quarta-feira, 25 de junho de 2014

Minas da Bejanca, em Vouzela, ainda podem vir a dar riqueza

Volfrâmio da Bejanca e o interesse que motiva Em tempos idos, e os últimos não aconteceram assim há muito tempo, a nossa zona foi fértil em exploração mineira, com destaque para o volfrâmio. Nas freguesias de Moçâmedes e, sobretudo, de Queirâ, com a Bejanca no lugar cimeiro dessa rentável actividade económica, geraram-se ondas e ondas de riqueza, lucros e prejuízos aos montes. Muita gente, olhando para tanto dinheiro em circulação, acabou por cair em desgraça. Mas é assim em tudo na vida: só aproveita as oportunidades quem as sabe encarar de frente e com aprumo. Estamos a pegar, de novo, neste tema, porque a “Carta da Europa”, editada pela Delegação do PSD no Grupo do PPE, no Parlamento Europeu, a nº 128, de Junho a Outubro de 2013, trazia um trabalho de reportagem que nos captou, de imediato, a nossa atenção. Falava-se aí numa visita do Eurodeputado José Manuel Fernandes às Minas da Borralha, no concelho de Montalegre, para fazer reacender a chama económica e social que a exploração deste minério, o volfrâmio, pode vir a despoletar. Daí a pensar na Bejanca, como na Serra de S. Macário, foi um ápice. Não querendo ir além daquilo que temos à nossa frente, em documentação palpável, fiquemo-nos pela citada zona de Queirã. Antes de mais, registemos um ponto prévio: longe, muito longe de nós está o espírito que presidiu à exploração mineral no século passado, que teve intuitos bélicos, que até arrepiam. Não é nada disso que se quer e se pretende ressuscitar. Nada, mesmo. Move-nos apenas a sua função como pilar de desenvolvimento económico sustentado, em busca dos nossos recursos naturais, como se pretendeu mostrar com a tal ida às Minas da Borralha. Diz-se nesse encontro que “ … Estas matérias-primas são cruciais para a indústria europeia… “, definindo-se mesmo catorze minérios considerados críticos, em escassez, um deles o nosso volfrâmio, apontando-se a pertinência das prospecções que ali (Borralha) decorrem. Entram aqui as nossas considerações localizadas: a Bejanca foi objecto, em Julho de 2012, da assinatura de um contrato que envolveu o então Ministro da Economia, Dr. Álvaro Santos Pereira, e o Grupo Mineralia para a pesquisa em 78 locais, sendo um deles este aqui bem referenciado. Visava-se averiguar a existência de jazidas de volfrâmio, estanho, ouro e cobre durante um período de dois anos. Repescando as nossas fontes, soubemos que a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia mostraram todo o empenho nessas operações, vendo nelas uma eventual janela de oportunidades para o futuro. Como não devemos esquecer as coisas boas que vêm ter connosco, aqui fica mais este alerta: é preciso reavivar sempre estes compromissos e deles tirar todo o sumo que possam ter. Na Bejanca, estanho e volfrâmio, não faltarão, presumimos nós. Basta agora não deixar apagar a chama que está um pouco murcha e pode desaparecer de todo e não é isso que queremos, nem por sombras. Carlos Rodrigues, há tempos, no “Notícias de Vouzela”

terça-feira, 24 de junho de 2014

Mais escolas a fechar: a morte lenta do meu Interior

Aí temos mais um letal lista, vinda do Ministério da Educação. Trata da morte das Escolas do 1º ciclo e, sem pestanejar um minuto sequer, dá cabo das terras em que gostamos de viver. Triste sina a nossa. Triste e fanática ideia, esta de nos tirar tudo às pinguinhas. Em vez de se procurar soluções para atrair fixação de população criadora e imaginativa, pega-se numa régua e num quadro e toca a cortar. Agora é a vez de fechar as seguintes Escolas: - Oliveira de Frades, minha querida Terra: Paranho, S. João da Serra Souto Maior e Pereiras - Vouzela, minha terra nº 2: Outeiro, Figueiredo das Donas e Mogueirães - S. Pedro do Sul, irmã gémeas de minhas terras: Fermontelos, Olivais/Bordonhos, S. Félix,S. Pedro do Sul (antiga), Termas, Várzea, Serrazes e Valadares. Um dia, o sol voltará a brilhar por aqui e pelo meu País inteiro. Tenho fé nisso...

