quarta-feira, 21 de maio de 2014

A fome e a fartura em tempo de eleições para o PE

A fome e a fartura No dia 18, domingo, mesmo depois da Troika se ter ido embora, numa saída enganadora, que essa malta por cá vai andando uns pares de anos a fio, olhámos para o sol e não sentimos haver diferenças, sendo que a melhor luz só apareceu, para nós, quando ele ia a caminho do ocidente, ao tombar para lá das nossas serras, no momento em que o SLB venceu a Taça de Portugal, a juntar, em feito inédito, aos dois títulos já anteriormente conquistados. De resto, tudo na mesma. Respeitando todos os adversários, muito especialmente o digno Rio Ave, esta é a nossa opinião e assim se expressa. Dizemos mal, que houve outros sinais. É que, no rescaldo de um Conselho de Ministros Extraordinário, foi-nos oferecido, em documento com 65 páginas, um novo “ Caminho para o crescimento” e o PS brindou-nos com as suas oitenta medidas e outros tantos compromissos. Ou seja: da fome anterior ao dia 17, por influência de uma devastadora crise e de um Programa de Ajustamento que nos deixou a pão e água, passámos para a fartura das ideias, das propostas, das sugestões tendentes a proporcionarem-nos um futuro melhor. Pelo menos assim falam o Governo e a Oposição, em tempos, curiosamente, de plena campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, que nos está a passar completamente ao lado. Neste início de semana, já estivemos a passar os olhos por essa papelada, como convém a quem queira estar informado, até para ter sustentabilidade aquilo que, aqui, se vai escrevendo. De um lado, no tal “ Caminho para o crescimento”, topámos uma espécie de fusão e síntese do Documento de Estratégia Orçamental (DEO) e do Guião da Reforma do Estado, intenção que, aliás, é descrita logo nas primeiras páginas, de forma a unir “ um conjunto disperso de medidas e reformas apresentadas noutros programas”, tais como infraestruturas, fomento industrial e estratégia nacional para o mar. No outro, temos uma série de promessas, oitenta ao todo, com maior destaque para quinze tidas como mais importantes, aclarando António José Seguro que “… Só prometo aquilo que posso cumprir”, adiantando que o “ Voto não é um cheque em branco. O voto vincula os governos ao cumprimento das suas promessas eleitorais… “ Sabendo que vivemos em clima de debate europeu, aproveitou-se este ensejo para nos serem oferecidas receitas nacionais, vivendo-se em Maio de 2014 com o pensamento já focado no acto eleitoral legislativo de 2015, sendo este momento a sala de visitas desse mesmo edifício já em acesa construção. A Europa que espere, que fique lá onde está, distante das nossas preocupações, mesmo sendo nessa União Europeia que se escreve o nosso destino todos os dias e o Parlamento Europeu a ser o único órgão da EU verdadeiramente democrático e representativo dos nossos povos. Mas essa é matéria que interessa pouco discutir. Lamentável e quase criminosamente, diga-se com frontalidade e clareza. As eleições europeias Por mais que nos apeteça pegar nestas duas peças políticas e delas falarmos, isso seria uma traição às nossas convicções, preferindo antes pôr em cima da mesa o que é determinante nestas alturas até ao dia 25 de Maio, porque, na próxima vez que aqui nos encontrarmos, já as eleições são parte do passado e o veredicto estará registado para sempre. Temos, à partida, um enorme e fundamentado receio: a abstenção será medonha, pelo menos assim projectamos o que irá acontecer. A história, aliás, mostra-nos uma clara tendência nesse sentido, desde 1989, ano das primeiras eleições universais, até 2009, o que se constata com estes números, expressos em votação: 1989 – 49.7% de votantes; 1994 – 35.7; 1999 – 40; 2004 – 38.6 e 2009 – 36.8%. Este ano, com o silêncio que se nota a esse respeito e com a descrença nos políticos e na nobre arte da política, em geral, com uma certa sensação de que não vale a pena ir às urnas depositar as nossas convicções, todo este panorama se pode vir a agravar, perigosamente. Está nas nossas mãos fazer inverter essa prática. Actuemos nesse sentido. É que temos pela frente um Parlamento que, sobretudo depois do Tratado de Lisboa, de 2009, tem a incumbência de escolher o Presidente da Comissão, vendo ainda os seus atributos alargados em matéria de Orçamento Comunitário, de mais poder na área da agricultura, da política comercial, liberdades cívicas, protecção do consumidor, transportes e investigação, não lhe passando ainda despercebida toda a vida da União Europeia e nos seus 28 membros. Num universo de cerca de 500 milhões de habitantes ( meia China menos um grande bocado), serão eleitos 751 deputados, sendo 21 portugueses. Colocados, actualmente, em sete grupos políticos-base, têm a sua origem em mais de 160 partidos políticos nacionais. Cabem-nos as seguintes forças políticas: BE, PCP-PEV, Aliança Portugal/PSD/CDS, Livre, MAS, PND, MPT, PS, PCTP/MRPP, PDA, PNR, POUS, PAN, PPM, PPV e PTP. Por onde escolher, não faltam hipóteses. Sendo essa uma tomada de posição que cabe a cada um de nós, a liberdade é total. Com o acto eleitoral a começar hoje mesmo, dia 22, em alguns países, a sua finalização só acontecerá no dia 25, data consagrada à divulgação oficial dos respectivos resultados, ainda que possam ter o seu início alguns dias antes, como vimos. Com o fito numa visão estratégica e política, num desígnio humano com vontade de construir um futuro melhor, com a esperança numa segura linha de rumo e em objectivos de base sólida e duradoura, serena e construtiva, declaramos solenemente que IREMOS VOTAR. Não queremos deixar a nossa vida de amanhã nas decisões de outros, por mais que confiemos na bondade humana, mas os direitos e deveres de cidadania não os alienamos, nunca … Carlos Rodrigues

