quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Adeus com lenços brancos

Logo, à meia-noite, não pego em passas, mas em lenços brancos de despedida de um ano que não gosto de ver repetido. Com o copo de champanhe, vou tentar afogar aquilo que correu mal e esquecer dores e arrelias próprias de um país desencontrado consigo mesmo e zangado com os seus cidadãos. O país, não, os seus responsáveis, claro. Fico, no entanto, com uma esperança: que isto corra melhor, mas temo que tal não venha a acontecer. Quero, em suma, que seja dada a volta a isto, mas desconfio que ainda não será em 2015 que teremos melhores dias. Entretanto, com a pedalada que Lafões está a ter, em Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul, desejo que, em conjunto, sejamos capazes de dar futuro aos nossos jovens e não os deixar ir embora. Já perdemos gente demais, desde 1960 para cá. Temos hoje muitos milhares de pessoas a menos, muitos milhares mesmo. Voltem, amigos!... Um abraço. Bom ano novo...

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Um dos maiores golpes de 2014

Comarcas, perder o que tanto custou a ganhar Nesta última decisão governamental, que levou ao encerramento de 20 Tribunais e à classificação de 27 como “secções de proximidade”, a incluir Oliveira de Frades e Vouzela, na nossa região de Lafões, foi-se longe demais em matéria de desrespeito pelas comunidades locais e pela sua necessidade de não perderem nada daquilo que faz subsistir, como elementos resistentes de um espaço territorial português em vias de perigoso despovoamento e desertificação, estas terras. Sem meias palavras, com esta medida, que se segue a outras com o mesmo sentido de delapidação das nossas riquezas, como o encerramento de valências na área da saúde, a que se podem juntar, eventualmente, as Finanças e não sabemos que mais, estamos perante um grito de alerta que não pode deixar caladas as populações afectadas por estas grossas asneiras. Infelizmente, este é uma luta com tiques de continuidade, num ir e vir que incomoda e faz pensar na ideia de que somos demasiado descartáveis ao sabor dos ventos e das circunstâncias. Num sistema judicial português, que tem sofrido esquemas e oscilações várias ao longo dos tempos, vamos tentar enquadrar, na história, esta mesma questão, de uma forma grosseira e bastante incompleta, que nos virá a ocupar, uma vez mais, noutras edições. Em primeiro lugar, em termos de divisão administrativa, o nosso espaço tem andado com a casa às costas como o caracol. Já fomos um só concelho, Lafões, com duas cabeças e algumas excepções pelo meio, passamos depois por uma só sede, perdendo parte dele, aparecemos com três municípios na actualidade, desde, sensivelmente, o último quartel do século XIX. No entanto, a justiça, no concelho de Lafões e nos Coutos, sempre teve, em geral, um juiz de fora, um juiz dos órfãos, tabeliães e ouvidirias, em cada uma dessas unidades geográficas. Pegando agora nos anos 30 e tempos posteriores do século XIX, relativos aos actuais municípios de Oliveira de Frades e Vouzela, agora defraudados neste capítulo de extrema importância para as nossas comunidades, podemos dizer que, pelo Decreto-Lei de 16 de Maio de 1832, passou a haver distritos judiciais, comarcas, julgados, juízos de paz e juízes eleitos, sendo que, em virtude do Dec-Lei de 21 de Março de 1835, se instituiu o Julgado de Lafões, a englobar os concelhos de Alva, Banho, Vila Maior, Lafões ( SPS/VZL, a então bicefalia reinante), Oliveira de Frades, Sul e Santa Cruz da Trapa. Logo a seguir, por força do DL de 29 de Novembro de 1836, a Comarca de Vouzela passava a ter os concelhos de S. João do Monte, Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul, Tondela e Vouzela, como era lógico. Porém, no ano de 1840 – DL de 28 de Dezembro, já só tinha Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul, Sul e Vouzela, tendo sido criada a Comarca de S. Pedro do Sul em 20 de Setembro de 1890, com a sua área geográfica e a de Sul, concelho extinto em 1855, de acordo com fontes do Arquivo Distrital de Viseu, em “ Câmara Municipal de Lafões”. No que diz respeito a Oliveira de Frades, de um modo particular, a luta maior deu-se, sobretudo, em finais do século XIX e princípios de XX, quando o seu julgado municipal foi criado em 10 de Março de 1887 pelo Ministro Conselheiro Veiga Beirão ( Ver “ Monografia”, 1991, CMOF), para ser extinto em 7 de Setembro de 1895. Antes, porém, tal como referimos, havia os juízes de paz, citando-se os deste concelho, de Cambra e de Arcozelo das Maias, em 1858, entre muito outros. Quanto à Comarca, a situação foi mais complicada: criada em 31 de Maio de 1900 pelo Ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, Conselheiro José Maria Alpoim, viria a cair pouco tempo depois, a 19 de Julho. Caberia a este mesmo estadista, em 9 de Novembro de 1904, a sua restauração, que se manteve até 2014 (?), até ver… Símbolo da liberdade, a justiça e os pelourinhos sempre foram pontos altos dos nossos concelhos. Hoje, dos segundos, rezam as memórias e da primeira, pouco mais do que isso, numa clara ofensa às nossas gentes. Quanto a Vouzela, a perda da sua Comarca, em 1927, quando tombaram 37 destas unidades, e a sua reconquista em 1973, foram aspectos de uma dura e continuada refrega, que motivou uma acesa defesa dos seus direitos, perdidos de uma forma tão inglória. Aliás, a notícia da vinda gloriosa da Comarca, em 10 de Abril de 1973, conhecida pela Televisão, foi assinalada efusivamente por todos os vouzelenses, dentro e fora de portas, por entre abraços, mensagens, foguetes e outras festas que tais. O destaque que lhe foi dado por este “NV”, a 20 de Abril de 1973, em toda a primeira página e no seu interior, mostra a alegria, o carinho, o entusiasmo que veio a despoletar, vindo a reflectir-se em edições posteriores. Entre os nomes sonoros de então, temos o Ministro Professor Dr. Almeida Costa e o Eng. Armínio Quintela, Governador-Civil de Viseu, à altura dessa boa-nova. Mas há muito mais gente a ser obreiro desta vitória, a quem nos referiremos daqui a dias. Entretanto, perante os tristes factos de hoje, com a perda da importância dos nossos Tribunais, com pena nossa, não se vê a garra de outrora na sua defesa. E isso não é bom sinal… Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Fevereiro, 2014, para recordar um dos rudes golpes de 2014

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Saudades, uma ova

Quase a despedir-se o ano de 2014, dele saio sem grandes saudades. Vi ir embora a Troika, mas as sua pegadas, de má memória, por cá vão durar. Vi falir um banco, mais um (o BES/GES), e este com um enorme e ainda desconhecido estrondo, a sobrar, muito provavelmente, para nós pagarmos.Vi os Tribunais a condenarem ou a lançarem suspeitas sobre gente dita importante e isto só mostra, se forem verdade as acusações feitas, que o sistema está podre. Vi fugir os CTT e quase definhar a PT e a TAP. Por tudo isto, saudades, uma ova. Em contraponto a este estado de desânimo e revolta, gostei muito de ver a Barragem de Ribeiradio/Ermida a crescer e a encher-se de água. Dela, creio eu e faço votos para que assim aonteceça, muito se irá falar. O meu concelho, Oliveira de Frades e Sever do Vouga, vizinho e amigo, terão muito de bom a esperar deste notável empreendimento. Que mais dizer? Devo fazer recordar que a Ministra da Justiça nos tirou os Tribunais ou lhes deu uma mortal facada, a ponto de os converter, Vouzela e Oliveira de Frades, em qualquer coisa que não é nada, ou pouco mais do que isso. Saudades, uma ova... Mesmo assim, que 2015 seja um Bom Ano... Um abraço, malta amiga...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Couves para a panela

Estão a ficar despidas as hortas da minha aldeia,a Sobreira-Oliveira de Frades, que as couves correm para as panelas. Do saco de bacalhau sai o pitéu que vai alegrar as nossas mesas nocturnas, em Ceia de Natal, com toda a tradição. O azeite foi escolhido a dedo. O vinho, também. A doçaria não falta. A Família disse sim a este apelo irresistível: compareceu. Infelizmente,agora, há gente muito querida que não aparece, mas, não estando, está sempre connosco. Faz anos em que me despedi, em 1975, de meu irmãozito, o Tonito. Que saudades! Hoje, como é costume, é Viseu a terra escolhida para uma doce consoada. Lá estaremos daqui a bocado, mas com pena, repetimos, de quem partiu. Ao invés, saudamos as novas gerações, estas a receberem prendas em festa animada. Esta é a tradição. Que assim se mantenha por muitos anos...

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Boas Festas

Com medo ainda do ano que vem, apesar disso, quero enviar Boas Festas e o desejo de um Bom Ano de 2015 para toda a malta. Aqui, na Serra do Ladário, lado sul, concelho de Oliveira de Frades, a tradição ainda tem muito do que era. E o Natal é tempo quente, por excelência, por mais frio natural que esteja. A estas terras acorrem os nossos amigos e familiares e as casas enchem-se de tudo, de alegria a mesa farta. Mas há dores que não passam. E o facto de sentirmos que a União Europeia anda a meter demais o bedelho nas nossas coisas, como esta de puxar as orelhas ao Governo por estar a alargar um pouco os cordões à bolsa (ordenado mínimo, etc) é receita que já incomoda. Se a austeridade gerou ondas de pobreza e de choque social, vê-se que essa não é política a seguir e esta teimosia tem de, um dia, acabar. Ou acabamos todos num poço sem fundo. Entretanto, porque é Natal, BOAS FESTAS...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Lafões, terra com Imperadores, com mais segredos desvendados

Num seminário, "Lafões, um património com futuro", organizado pela CM de Vouzela, no âmbito das comemorações dos 500 anos do Foral de Lafões, e em que tive a felicidade de participar como moderador, ficámos a saber, desde esse dia 15 de Dezembro, que esta Região tem mais motivos para afirmar a sua identidade e importância estratégica ibérica. Pela avalizada voz do Dr. Manuel Real, foi dito, e sustentado em fontes credíveis, que nestas terras, no Paço de Moçâmedes, viveu, de 900 a 912, o Príncipe Ramiro, futuro "Imperador" de Leon e, talvez, "Rei" de Portucale e de Viseu. Com muito ainda por descobrir, este período da Alta Idade Média, agora divulgado, mostra quanto esta nossa zona foi importante em tempos idos, um pouco por toda a parte, mas sobretudo em Moçâmedes, como vimos, e em Bordonhos... Fico feliz por saber que assim foi...E, eu que tenho a História como irmã de caminhada, desconhecia estas preciosidades: confirma-se então, cada vez mais, que nunca se sabe tudo. Longe disso...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Carros eléctricos e pontos de abastecimento, um bluff...

Choque eléctrico com carros parados Há ideias que se revelam acertadas e parecem acompanhar o ritmo dos tempos que vivemos. Algumas delas ultrapassam mesmo essa velocidade, como aconteceu, há décadas, com o nosso amigo Dr. Virgílio Borges, infelizmente já desaparecido, que sonhou com a energia fotovoltaica, a estudou em Doutoramento e a aplicou na sua moradia no Estoril e no relógio do Monte Castelo. Sonhador, tempos antes, quisera fazer da Quinta de Valgôde um sucesso empresarial agropecuário. E conseguiu-o, ainda que parcialmente. Desviando-nos do fim que tínhamos em vista ao iniciarmos estas linhas, só aqui colocamos o parágrafo anterior para homenagear quem assim antevê o futuro. E o Dr. Virgílio Borges foi um homem desses. Estávamos para falar dos carros movidos a electricidade e é disso que vamos tratar. Primeiro ponto: um cartão vermelho para a MOBI-e, entidade a quem temos vindo a solicitar dados para alinhavar esta espécie de estudo e nunca nos respondeu. Nem um linha sequer. Fazendo-nos falta essa voz oficial, ficamos com outras pistas, talvez não tão acertadas, mas as possíveis. Segundo ponto: por aquilo que sabemos ( e é, infelizmente, muito pouco) isto foi um bluff, desculpe-se a expressão, de todo o tamanho. Em 1026 postos de abastecimento espalhados pelo País – dados de 2010 a Fevereiro de 2012 - , estilo um que conhecemos junto à Biblioteca Municipal de Viseu, poucos préstimos tiveram. Temos uma vaga ideia que foi quase nulo o uso que deles se fez… Nesse mesmo período, a nível nacional, tinham sido comercializados 231 veículos, alguns deles para o Governo de então mostrar algum trabalho de casa. Pouco mais. Terceiro ponto: o facto de terem de ser abastecidos sensivelmente de 120 em 120 quilómetros, por um período de cerca de seis horas, não é trunfo que possa surtir efeito agradável. Quarto ponto: o preço exorbitante do seu custo inicial põe muita gente a fugir dessa solução, sendo que, valendo à volta de dez mil euros, chegam a atingir os mais ou menos 40000 euros, o que é um absurdo e um disparate de cabo de esquadra. Quinto ponto: desconfiança de todo esse sistema, que só agradará muito mais quando descerem esses valores e se puderem carregar as respectivas viaturas, por exemplo, em casa. Sexto ponto: pode estar para breve o retorno a esse caminho, uma vez que a Nissan Leaf tem para venda 50000 carros, mas, mesmo assim, longe das nossas bolsas, por custarem em Portugal cerca de 32990 euros. Espalhando-os por 17 países, conta já com cerca de 7000 proprietários, pensando nós que nenhum no nosso país Sétimo ponto: creiam que muito gostaremos de aceder a estes veículos e a esta energia limpa. Mas, por enquanto, parece que há mais choques eléctricos que cheques em circulação. E isso é que é pena. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Fevereiro de 2013, talvez ainda actual em Dezembro de 2014

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Dezembro com três, quatro ou cinco feriados

Para os puristas da economia dos números, para quem as pessoas pouco valem, isto de Dezembro ter dois feriados antecipadamente, 8, segunda, 25, quinta, um outro agora "decretado", 24, quarta e um hipotético, 26 ( em alternativa a outras duas datas, 31, novamente quarta, ou dois de Janeiro de 2015), é lenha demais para a sua fogueira. Mas, para quem aprecia a vida e as relações pessoais, a produção, em média, não vai perder, porque a motivação faz com que, amanhã, venha a disparar. Boa malha, esta!...