sábado, 21 de junho de 2014

A minha homenagem a um Amigo que a morte levou - Dr. Jaime Gralheiro, em trabalho feito para o "Notícias de Lafões", 2010

Dr. Jaime Gralheiro com o teatro na vida Com este formato de crónicas, esta é a segunda vez que me encaminho para aqui com uma ideia: continuar a descrever a vida e a obra do Dr. Jaime Gralheiro, ficando já com pena de não me deixar ( en)levar por tudo aquilo que me apetece escrever. Sei que este nosso amigo tem no coração um seu forte aliado. Isso sei eu. Mas, em matéria de propósitos, como este que nos anima em “NL”, precisamos também de deixar espaço para a razão. Assim, vamos contentar-nos (?) com as migalhas que por aqui espalhamos, nestes dois números e deixar o sonho para outras alturas… Numa carreira, dito de uma forma mais poética, numa entrega às letras, este nosso conterrâneo, filho de gente que não soube conformar-se com aquilo que lhe calhou em sorte, quando viu a luz do dia na citada Serra de S. Macário, antes a agarrou com ambas as mãos, pelos tempos fora, fez do teatro uma arma e da advocacia uma forma de sustento. Aliás, Erwin Piscator defendeu, a certa altura, que esta arte “…não se pode limitar a produzir no espectador um efeito puramente artístico, ou seja, estético (…) tem por missão intervir de uma maneira activa no curso dos acontecimentos…” Não sei se esta voz se fez ouvir em S. Pedro do Sul, mas o certo é que aqui se encaixa às mil maravilhas. Se os pais, D. Maria da Piedade de Almeida e Agostinho Gaspar Gralheiro o dotaram dos meios que lhe permitiram ser quem é, sendo que seu pai soube passar por um armazém de vinho e pelos comboios, antes de enveredar pelo mundo do subsolo carregado de minério, desde que foi capataz na Companhia Portuguesa de Minas até se tornar um empreendedor de sucesso na mesma área, o filho, este, o Jaime, escavou outras partes do globo da vida: revolveu as leis, carrilou-as para os tribunais e, simultaneamente, pegou nas letras para as transformar em peças de ouro, que não apenas de volfrâmio. Ao aflorarmos pela rama o seu legado, que ainda virá a crescer, dissemos que se iniciou nos bancos do liceu. Mas a sua entrada em cena, de uma forma mais assertiva, deu-se em 1967, com três canteiros de rajada: Paredes Nuas, Belchior e Ramos Partidos, em edição de autor, o que mais vinca a sua fibra de lutador. Por serem sábias as linhas que se seguem, vindas de Deniz-Jacinto, no respectivo prefácio, oferecemo-las aos nossos leitores: “ As três peças do presente volume, diferentes embora na sua tessitura dramática, tratam, em última análise, de um mesmo problema – o problema da liberdade do indivíduo perante as inibições ou constrangimentos impostos pelo meio social (…) Não nos admiremos destes excessos. Jaime Gralheiro é um dramaturgo em carne viva, dotado de uma capacidade de indignação que o leva ( advogado de profissão e de gosto ) a pleitear, em plena acção dramática, a causa humana das suas criaturas…” Era o ano de 1967, antes mesmo da era Marcelo Caetano. Fica isto dito, sem mais nada. Ponto. Nessa espécie de começo, lia-se assim a sua obra em maré de um primeiro parto mais oficial e destemido. Em catadupa, as ruas e avenidas de S. Pedro encheram-se de seus escritos de intervenção, sobretudo. O Cénico foi o palco vivo, por excelência desde 1971, fruto duma parceria de quatro rijos costados, com destaque para este autor, que aqui retratamos humildemente, e para José e Manuela Barata. Casa bem estruturada e com alicerces de boa rocha, granítica, de certeza, ainda hoje se mantém de pé. Honra lhe seja. Como filha de uma revolução que lhe encheu a alma, “Arraia-Miúda” foi cálice dourado e a espalhar-se por este Portugal além. Amante da nossa cultura e história, dando-lhe um toque especial e um tanto a gosto, nela evocou a veia popular de Fernão Lopes e a Revolução de 1383/1385, reapreciada e represtinada à luz de 1974. É seu este desabafo: “… Ao escrevê-la, pensava na luta que o Povo (sic ) português tem vindo a desenvolver pela sua libertação, ao longo de quase novecentos anos de nacionalidade …“ Era o ano de 1975, está dito. Ponto. Se são riquíssimos e multifacetados os seus já oitenta anos de vida, mormente a nível político activo e empenhado, carregado de causas de que não abdica, não é bem essa a dimensão que em Jaime