terça-feira, 20 de maio de 2014

O meu manifesto para as eleições europeias de 2014

Sou um humilde cidadão do concelho de Oliveira de Frades, região de Lafões, que se interessa pela vida cívica e pelo desenvolvimento do país e da zona em que habita, por gosto e por convicção. Sinto que os poderes públicos, praticamente todos eles, têm falhado em termos de coesão social, territorial e de justiça em equilíbrio e redistribuição dos bens que a todos pertencem, mas que quase só caminham para os grandes Centros e para o litoral. Sinto-me injustiçado e tramado de todo. Sei que Portugal não atravessa um bom momento, apesar de se ter despedido (???) da Troika, mas o que mais me dói é o facto de saber que o Interior é sempre um parente pobre das decisões tomadas em Lisboa e em Bruxelas... Gosto de tomar parte nas decisões, por direito e por dever. Vou, por isso, VOTAR no próximo dia 25 para o Parlamento Europeu. Pensando pela minha cabeça e sendo algo avesso a cartilhas ( a de João de Deus é outra coisa!), quero, hoje, no entanto, subscrever, na íntegra, o MANIFESTO DOS GOVERNOS LOCAIS E REGIONAIS do Conselho de Municípios e Regiões da Europa, a propósito destas mesmas eleições de 2014, em que se defende uma Europa solidária, forte, unida, coesa, sustentável, pacífica, democrática, que não esqueça as realidades locais, sejam elas quais forem. É isso que espero. E tenho pena que pouco se fale do que será a Europa das regiões no futuro e muito de balofo para aí se ande a badalar. Conto com Fernando Ruas para ser o nosso porta-voz... Se o não fizer, vai ter de me ouvir, isso vai...

Um relatório com cerca de ano e meio, a malhar no FMI...