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O que se pedia ao poder central em finais da Monarquia....

Distrito de Viseu com pedidos feitos ao poder central entre 1890/1939 Num espaço temporal que abrange regimes tão diversos como a Monarquia, a Primeira República e uma parte substancial do Estado Novo, foram feitos centenas de pedidos e de representações, por parte de diversas entidades do distrito de Viseu, com destaque para as autarquias locais, com um destinatário comum: o poder central com sede em Lisboa. Tendo como fonte o Fundo do Governo Civil de Viseu, Correspondência Expedida, 2ªa Repartição, Livros nº 369 a 392, integrados na documentação do nosso Arquivo Distrital, é possível analisar muito do que eram as preocupações dos responsáveis locais em matéria de investimentos para suas terras e respectivos processos de desenvolvimento. Comparar essas pretensões com os tempos de hoje é uma forma de vermos como as necessidades e as realidades mudaram. Com muito material para ser analisado, por hoje, afloramos, a nível da região de Lafões, apenas uns pequenos pormenores, que nos permitem ver o que então era preocupação de nossas gentes e como as autarquias estavam desprovidas de qualquer autonomia. A sua reduzida esfera de acção explica também a dimensão e o tipo de tarefas de seus dirigentes e quadros de pessoal. Nada que se possa sequer compaginar com a actualidade, nem em natureza política, com uma democracia a funcionar, nem na tipologia das acções e serviços prestados. Trazemos aqui estas considerações ainda como contributo para a compreensão das autarquias de hoje e sua complexidade. A distância que as separa das suas antepassadas é abismal. Para melhor, muito melhor mesmo. Felizmente. Na pesca de uns curtos exemplos, atente-se ao que então foi solicitado às várias instâncias do poder central: - 20/06/1892 – Paróquia de Pinho/ S. Pedro do Sul – Instalação de uma escola primária – Director-Geral de Instrução Pública. - 28/12/1897 – CM de Oliveira de Frades – Subsídio para lanço de estrada municipal – MOPCI - 18/01/1909 – CM de Vouzela – Que a estrada municipal de 2ª classe nº 3 seja convertida em real – DGOPM Nestes excertos à toa, já se dá uma ideia daquilo que, nesses anos, constituía o painel de “representações” feitas a Lisboa, mas há muito mais. Mostrámos estes factos como meio de então entendermos como era o exercício das funções políticas locais. Para se ter uma ideia mais nítida de tudo isto, haverá um longo caminho de investigação a fazer: o teor dos pedidos, as verbas envolvidas, os prazos em questão, o sucesso ou insucesso de todas estas diligências. Nada disto temos em mãos. Apenas estas listas secas e nada mais. Mas já nos dão que pensar. Carlos Rodrigues , “Notícias de Vouzela”

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Um comentário que faço sem gosto

Este gajo da Serra do Ladário, concelho de Oliveira de Frades, eu próprio, é avesso a comentar mundanices, por formação, convicção, vontade e postura. Isso é matéria que muito pouco me diz. Se não gostei do espectáculo montado em redor da detenção de José Sócrates, há factos e factos. Supostamente, é, judicialmente, grave o seu caso. Sendo assim e se há razões para esta prisão domiciliária, tudo certo. Dispensando o folclore, os atrasos nas decisões, o veredicto, a avaliar por aquilo que para aí consta, não é de estranhar-se, sobretudo quando se fala em alta corrupção, presumindo que com base em dinheiros públicos, nossos. Se assim foi, há que pagar por isso. Mas uma decisão destas têm de ser bem suportada em presunções seguras quanto às razões que a levam a decretar. Como não foram ditas, ficam as dúvidas e era bom que os Tribunais as venham a tirar. No meio disto tudo, o que me dói é um País a desfazer-se no que respeita aos valores, à dignidade da política, em práticas que o enterram vivo. Foram o BPN, o BES, os vistos Gold e toda a trapalhada que por aí abunda. Isto não pode continuar assim. Não pode. Não pode. Não pode. A política tem de se refrescar e renascer para outra figura e outra capacidade de ser criadora, séria, honesta, moralmente justa e solidária. Assim, com isto tudo, mata-se a esperança e a confiança. Pior, estas morreram já. Porra. Chega. Basta...

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A fome e a fartura, alguns meses depois...

A fome e a fartura No dia 18, domingo, mesmo depois da Troika se ter ido embora, numa saída enganadora, que essa malta por cá vai andando uns pares de anos a fio, olhámos para o sol e não sentimos haver diferenças, sendo que a melhor luz só apareceu, para nós, quando ele ia a caminho do ocidente, ao tombar para lá das nossas serras, no momento em que o SLB venceu a Taça de Portugal, a juntar, em feito inédito, aos dois títulos já anteriormente conquistados. De resto, tudo na mesma. Respeitando todos os adversários, muito especialmente o digno Rio Ave, esta é a nossa opinião e assim se expressa. Dizemos mal, que houve outros sinais. É que, no rescaldo de um Conselho de Ministros Extraordinário, foi-nos oferecido, em documento com 65 páginas, um novo “ Caminho para o crescimento” e o PS brindou-nos com as suas oitenta medidas e outros tantos compromissos. Ou seja: da fome anterior ao dia 17, por influência de uma devastadora crise e de um Programa de Ajustamento que nos deixou a pão e água, passámos para a fartura das ideias, das propostas, das sugestões tendentes a proporcionarem-nos um futuro melhor. Pelo menos assim falam o Governo e a Oposição, em tempos, curiosamente, de plena campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, que nos está a passar completamente ao lado. Neste início de semana, já estivemos a passar os olhos por essa papelada, como convém a quem queira estar informado, até para ter sustentabilidade aquilo que, aqui, se vai escrevendo. De um lado, no tal “ Caminho para o crescimento”, topámos uma espécie de fusão e síntese do Documento de Estratégia Orçamental (DEO) e do Guião da Reforma do Estado, intenção que, aliás, é descrita logo nas primeiras páginas, de forma a unir “ um conjunto disperso de medidas e reformas apresentadas noutros programas”, tais como infraestruturas, fomento industrial e estratégia nacional para o mar. No outro, temos uma série de promessas, oitenta ao todo, com maior destaque para quinze tidas como mais importantes, aclarando António José Seguro que “… Só prometo aquilo que posso cumprir”, adiantando que o “ Voto não é um cheque em branco. O voto vincula os governos ao cumprimento das suas promessas eleitorais… “ Sabendo que vivemos em clima de debate europeu, aproveitou-se este ensejo para nos serem oferecidas receitas nacionais, vivendo-se em Maio de 2014 com o pensamento já focado no acto eleitoral legislativo de 2015, sendo este momento a sala de visitas desse mesmo edifício já em acesa construção. A Europa que espere, que fique lá onde está, distante das nossas preocupações, mesmo sendo nessa União Europeia que se escreve o nosso destino todos os dias e o Parlamento Europeu a ser o único órgão da UE verdadeiramente democrático e representativo dos nossos povos. Mas essa é matéria que interessa pouco discutir. Lamentável e quase criminosamente, diga-se com frontalidade e clareza. As eleições europeias Por mais que nos apeteça pegar nestas duas peças políticas e delas falarmos, isso seria uma traição às nossas convicções, preferindo antes pôr em cima da mesa o que é determinante nestas alturas até ao dia 25 de Maio, porque, na próxima vez que aqui nos encontrarmos, já as eleições são parte do passado e o veredicto estará registado para sempre. Temos, à partida, um enorme e fundamentado receio: a abstenção será medonha, pelo menos assim projectamos o que irá acontecer. A história, aliás, mostra-nos uma clara tendência nesse sentido, desde 1989, ano das primeiras eleições universais, até 2009, o que se constata com estes números, expressos em votação: 1989 – 49.7% de votantes; 1994 – 35.7; 1999 – 40; 2004 – 38.6 e 2009 – 36.8%. Este ano, com o silêncio que se nota a esse respeito e com a descrença nos políticos e na nobre arte da política, em geral, com uma certa sensação de que não vale a pena ir às urnas depositar as nossas convicções, todo este panorama se pode vir a agravar, perigosamente. Está nas nossas mãos fazer inverter essa prática. Actuemos nesse sentido. É que temos pela frente um Parlamento que, sobretudo depois do Tratado de Lisboa, de 2009, tem a incumbência de escolher o Presidente da Comissão, vendo ainda os seus atributos alargados em matéria de Orçamento Comunitário, de mais poder na área da agricultura, da política comercial, liberdades cívicas, protecção do consumidor, transportes e investigação, não lhe passando ainda despercebida toda a vida da União Europeia e nos seus 28 membros. Num universo de cerca de 500 milhões de habitantes ( meia China menos um grande bocado), serão eleitos 751 deputados, sendo 21 portugueses. Colocados, actualmente, em sete grupos políticos-base, têm a sua origem em mais de 160 partidos políticos nacionais. Cabem-nos as seguintes forças políticas: BE, PCP-PEV, Aliança Portugal/PSD/CDS, Livre, MAS, PND, MPT, PS, PCTP/MRPP, PDA, PNR, POUS, PAN, PPM, PPV e PTP. Por onde escolher, não faltam hipóteses. Sendo essa uma tomada de posição que cabe a cada um de nós, a liberdade é total. Com o acto eleitoral a começar hoje mesmo, dia 22, em alguns países, a sua finalização só acontecerá no dia 25, data consagrada à divulgação oficial dos respectivos resultados, ainda que possam ter o seu início alguns dias antes, como vimos. Com o fito numa visão estratégica e política, num desígnio humano com vontade de construir um futuro melhor, com a esperança numa segura linha de rumo e em objectivos de base sólida e duradoura, serena e construtiva, declaramos solenemente que IREMOS VOTAR. Não queremos deixar a nossa vida de amanhã nas decisões de outros, por mais que confiemos na bondade humana, mas os direitos e deveres de cidadania não os alienamos, nunca … Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Mulheres ao poder...

Aí está mais um dado sociológico em crescimento: a merecida subida ao poder por parte das mulheres. Agora, na Administração Interna, devido ao pedido de demissão de Miguel Macedo ( uma atitude que aplaudo, pelo seu significado político), vamos ter Anabela Rodrigues,com três facetas de que muito gosto: tem um bom sobrenome, é mulher e está academicamente ligada a Coimbra. Adivinho: vai ter uma espinhosa missão. Prevejo: não tem muito tempo para se afirmar. Desejo: para bem do País, que tenha sucesso. Gostava: que outros Ministros tivessem seguido o (bom) exemplo de Miguel Macedo. Perdi: o PM não foi na conversa dos meus anseios e optou pelos serviços mínimos. Nem sequer ouviu Marcelo Rebelo de Sousa. E que razão tinha eu para acreditar que me seguiria? Nenhuma. Pronto, viva a nova Ministra, Rodrigues, mulher e "de" Coimbra...