Gralheiro estamos a enfatizar. Dessas múltiplas passagens pelo conturbado mundo da política e da barra dos tribunais não há, por certo, lafonense que desconheça esses factos. Nem, talvez, aquele que, enquanto Presidente da Comissão Administrativa de S. Pedro do Sul, aliás o primeiro, o levou a fazer rasgar o estradão pela Serra abaixo, em direcção a Covas do Rio, para quebrar o isolamento e abrir novos horizontes àquelas gentes, o que motivou uma viagem festiva de helicóptero por aqueles céus, em que eram passageiros, entre outros, o Pároco e a Professora Primária que ali exerciam funções nesse ano de 1975. Seguramente não são estes os caminhos que pretendemos desbravar. O que nos fez pegar neste tema tem mais a ver com a galáxia da cultura e essa muito deve ao Dr. Jaime Gralheiro. Se nada fora dito, bastar-nos-ia afirmar, porque aqui só defendemos a verdade e só a verdade, que o seu labor literário já despoletou dissertações de Mestrado e, inclusive, uma tese de Doutoramento na Universidade de S. Paulo - Brasil. Marinheiro, capitão e arrais em “ Na barca com mestre Gil ”, eis outra de suas privilegiadas fontes, que casam, a preceito, com seu feitio e maneira de ser. Esta sua veia jocosa, matreira, eivada de sentidos vários, não passa despercebida. Bebida em Gil Vicente ou nas nossas terras, pouco importa. Não sabemos até onde foi buscar tanta criatividade, mas esse é que é o mistério - t’ arrenego, demónio, que isso de cousas d’além não é conversa que se tenha com este Jaime! – e mais me aguça o apetite para tentar aprofundar estes projectos… Quando, por exemplo, escreveu “ O grande circo ibérico “, que passou na Amadora, em encenação de Porfírio Lopes e produção de Cláudia Fernandes e Isabel Torres, parece-nos fácil o chave do enigma. Será essa, a óbvia, aquela que temos debaixo da língua, ou outra qualquer? Fica a incerteza. Em dúvida não ficamos, se olharmos para “Lafões é um jardim”. Tradição e actualidade ali deram as mãos. Mas o que pensar de tão vasta obra, a que se junta agora a prosa, com edição de 2009, do seu grande livro “ A caminho do nunca … “? Se aqui é a Coimbra das contestações, é o reviralho que se agiganta, é a luta política clandestina, é a voz das fábricas e dos sindicatos, fica sempre algo por desbravar. Ainda bem, porque abre caminho a muito mais pesquisas e isso só enriquece quem é estudado, neste caso e com muita alegria nossa, o Dr. Jaime Gralheiro. Com cerca de duas dezenas ou mais de peças escritas e, mais do que isso, apresentadas ao público, não se pode, neste curso espaço jornalístico, abordá-las todas. Longe disso, claro está. Mas este guião, mal alinhavado, aliás, talvez seja o meio que leve a uma busca mais detalhada e mais profunda. Sentir-nos-emos imensamente satisfeitos se isso acontecer. Antes de fecharmos este trabalho, evocamos “ Onde Vaz, Luís?”, “Auto da Compadecida”, “Sapateira prodigiosa” e tudo quanto a sua fértil imaginação e espírito criativo pôs ao nosso alcance. Este Dr. Jaime Gralheiro, dramaturgo, prosador, advogado, ex-autarca, ex-candidato a deputado, jornalista, amante da serra e do mar, de S. Pedro do Sul e da Barra, provou-nos esta verdade insofismável: em Lafões pode viver-se, fazer-se carreira profissional e cotar-se entre os homens grandes da literatura nacional. Eis mais uma de suas excelentes lições e uma brilhante alegação final. Finalizamos com o diálogo do Soares ( não aquele que, um dia, talvez o tenha feito votar de olhos vendados, mas um outro, uma das personagens de “ Paredes Nuas “). Deixava ele, a certa altura, este desabafo que serve, praticamente, de encerramento a esta crónica: “ … Olhe, a coisa é simples: lembra-se daquela conversa que tivemos sobre as suas manias literárias e de me ter emprestado, até, aquela peça de teatro que você escreveu, a «Cacilda», claro que lembra!... Pois eu levei-a, como sabe, e, nas horas vagas, fui-a lendo e botando cá as minhas contas. Quando cheguei ao fim, devo dizer-lhe que tinha gostado, mas a valer! Hem!... Também é verdade que eu, de teatro, não percebo nada. A gente mete-se nesta pasmaceira e cristaliza!... “ É óbvio que este Soares, personagem, falava de si, nunca de Jaime Gralheiro. Este Senhor sabe disto como ninguém. Obrigado por tudo quanto tem feito. E continue! Um abraço! Carlos Rodrigues

