sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Vou partir de 2010

Há partidas que não antecipam nada de bom. Não quero crer, mas pressinto que aí vem borrasca, que o sol ficará mais escuro e mais frio, que as dificuldades caem, uma vez mais, sobre quem mais sofre, que o mundo avança, mas a bola não pula, não salta, não alegra, quase me parece o meu Benfica em maré baixa, esta de agora.
No entanto, sei que tenho de agarrar nas malas e ir por aí fora, da cabeça baixa, a percorrer as ruas enlameadas de um novo ano de 2011, desejado, por um lado, temido, por muitos mais motivos.
No calendário das mudanças, esta tem registo garantido e muito fogo de artifício. No momento em que escrevo estas linhas, há irmãos nossos que já deram o salto, já deixaram para trás 2010. Aqui, na encosta sul da Serra do Ladário, de Oliveira de Frades, ainda se vive o ano velho. Bem nos poderiam dizer, aqueles amigos, se é melhor ou pior o ano que daqui a horas nos bate à porta. Mas estão em festa, que assim continuem! Não os vou incomodar com questões de um foro tão egoísta, como este que estou a viver: saber se vou partir para o sonho ou para o pesadelo...
Ao olhar para o Orçamento de 2011, é de arrepiar o que aí vem.
Ao ver a apatia europeia, quanto a segurar este importante projecto, sinto insónias.
Ao ver que a folha do calendário, que tenho à minha frente, vai ser rasgada, já tenho pena de a ver desaparecer.
Ao ver que tenho de desejar Bom Ano Novo, tenho uma vaga ideia que estou a mentir.
Antes não estivesse.
Até amanhã, em 2011!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Dos PIN aos PIPP, passando pela UMJA

Está na moda falar-se em PIN - Projectos de Interesse Nacional - sempre que se quer viabilizar um grande investimento. Concordo. Mas defendo muito mais a ideia dos PIPP - Projectos de Interesse Para as Pessoas. Num caso e noutro, os enfoques são diferentes: no primeiro, é a economia que prevalece; no segundo, esta valência económica é colocada no centro daquilo que é a essência de todas as comunidades - o Homem.
Ao viver-se mais com preocupações de ordem financeira, esquece-se o cerne da questão, põe-se de lado o objectivo nobre da política, que é o de tudo condicionar ao bem-estar e sucesso de toda e de cada uma das pessoas que habitam o universo e que são nossos irmãos, em qualquer filosofia de vida, ou, pelo menos, assim deveria ser.
Sem esta vertente humanista, a economia e a política - esta no topo - não deixam de ser instrumentos curtos de um progresso que pode ser crescimento, mas não é desenvolvimento, de certeza.
A provar que o Homem tem a suprema primazia, eis a minha UMJA, Banda Juvenil do concelho de Oliveira de Frades, a oferecer-nos, em pleno dia de Natal, um soberbo espectáculo, que contou com uma peça teatral infantil, a cargo dos alunos da sua Escola de Música do 1º ano, logo seguida de um trecho musical pelos elementos femininos mais novos e de um grito de criatividade, a todos os níveis, desde a música à representação em palco.
Como não poderia deixar de ser, uma sala cheia que nem um ovo teve o prazer de assistir e aplaudir um Concerto de Natal de cinco estrelas, ou, melhor, de um céu bem luminoso, num Natal assim muito mais Natal, se isso é possivel.
Aqui, a pessoa apareceu em primeiríssimo lugar, fruto do trabalho e dedicação de umas dezenas de jovens que sabem de música a potes e a oferecem a quem dela tanto gosta.
Bom Ano Novo para quem tanto dá de si em prol da cultura e da música, "formando" ainda a nossa juventude, o maior dos bens para o futuro de todos nós.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Boas Festas e Feliz Ano Novo 2010/2011

Este é o dia de pouca conversa e de muita solidariedade natalícia. As Ceias estão a chegar às mesas, as famílias, hoje, entendem-se melhor. Amanhã não se sabe. O bacalhau, as couves e as batatas já caminham para as panelas. Paira no ar um sentimento de amor. Amanhã não se sabe. O frio diz-me que vivemos em Dezembro e que, amanhã, é Natal. Com este ambiente, tudo indica que estes são mesmo bons dias. Amanhã não se sabe.
Fiquemo-nos por aqui. Antes, porém, enviemos um abraço especial a quem não tem nada disto, assim quente e fofo.
Para todos, Boas Festas e Feliz Ano Novo. Hoje e sempre.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Adeus, " Acontece "