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Ponto final

Eu sei: a mensagem chegou direitinha aqui à minha terra, na encosta da Serra do Ladário, Oliveira de Frades e bem ouvi dizer que as eleições são a seu tempo, ponto final. Quem o disse foi o mais alto Magistrado da Nação, que também se pode enganar. É que, às vezes, nas voltas que o mundo dá, a verdade de hoje pode o não ser amanhã. Mas não é bem isso que me importa. O que é preciso é que haja CONSENSOS de base, essenciais e necessários como pano para a boca, para evitarmos ter de andar sempre a levar raspanetes de quem eu gosto muito pouco, mesmo quase nada, a Troika. Entendam-se, malta!...

domingo, 9 de novembro de 2014

O petróleo a toldar as mentes

A minha última entrada nestas páginas, que vou alimentando com alguma irregularidade, mas com a verdade como mestra, falava dos preços dos combustíveis. Nem de propósito. Hoje vou pegar num assunto que muito me dói, o da expulsão dos Magistrados portugueses que prestavam serviço em Timor. Segundo consta, há a maléfica acção das fontes petrolíferas no meio desta decisão timorense. Não sei nada sobre as razões que sustentaram tão dura sentença. Consta, e é nessa convicção, que o petróleo foi o detonador desta bomba política que muito lamento. E digo porquê: há anos, chorei lágrimas de dor pelas atrocidades que recaíam sobre este território tão afectivamente ligado a todos nós. Escrevi muitas linhas, em artigos de jornal, a associar-me, de corpo e alma, a esta causa nossa e de todo o mundo, a defesa de Timor independente. Inscrevi o meu nome em tudo quanto se relacionasse com este tão quente e tão candente problema, defendendo a integridade deste território até ao limite. Ao lado de Xanana e suas ideias, sofrimentos e dores, estive sempre, sem medo, sem vacilações, com firmes convicções. Por tudo isto e pela solidariedade que Portugal sempre mostrou, activamente, em relação a este novo País, o mais novo, nascido no início deste milénio, não gosto de ver aquela Terra a tratar-nos assim, mandando para casa, em 48 horas, gente de nossa gente. Este não é comportamento que eu aplauda. Nem por sombras. Razões, dessas não quero saber para já.É o gesto brusco que me amachuca, que me diz que não se "paga" assim a solidariedade demonstrada em tempos de morte e dor. Sendo irmãos, não se dão assim bofetadas, sobretudo quando é Xanana Gusmão o Primeiro-Ministro de Timor, de que tanto gosto e de que não quero perder pitada das boas ligações que temos tido. Um nódoa apareceu agora. Mas a lixívia tem de lavar tudo isto e Xanana deve bater com a mão no peito e pedir-nos desculpa. O peso do dinheiro de petróleo não pode matar a emoção do coração. Nunca.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Combustíveis a descerem mas já com ameaças de subidas em 2015

Preços dos combustíveis a descerem Ainda há boas notícias, mesmo que a meias. Isto de acordarmos, de manhã, e sabermos que os combustíveis deram um trambolhão jeitoso é sempre algo de apetecível. Se lhe juntarmos o facto de a desvalorização nos fazer remontar ao ano de 2010, pensamos logo que a vida vai melhorar e as economias tornar-se-ão uma feliz realidade. Porém, não é bem assim o rumo concreto dos acontecimentos. Há sempre uma areia a travar a engrenagem e a última é, na opinião dos interessados do outro lado, a relação entre o euro e o dólar. Será? Deixamos os estudos, sérios, para os entendidos a fundo nessas matérias. O que nos interessa saber, enquanto consumidores de bolsos nem sempre abonados, é a resposta para este dilema: se o petróleo, na origem, mostra cair numa certa e notória percentagem, que razões levam a que, nos postos de abastecimento, ou se demore a actuar, ou isso seja feito sempre numa medida que se não ajusta com as quedas verificadas? Esta é que é a nossa grande dúvida e angústia, mesmo que nos saiba bem pagar menos para encher os depósitos, porque esse menos é menos ( com um manifesto exagero em português) do que deveria ser, cremos nós. Um dia, em 2004, com a liberalização dos preços dos combustíveis, ficámos convictos de que a lei do mercado seria a força motriz desse negócio. Parece que não é bem assim e o cidadão indefeso e sem meios de contestação activa tem de se contentar com o peixe que lhe vem ter à rede. Estranhamos é que, com muito mais capacidade de conhecimentos e de poder argumentativo que nós próprios, as grandes empresas e o mundo das transportadoras não sejam mais reivindicativas. Ou lhe é sonegada informação, ou desistem dessa luta, porque sabem que, do lado de lá, há sempre fórmulas esquisitas para contrariar as deduções óbvias. Se assim é – e talvez seja -, se são desiguais as forças em presença, perguntamos nós, humildes cavadores da comunicação social: onde está a Regulamentação eficaz, firme, impenetrável a quaisquer pressões, ou delongas? Parece-nos, numa apreciação muito ligeira e pouco aprofundada, que nem sempre estão esses serviços onde deveriam estar. Dos fornecedores, são recorrentes as desculpas, quem sabe se de mau pagador, no sentido de virem sempre dizer que os custos de transportes do grude, a refinação, a colocação nos postos estão sempre a encarecer. Balelas? Muito provavelmente. Ao que sabemos, os vencimentos dos funcionários não têm aumentado, salvo nas cúpulas, as novas tecnologias, em crescendo, são suporte seguro para optimização de custos, para a melhoria da qualidade e dos serviços a prestar aos clientes e, se o não forem, procurem-se outras. Nesta nossa óptica, a uma descida real do petróleo deverá corresponder igual repercussão nos preços pagos pelo consumidor, corrigidos, aí aceitamos, com as variações da moeda, na relação euro/dólar. Mas, até neste aspecto, não cremos que haja total transparência. Muitas vezes, o valor do euro joga a nosso favor e não vemos as petrolíferas a fazerem reflectir essas variações no imediato das relações comerciais que connosco estabelecem. Ou seja: quem está na mó de baixo, come e cala. E, se refila, como hoje estamos, franca e abertamente a fazer, de pouco vale essa queimadela de neurónios. Para a história da estatística, ficam os números: hoje, dia 20 de Outubro, os postos de abastecimento de combustíveis “presentearam-nos” com uma descida de cerca de 6 a 7 cêntimos na gasolina e 2 a 3 no gasóleo. Ficando todos felizes, até nos esquecemos que, na origem, se voltou a valores de 2010, mas quedámo-nos em preços de 2014, essa é que é essa. Para melhor enquadramento legal deste trabalho, toda a liberalização neste mercado advém da Lei nº 107-B/2003, de 31 de Dezembro (Lei do OE para 2014) e demais regulamentações e esclarecimentos posteriores. Nessa altura, tudo parecia que ia correr às mil maravilhas. Mas, como enfatiza o economista Eugénio Rosa, pouca gente se preocupa, entre outros factores, com a política de stocks a baixo custo, que, quando é oportuno para os vendedores, salta para a rua o produto tratado como se tivesse sido adquirido por valores mais elevados. Isso pouca gente quer ver, ou meter a mão na massa quente, com medo de se escaldar e essa é tarefa que o Regulador não pode, nem deve descurar. Sendo ainda conveniente pensar que, em 2015, a fiscalidade verde vai “comer-nos” dois cêntimos por litro, é natural que, em qualquer análise destes problemas, não nos esqueçamos da interferência dos impostos nestas matérias. Isto é: somos cravados pelas petrolíferas e pelo Estado, num ritmo cada vez mais crescente e asfixiante. Esta semana, tivemos um rebuçado, mas o bom chocolate ficou do outro lado. Sendo sempre assim, infelizmente, por estes factos, é previsível que o crescimento económico seja uma bagatela, o que não ajuda nada as nossas empresas, nem a nós próprios. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 23 de Outubro de 2014

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Um estado de alma

Com a vontade de conhecer melhor o meio em que vivo, gosto de vasculhar tudo quanto me possa ajudá-lo a compreender. Por razões que o destino traçou na minha vida, por opções que tenho vindo a fazer, como esta de, academicamente, estar metido num projecto em que entendo que as políticas públicas, muitas delas e ao longo de governos e regimes, deram cabo do povoamento do Interior, cheguei à conclusão, através do jornal que faz parte de meu ser acrescentado em termos familiares, desde 1973, o "Notícias de Vouzela", que o seu crescente número de assinantes reflecte a sociologia local e regional. Assim, em 1966, em número de novos assinantes, 184 pertenceram à Grande Lisboa, 16 ao Porto e arredores, 125 a África, 63 a outros destinos, para além de muitas outras paragens um pouco por todos os lados. Conclusão, e é esta a minha "Tese": estas terras deixaram fugir as suas gentes, porque algo falhou na política de planeamento e governação.Logo, há culpados de ordem maior que o meu bom povo bem gostaria de por aqui ficar. É esta condenação forçada a uma fuga de nossas terras, ontem e hoje, que me custa a aceitar. Como nada ou pouco posso a fazer contra estas situações, opto pela posição de as registar em trabalho académico. É isso que me anima desde há uns anitos e que agora está em velocidade cruzeiro, porque o meu estado de alma me diz que não podemos calar esta amargura de ver vazias as nossas terras. Só porque as quiseram matar aos poucos. E isso é que eu não quero...

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

>Sol, Barragem e Gastronomia

Com este apetecível sol de fins(?)de Outubro, para não falarmos em Praias, temos de dizer que, por aqui, neste meu concelho de Oliveira de Frades, há agora uma nova realidade turística com que temos de contar: a Barragem de Ribeiradio/Ermida, bem cheinha, que é um convite a uma boa visita. Deixo duas sugestões, a de uma ida a Sejães, juntando a boa gastronomia do Restaurante Luciana e o seu monumental bacalhau ao grande e novo Lago, e uma outra a Ribeiradio, com poisos em Pedre e junto ao Estaleiro da obra, para contemplar paisagens de sonho e fantasia, com uma subida ao Largo de Nossa Senhora Dolorosa, para saborear um divinal cozido à portuguesa e outras iguarias, na Churrasqueira Ribeiro. Aqui ficam estas dicas, em plena hora de almoço e com muita água na citada Barragem e na boca...

sábado, 18 de outubro de 2014

No lançamento da Barragem de Ribeiradio/Ermida, em 2009

UMA BARRAGEM COM PORTA ABERTA Atrevo-me, hoje, a trazer aqui uma nota pessoal, carregada de emoção e cheia de desabafos: à minha frente tenho a imagem virtual de uma obra que me povoa o pensamento e os desejos, desde há muitas décadas, de a ver crescer, desabrochar em desenvolvimento, ver brilhar ao sol toda aquela água e, agora mais tarde, a produzir energia. Participei ainda, em tempos idos, em muitos contactos, com vista a pô-la em marcha, dando voz a quem tanto e sempre a quis, tanto ou mais do que eu. Umas vezes como interlocutor privilegiado, outras na saudosa companhia de alguém que não teve o prazer de assistir àquele momento, solene e mágico, da assinatura do contrato de empreitada, o Eng. João Maia, muito se lutou por esta obra. Connosco, nessas duas fases, sempre se manteve uma outra presença de vulto em toda esta epopeia: o Dr. Manuel Soares, ainda Presidente da Câmara de Sever do Vouga. Por convite do Dr. Luís Vasconcelos, sentei-me naquela tenda gigante, com os olhos postos no écran, que nos mostrou o lançamento de uma pedra, esta forte e segura, antes de termos presenciado o testemunho de quem nos trouxe a certeza de que, agora, se deixou de vez aquela angústia de se não saber se era a sério ou a brincar. Com o apadrinhamento do Eng. José Sócrates, com a força empreendedora da EDP e da nossa MARTIFER, com o trabalho das firmas construtoras, vamos ter não uma, mas duas barragens: Ribeiradio e Ermida. Foi com um rubor na face que vi assinar os respectivos contratos, com um certo aperto no coração que ouvi proclamar o fim do duro calvário, quando se disse – registo-o com a convicção de que, nesta altura, não há recuo possível - que estes empreendimentos não vão parar antes de contribuírem para a riqueza nacional e de alegrarem os corações das gentes destas terras que descobrem, à sua frente, a concretização de um velho sonho. Senti que esta segunda vinda do Eng. José Sócrates, pelo mesmo motivo, vai resultar em pleno, sendo conveniente e justo destacar o seu contributo para este feliz desfecho: há anos, no Couto de Esteves, como Ministro do Ambiente, na companhia do Eng. António Guterres, participou em cerimónia idêntica. Após esse acto, veio um tribunal fazer abortar as obras e tudo ficou em banho-maria até ao passado dia 27 de Novembro, em Ribeiradio ( ver Reportagem da Salete Costa), data que aqui se regista neste tom afectivo e muito pessoal, quando se deu corda a estas Barragens. A verdade, porém, é que este compasso de espera, criticável, mas real, acabou por gerar um outro enquadramento: a afectação destes projectos à produção de energia eléctrica, uma vertente que foi arrancada a ferros e que muito se fica a dever à tenacidade da Martifer e à entrada em cena da EDP, aqui como parceira activa desta ideia-obra. Assim, num esquema de fins múltiplos, controle de caudais, rega, turismo, abastecimento de água, tem-se, neste momento, essa outra valência, o que muito valoriza as iniciativas em causa. Se os dados técnicos aparecem pela pena da Salete, não resisti à saborosa tentação de prestar este testemunho e de o dedicar, por inteiro, a um amigo que não pôde estar sentado ao meu lado, por nos ter pregado a partida de nos deixar sem a sua presença, mas apegados à sua memória: João Maia. Anos a fio, batemo-nos, em conjunto com tanta gente, por esta causa. Ao vê-la a renascer, para amanhã ser fonte de desenvolvimento, sinto que tudo isso – como tanta outra coisa! – valeu a pena. Carlos Rodrigues, Notícias de Vouzela, 2009

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Foral de Lafões, 500 anos depois