A morte levou-nos Jaime Gralheiro... Assim o retratei em 2010, no "Notícias de Lafões"

Dr. Jaime Gralheiro, um poço de energia I – O rapaz da Serra de S. Macário Lá no alto, o S. Macário, com réplica carinhosa e em diminutivo alguns metros abaixo, marca a cadência das vidas das gentes da Serra que neste Santo colheu o nome. Herói das brasas, deu o mote para projectos pessoais que se revestiram de um grande calor pessoal: o Dr. Jaime Gralheiro, por certo, pescou neste lume o seu próprio fado. Quente nos afectos, carregado de fogo nos pleitos judiciais – fujam adversários, que aí vem o Jaime! – e sempre em cima de tudo quanto seja assunto social e político, este advogado e autor teatral tem tudo para não mais ser esquecido. Lafões tem para com ele uma eterna dívida de gratidão cultural e a muitos outros níveis. É por estas e outras razões que o «Notícias de Lafões», por este meio e este interlocutor, aqui lhe consagra duas crónicas, esta e uma outra. Habituei-me, desde menino e moço, a ouvir falar neste Senhor. Vivi, inclusivamente, em casa de seus familiares, por afinidade, em Ribeiradio e tive em seu tio, o Dr. António Pessoa, que lia a “República” com devoção e convicção e ma cedia, diariamente, em grata recordação que aqui evoco, um grande amigo, o que mais fez vir à mesa o exemplo batalhador do causídico de S. Pedro do Sul, que fazia do escritório e das casas da justiça as suas espectaculares tribunas. Conhecia-lhe, ainda, a veia artística e, meio em surdina, também vinham ao de cima as suas opções políticas, estas contadas no canto da Farmácia, ou atrás do balcão onde eu vendia de tudo, desde um copo de tinto a um bocado de sabão, um quarto de litro de azeite ou petróleo, meio Kg de carboneto, um metro de fioco, um pacote de açúcar em cartucho fechado à mão, com um peso acrescido, no fundo, de uma massa-cola meio farinha, meio qualquer coisa que nunca percebi, ou mesmo dez réis de amendoins em pacote cónico que aprendi a produzir enquanto o diabo esfregava o olho. Foi desta maneira, desde 1962, mais ou menos, que o Dr. Jaime Gralheiro me começou a visitar, despertando sempre visível interesse. Encontrei-me, depois, muitas vezes com ele, chegando a partilhar projectos e ideias comuns, na oposição ou já depois do 25 de Abril, quando, regressado eu do serviço militar em Moçambique, me vi a dar os primeiros passos num jornal a que ambos estivemos, com muitos outros cidadãos de Lafões, amplamente ligados – o “Vouga Livre”. Como o sol não aquece todos da mesma maneira, chegou o momento em que enveredámos por caminhos diferentes. Mas houve um tronco comum que sempre me ficou: a amizade e a consideração por este grande Senhor. Nascido em Macieira, freguesia de Sul, por ali calcorreou os trilhos de uma Serra que a todos encanta. Creio que aprendeu de cor os seus penedos, os seus regatos, fontes, moinhos, currais de gado, casas e casebres de Sul à Santa Mafalda de Arouca, sem esquecer, como é previsível, a vila que ficava lá tão longe, onde o seu Rio Sul se fundia com o Vouga, dando nome à actual cidade – a de S. Pedro, que fugiu das montanhas e rebolou pelas águas abaixo… Conviveu com as minas, viu no volfrâmio o ganha-pão de seu pai, que, por isso, lhe permitiu voar para Lamego e Porto, onde aprendeu as letras do 1º ao 7.