Nestes dois últimos dias, vi partir duas pessoas que me eram queridas: o Professor Paulo Amaral de Figueiredo, em Vouzela, um Amigo de tantas andanças, que, na hora da partida rumo ao Cemitério, fez parar aquela vila, que assistiu, numa medida de grande significado, a um Município encerrado, para melhor homenagear quem assim se despedia, o que mostra bem quanto era estimado na sua terra; sem o conhecer pessoalmente, a notícia da morte de Carlos Pinto Coelho deixou-me meio boquiaberto, por entender que tanta vida, tanto suporte cultural eram o maior dos seguros que, aqui, neste planeta de passagem efémera, sabemo-lo, nos podem ajudar a vencer cada dia que passa.
O Paulo e o Carlos estão lá do mesmo lado. Posso afirmá-lo com convicção. Um entregou-se à sua paixão, Vouzela, outro, espalhou cultura por tudo quanto era sítio de lusofonia.
Com estas duas tristezas, até me esqueço que, em Bruxelas, está reunido o Conselho Europeu, que tem nas mãos duros ossos para roer. Mas, por mais que estiquemos a corda, é de números que ali se vai falar.
E o Paulo e o Carlos tinham outra magia: um dava-nos exemplos quanto à defesa de uma região, outro punha-nos, com brilho intenso, a cultura em casa. Aquele " Acontece " era um primor de momento televisivo, que nunca mais se esquece. Nem é bom que assim pensemos.
Neste duplo adeus, sabemos que um e outro ficarão para sempre connosco.
Um abraço de saudade e admiração.
Paz a suas almas grandes, imensas...

sábado, 11 de dezembro de 2010

Três em um

1 - É com um amargo de boca que vejo sair de cena o " Contra Informação ". Antes de os " Gato Fedorento " o meu padrão de humor estava com essa pequena maravilha do bom gosto em crítica elevada, com piada, com cenário, com criatividade. Vieram esses putos-maravilha e rendi-me: fizeram apear do meu pedestal o anterior programa, mas continuou em segundo lugar.
Agora, ao ver partir essa gente de plástico, mas com cara de gente, sinto-me triste e com vontade de gritar: apareçam por uma qualquer outra porta!
2 - Ao falar de espectáculo, cultura e boa disposição, à escala local, tenho de saudar a ACROF, de Oliveira de Frades, que hoje comemorou trinta anos, bem recheados de muitos momentos de inesquecível onda de simpática oferta cultural, de grande valor, por trabalhar, sobretudo, com camadas jovens. Uma maravilha que merece ser apoiada e continuar a sua tarefa é uma "obrigação" que lhe cai que nem uma luva.
Foi bom estar na sua festa. Na Casa da Aldeia, em Souto de Lafões, evocaram-se o passado e os fundadores. Boa ideia! Mas, sobretudo, escreveram-se palavras de futuro. É esse que, apesar dos anos, ainda espero apreciar por mais algum tempo. Boa sorte!
3 - Cento e dois anos é obra, é muita obra. É Manuel Oliveira no seu esplendor. Parabéns!
Quem assim e aqui fala há anos, muitos, aliás, até achava uma "seca" os filmes deste grande Rei. Hoje, depois de o conhecer bem melhor, tenho de confessar: perdoe-me, Manuel de Oliveira, a minha ignorância de então. Perante tudo aquilo que tem dado ao mundo, viva, viva, viva!...
Três em um foi assim um curto espaço de cultura.
Gostei de escrever estas linhas, disso não tenho a menor dúvida.
NOTA - Quero ainda saudar o aparecimento da nova Revista " Terras de Lafões ", que nasceu da ideia e do trabalho de Júlio Cruz. É sua directora Ester Vargas. Vale a pena lê-la, ainda que eu seja, por motivos óbvios, fortemente suspeito. Procurem-na, que esta publicação já anda por aí...