Foral de Lafões e seu enquadramento Comemoram-se, neste ano de 2014, os 500 anos do Foral de Lafões, sendo nossa intenção, ao abordar tão importante documento, vir a tentar fazer uma espécie de enquadramento desta temática na organização politica, económica e social de nossas terras, nessa época, mas também, e sobretudo, nos tempos anteriores em que se forjaram os municípios em Portugal. Estes, a serem filhos dilectos do desejo de autonomia dos povos, em oposição aos abusos senhoriais e outros, próprios de um regime feudal em que a vassalagem era norma vigente, foram objecto de transformações e leituras várias ao longo de nossa história e um pouco em todo o mundo científico que se debruça sobre a sua formação e implantação. Antes de avançarmos para a alusão a outros forais e cartas de foral, anteriores àquele que D.Manuel concedeu a Lafões em 1514, digamos que a origem dos concelhos e sua apreciação têm alimentado polémicas várias, com duas linhas em confronto: para Alexandre Herculano e Henrique Gama Barros, os municípios vêm na linha da romanização, como uma de suas consequências; já Teófilo Braga, seguindo Muñoz y Romero, contesta tal hipótese, associando-os à fase da Reconquista. Sendo estas querelas, que ocupam os estudiosos destas matérias, algo marginais relativamente àquilo que queremos analisar, o que relevamos é o facto de, na Idade Média, a partir do século XI, os concelhos serem simultaneamente instrumentos de povoamento e de afirmação da liberdade e autonomia, factos que, em Lafões, também muito se verificaram. A seu lado, criando-os, ou apoiando-os, temos os nossos Reis. Classificados os concelhos como perfeitos, imperfeitos e rudimentares, de acordo com Herculano, ou com modelos de Salamanca, Ávila e Santarém (Barros), o que se quer destacar é então a existência destas organizações por estas nossas bandas. Em Herculano ( História de Portugal, Ulmeiro, Lisboa, VIII, 1985), “ ... A história da instituição e multiplicação dos concelhos é a história da influência da democracia na sociedade, da acção do povo na significação vulgar desta palavra, como elemento político... “ (p. 73) e isso diz tudo: mostra quanto peso tiveram na vida das comunidades que se foram gerando. Se, com D. Manuel, havia já uma certa ideia de uniformização central e, por isso, algo distante da matriz medieval mais genuína e mais pura, os forais foram sempre, na sua essência, um campo para a defesa da liberdade e autonomia dos territórios em que se aplicavam as suas normas jurídicas, económicas, sociais. Com a vertente uniformizadora a triunfar neste período manuelino, fértil em mudanças estruturais a todos os níveis, as alterações verificadas nos forais têm a ver com a subida da centralização que se ia aprofundando, sobretudo desde o reinado de D. João II, seu antecessor. A sua Carta Régia de 22 de Novembro de 1497, como resposta a pedidos que já se faziam sentir desde as Cortes de Coimbra (1472) e Évora (1475), com D. Afonso V e em 1481 e 1482, com D. João II, aparece como uma forma de, reexaminando os forais velhos, lhes impor a marca que então se entendia como a mais benéfica para as aspirações do Rei e seu estilo de governação. Foi o que se sucedeu depois em mais de duas centenas destes documentos, incluindo o de Lafões, em 1514, e do Banho, em 1515. A anteceder esta versão, a Região de Lafões teve outras cartas de foral, no todo e em várias partes do seu território, desde os inícios da nossa Monarquia, com o Banho e ser a primeira localidade, em 1152, a ser dotada com a categoria municipal, por deliberação de D. Afonso Henriques, Rei que, em 1169, atribui Carta de Couto, confirmando a de 1159, do Alcaide Cerveira, a Oliveira de Frades, como espaço de Santa Cruz de Coimbra. Por outro lado, até ao século XIX, houve por aqui outros concelhos, ou terras autónomas, tais como Trapa e Sul, assim como existiram localidades que estiveram sob a alçada, por exemplo, de S. João do Monte. Também, como se pode ler no Foral, Queirã, Alcofra e Moçamedes gozavam de um certo estatuto especial. Quanto a Lafões, propriamente dito, já D. Duarte, em 1436, tinha dado atenção a este mesmo concelho, numa zona que, desde há muito, era dotada de um Governador ou funções afins, como se vê em documentos diversos vindos dos séculos X em diante. Sendo este um primeiro trabalho sobre o Foral de Lafões, no seguimento de um bom programa lançado pelas Escolas de Vouzela e Câmara Municipal, que vai ter três datas fortes, a 15 de Outubro, 15 de Novembro e 15 de Dezembro, ponto alto destas comemorações, acabamos, por hoje, com uma reflexão: a que se relaciona com o facto de Vouzela estar com legitimidade acrescida para assinalar esta efeméride. Vejamos quais as razões que nos levam a esta conclusão: Em primeiro lugar, ter na sua posse um dos dois ou três originais do Foral Manuelino, recebido no ano de 1516, a 14 de Setembro, perante o escrivão da Chancelaria da Correição da Beira, e dado a Afonso Ribeiro, escrivão da Câmara do dito Concelho, atesta a centralidade desta terra, nessa mesma época, o que lhe confere a dignidade para ficar como fiel deposiária de tão importante documento. Se, no Numeramento de 1527, Lafões aparece com duas “cabeças”, Vouzela e S. Pedro do Sul, nessa constação há um dado que reforça o papel do primeiro destes locais, também em razão do número de habitantes, com 48 moradores em S. Pedro e 73 na terra do Zela. Mas há mais argumentos: desde logo, aquele em que só Vouzela foi autorizada e usar as armas de Lafões. Com a história a fornecer algumas fontes seguras, neste caso, caminhamos por deduções, mas estamos crentes que não fugimos da verdade quando afirmamos estas conclusões, matéria que continuaremos dentro de algum tempo. Para estas linhas, muito úteis nos foram estas obras: “Foral de Lafões, 1514, Maria Teresa Tavares e Sofia Carla Vasques, Câmara Municipal de Vouzela, 1997”, “ História de Portugal, Alexandre Herculano, Ulmeiro, Lisboa, VIII, 1985”, “ Termas de S. Pedro do Sul, A. Nazaré de Oliveira, Palimage, Viseu, 2002” e “ Serém – 500 anos de Foral, Manuela Almeida, Junta de Freguesia de Macinhata do Vouga, 2014”. (Continua) Carlos Rodrigues, “Notícias de Vouzela”, 9 de Outubro, 2014 Anexamos um excerto de “ O caricas” sobre este mesmo tema: “O Presidente da Câmara de Vouzela vai comemorar, em nome dos três concelhos, os 500 anos do Foral de Lafões, atribuído por D. Manuel em 1514. Os festejos iniciam-se no próximo dia 15 e encerram em Dezembro com o descerramento de uma lápide comemorativa. A recriação de uma feira medieval, com ceia alusiva à época e um casamento monárquico, é outro dos pontos altos das comemorações. Conformado mas arreliado, Vítor Figueiredo já fez saber pela comunicação social o seguinte: "Quando se fala em Lafões tem de se falar pelo menos nos actuais concelhos de São Pedro do Sul, Oliveira de Frades e Vouzela". E acrescenta: "Vouzela em nome de Lafões, não!" E vai ainda mais longe: "O município vouzelense não se pode arvorar de ser detentor da marca da imagem e do nome de Lafões". E conclui: "São Pedro do Sul não anda a reboque de ninguém".O Presidente da Câmara de Vouzela vai comemorar, em nome dos três concelhos, os 500 anos do Foral de Lafões, atribuído por D. Manuel em 1514. Os festejos iniciam-se no próximo dia 15 e encerram em Dezembro com o descerramento de uma lápide comemorativa. A recriação de uma feira medieval, com ceia alusiva à época e um casamento monárquico, é outro dos pontos altos das comemorações. Conformado mas arreliado, Vítor Figueiredo já fez saber pela comunicação social o seguinte: "Quando se fala em Lafões tem de se falar pelo menos nos actuais concelhos de São Pedro do Sul, Oliveira de Frades e Vouzela". E acrescenta: "Vouzela em nome de Lafões, não!" E vai ainda mais longe: "O município vouzelense não se pode arvorar de ser detentor da marca da imagem e do nome de Lafões". E conclui: "São Pedro do Sul não anda a reboque de ninguém".

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O meu Rio, o "Basófias"...

O meu Rio e meu ilustre vizinho andante, que nunca pára, é um "Basófias" e não se chama Mondego, mas do "Eirô". Vindo da Serra do Ladário, desce, em dias de chuva mais brava, com uma força enorme. Esta manhã, nos Amieiros, era vê-lo a quase galgar as margens e regar os campos que, de água, para já, não precisam nem um bocadinho. É assim o Outono invernoso na minha Terra, concelho de Oliveira de Frades, de seu nome, Sobreira...

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Feriado Municipal em Oliveira de Frades (2)

(... ) Tal como tinha prometido, aqui estou de novo para continuar a falar do Feriado Municipal da minha terra, Oliveira de Frades, concelho desde 1837. Tive o grato prazer de ter estado na Sessão Solene, que decorreu nos Paços do Concelho, Salão Nobre, por saber que ali iam ser homenageadas pessoas e entidades, que me merecem todo o respeito e consideração. Assim aconteceu com o prémio dado à melhor aluna do Ensino Secundário, ali representada por seu Pai, o Dr. Manuel Tojal, com a distinção conferida à UMJA - União Musical Juventude e Amizade, da Sobreira, pelos seus 15 anos de actividade, à firma Campoaves, uma das maiores empresas do ramo avícola e a maior, a nível nacional, na comercialização de frango do campo, ao Professor Doutor Luís Almeida, um distinto médico e pedagogo, nascido nesta terra e a residir no Porto e a Fernando Escada, um grande, grande e saudoso Amigo, ex-Presidente da JF de Oliveira de Frades, que a morte nos levou ainda muito novo, tendo recebido a devida homenagem, seu filho, o Dr. Emanuel Escada. Com as cerimónias a continuarem já com a presença do Ministro Poiares Maduro, procedeu-se à inauguração de uma escultura, "Raízes de Oliveira" e da Sede da JF e Serviços Municipais, em pleno Centro Histórico, parte final esta já com um pouco de chuva. Dia em cheio e muito cheio este Feriado Municipal da minha terra... Gostei.

Feriado Municipal na minha terra, Oliveira de Frades

Hoje, 7 de Outubro, evocando uma decisão da Rainha D. Maria II em que criou, definitivamente, o concelho de Oliveira de Frades, que, antes, tinha andado aos avanços e recuos, sendo Couto desde 1159, com confirmação régia, por D. Afonso Henriques, numa sua estadia nas Caldas do Banho, hoje Termas de S. Pedro do Sul, em 1169, é Feriado Municipal nesta minha terra. Para o assinalar, a CM organizou um programa bem significativo, com homenagens e inaugurações, estas com a presença do Ministro Poiares Maduro. Virei aqui com mais novidades, mas estas boas novas sabem-me bem...

domingo, 5 de outubro de 2014

Automóveis em Vouzela

A vila de Vouzela e o Monte Castelo foram, ontem e hoje, os espaços de eleição para se verem os automóveis em correria e piruetas várias, em Rallyes nocturno, área urbana, na noite de sábado, e diurno, subindo e descendo o citado Monte, já no domingo, de manhã e à tarde. Com a meteorologia a ajudar, apesar de alguns nuvens a toldarem o azul do céu, a moldura humana foi uma agradável constatação, em cada um destes dias. Recordando a saudade da Rampa do Castelo de outras eras, não muito distantes, e a tristeza de termos perdido o Rallye de Portugal, que nos fugiu de Lafões, esta prova, para além de muitas outras virtudes, teve um mérito excepcional: a preenchimento desses "vazios", que muito lamentamos. Por aquilo que conseguiram fazer, estão de parabéns os promotores, patrocinadores e Organização em geral. Gostei, aplaudo e peço que se continue...

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Lá fora, ontem estava escuro...

Gosto de ver que se poupa. É sinal de finanças mais robustas, mas nem sempre de bem-estar. Ontem, por exemplo, em função de uma actividade de apoio familiar, cheguei a uma certa localidade e as lâmpadas públicas estavam apagadas às quatro e tal da manhã, em escuro total. Vim a saber que, num esquema de rotatividade, há zonas pretas e outras brancas, à mesma hora, só porque a CM assim organizou o seu esquema de poupança. Nada tenho contra as opções autárquicas, sendo, pelo contrário, um acérrimo defensor da autonomia municipal, mas há formas e formas de actuar... Apagar uma lâmpada e uma outra é uma coisa, cortar o pio a todas elas numa determinada zona é dar cabo da qualidade de vida e, dizem-nos, da própria segurança. Seja como for, não me parece que aquela solução seja a mais acertada. Nem por sombras. Para que não fiquem dúvidas, isto passou-se no concelho de Vouzela, mas não é caso único e já vi replicada esta prática noutros locais, como no município de Oliveira de Frades, aqui há uns tempos, que Deus haja...

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Para abrir o apetite....

Está quase na hora do almoço. Deixo umas sugestões para outra ocasião, que têm de ser feitas as devidas encomendas. Em Oliveira de Frades, há um "caldinho de frango" que é um manjar dos deuses, isto no Restaurante Estrela da Serra, em terra onde o frango do campo é rei e senhor; em Alcofra, procure-se a sopa seca, uma iguaria sem par.... Bom almoço!...

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Previsões certas na ideia, mas longe dos resultados...

Desde há meses, quando António Costa desceu de sua cadeira, na Praça do Município e declarou o seu "Eureka, esta é a minha hora", logo pensei que António José Seguro tinha, enquanto Secretário-Geral do PS, os dias contados. Vacilei um pouco na altura dos debates das Primárias, mas sempre com uma certa certeza que AC iria ganhar. Longe de mim, porém, a grandeza da diferença verificada e da geografia do voto, na medida em que quase 70% para AC e a sua vitória em 23 das 24 áreas territoriais dizem tudo. Ponto final, esclareceu AJS: no PS há candidato a Primieiro-Ministro e a tudo o que quiser nesta área partidária, que a sua demissão abriu as portas à sucessão de uma forma correcta e sincera. Esperava, porém, que no discurso de vitória AC tivesse uma palavra, uma só que fosse, para quem acabara de ser derrotado sem apelo nem agravo. Não gostei do seu silêncio a este respeito. E registo mais dois pontos interessantes e significativos: AC apareceu em palco sem gravata, cravo vermelho ao peito e isso pode fazer crer que essa é a sua marca. Mas falhar nas referências ao seu adversário é coisa que não entendo, nem aceito de ânimo leve. Prefiro estes gestos ao esquecimento propositado. Muito embora, confesso, nada ter a ver com a disputa em questão, há omissões que são mais cruéis que as palavras, isso há. E este foi, a esse respeito, um caso paradigmático. E é pena que assim tenha acontecido...