º ano do liceu, antes de entrar na Faculdade de Direito de Coimbra, aí concluindo o seu curso com a menção de bom. Amigo da boémia, quanto baste, foi rapaz das Repúblicas, mexeu com a malta e vivência académica, leu sebentas e livros, bisbilhotou as meadas da política, animou a agitação febril daqueles tempos e costumes, enfim, fez os alicerces do futuro cidadão e advogado que às causas da vida haveria – e continua a fazê-lo, entre a Barra e S. Pedro – de consagrar os seus dias. Se o escritório ( ali a dois passos dos Paços do Concelho, em boa vizinhança, crendo que entremeada de muita crítica, sobretudo antes do 25 de Abril e após essa data, sempre que lhe subiam os azeites), era o palco profissional, nada disso lhe tirava o gosto – que felicidade para todos nós! – pelas letras, pela bicada social, pela tirada política. Ao iniciar a carreira artística logo nos bancos liceais, é no Colégio João de Deus, no Porto, que faz desabrochar a sua primeira obra, assim começando a enorme sementeira de peças teatrais com “ Feia”, 1949. Contam-se às dezenas os trabalhos que o seu labor e a sua capacidade criativa foram dando à luz em partos sucessivos, normais talvez grande parte deles. Em cada uma dessas produções e não é difícil descobrir tais notas, de imediato ressalta a escrita agradável e o tom de crítica social, suportes desses nacos da nossa dramaturgia, muita dela de ridente e cáustica veia vicentina, em estilo e conteúdo. Alvo privilegiado das canetas azuis da antiga e nefasta censura, o Dr. Jaime Gralheiro era mestre em fintar esses cortes, mas nem sempre a habilidade demonstrada levava a água ao seu moinho. Quando assim sucedia e o caldo se entornava, aceitar era o remédio tomado a muito contragosto e com um sorriso sarcástico, dorido, mas mesmo assim de orelha a orelha. Cá para nós, em seu vigor e estirpe lutadora, não demorava muito a deixar fugir uma ideia muito sua, sinal de uma fortíssima personalidade: se assim mas fizeram, assim mas pagam!... Nesta carreira brilhante, que o levou às bancadas da Sociedade Portuguesa de Autores e aos vários prémios e distinções, é vasto o campo onde podemos fazer robustas colheitas. Com apetite especial por toda a sua obra, muito infelizmente ainda a não conheçamos ao pormenor, debruçar-nos-emos, prioritariamente e por motivos que têm a ver com a necessidade de seleccionar e escolher, sobre aqueles temas que mais estiveram na berra, ou mais tocam a nossa terra, como sejam as peças “ Arraia Miúda “, ou “ Lafões é um jardim”. Se o teatro tem sido a sua consagração maior, também a prosa lhe não escapou, como se pôde ver ainda muito recentemente. É disso tudo que vamos falar daqui a dias. Mas seria erro imperdoável se não disséssemos que esta figura pública da nossa cultura e da nossa vivência social também deu notáveis contributos à política em geral, ao poder local em particular, à comunicação social, à animação de eventos, até por ser um comunicador nato e por excelência, e, muito especialmente, a essa grande Instituição que é o Cénico – Grupo de Teatro Popular, de S. Pedro do Sul. Com tão apreciável “curriculum”, difícil é saber por onde continuar. Mas é isso que faremos, então, em próxima ocasião. // Carlos Rodrigues