O meu Relatório Esta nossa vida anda a abarrotar de relatórios: são os da Protecção Civil, os da Segurança Rodoviária, estes com saborosos ganhos acrescidos, face a tempos de maior e mais pesada sinistralidade, são os da ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social e da RTP, que têm relatado muito pouco e mal, são os da PSP, são estes e aqueles. Faltava-nos mais um: este, aquele que o Governo, sem jeitinho nenhum para estas andanças da concertação social, do diálogo e da conversa séria e pegada, que produza resultados concretos, fundamentados e com ponta por onde se lhe pegue, este que encomendou àquela malta do FMI deslavada de alma, munida apenas de botões e de folhas de cálculo, e que estes técnicos nos quiseram impingir. Antes de prosseguir, lavro aqui uma fortíssima declaração de interesses: aquela malta nada me que diz, não votei nela, não os escolhi, pouco ou nada fiz para os chamar a virem aqui, mas tudo isso fiz com quem lhe encomendou este sermão. Ai, isso fiz. Votei nessa gente, dei-lhe o meu mandato para, herdada uma enormíssima carga de dívidas, tentarem arranjar soluções para ultrapassar o difícil buraco em que nos encontrávamos. Antes, preparando-me, li um livro, o “Mudar”, onde vi muitas ideias com que me identificava e outras tantas que gostaria de não ter visto ali estampadas. Confesso-me: não sou tão liberal como ali se registou em certo pensamento. Mas estava cheio de ver o país a afundar-se. E desejava assistir a uma mudança clara, de rosto humano, certeira, voltada para um futuro melhor para Portugal e para cada um de nós, os Portugueses. Enganei-me, lamento-o. Feita esta viagem pelo meu subconsciente, que assim quis vir ao de cima, voltemos ao citado Relatório, o do FMI – Fundo Monetário Internacional, que até se esqueceu dos livros e dos discursos de sua Presidente, que tem vindo a defender outras receitas, que não a austeridade por si mesma. Num bem nutrido número de páginas, em tamanho, o que não quer dizer em ideias, aponta um razoável diagnóstico, aquele que chega a ser do consenso comum, mas, depois, em propostas concretas, é uma lástima. Pegando no que de mais fácil lhe vem à mão, de tesoura em riste, corta aqui, corta acolá, mas esquece que não devem ser esses os alvos a atingir, nem de longe, nem de perto. Vendo neles uma fonte de receita que não pode nem tem vocação para fugir, toca a mexer nessa manteiga quente. O resto, aquilo que é o cerne do nosso problema, as fraudes, os gastos nas tais gorduras do Estado, o desbaratar de verbas em empresas públicas e fundações, em PPP, a fuga aos impostos, os bancos que são uma esponja do nosso dinheiro nacional, aí, népia. Nem nos desmesurados juros e comissões que ele, FMI, nos cobra pelos serviços prestados em encontrar soluções para a pesada dívida que temos acumulado ao longo de anos. Com amigos destes, venham os inimigos que com eles bem pode (re)mos… Em gracioso contributo do blogue “Aventar.eu”, que promoveu uma intensa campanha pública de tradução deste volumoso documento, em regime de colaboração voluntária – e ainda só passei os olhos pelas primeiras páginas -, dá para perceber a gravidade do que ali está contido. Como que a lavrar em seara alheia, tudo lhes é permitido desenterrar: a saúde, as pensões, os vencimentos, a educação, os subsídios de desemprego, o tempo de trabalho, a segurança social, mas, digo-o, talvez por ainda não ter visto tudo, talvez haja muito mais para desvendar e pôr-nos e pensar. Lá chegaremos em próxima ocasião. Entretanto, o que muito nos incomoda é o facto de, sabendo que temos massa crítica à altura de estudarmos a fundo estes desafios de termos de refundar o País, andarmos a mendigar (?) pretensas soluções para uma nação que está verdadeiramente de tanga e desfigurada no seu modelo de desenvolvimento ( ver o blogue “ Freidogozo”, Um país desalinhado, que o “Pastel de Vouzela” acabou de citar) e que, em vez de procurar no seu seio as soluções para estes monumentais problemas, ter ido tão longe e tão distante, em sentido real e figurado, apanhar meia dúzia de “bitaitadas”, daquelas que, num qualquer gabinete de contabilidade ou balcão de merceeiro, num vulgar caderno de deve e haver, se conseguem colocar no papel. Não sabemos qual a pipa de massa que se vai pagar por mais este tremendo estudo. Ora, aí está mais um dado para o nosso Governo nos desvendar. Mais: isto, em termos de debate nacional, urgente, necessário e vital para os dias de amanhã, é mesmo contraproducente. Sendo acha para uma fogueira que já tem gasolina a mais, só vem complicar. Por isso, um pedido aqui deixamos: rasgue-se isto e parta-se para um diálogo com todas as letras e com todas estas questões em cima da mesa para uma discussão séria. Mas com tempo. Mande-se lixar Fevereiro e diga-se que só poderemos ter soluções depois de toda a nossa sociedade se ter pronunciado a sério sobre os caminhos que há a percorrer e quais os melhores meios para o fazer. Para cá da Europa e do mundo, mandamos nós. Nem que devamos um ror de dinheiro, Mas vamos pagá-lo e isso não pode ser uma submissão desta envergadura, Nem um garrote que não possamos desapertar: Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, Janeiro de 2013. Há cerca de ano e meio, assim via a Troika por cá… Depois da sua ida para fora de nossas portas, para, infelizmente, ainda por cá voltar, mas sem a mesma prosápia de tudo querer controlar, sinto-me bem com a sua partida. Gosto muito de ser livre e independente…

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Adeus (?), TROIKA

Dentro de dias, na sua versão mais pesada, a Troika irá partir. Dizem que a sua sombra e a sua vinda se manterão, com regularidade, aí até ao ano 2040, mais coisa, menos coisa, pelo que custará muito tempo até que a vejamos totalmente pelas costas. Azar nosso. A saída, dita limpa, talvez não passe no teste do OMO, sendo provável que haja para aí uma qualquer nodoazita a ensombrá-la. Mas, para um País que sofreu na carne e nos ossos a dureza extrema de um resgate, que nos ia abafando, este nosso Povo merece que, ao menos, sejamos capazes de mostrar a nossa valentia e, não tendo havido uma segunda dose de empréstimos, como aconteceu na Grécia ( que ainda está carregada de dúvidas), esse é um sinal de maturidade de que nos devemos orgulhar. Valha-nos isso!...