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Escolas do passado e do futuro

Escola de hoje e de ontem - Uma palavra para um luxo à maneira, em Oliveira de Frades Num Portugal assimétrico, desequilibrado, socialmente injusto, a Educação foi, em tempos idos, um perigoso factor de discriminação negativa. O nosso Interior está a pagar um pesado preço, ainda nos tempos que correm, em herança que vai, infelizmente, continuar no futuro, pelas falhas sofridas ao longo de décadas e décadas de um condenável abandono, imputadas aos poderes públicos, de tempos idos e de agora, que têm sido padrastos demais para as nossas terras. Verdade seja dita que o Estado Novo dotou o território de escolas primárias, sobretudo a partir dos anos quarenta e cinquenta em diante. Fê-lo por razões ideológicas e sociais, mais a pensar na industrialização do litoral e no mínimo de formação que deveriam ter os futuros operários do que nestes lugares em si mesmos. Mas também tem de dizer-se que cortou, quase pela raiz, as boas propostas que a 1ª República tinha instaurado, com modalidades avançadas para a época, que diminuiu a qualidade do ensino em termos de criar os conhecidos postos escolares, que não cuidou dos patamares seguintes como o ensino preparatório e liceal e ainda as escolas comerciais e industriais, atirando estes estabelecimentos apenas para as sedes dos distritos. Esse foi um erro fatal para o desejado desenvolvimento equilibrado que se pretendia para estas nossas zonas. Em busca de melhores condições de vida, despovoaram-se três das quatro partes do território continental e insular. A maioria das nossas gentes fugiu para os grandes centros, aí criando problemas de insustentabilidade habitacional e social do arco- da- velha, sobretudo em Lisboa e arredores, quando se encetou também a debandada para o estrangeiro europeu, aos milhares e milhares de emigrantes por ano, ora legalmente, ora a salto e haja o que houver, seja o que Deus quiser. Poderia não ter sido assim, se tivesse havido mais políticas públicas em favor das nossas Regiões. Não as dotando de serviços, infraestruturas e equipamentos, o poder central de então lavrou a sentença atroz: sair do Interior custe o que custar. Foi o que aconteceu, em massa durante os anos cinquenta, sessenta, sobretudo, para se ressuscitar, na actualidade, esse lamentável perigo das idas sem retorno de nossos jovens e demais pessoas em desespero de causa. Ontem, por umas razões, hoje, por essas e outras. Se olharmos para o facto de, em Lafões, o ensino pós-escola primária ( é este o termo mais conhecido pelo nosso povo) só ter aparecido com uma certa força nos anos sessenta, em Vouzela e Oliveira de Frades, quando, em S. Pedro do Sul, viera uns curtos anos antes, mercê da iniciativa privada em avançar com os Colégios, temos a prova de que se não andou a tempo de evitar o desastre. Pelo meio, convém dizer-se que, em Oliveira, houve uma outra experiência do mesmo género, de boa memória, em décadas anteriores. O Estado, a medo e às pinguinhas, só aqui entrou no sistema já praticamente em setenta e tais, primeiro com o 2º Ciclo, alargando para o 3º e só muito mais tarde se atreveu a criar, nos três concelhos, o 10º. 11º e o 12º anos ainda, neste caso, muito mais devagar. Dir-se-á agora que as escolas de outrora estão a fechar e a esvaziar ainda mais as nossas povoações. Essa é uma verdade incontestável, mas os factores que a isso conduziram têm raízes nos tempos que antecederam a actualidade. Se as pessoas tivessem ficado, apesar da diminuição da natalidade, não teriam havido muitos dos cortes que, a esse nível, estamos a sofrer. Com excessos condenáveis, é óbvio que alguns ajustamentos eram necessários, mas não na dose cavalar com que foram concretizados. Em termos gerais, falharam as escolas, a saúde, as vias de comunicação, os equipamentos sociais e culturais, sendo que muitas ligações e infraestruturas destas, que hoje por aí existem, são fruto dos poderes locais democráticos posteriores a 1976 e, sobretudo, são filhas dos fundos europeus. Até estes momentos, era a miséria que sabemos, que se estendia a fracas condições de habitabilidade, à tardia vinda da energia eléctrica e estas são verdades que doem e nos têm atormentado sempre. Por isso, Lafões viu fugir a sua maior riqueza, os seus habitantes. E, agora, que fazer para fazer inverter este negro quadro?... Oliveira de Frades, uma Escola de outra galáxia Feitas estas considerações, passemos a uma outra constatação, a de que, no oito e no oitenta, o concelho de Oliveira de Frades, veio a herdar uma das melhores e maiores escolas secundárias executadas pelo “Parque Escolar” nos últimos anos. Fala-se na ideia de que é a segunda, logo atrás da “Quinta das Flores” em Coimbra, nesta última fase. Pelo que vimos, não nos custa acreditar que assim seja. Em visita agendada com o Professor José Viegas, que acompanhou a par e passo estas obras, e levada a cabo pela Directora, Dra. Jorgina Rolo e sua Colega de gestão, Dra. Ana Paula, por ali andámos parte de uma enriquecedora tarde. Olhos arregalados, para nós que ali leccionámos pouco tempo depois de ter sido inaugurada a velha-nova Escola, em 1987, nem queríamos acreditar no que víamos em extensão, em profundidade e em aspecto (fora alguns pormenores que deixam bastante a desejar, como as portas, etc, etc,), porque aquilo é obra de nos fazer crescer água na boca, que ali apetece ir e ficar. Eis alguns bons tópicos: uma sala por turma, mais salas específicas para actividades diversas, laboratórios topo de gama, a fazer inveja a muita universidade, pavilhão desportivo cinco estrelas, instalações para professores, trabalho e tempos livres, com uma qualidade invejável, sendo que o nosso termo de comparação tem cerca de trinta anos, campos de jogos vários, bom refeitório e loja de produtos didácticos, oficinas de mecânica e carpintaria de bom nível, salas de directores de turma e para encarregados de educação, serviços de secretaria com apreciável aspecto, um tamanho que dá para projecções optimistas a vários anos. Enfim, uma obra que vale a pena ver e desfrutar. Mas também tem manchas negras, como sejam o diminuto espaço aberto para os cerca de mil alunos que ali têm aulas, para tempos de Inverno, a qualidade de alguns materiais nas portas que deixa muito a desejar – a vimos algumas delas a caírem, literalmente -, um anfiteatro enorme horizontal, que nega a boa observação de quem nele se sentar, sinais estes de que nem tudo foi bem pensado e concretizado. Para terminar, uma Escola destas merece que a população a faça usar até ao limite das suas capacidades e que todos os que a “habitam” sejam dignos da qualidade que ostenta, porque perto de 19 milhões de euros ali gastos falam por si. Oliveira de Frades pode orgulhar-se deste empreendimento, que tem razões para isso. Ainda bem. Carlos Rodrigues, NV, 2014/09/18

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Pedido de desculpa de S. Pedro

Meus caros amigos aí debaixo: quero pedir-vos desculpa pela chuva que vos tenho enviado, mas vou tentar remediar a situação dentro de dias. Já agora, um esclarecimento: a razão deste meu desabafo colhi-a nas recentes declarações dos Ministros portugueses da Educação e da Justiça que criaram mais tempestades que eu próprio e tiveram a "coragem" de tomar idêntica atitude. Dou-lhe os meus parabéns por isso, mas no Céu só entram se, agora, forem capazes de desfazer o mal feito... Palavra de S. Pedro, o detentor das chaves do Paraíso...

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Um amigo da COISA pública

Ao sabermos que o FISCO já lançou, até agora,2,3 milhões de ordens de penhora, gostaria de ver o Estado tão ligeiro em pagar a quem deve. Mas essa é outra história. Como me sinto amigo da COISA pública, que é algo que pertence a todos nós, deixo aqui um desafio, que é um lamento e um desabafo ao mesmo tempo: que os poderes centrais se apressem em rentatibilizar uma boa parte do seu património que anda para aí a cair aos bocados, começando pelas Casas dos ex-guardas florestais, essa preciosa gente, pelas dos Cantoneiros, pelos Cartórios Notariais, pelas Casas dos Magistrados (que, a nosso ver, até são, em muitos casos, dos Municípios)e, já agora, pelos Tribunais, alguns deles ainda a cheirar a tinta nova, recentemente encerrados. Estas, sim, estas é que são boas medidas, mas isso dá trabalho e, então, liga-se-lhe pouco, ou nada. Triste estado a que o Estado chegou!...

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Um mau/bom conselho...

Tal como temos dois bancos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, um bom e outro mau, também me sinto no dever e no direito de expressar a minha opinião, boa para uns, má para outros, atrevida para uns tantos, estapafúrdica para outros, e que é esta: ao começar um novo ano lectivo, que nasça nas nossas Escolas, de alto a baixo e da esquerda para a direita e vice-versa, um MOVIMENTO que passe a usar o VELHO ACORDO ORTOGRÁFICO e que mande dar uma volta a asneira oficial que para aí grassa, para mal da nossa cultura. Por mim, enquanto puder, é assim que actuo, teimosamente à antiga portuguesa...

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Terras com gente no Verão, despovodas no resto do ano

Terras com gente dentro, estando fora Se parece um paradoxo este título, cremos que faz todo o sentido aplicá-lo no contexto em que o projectámos. Estando a lembrar-nos daquelas nossas povoações, desertas praticamente quase todo o ano, mas com carradas de vida e sorrisos pelo menos em Agosto, está explicada a razão de ser desta escolha jornalística. Migrantes em partes infindas, cá dentro, ou lá fora, há razões do coração que os atraem, ano a ano e, agora, felizmente, até mais do que uma simples visita de 365 em 365 dias, e os puxam para suas terras de origem. Este é um segredo do comportamento humano que é de difícil compreensão. É assim e assim mesmo. Em viagens por diversos locais, no foro interno, aquilo que, outrora, chegou a ser “condenado”, porque ofensivo de padrões de construção tradicionais, hoje é marca sagrada de quem aqui quis vincar parte da cultura bebida por onde se anda. As casas dos emigrantes trouxeram novos traços, materiais diferentes, conceitos arrojados e impuseram-se nas várias paisagens. Com elas vieram opções de dignidade e conforto, que agora são indiscutíveis. Recuando, também o estilo manuelino chocou com padrões então existentes e o próprio Mosteiro dos Jerónimos deve ter posto muita cabeça a ferver. Por aqui, talvez a Ponte do Caminho de Ferro, em Vouzela, e a sua irmã de Pinheiro de Lafões, ou a de S. Pedro do Sul, muito provavelmente, também foram vistas como elementos a mais no tecido arquitectónico destes aglomerados populacionais. Impondo-se, ninguém as discute, todos as acarinham e gostam de valorizar. Porque são já emblemas e selos inseparáveis de cada uma destas paragens. Neste momento, porém, nem é destas obras que pretendemos falar. São as acções, materiais e imateriais, desenvolvidas por esta boa gente, que nos fazem evocar estes pensamentos. Ao vermos que, por exemplo, numa pequenina povoação, Póvoa das Leiras/Candal, foi possível erguer uma nova Capela dedicada à Nossa Senhora da Paz, pegando no xisto ali existente, que também foi usado no Palco e vedações daquele espaço, com o incrível esforço de quem partindo, nunca dali saiu, temos um vivo testemunho daquilo que pode o amor ao chão sagrado que todos transportam consigo por esse mundo fora. Impressionados com a beleza daquele lugar, com as suas muitas casas restauradas, muitas delas com o xisto preto como cobertura, em louvor da identidade local, com o arranjo, nos anos de 2012 em diante, daquele espaço festivo tão agradável, tentámos inquirir se ali havia gastos municipais ou afins. A nossa fonte, clara e abertamente, logo nos disse, com um brilhozinho nos olhos, que nada disso acontecera. E o milagre deu-se. Uma migalha francesa, outra lisboeta, alemã, suíça, luxemburguesa, brasileira, americana ou portuense, todas, em conjunto, foram o suporte para aqueles feitos. Em Agosto, para vincar a ligação ao berço, há festa na aldeia com o seu alto patrocínio e apoio activos. Trazido aqui este apontamento, é certo e sabido que pode replicar-se por muitas outros de nossos povos. Em qualquer sítio por onde andemos, muitas são as obras públicas em que há contributos deste género, muito embora com gradações diferentes, mas todas elas a fazerem-nos ver que a emigração é um passo para o enriquecimento de nossas comunidades. Ainda bem que assim é. Devemos um enorme respeito a toda esta gente. Quase ninguém saiu por gosto. Muitos tiveram de abalar porque o solo pátrio lhes foi padrasto agreste, seco, duro e indesejável, aqui não podendo dar azo a suas capacidades e potencialidades, que o Estado também não se tem portado à altura com estes espaços do Interior, bem pelo contrário. Apesar de terem de se ausentar por falta de condições, não subsiste nenhum azedume, nenhuma dor de alma por assim ter sido, mas um enorme desejo de se ser útil a cada terra hoje em risco de um atroz despovoamento. Havendo orgulho nas origens, dando-se tudo pelo sucesso pessoal e profissional, cada português, em regra, é a prova de que, com outra organização, se é dos melhores entre os melhores. E isso deve pôr-nos todos a bater palmas e a bendizer estes nossos irmãos que, ano após ano, aqui voltam, coração apertado, mas muito aberto. Mas não é dos últimos tempos este sentimento de entrega a causas locais. Andando uns centos e muitos anos para trás, topamos logo com o Conde de Ferreira e as escolas que criou por todo o nosso Portugal. A uma escala local, lembramo-nos do Comendador Manuel Martins Gomes e a sua acção em prol das Bibliotecas escolares de Lafões e a construção do edifício imponente do ensino primário na vila de Oliveira de Frades. Grandes homens foram estes e outros!. Aqui perto, em Campia, os irmãos António Salomão Dias e Amadeu Rodrigues Tavares, que vivem na Venezuela, são um claro e evidente testemunho de quanto pode o gosto activo em ajudar a sua terra. Sem querermos enumerar muito do que ali têm ajudado a pôr de pé, a lista seria imensa. Num outro patamar e tocando apenas nalgumas referências muito pessoais e muito amigas, não se pode esquecer o trabalho que os nossos emigrantes fazem nas terras que os acolheram. De raspão, citamos dois vultos e estrelas de primeira grandeza: o Comendador José Ferreira Trindade, no Luxemburgo, e Fernando Almeida, em Augsburgo/Alemanha, onde chegou a desempenhar cargos de topo municipal e regional. É com gente esta fibra, uns cá e outros lá, que se tece a manta quente da nossa emigração. Um grande abraço para todos. Carlos Rodrigues, “Notícias de Vouzela”, 4 de Setembro de 2014

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Agosto quase no fim....