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Campeonato do mundo e cá por casa

Nos EUA, a nossa equipa de futebol nacional prepara o Campeonato do Mundo, no Brasil. Saiu de Portugal mas encontrou-se, à mesma, com o país que somos. E Ferrystreet diz tudo. É um pedaço de nós a dois passos de Nova Iorque. Boa sorte! Mas, por aqui, o campeonato que chega a Oliveira de Frades, ao fundo da minha Serra do Ladário, é bem outro. Enfrentam-se duas aguerridas equipas, o Governo e o Tribunal Constitucional, que joga e arbitra ao mesmo tempo. Neste momento, há 0-1, com o TC a levar vantagem. Está aquela gente no intervalo. Entretanto, deu-se um salto ao Parlamento, com uma queixa de secretaria. È isto, é o "futebol" total. E a malta que espere nas bancadas, com uma lágrima ao canto do olho...

terça-feira, 3 de junho de 2014

Um passeio por Arca e Varzielas

Arca e Varzielas, enclave, lindo enclave Em plena Serra do Caramulo, as freguesias de Arca e Varzielas combinam o lado agridoce próprio destas paragens com o apetite pela arte que seus obreiros tiveram quase sempre em linha de conta, desde a pré-história aos dias de hoje. Partindo de baixas altitudes para os pontos mais altos e indo de Adside (Campia-Vouzela) para cima, logo nos aparece a aldeia do Covelo, aninhada em redor de um marcante machoco de casas, que se espraia um pouco pela estrada fora e pela encosta acima, rumo ao Areal. Notando-se uma forte vocação agropecuária, os seus solos mostram-se bem dignos do uso que ainda lhes dão. Ricos, estão agora cobertos de erva verde e vivificante, depois de terem permitido encher os canastros de espigas. Encostadas umas às outras, as diversas courelas e vessadas fazem ver que ali há muitos proprietários e um minifúndio que não deixa dúvidas. Com o granito ali a aliar-se ao xisto, as suas casas tradicionais são assim filhas desses mesmos materiais. Uma ou outra, mais “ atrevida”, lá se destaca pelas cores garridas, mas o seu núcleo forte não desapareceu. Com um destino curto demais para as perspectivas com que foram erguidas, há obras que contrariam esta tendência. Deste modo, a escola do primeiro ciclo está encerrada e o posto do leite teve igual e triste sorte. São assim dois marcos negativos numa terra que respira o ar da serra e dele não sofre um efeito tão “duro”, porque o facto de se situar no fundo de um vale isso lhe concede: uma amenidade maior relativamente ao clima caramulano que impera na freguesia de Arca. A vizinha povoação do Areal, lá mais no alto, caracteriza-se também por uma certa tradição, não tão vincada, mas viu, em vez de perder valências, os últimos anos trazerem-lhe uma nova capela e uma associação também recente. Uma e outra, são parte da envolvente Arca, que, com praticamente uma só casa, dá nome à freguesia. Nesta, a terra maior e com mais peso é, sem sombra de dúvida, Paranho, que se encontra muito ligado à Póvoa. Integrada numa via estruturante, a ligar o Caramulo a Águeda, possui um comércio já com alguma dimensão para o patamar destas aldeias, mas o seu selo matricial é a sua imponente Anta, a par de outras manifestações de um rico património. Com uma vida social e recreativa que já viu melhores dias, a sua Associação por lá continua, mas o Parque Desportivo, esse, não parece em estar em bons lençóis assim como o Quartel da Secção de Bombeiros, logo ali ao lado de uma outra de suas jóias: o Carvalhedo da Gândara. Caminhando na direcção da vila do Caramulo, logo nos aparece Varzielas, que, em conjunto com Arca, fazem parte do mesmo “enclave” do concelho de Oliveira de Frades, já que não têm qualquer contacto físico territorial com a grande mancha municipal. Para se lá chegar, há que pisar terras de Vouzela, ou Tondela ou Àgueda. Se geograficamente essa é a realidade, a nível afectivo, o caso muda de figura, que, a esse propósito, é firme a ligação umbilical com a velha Ulveira. Varzielas, que dá de caras com o citado Caramulo, dá-se a conhecer a quem circula nessa mesma estrada, mas o núcleo mor da freguesia está lá mais para dentro, a meio caminho entre a Sede e a Bezerreira. Ai se encontra a Igreja, a o Complexo Escolar, Desportivo e Social, fazendo deste recanto um lugar acolhedor e com uma mais valia digna de nota: a produção de água engarrafada – as Àguas do Caramulo -, que dali sai para correr mundo. Com tamanha riqueza dentro de suas portas, Varzielas só não conseguiu obter um direito que lhe tem andado fugido: as suas águas não possuem, no registo comercial visível nas garrafas, esta origem e isso não tem qualquer explicação plausível, que seu a seu dono é filosofia que deve imperar. Mas que saem dali, isso ninguém pode deixar de reconhecer. Falar desta freguesia e esquecer a Bezerreira seria erro imperdoável. Aldeia de uma beleza agreste e de uma ruralidade a toda a prova, aquelas suas paisagens são de sonho, tanto como as casas que, lá bem no centro, resistiram à força de novos materiais e outras modas. No conjunto, é ponto turístico com lugar marcado em todos os roteiros. Tendo visto morrer a velha escola, ganhou, todavia, um bom sinal de modernidade: o Parque Eólico, que ali produz electricidade sem fim. Voltando à estrada principal, esta leva-nos ao Monteteso e assim nos despedimos deste circuito serrano do enclave de Arca e Varzielas, que bem merecem uma visita especial, nem que seja de passagem para o Museu do Caramulo, lá bem no cimo da Serra do mesmo nome e muito nossa também. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, há tempos…