domingo, 5 de dezembro de 2010

Relembrar quem assim falou

Com a morte do Professor Ernâni Lopes, já o disse, todos ficámos muito mais pobres, porque, se a crise nos depena de todo, a falta de quem fale com rigor e saber é a maior das perdas. Era assim que eu via este cidadão empenhado. Para recordar o seu inestimável contributo dado à causa das ideias e propostas, recordo umas notas que tirei de um de seus debates, não muito distante, em que interveio com os seus colegas João Duque e Medina Carreira. Falou claro, disse e mostrou em gráfico o que lhe ia na alma ( está bem dito, na alma ) e eu registei em papel rabiscado, aqui expondo, a esmo, o resultado dessa profícua recolha:
- Via útil para o futuro: onde está facilitismo, pôr exigência; vulgaridade - excelência; moleza - dureza; golpada - seriedade; videirismo - honra; ignorância - conhecimento; mandriice - trabalho; aldrabice - honestidade.
Em resumo e desta forma simples, aqui assim retratada sem busca de mais pormenores, estas foram palavras e máximas que me ficaram na memória e que partilho publicamente nesta mensagem número duzentos, que hoje vai para o ar.
Não sei se teremos coragem política para assim agir. Não sei, na medida em que nem todos temos o dom de acreditar na força do que deve ser pensado e dito. Não sei e tenho pena de o não saber, porque cada minuto que passa, em termos de tomada de decisões correctas e palpáveis, é um século de conquistas que se evapora.
Num país assim, em que tudo se atira cá para fora e seja o que Deus quiser, temos de encontrar, obrigatoriamente, a bissectriz que nos conduza ao melhor dos caminhos, a sua " via útil para o futuro ", que o passado tem muito a ensinar-nos e o presente, convenhamos, não abona muito em nosso favor. Mas desta nossa grande doença não teve culpa o Professor Ernâni Lopes, que tudo fez para vivermos de uma outra forma bem mais apetecível... Só que nós, também eu, todos temos culpa no cartório das asneiras e maluquices que quase nos vêm afundando até ao pescoço.
Em sua memória, sigamos os seus conselhos.
Viveremos um outro futuro, disso terei a certeza.
Mas só se bebermos na fonte fresca e cristalina que nos legou.
Neste postal nº 200, é assim que me vou calar. Para sentir o eco das mensagens que até nós fez chegar.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

ASSOL certificada

A ASSOL - Associação de Solidariedade Social de Lafões - mostrou hoje, publicamente, em sessão organizada para esse efeito, no Cine-Teatro, em S. Pedro do Sul, o resultado de um árduo e bem conseguido trabalho de mais de vinte anos, que veio agora a ser coroado com uma Certificação de nível europeu, normas EQUASS, um galardão com muito de inédito, mas, sobretudo, de reconhecido mérito. Parabéns a todos quantos, e muitos foram, colaboraram neste sucesso.
Esta foi uma forma brilhante de assinalar o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, que, assim, teve um significado redobrado.
O galardão citado foi recebido em Bruxelas, no passado dia 17 de Novembro, depois de um longo ano de preparativos e da exigência de uma Auditoria, que confirmou tudo aquilo de que necessitava para poder dar o seu aval positivo em mais de cem itens, todos eles avaliados com nota destacada, ao que apurámos.
De notar que esta Instituição opera nos concelhos de Castro Daire, Tondela, Vouzela, S. Pedro do Sul e Oliveira de Frades (Sede ), espalhando a sua actividade por uma série de serviços e valências, que assim mostraram estar à altura dos desafios que tem pela frente, agora ainda mais responsabilizados, como ali foi salientado.
Com mais esta distinção, são todas as pessoas apoiadas que estão de parabéns, assim como a comunidade no seu todo. Obrigado, ASSOL, por todo o contributo que vem dando desde há mais de duas décadas, repita-se.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Novos autores e autores novos

Esta minha região de Lafões bem pode dar-se por muito satisfeita com o balanço cultural do passado mês de Novembro. De um momento para o outro, Pedro Miguel Rocha, com profundas raízes no concelho de Vouzela e Dulce Martinho, de Oliveira de Frades, deram corda à criatividade, fazendo nascer três obras, três, repita-se: Pedro Rocha, com uma parceria em " Já não se fazem homens como antigamente ", com um conto, em quatro, intitulado " A lâmina do amor ", da Editora Esfera do Caos, e a solo, " Chegamos a Fisterra ", das Edições Ecopy - Prosadores Contemporâneos; Dulce Martinho, com " Sobre a França e a Europa - Utopia e desencanto em Eduardo Lourenço ", assim dando seguimento a uma dissertação de Mestrado.

Com apresentações no Porto, Braga, Lisboa e Oliveira de Frades, o panorama da cultura e literatura portuguesas está, agora, muito mais enriquecido com o contributo destes dois jovens professores e escritores, meus queridos conterrâneos.
No que se refere ao Pedro, trata-se do seu terceiro trabalho. Por acreditarmos que podem fazer muito mais, é isso que lhes pedimos, aos dois, porque todos ficamos a ganhar com o seu labor, entusiasmo, capacidade e genica. Força, malta!

Mas nem só de alegrias vivemos nós. A morte do Professor Ernâni Lopes, que muito deu a Portugal, enquanto Ministro, economista, pensador e homem de acção em prol das ideias que defendia e em que acreditava piamente, traz-nos, por outro lado, uma imensa tristeza.

Recordo quanto nos tivemos de esforçar, nos inícios da década de oitenta, para retomarmos o caminho da credibilidade finaceira e a retoma da economia, quando, por sua mão, aqui entrou o FMI. Mas, então, tudo isso valeu a pena, porque sempre falou verdade, por mais que ela nos tenha doído.
Reconheço o êxito da nossa então entrada na CEE, que teve, em si, um grande obreiro.
Enfim, curvo-me perante o Homem e a obra, o Professor Ernâni Lopes.