Espero que os nossos Governantes, aqueles que não andaram pelos Algarves ( qual agulha em palheiro!), saibam ler demografia e migrações: depois de Agosto, em que as nossas aldeias se enchem, aí vêm mais onze meses de deserto populacional: Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul vão sentir esta tristeza e o país, a sete passos do mar, não deixa de sentir o mesmo... Azar nosso, ancestral e pouco cuidado ao longo de décadas...Olhe-se para ISTO, meus Senhores!....

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Emenda

Afinal, o "Verão Total" da RTP trouxe mesmo calor a dobrar e chapéus de palha, com divulgação concelhia, vimos muitos... Aqui fica a correcção...

" Verão total" da RTP em Vouzela, hoje

Num périplo por várias terras do nosso País, a RTP trouxe hoje o seu "Verão Total" a Vouzela. Boa ideia. Há, no entanto, um pormenor atmosférico que importa realçar: por mais calor humano que ali se consiga transmitir - e é muito - em termos de tempo, não conseguiu trazer-nos um Verão a sério, pois há diferenças de temperatura assinaláveis. Felizmente, por outro lado, as más memórias de 2013, sendo uma presença constante, pelos efeitos nefastos que causaram nas nossas florestas, mas, sobretudo, pela morte de gente que nos era muito querida, este ano não se verificam. Na nossa mente, temos a interpelar-nos Bombeiros e o Prof. Mendes, então Presidente da JF de Queirã, que tombaram para sempre. Esta vinda, em festa, não pode alhear-se dessa triste realidade. Como quer que seja, Vouzela está hoje nas bocas do mundo. Boa!...

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

ADDLAP com vinte anos de vida, in "Notícias de Vouzela", Jul2014

ADDLAP assinala vinte anos de acção local e regional Num percurso iniciado em 22 de Julho de 1994, depois de um longo e duro período de negociações, em dois níveis, localmente, para a constituição da Associação e respectivos elementos e, num outro patamar, com o governo e a União Europeia para negociar fundos e projectos a implementar no terreno, acabou por nascer a ADDLAP – Associação de Desenvolvimento Dão Lafões e Alto Paiva, com sede em Viseu e a incluir ainda os municípios de Oliveira de Frades, Vouzela, uma parte territorial de S. Pedro do Sul, que outra estava já ligada à ADRIMAG, a zona rural de Viseu e Vila Nova de Paiva. Por duplo dever de ofício nessa altura, tive a honra e o privilégio de participar, desde a raiz, em todo este processo, incluindo a fase da decisão, que aconteceu no Hotel Penta, em Lisboa, após uma série de sessões para esse fim. Desses dias, guardo para sempre a memória do Eng. Matos, Vereador na Câmara Municipal de Viseu, que nos deixou a meio desta criativa viagem. A minha homenagem e a minha saudade. Por ter sido parte integrante, nem sei onde começa a razão e acaba a emoção e vice-versa, mas vou tentar ser objectivo e imparcial neste trabalho jornalístico. Quando os citados municípios se lançaram nesta aventura, congregando boas parcerias locais, à base de entidades associativas, estavam longe de imaginar qual seria o sucesso daquilo que então se arquitectava. Com a mente posta nos nossos territórios, aqui vistos como um todo, nunca nenhum de nós esqueceu as suas origens e o próprio nome da Instituição isso mesmo confirma: Dão, Lafões e Alto Paiva. Perante realidades tão distintas e complementares, durante os doze anos em que estive ligado a esta Casa, não foram fáceis, em muitos momentos, as devidas negociações, mas imperou sempre o bom senso de não se perder pitada dos fins gerais que se tinham em vista. Valeu a pena que assim tivesse acontecido. Neste dia 22 de Julho, sinto um misto de comoção, de dever cumprido, de saudade, de homenagem, recordando amigos que estiveram comigo e connosco nesses dias de grande agitação inicial, como sejam o Eng. João Maia e o Eng. Matos, que partiram já para a eternidade e, na festa do aniversário, ali não compareceram, mas estiveram presentes, de certeza. Em testemunho na primeira pessoa, sei quanto trabalhámos todos em favor deste projecto. Fazendo-o com gosto, sabíamos que iria dar certo. E deu. Passados estes anos, foram aprovados e concretizados cerca de 560 projectos, no valor global de 31 milhões de euros, em áreas diversas e com finalidades diferentes, mas complementares. Ainda há meses, avançaram mais 14 iniciativas com um custo de 1.4 milhões de euros e um financiamento da ADDLAP de 880 mil euros. - O que é a ADDLAP Mas o que é a ADDLAP, afinal? É uma estrutura associativa, uma entidade sem fins lucrativos que actua numa área de 1372 Km2, com sede em Viseu, actualmente gestora do Subprograma 3 – “ Dinamização das zonas rurais, abordagem LEADER do Programa de Desenvolvimento Rural, Continente/PRODER”. Para a sua concretização, garante a implementação da ELD – Estratégia Local de Desenvolvimento e dos projectos de agentes privados, empresas, autarquias e outras organizações sectoriais. Integrando esta filosofia num “Território da ADDLAP, um interface vivo, inovador e criativo, onde o rural e o urbano se complementam”, a Parceria GAL (Grupo de Acção Local) tem na actuação em proximidade a chave do seu êxito. Nesta altura, tem em curso as Medidas 3-1 – Diversificação da economia e criação de emprego; 3-2 – Melhoria da qualidade de vida; 3.3 – Implementação da Estratégia de Desenvolvimento Local; 3-4 – Cooperação LEADER para o Desenvolvimento e 3-5 – Funcionamento dos Grupos de Acção Local, aquisição de competências e animação. Com a sustentabilidade das decisões tomadas nestas esferas de programas, junta-se ao conhecimento do espaço onde actua uma forte componente de divulgação, contactos e participação que suscita por parte dos interessados no desenvolvimento de nossas comunidades. Desse exercício de gestão partilhada e motivadora, por nascer de dentro para fora e de baixo para cima, nasce a obra feita e que está à vista de todos nós. Neste dia 22 de Julho de 2014, vinte anos depois do seu nascimento oficial, a ADDLAP acabou de mostrar mais dois importantes documentos e ferramentas essenciais para as suas tarefas do futuro: a apresentação da Estratégia de Desenvolvimento Local DLAP, DLBC 2014/2020 e respectivo Acordo de Parceria para a sua programação e implementação. Com esta visão, será mais fácil o caminho a percorrer, por mais pedras que apareçam pela frente. Em dia de festa, vendo que aqui há um pouco de mim mesmo, sinto-me satisfeito e um pouco vaidoso. O legado que deixámos, todos, está bem entregue e tem boas pernas para andar. Ainda bem que assim é. Carlos Rodrigues, Notícias de Vouzela, 2014

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Gosto da malta das Finanças mas pouco ou nada das Finanças em si...

Grandes amigos tenho eu nas Repartições de Finanças, sobretudo de Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul (onde um seu funcionário e meu bom amigo, o Víctor, saiu para ocupar o lugar de Presidente de CM), de Vouzela e outros locais. Mas, para dizer a verdade, não é sítio que me apeteça frequentar. Cheira-me logo a esturricado quando por lá passo. Sei que é uma instituição que guarda os nºs das nossas propriedades - mas não faz prova de que são ou não nossas, isso só no "Registo" - e que, a esse propósito, é um bom arquivo. Só que, azar meu, dou sempre comigo e pensar em impostos quando se fala nestas casas. Por isso, não me são agradáveis. E como não tenho por hábito esquecer 14 milhões de ofertas (???), veja-se o castigo que passo... Escrevo agora estas linhas para me solidarizar com estes funcionários em termos de sobrecarga de trabalhos: já tinham de cobrar as portagens que não eram pagas e, neste momento, até as taxas moderadoras do SNS lá vão cair. Coitados! Qualquer dia, põem aquela boa gente a medir o ar que respiramos e a aplicar os devidos impostos. Vou já começar a inventar uma fábrica de fazer máscaras, antes que isso aconteça...

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Vagueira com cara e vida nova

Sem se poder fazer uma leitura directa de causa-efeito quanto aos resultados eleitorais, o certo é que na Vagueira/Vagos, com novo Presidente da CM, nova Vereação e, mais ainda, novos órgãos autárquicos gerais, a nossa ideia é a de que as mudanças, positivas, agradáveis (mas ainda não suficientes), nesta Praia são bem evidentes.O Largo Principal ganhou vida e dinâmica. Espectáculos, exposições, actividades diversas, como a presença (por estes dias do Champimóvel, essa Fundação do outro mundo a nível científico), as barracas de artesanato, os barzinhos, são ali uma presença muito agradável e de aplaudir. A cultura e o desporto aumentaram de intensidade e qualidade. A terra tem mais atractibilidade. Mas faltam-lhe toques de beneficiação e modernização que muito esperamos. O Paredão ainda é uma lástima. Os jardins e espaços verdes precisam de toques de arte que teimam em não surgir. A Perlimpimpim navega muito em mar alto, cheia de criatividade, em todos os campos: a presença de artistas, mesmo de nível internacional, é uma constante. Com uma inovação e genica a toda a prova, Aldina Ribeiro teima, teima, teima e vence. Parabéns. A gastronomia local, com as enguias e os carapaus à Vagueira, têm lugar marcado por aqui. O Kikito é, a esse propósito, um bom e recomendável exemplo A pesca em arte xávega continua, por enquanto. O sol põe-se com uma magia inacreditável. A praia está VIVA a terra MEXE. Mas têm de ir mais LONGE e de serem mais arrojadas. Dar tempo ao tempo é uma boa regra sociológica, mas não resiste a falhas por muito mais tempo. CM e Ministério do Ambiente têm de conjugar estratégias e darem as mãos em acções de fundo, para o futuro. Pôr pás de areia onde é preciso actuar a fundo é tapar o sol com uma peneira e não é isso que a Vagueira carece. Está na hora de dar o salto. Ponto final.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A minha Feira de S. Mateus, Viseu, NV, 7 de Agosto

Feira de S. Mateus sob o signo da modernidade Apresentar um Cartão do Cidadão com 622 anos de idade não é para a Feira de S. Mateus, em Viseu, qualquer sinal de estagnação, muito pelo contrário: é antes um estímulo para, mantendo a tradição, ser capaz de inovar para, como acentua a página da Internet deste importante certame, fazer reconciliar a cidade dos viseenses com a sua festa, construir as memórias das novas gerações, atrair outros públicos e criar um verdadeiro pólo de turismo. Com estes objectivos, lançou mão de um vasto programa que se irá desenrolar entre os dias 8 de Agosto e 14 de Setembro. Sob o lema “Nós feirar”, haverá 7 grandes concertos, 50 eventos e exposições, diversão em 9000 m2, 30 tascas e restaurantes, 35 Dão Sabores de Portugal, entre uma enorme panóplia de actuações musicais e culturais, de modo a fazer promoção da cidade e da região, divulgando memórias, numa evidente projecção para o futuro. Anunciando-se um novo ciclo para esta Feira de S. Mateus, até a citada página WWW mostra isso mesmo: no momento em que a abrimos, na tarde de segunda-feira, dia 4, assim ali circulava: faltam 4 dias, 1 hora, 32 minutos e 57 segundos, um sinal de modernidade, mais um, que se regista. Com o Espelho de Água agora apetecível (longe vai o Rio Pavia de meter medo e fazer tapar o nariz, felizmente), este é mais um complemento a ajudar ao êxito desta iniciativa. Também o sistema mecânico de controle de entradas se insere neste espírito inovador, assim como o estudo de impacto económico e comunicacional da Feira, tarefa que cabe ao Instituto Politécnico de Viseu vir a apresentar, para apreciação futura e para vir a ser, provavelmente, mais um instrumento de trabalho. Na mira estão, para já, ainda os Dias do Emigrante (16 de Agosto) e de Viriato (31). Como grandes cartazes, citemos: Paulo Gonzo (9), João Pedro Pais (15), Tony Carreira (16), Blind Zero (17), Xutos e Pontapés (23), Ana Moura (28), Rita Guerra (30), Santamaria (31), Linda Martini ( 6 de Setembro), Quim Barreiros (7) e Emanuel (13). Num espaço que ronda os dois hectares, haverá cerca de três centenas de expositores nesta Feira/Festa de S, Mateus 2014, renovada mas sem se descaracterizar, sendo que ali poderemos encontrar as célebres enguias e farturas, assim como mais uma boa série de muitos motivos de interesse. Com um orçamento estimado em 500 mil euros em despesas de organização e funcionamento, o retorno está antecipadamente assegurado. Só o nome e a marca que encerra vale tudo isso e muito mais. Com alguns espectáculos a serem pagos, há, porém, uma modalidade que cobre todos eles: um bilhete geral no valor de 30 euros é ingresso comprado para qualquer das acções ali levadas a cabo. Tudo a postos, amanhã, dia 8, começando esta edição mais cedo que as anteriores, Viseu oferece-nos a Feira que todos esperamos e desejamos. Por aquilo que dela conhecemos e pelas mudanças agora em curso, vale a pena ir à Feira de S. Mateus, até como ponto de encontro para muitos amigos se reverem e matarem saudades, que é também um aspecto a considerar. Carlos Rodrigues, in "Notícias de Vouzela", Agosto 2914

