que essa prerrogativa já esteja, de início, corrompida por um qualquer direito que, confesso, me não parece lógico, nem sustentado em qualquer base vista à escala da sociedade em que me encontro.
Quanto ao mais, democracia plena vejo-a em tanta monarquia e república do meu tempo que, só por aquele motivo, me coloco ao lado da minha República de 5 de Outubro de 191o. Felicito-me por poder saber que Lula da Silva, Barack Obama (etc.) subiram aos mais altos postos do Brasil e dos EUA, suportados por regimes republicanos, mas também Juan Carlos, de Espanha, não deixa de estar nos meus "favoritos", ele que é chefe de uma monarquia, por sinal restaurada já no último quartel do passado século vinte.
O marco diferenciador está num outro lado: o pensar e o agir dos homens de cada tempo mais do que o envelope que contém a folha do texto que subscrevem.
Neste momento, no meu país, quero felicitar o Centésimo Aniversário da MINHA República, que amanhã se comemora, ao iniciar o respectivo programa. Ponto final.
Mas tenho de confessar que todo este ar de festa se encontra envenenado pela guilhotina e pela arca frigorífica em que vive a sociedade portuguesa: com tantos cortes e congelamentos, nem a Sibéria poderia ser pior.
Esqueçamos isso, porém.
Daqui a pouco tempo, passam cem anos sobre o arranque da República. Bem haja, por isso!