terça-feira, 29 de março de 2011

Souto Moura, um ar quente num país frio

Eu, pecador me confesso, não conhecia a obra do Arquitecto Souto Moura. Do nome e da fama que vinha adquirindo, tinha ouvido falar. De seu irmão, também, mas quando ocupou a Procuradoria. Mas dele, deste Prémio "Nobel", pouco, muito pouco do seu trabalho me chegara às mãos, aos olhos e à mente, salvo o Estádio Axa - nome que me irrita - de Braga e, talvez, uma ou outra obra. Tocado por este galardão, senti-me na "obrigação" e gosto de abrir as páginas de seu enorme livro artístico. O que vi, o que me entrou, de imediato, pelos olhos dentro, foi bonito de ver. E estimulante. Numa palavra agora muito em voga: fiquei fã, fã a sério. Como filho de peixe sabe nadar, aqui este ditado, um tanto alterado, vem a propósito, passando a ler-se "filho de mestre(Siza Vieira), nada que se farta", a ponto de, agora, lhe suceder neste troféu e prestígio. Num pais, o nosso, amargurado e curvado sob o peso de um asfixiante clima económico, político e social, cada vez mais grave, sabe bem receber estes tónicos. É assim como que uma óptima lufada de ar quente num campo gelado. Souto Moura trouxe-nos esta alegria e, com ela, em envelope à parte, vem uma mensagem: afinal, não somos tão maus como nos querem pintar. Obrigado, grande artista da arquitectura, que, pela sua modernidade, irá marcar uma época, que o românico, o gótico, o manuelino, o neoclássico são de um outro tempo: este é o de uma nova forma de afirmação, de um novo ser e um novo estar. Registar tudo isto em construção e urbanismo é obra, é mesmo grande obra! Parabéns!

terça-feira, 22 de março de 2011

Isto não anda bem

Aqui, na encosta da Serra do Ladário, entre Aveiro e Viseu, num ponto em que o meu concelho, Oliveira de Frades, quase mostra a sua vertente de transição, começou a chover e a trovejar. O ar primaveril está, assim, a fugir-nos um pouco, esperando-se que por um curto período.
Obviamente que não é isto que me preocupa. Tenho receio, muito receio, do que pode estar para vir a outros níveis: o meu país não pára de sofrer. Perde hoje, não ganha amanhã e tudo cheira a enorme dúvida e confusão.
Se entendo que é tempo de virar a página, tais as peripécias que temos vivido, não deixo de estar apreensivo, muito mesmo.
Sei que, amanhã, se joga muito do nosso futuro próximo na Assembleia da República. Sei que as posições estão nos antípodas de um e de outro lado da barricada e pouco ou nada há a fazer para inverter esse ambiente de incrível crispação.
Sei que os mercados estão sobre nós como gato a bofes. Sei que a UE quer que caiamos na verdade dura do recuo na dívida, mas duvido desta receita que agora nos apresentam e discuto a forma como aqui se chegou.
Sei que é arriscado dar um passo noutra direcção. Sei, no entanto, que prolongar esta agonia também não é remédio que baste. Sei que quero ir para outro lado, mas não sei se esse será o melhor caminho.
Em suma, sei tudo e não sei nada. Seja o que Deus quiser, que os homens falharam de todo!...

sábado, 12 de março de 2011

Sem palavras

Desde Fevereiro, esse mês curto, à medida do nosso ordenado e, mesmo assim, com muitos dias a mais, que nos não abeiramos desta banca. Temos o dever de pedir desculpa por tal omissão. Isso aqui fica. Mas, agora que regressamos, vamos ao trabalho:
1 - Temos Presidente novo-velho, reeleito e agora empossado. Veio à Assembleia, em dia solene de baptismo renovado, e barafustou. Não foi cordial? Não. Foi duro? De que maneira... Falou demais? Talvez para o "dia", que não para as necessidades de alguém que seja capaz de dar dois murros na mesa de tanta ilusão, morta em função daquilo que se conhece... Foi o fim de um ciclo? Cremos que sim. Acabou-se o verniz? De todo... Até porque, de partida para Bruxelas, o PM se encarregou de, a machado, aparecer de catana e carro-canhão, ao esconder aquilo que deveria ter confessado, em sinal de constitucionalidade não quebrada... Vêm aí tempestades? Já não há sol que nos anime....
2 - Geração à Rasca, não; um mundo de gente descontente, sim: só assim se compreende o protesto que saiu para as ruas do país, oriundo de um modo desorganizado e inorgânico, neste dia 12 de Março. As multidões que, há pouco vimos na TV, dizem tudo. Ouvi-las é um imperativo de consciência e de governação consciente. Baixar os olhos será sempre o pior dos caminhos.
Não estivemos lá, porque os combustíveis estão caros. Mas, em atitude mental, não perdemos pitada deste movimento que nos põe todos a pensar. Ou, pelo menos, assim deve acontecer.
3 - A comunicação de que os camionistas vão parar é outro sinal incomodativo.
4 - A existência de uma Europa em soluços pressupõe grande constipação, quase pneumonia a caminho de um sufoco total, se não quiser segurar o projecto de sonho que, um dia (e que rica ideia ela foi!) nasceu. Se não agir num todo económico, cai em vão tudo aquilo que for dito. Pegar em pontas não diz nada: precisa-se é de mais acção conjunta, a 27 e não desta forma casuística e calculista...
4 - Mas o que mais nos tira o sono é o que se passa no Japão, onde a natureza ditou as suas poderosas e, neste caso, destruidoras leis. Para todas as vítimas, o nosso pesar. Para aquela gente, que foi dada a conhecer à Europa, pela primeira vez, por portugueses, que a vida continue!
5 - Cheios de incertezas, ainda acreditamos que é possivel esperar dias melhores. Mas, por cada dia de atraso em escolher o melhor caminho, é todo um futuro que se hipoteca.
6 - Dito isto, dêem-se os passos que muitos aguardam, incluindo nós próprios e as "gerações à rasquinha" e tantas elas são!...