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Reinventar o interior, NV, dia 31 de Julho de 2014

Reinventar o Interior Pela nossa percepção e por aquilo a que temos vindo a assistir, o interior português está em maus lençóis e pouca gente há que lhe queira valer. A sua recuperação já não se consegue com o voluntarismo de quem com ele sonha, nem com meias medidas, exigindo antes uma postura de estado, em acordo de regime, que leve a que se olhe para esta realidade de uma maneira totalmente nova e criativa. Não chega querermos vender capuchas e peças de artesanato, não basta ter-se uma ou outra empresa credível e a criar riqueza, é preciso reinventar tudo de novo. O Estado, por mais que se apregoe para aí que o mercado é que nos deve comandar, tem de entrar em acção e com força. Se isso não acontecer, este nosso País, a duas velocidades e a dois tempos, torna-se insuportável e injusto. Até estes dias, é o litoral (leia-se Lisboa, Porto e arredores) que concentra atenções, que absorve as fatias de leão de todo o investimento, que, usando a técnica da sanguessuga, nos fica com todo o sangue, nos vai comendo a carne e se prepara para nos roer os ossos. Se nada temos contra esses grandes Centros, a nossa mágoa, luta e frustração nascem desta evidência; para esses crescerem, mingou todo o restante território e isto é inaceitável. Sendo assim, agora e com uma visão de futuro, há que olhar para estas questões cruciais de uma outra maneira, porque as “… Políticas de desenvolvimento rural devem combinar estratégias globais com políticas territorialmente adaptadas e específicas…” – In” João Ferreira de Almeida - Debates, Presidência da República, Perspectivas de Desenvolvimento do Interior, INCM, 2ª edição, 1998, p.28”. Medir tudo pela mesma rasa não cria igualdade, faz disparar distúrbios regionais. É esta lição que os Governos têm de saber aprender. E aplicar. O nosso País está dinamitado de situações anómalas e nocivas da coesão social. O Acordo de Parceria 2014/2020 ou serve para combater estas chagas, ou será mais um embuste em termos de políticas públicas nacionais e europeias. Desta forma, ou se avança com medidas que façam despertar o Interior, ou teremos mais do mesmo, agravando velhas feridas e convertendo-as em doença crónica e mortífera. Precisamos de programas territoriais com gente dentro, temos de saber captar talentos, apoiando-nos nas nossas identidades, mas dando-lhes mais vida e mais VAB – Valor Acrescentado Bruto, ou melhor, mais poderosos Índices de Desenvolvimento Humano, que a estatística não pode ser a única balança a reger nossas vidas. De números estamos nós cheios. Queremos é outras visões, novos olhares e novos actores, em que sejam parceiros as pessoas, as entidades locais, a sociedade no seu todo, o Estado e quem vier por bem, com ideias de desenvolvimento endógeno, nascido de dentro para fora, que quem mande e imponha teses do diabo, vindas de cima, de corredores engalanados de plumas, já houve que chegue e não mais desejamos que nos atormentem. Com Expressos a demorarem, circulando por Viseu, sete horas e quinze minutos para ligar Bragança a Lisboa e cerca de nove horas perdidas e gastas para fazer o trajecto Miranda do Douro/Capital, estamos conversados e, numa linguagem fria, tramados de todo. Assim, isto não vai lá. Adoptando um conceito “IKEA”, passe a publicidade, ambicionando uma terra melhor todos os dias, importa conseguir-se uma estratégia de sustentabilidade 2020, com pessoas num planeta positivo. Actuamente, o que há contraria toda esta filosofia: foge-nos a gente, ficamos sem ninguém e o Interior teima em continuar a passar por caminhos de um negativismo quase total. Salva-se apenas a saudade, mas esta não nos sossega de todo, nem faz com que as nossas povoações regurgitem de vida, que é o que é mais urgente e mais necessário. Numa partilha de projectos e vontades, seremos capazes de fazer inverter estes tenebrosos quadros. Para se reinventar o Interior, como acentua o Presidente da República actual, são fundamentais os compromissos de longo prazo (Roteiros, 2014) e isso ultrapassa tudo aquilo a que, de momento, estamos a assistir. Com querelas partidárias e jogos floreados de poder, com a comunicação social toda virada para o BES e pouco mais, por mais grave que seja a sua situação, até nos esquecemos que está na hora de pensarmos em Portugal e, dentro de suas fronteiras, nas Regiões que tão abandonadas têm andado. Dito de outra forma: agarre-se no Acordo de Parceria e ponha-se este ao serviço da correcção das desigualdades que nos arrasam e nos matam de todo. Se assim não vier a acontecer, resta-nos o direito supremo à indignação. Mas é pouco, pouco demais. CR

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Três temas, um mau e dois bons

- PONTO UM, PÉSSIMO - Ontem, à noite, em minha casa, na encosta da Serra do Ladário, com festa em Reigoso, chegou-me uma triste e má notícia, que se adivinhava: O BES faliu e quem vai pagar esta trapalhda toda e estas fraudes somos nós, muito embora tenham querido dourar, na comunicação do Banco de Portugal,aquilo que nos parece óbvio, isto é, o Estado vai ter de se atirar para a frente, mais dia menos dia. Estamos lixados: vamos pagar isto com língua de palmo. - PONTO DOIS, BOM - Há dias, foi inaugurada, na Vagueira,na Perlimpimpim, uma exposição sobre a "EN 333, a estrada dos VV - Vagos a Vouzela", que tive o prazer de organizar. Presentes ali estiveram os Presidentes das CM em questão e isto já começou a dar bons resultados: em Vagos, os marcos foram arranjados e pintados e, em Vouzela, este trabalho está patente no átrio do Auditório 25 de Abril, avançando para outros locais dentro em breve... Valeu a pena... - PONTO TRÊS, também BOM - Vouzela tem uma nova Rota, a do Pastel de Vouzella (assim, com dois ll)e teve um Ministro, Poiares Maduro, a inaugurá-la, assim como o Espaço do Cidadão e o Albergue do Couto-Alcofra, em escola desactivada, esta há muitos anos, tendo passado ainda pela Constálica, um importante empresa desta Região de Lafões... Não fora aquela batata quente do "Novo Banco" e a semana tinha sido assim-assim. No domingo, à noite, estragou-se tudo...

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Pensada a Escola em 2012, mas com lições actuais

A escola de hoje Saímos para a rua com um trabalho, coordenado pela Salete Costa, em que se fala das classificações das escolas que os poderes públicos fazem publicar anualmente. Tendo nós, a nível pessoal, uma posição muito crítica a esse propósito, porque achamos que se parte de premissas completamente díspares, a realidade é o que é: as listas em causa estão cá fora e, agora, são objecto de análises e interpretações de todos os tamanhos e feitios. Não é desses aspectos, porém, que queremos tratar. Move-nos uma outra ideia: tentar caracterizar a escola actual, em comparação com a de outros tempos, não recuando sequer a séculos atrás, mas apenas a algumas décadas. Em primeiro lugar, temos, sociologicamente, uma sociedade completamente alterada, sobretudo no tecido ocupacional do mundo do trabalho. Felizmente há outras mudanças de vulto e a mulher conseguiu a dignidade de poder, por mérito, aceder a esse mesmo campo de funções, antes confinadas ao ramo masculino. Olhando para as nossas aldeias, a sua agricultura, que tinha a família em redor da casa-mãe, podendo as crianças ir à escola e, muitas vezes, vir almoçar com a sua gente, permitia essa mobilidade curta e sempre muito ligada às saias maternas e até às calças dos pais. Hoje, nada disso acontece: os locais de trabalho são outros, os horários mais rígidos e tudo isso complica o anterior sistema. Por outro lado, até os estabelecimentos escolares, referentes aos primeiros anos, desapareceram dos locais em que se encontravam, a dez metros do lar. Em segunda opinião, o que se passou na área das propostas de novos meios de conhecimento e informação, quer pelo aparecimento da televisão (1957), quer, muito mais recentemente, pelo fenómeno das novas tecnologias e, sobretudo, da Internet, pôs tudo em questão e a escola ganhou novos concorrentes, quiçá, muito mais atraentes e muito mais atirados para a frente… Resistir a esses apelos e querer pegar em livros é um verdadeiro acto heróico nos dias que correm. Quem assim procede – e muitos são os brilhantes e esforçados alunos que não dispensam esses materiais sempre eternos, ainda que parecendo cair em desuso – merece toda a nossa consideração e respeito. Mas há muitos mais pontos a considerar: entre eles está a lógica evolução do sistema que fez com que se fosse, passo a passo, aumentando os níveis de escolaridade obrigatória: ainda há décadas, às mulheres só se exigia a chamada 3ª classe e a 4ª para os homens. Veio depois, quase nos nossos dias, o 6º ano; há pouco tempo, o 9º e, neste momento, está em curso a generalização do 12ºano… A nível de respostas em estruturas destinadas a estas finalidades, então a diferença é abismal: este ano de 2012, por exemplo, assinalam-se os 50 anos de Colégios locais em Vouzela e Oliveira de Frades, após algumas experiências anteriores terem falhado. S. Pedro do Sul tinha, poucos anos antes, avançado com uma dessas apostas. Mas era em Viseu, no sólido Liceu, que se tinha de prestar provas, pois estas Casas de ensino não possuíam suficientes poderes para essa creditação final. No meio de tudo isto, em pouco mais de meia dúzia de jovens que iam para além da citada 4ª classe, muitos conseguiam esse objectivo através dos Seminários, que importa valorizar e não esquecer este seu determinante papel cultural. Hoje, com escolas cinco estrelas, como pode assim ser classificada a renovada Escola de Oliveira de Frades, com meios de toda a ordem ao alcance dos seus educandos e docentes, com apoios alimentares e sociais (muito embora haja, nestes tempos conturbados muitas nuvens negras a este respeito), com redes de transportes mais eficientes, com a proximidade de muitas decisões em sede de autarquias, quase parece estar tudo criado para um sucesso sem paralelo. Mas não está, nem de longe, nem de perto. E porquê? Temos para nós que as condições físicas de eleição, sendo um meio poderoso, não são o essencial. Se não houver motivação, se os horizontes da nossa juventude se encontrarem tolhidos por uma sociedade que atrofia seus sonhos e despreza seus conhecimentos, se os professores se vêem continuamente desvalorizados, se as famílias sentem que seus filhos, por mais que estudem, não encontram mercado de trabalho à altura, temos aí todos os condimentos negativos para o falhanço de todo o sistema. Por isso, a educação de hoje, tendo aparentemente tudo para ser feliz, precisa de uma “Escola Segura”, a cargo de forças policiais, para desempenhar a sua nobre e gratificante função, essencial e inalienável. Por isso, o sucesso não é aquele que corresponda a tantas “benesses”, nem os resultados reais são aquilo de que a sociedade precisa, muitas vezes. Há ainda um tópico muito mais decisivo: a Escola precisa de ir aos valores buscar a sua própria essência, que estes devem andar de mãos dadas com a ciência, ou seja, a educação e a instrução têm, obrigatoriamente, de caminhar juntas. Ou seja: é preciso reinventar a educação autêntica e fazer dela um íman que atraia pela positiva e não pela obrigação constitucional a ida dos nossos alunos para esses locais de formação, primeiro, informação, depois, aceitando nós que tudo isto apareça ao mesmo tempo. Desprezar uma ou outra destas componentes é matar este projecto lindo de termos a escola mais culta de todos os tempos… Carlos Rodrigues, ano de 2012, “Notícias de Vouzela”, mas com muitas semelhanças em finais de Julho de 2014

