sábado, 30 de abril de 2011

Páscoa na aldeia

Amanhã, estilo Natal é quando o homem quiser, é Páscoa nesta minha aldeia do concelho de Oliveira de Frades. Não sei se vem o Padre a nossa casas, se apenas um grupo de leigos. Como penso na virtude das tradições, este meu berço estará, obviamente, aberto. Não discuto quem vem, porque também sei que, hoje, os tempos são outros. Sei uma verdade: a Cruz não falta.
É um gesto cultural este, que importa fazer reviver ano após ano, porque de globalização e uniformização já temos que chegue, à fartazana.
É um dia de festa e de aconchego familiar, menos comercial que o Natal, menos espalhafatoso, sob esse ponto de vista, mas também cheio de encantos e poder identitário. Agarrá-lo com ambas as mãos é nosso dever. Que cumpro com gosto e entusiasmo.
Se pudesse, acreditem, nada me custaria fazer com que estas visitas corressem muitas outras casas, sobretudo em Lisboa - e por esta altura - de modo a iluminar as mentes e a pedir que o coração venha a funcionar melhor, tal como a sabedoria de quem deve decidir em favor de um povo, cada vez mais amargurado, triste, aborrecido, descontente, descrente, desconfiado e medroso.
Que a Cruz lhes dê também aquilo que dela espero: um pouco mais de ânimo.

terça-feira, 26 de abril de 2011

26 de Abril

Ontem foi dia de festa, algo entristecida, porque por aqui anda gente a mais, em maré de mão estendida. A Assembleia da República esteve encerrada, que isto de estar à espera de novos inquilinos não dá muito ânimo para estas coisas. Abriu-se, por outro lado, o Palácio de Belém, local onde se procedeu, oficialmente, às respectivas cerimónias. Teve ainda um outro e grande significado: a presença de todos os ex-Presidentes e os seus discursos, de paz e concórdia e de alguma esperança, vieram mesmo a calhar.
Se os tempos presentes são difíceis e os próximos talvez bem piores, cada sinal destes é sempre bem-vindo. Gostei.
Se estou mais feliz por ver estas figuras de braço dado com o actual Presidente, estou mesmo.
Se espero resultados práticos deste exercício de cidadania activa, nem por isso.
Mas confio, até porque sou pessoa de fé. Por isso, ao dizer que ainda resta alguma dose de optimismo moderado, é porque entendo que ALGUÉM nos irá dar a mão, que os homens da nossa terra só têm feito asneira da grossa e os resultados desastrosos estão à vista, subindo ontem e antes de ontem o "déficit", esse palco de malabarismos contabilísticos. E tudo isto ainda vem dar mais cabo de todos nós.
É pena que assim seja, mas esta é a verdade que dói em todo o lado e também aqui, em Oliveira de Frades, região de Lafões.
Acabamos com uma curiosidade: quem tinha 37 anos em 1974, este é o ano de fazer 74. Coincidência!
Hoje, 26 de Abril, há sol.
Mas temos medo que dure pouco, porque a "troika" é muito capaz - até este astro-rei - de o assambarcar.
Se pudesse... nem o sol continuaria bem nosso. Talvez, com a paisagem, a única riqueza que nos resta.

sábado, 23 de abril de 2011

Pela água vou eu...

Vagueira, sexta-feira santa. Olhos e ouvidos no mar, mente no ar...

Pela água vou eu,
levo no bolso
um horizonte
e não vou parar.

Andar perdido
no mundo
é sina, é dor
a não carregar.

Ter o céu
como limite,
ir até ele
sem vacilar.

É um desafio,
um imperativo,
um sonho,
um passo a dar.

Pela água vou eu,
sozinho,
mundo além,
quase a cantar

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Perdi em Portugal, ganhei em Espanha

Ando eu para aqui a defender o meu Benfica, que trazia dois golos no bornal, quando saiu do Porto, e vejo-me na condição de dizer que perdi por incapacidade de jogar melhor que o adversário. Custou-me a roer este resultado, mas o FCP - assumo-o - mereceu passar à final.
Que se tirem as lições que se entenderem, mas o SLB não proporcionou a receita ideal. E, quando assim é, parabéns a quem foi melhor.
Na vizinha Espanha, eu, que sou fã do futebol do Guardiola, daquele Barça fenomenal, tenho de confessar que gostei imenso de ver Mourinho a triunfar.
É a minha costela de português a vir ao de cima e a ficar contente no momento em que Mourinho treina e Ronaldo marca, numa espécie de dois em um para o nosso ego também se sentir bem.
Para andar deprimido, chega-me, aqui no meu cantinho de Oliveira de Frades, o noticiário nacional que vem de Lisboa: "perde" o Benfica, afunda-se o país, sem dinheiro e sem poder.
Uma lástima, estas duas desgraças.
Salvou-me o Mourinho para dormir mais descansado.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Tempos difíceis

Acordar hoje com uns pingos de chuva é uma forma de se cumprir um velho ditado popular, que diz que, em Abril, águas mil. Seja.
Só que este inverno deslocado, aqui, neste meu concelho de Oliveira de Frades, vem acompanhado de fortes incertezas quanto ao nosso futuro. Se esta é uma terra onde o trabalho de casa é feito continuamente com gosto e com sucesso - o que parecia um seguro de vida contra todas as crises -, agora sente-se que, apesar das dinâmicas de empreeendedorismo, não se está imune a esse terrível vírus, que, em Lisboa, tem o laboratório principal.
As gentes da troika, uma combinação pesada de técnicos e políticos de tesoura em punho e de coração vazio, podem trazer-nos carradas de desânimo, de turbulência e outras coisas negras demais, se não houver o cuidado e o bom senso de dotar o programa de austeridade de medidas de incentivo à criação de emprego e riqueza.
Sabemos que esta é uma equação difícil de acertar. Mas tudo tem de ser feito nesse sentido.
Cortar nas despesas certas e sabidas, levar a contabilidade negativa só para o sector do trabalho e das pensões, ou para a diminuição do consumo pela via do aumento dos impostos é caminho fácil de descrever. O importante é caldear isso com incentivos que contrariem os efeitos desse pacote forçado e desastroso.
Em Oliveira de Frades, quando o pais correu para todo este desvario, criaram-se postos de trabalho, inovou-se, dotou-se Portugal e o mundo de energias renováveis, fez-se crescer o mercado das exportações com produtos de topo e empresas de vistas largas, pelo que não é justo que, neste momento, se questione tudo quanto foi feito.
Solidários somos nós. Muito mais que a UE que nos acolhe, se aproveita de nós, vendendo-nos tudo o que quer, inventando esquemas de crédito para se adquirir até a lua e, agora, mostra-se mesmo mais dura e inflexível que o próprio papão do FMI. Esta não é a minha UE, sendo que sou um europeísta convicto. Esperava mais humanismo e muito mais justiça equitativa do que aquilo que nos estão a dar.
Cometemos erros de grandezas desmedidas, disso não duvidamos. Mas, com isso, ajudámos a crescer economias como a da Alemanha e outras.
Nestes tempos difíceis, esperamos vozes amigas.
Dispensamos quem venha para nos enterrar ainda mais.