terça-feira, 15 de julho de 2014

A vida é o que é (e era), assim vista, há tempos, no Notícias de Vouzela

A vida é o que é Enquanto por aqui andamos, temos obrigação de fazer pela vida, isto é, dar o nosso melhor, que o futuro não se compadece com a apatia de quem ou não quer, ou não pode ir em frente. Se as forças nos vedam a possibilidade de lutar ( e, infelizmente, muita gente nossa amiga, e outra por esse mundo além não têm meios de fazer o que, talvez, quereriam), apenas resta que essa falha seja compensada com a generosidade da outra parte da sociedade, aquela que está na plena posse de suas faculdades. Mas o pior é quando se teima em nada levar por diante, podendo. Nesta última situação, isso é muito mais grave. Ao corrermos as nossas ruas, vemos o esforço e a coragem estampados no rosto de quem se esforça por lutar por si e pelos outros. Mas topamos também várias pessoas que, aparentando uma boa saúde, para ali estão, como se nada fosse. Das duas uma: ou vêem que não vale a pena essa viagem, por terem seus sonhos desfeitos e, então, há que apurar o que se passa, ou são mesmo assim, uns deixa-andar, esperando que tudo lhe venha ter a casa de mão beijada. Se formos mais longe e, após uma espreitadela pelas mesas dos cafés, por exemplo, descortinarmos sempre as mesmas caras, muitas delas com uma tez de fazer inveja, há outro raciocínio a fazer: há ali mandriice e com essa o País, que tanto precisa do nosso esforço empenhado, não pode nem deve contar. Mas há um dever que se impõe: fazer com que todos dêem corda aos sapatos e não se fiquem nas encolhas desse mesmo entediante deixar-correr. Não queremos fazer aqui a apologia da denúncia, longe de nós essa técnica, que corrói a confiança e é a pior forma de se conseguir dar a volta, com dignidade, a estas situações. Mas não fica nada mal que os agentes específicos, Serviços Sociais e afins, procurem actuar no sentido de debelar essas fissuras do nosso tecido social. Se este já é o que é, débil por natureza e por carências demográficas, se lhe acrescentarmos estas excrescências, tudo vai por água abaixo. Vêm estas considerações a propósito de quanto para aí se fala em termos de necessidade de respondermos aos novos desafios que a sustentabilidade social impõe às actuais sociedades, onde as pirâmides etárias se apresentam, sabemo-lo, demasiado invertidas no sentido inverso àquele que era desejável. A vida é o que é. Postos perante estes quadros que exigem medidas do lado da economia, mais do que pela via dos apoios estatais, cuja riqueza é demasiado escassa, para não dizermos inexistente, aquela gente que, de propósito, não tem qualquer ocupação, estando ainda em boa idade para dar o seu quinhão de trabalho, associada à terrível mancha negra dos desempregados, ajuda a destruir o pouco que resta do edifício da segurança social, ao tal de onde saem os meios financeiros para acudir a casos e situações de real necessidade. Aqui chegados, convém repetir-se uma tese que anda demasiado fugida dos discursos oficiais e, em cada dia que passa, recebe mais uma acha para a perigosa fogueira do descontentamento e da guerrilha entre grupos etários e entre gerações: a questão das reformas e pensões, cuja origem, na sua imensa e grande maioria, está nos descontos feitos na altura devida e com o peso que, então, foi pedido a cada trabalhador por conta de outrem. Teimar, em sede de discurso oficial, em atirar para cima desta gente, à laia de culpabilização, os defeitos de uma nação a viver o drama de uma profunda crise, é, para além de viva insensatez, uma falta de respeito por milhares e milhares de cidadãos, que merecem outra forma de tratamento e consideração. A vida é o que é. E para muitos já quase foi. Por razões que se prendem com a necessidade de os nossos políticos terem um outro discurso e uma outra abordagem a estas questões, dos novos Governantes o que se espera é que tenham força para, usando outros argumentos, fazerem ver que o que precisamos é de muito mais economia, de crescimento e desenvolvimento sustentado, que a receita dos cortes financeiros e fiscais já deu o que tinha a dar: um desastre completo. Houve mudanças, isso houve. Estamos, porém, do lado de quem afirma que soube a pouco, a quase nada. E somos daqueles que, gostando de ver o país a bulir, já nos incomoda ouvirmos todos os dias o mesmo género de cartilhas, a dos cortes, a da ida ao bolso de quem, ainda, tem meia dúzia de tostões. Mas por este andar, isso acontecerá por muito pouco tempo. E, depois, com tudo parado, é o abismo que nos espera. Apesar de todo este pessimismo, queremos dizer ao Dr. Mário Soares que também ele anda profundamente errado: falando em hipóteses de atentados ou na renúncia ao pagamento da dívida, em jeito da Argentina, comete um erro crasso e estraga muito do capital de importância que foi amealhando ao longo dos tempos. A falar assim, melhor será estar calado e sossegadinho no seu andar do Campo Grande, ou nas suas moradias de Nafarros e do Vau, ou no recanto de sua Fundação, ou de seu bom Colégio. O estatuto que tem não lhe permite, porém, dizer tudo o que lhe vem à cabeça, muito menos asneiras deste tamanho. Carlos Rodrigues, em contexto de então (mormente as intervenções do Dr. Mário Soares), publicado este trabalho no “Notícias de Vouzela”

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O elefante de José Saramago anda por aí...

A minha viagem do elefante A Comunidade Intermunicipal Viseu Dão-Lafões tem vivido um criativo ciclo cultural que, tendo como base um livro de José Saramago, foi posto a circular, no terreno, por um gigante da nossa capacidade de intervenção territorial, a ACERT, de Tondela. Chama-se “ A viagem do elefante” e tem sido um êxito retumbante por onde tem passado. Com méritos próprios para dar e vender, com uma marca que é garantia e selo de qualidade, que lhe advém dos seus autores, cujas provas não se medem já à escala local, trepando antes para patamares mais altos, esta ACERT não deixa, nunca, de nos surpreender. Desta vez, optando por não oferecer um produto cultural acabado, mas fazendo com que as comunidades locais viessem a integrar esta proposta, enriquecendo-a, escolheu um caminho arriscado mas pleno de sentido de oportunidade, ao eleger a participação e os saberes diferenciados como mola para esta imponente peça teatral, viva e a cores. Sem querer ir pela análise deste trabalho, o que já seria um imenso prazer se o fosse capaz de fazer bem e com qualidade, não é por aí que me atrevo a ir. Essa meritória tarefa deixo-a para quem sabe, quer da literatura de José Saramago, quer das andanças do teatro, porque estes campos não são bem a minha praia. Então, que quero eu dizer? Que aqui está um exemplo de intervenção territorial com visão alargada, com um sexto sentido de bem actuar em prol do desenvolvimento integrado e sustentado dos queridos locais em que vivemos. Por ser tão vasto e grandioso o significado desta actividade, tenho até dificuldades em elencar e priorizar os meus comentários. Sabendo que a CIM abraçou, com garra, este projecto, este não teria sido possível se, ali do lado de lá da Serra do Caramulo, em Tondela, não houvesse aquela força imensa de uma criação cultural que nos deixa sempre com água na boca. Logo, face a estes dois aspectos, estou com um ovo e uma galinha sem saber qual colocar em primeiro lugar. Como não gosto de ficar com meias tintas, avanço o meu esquema hierárquico: a ACERT fica mesmo no topo do pódio, sem tirar, nem pôr. De seguida, vem a CIM e os municípios que a compõem, que, pelo que me é dado perceber, têm sido inexcedíveis na adesão a esta iniciativa e na sua capacidade empreendedora de a oferecer às suas gentes. Há aqui um ponto que é do mais alto valor: a forma como as Câmaras Municipais têm atraído as respectivas comunidades para participarem, activa e entusiasticamente, neste mesmo processo é deveras notável. Várias lições aqui se colhem: a) – a cultura imaginativa, e a possibilitar alto valor acrescentado, não é exclusiva dos ditos e abafantes grandes centros; b) – o arrojo de avançar para acções de envergadura é factor que pode muito bem trazer bom retorno; c) – a associação de Municípios, a remarem para o mesmo lado, leva barcos a bom porto; d) – um euro cultural na mão desta gente vale milhões, etc, etc. Paralelamente, há que adiantar-se um outro raciocínio: em políticas de desenvolvimento, a valorização dos recursos endógenos e a potenciação das suas vontades e capacidades são a chave do sucesso, pelo que se dispensam quaisquer decisões de régua e esquadro vindas de onde vierem. Com a intervenção local a ser determinante, esta “ A viagem do elefante” é obra colectiva mas com nomes concretos a sobressaírem: no Trigo Limpo/ Teatro Acert em cena, saltam, como azeite em água, as figuras de José Rui Martins e Pompeu José, na adaptação e dramaturgia, Luís Pastor e Flor de Jara (Espanha), música, Zé Tavares ( um meu conterrâneo de Oliveira de Frades), na cenografia e desenho gráfico, igualmente, assim como um vasto elenco de técnicos e actores, a que se juntam os muitos que, em cada sítio, aceitam dar o seu contributo a esta actividade de densa cultura. Destaque ainda para Assim avança este elefante Salomão de canto a canto, porque “… Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória” – José Saramago, Palavras para uma cidade. Até agora, este tem sido o trajecto desta “ A viagem do elefante”: ano de 2013 – Figueira de Castelo Rodrigo, S. João da Pesqueira, Pinhel, Sortelha, Fundão, Castelo Branco, Tondela, Lisboa, Rivas/Madrid; 2014 – área dos municípios da CIM Viseu Dão/Lafões. Com a cooperação da Fundação José Saramago, esta produção é fruto de uma vasta parceria, pelo que este trabalho em rede, com a busca e valorização de bastantes e profícuas sinergias, me obriga a que lhe teça os maiores elogios. Como exemplo de boas práticas em termos de desenvolvimento integrado, pegando nas boas pontas da cultura, aqui o estampo com toda a força da minha pouca capacidade argumentativa, mas que saiu cá bem de dentro, das raízes do coração, frise-se. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 2014/07/03

terça-feira, 8 de julho de 2014

Na PIM, enfim, a cultura é à grande e à moda da Vagueira

Na zona de Aveiro, com cheiro a Ria e a terras da Gândara, há uma Praia especial, a Vagueira, que tem, entre muitas outras virtudes e encantos, um lugarzinho onde a cultura e o convívio são pratos fortes, bem cozinhados, bem aparicados e melhor servidos: a Perlimpimpim. Servida em doses à medida de quem gosta de estar perante boas práticas comerciais com gente dentro e muitas pitadas da tal cultura, esta aparece sempre engalanada em arte, engenho, entrega, dedicação e mil cuidados. Ao leme deste barco, que não é moliceiro, mas tem contornos de todas as artes, lá está Aldina Ribeiro. Puxando mil cordelinhos, sabe sempre que nós desatar, que pontas unir, que teia tecer, que tecido conseguir. Dali sai sempre alta costura. Este último fim de semana, teve fatiota de estalo, no sábado e domingo. Neste último dia, "fatiota" é mesmo isso, por ter havido um emocionante desfile de moda para bebés e crianças que deixou pais, avós, amigos e todos os presentes com o desejo de irem logo à loja promotora e carregarem caixotes daquela boa e jeitosa mercadoria. No sábado, dia 5, o sentido é mesmo figurado, a não ser que falemos da vestimenta que as Fadas já formadas, as de 2013, e as estagiárias, as empossadas nesse mesmo dia, envergavam com uma dose de alegria contagiante. Por ser verdade, também não podemos deixar de lado os Feiticeiros que, a partir desse dia 5, fazem parte daquela Família PIM, em que nos encontramos, dupla e familiarmente, nós também. Em maré de aniversário, cinco anos, o desfile da obra feita é impressionante: mais de 200 artistas plásticos recebidos na Galeria PIM, mais de 80 concertos musicais, centenas e centenas de outros variados eventos e, sobretudo, o ter-se ali conseguido o feito maior de todos se sentirem em Casa, que casa é este local mágico, cheio, por isso, de boas fadas e bons feiticeiros. No dia em que o Bolo de cinco partes e feito por outras tantas obreiras foi papado, com gosto e muitos parabéns à mistura,ali decorria uma exposição de pintura colectiva em que se podiam apreciar obras destes artistas: Alberto d'Assumpção, Alua Polen, Artur Dionísio, Gina Marrinhas, Guia Pimpão, Helder Bandarra, Hermínio Veríssimo, Jayr Peny, Mário Morais, Sameiro Sequeira, Teresa Vilar e Víctor Costa. Isto é obra. Humildemente, também nesse dia, dali saiu uma exposição que nós próprios elaborámos sobre a EN 333, a "Estrada dos VV - Vagos/Vouzela" e das Nossa Senhoras de Vagos e do Castelo/Vouzela, ali presente desde o dia 22 de Junho e, agora, com viagens marcadas, para outros destinos, dentro do seu percurso de 65 km, a abranger os concelhos de Vagos, Oliveira do Bairro, Águeda, Sever do Vouga, Oliveira de Frades e Vouzela. Com estes dois dias em cheio, a Perlimpimpim disse bem ao que vinha: oferecer cultura com marca registada e que sabe sempre bem apreciar. Cinco anos depois de ter surgido, vinda do nada, eis que, com tão grande palmarés, já pode começar a pensar nos dez, quinze, vinte, vinte e cinco e demais múltiplos por aí além. A Aldina e a sua gente, com destaque para a Família directa, têm dotes que chegam para fazer da PIM tudo o que quiseram. Com tantos amigos, o futuro já está traçado. Haja agora é coragem para a levar por diante. Parabéns e muitos anos de vida.