terça-feira, 30 de setembro de 2014

Previsões certas na ideia, mas longe dos resultados...

Desde há meses, quando António Costa desceu de sua cadeira, na Praça do Município e declarou o seu "Eureka, esta é a minha hora", logo pensei que António José Seguro tinha, enquanto Secretário-Geral do PS, os dias contados. Vacilei um pouco na altura dos debates das Primárias, mas sempre com uma certa certeza que AC iria ganhar. Longe de mim, porém, a grandeza da diferença verificada e da geografia do voto, na medida em que quase 70% para AC e a sua vitória em 23 das 24 áreas territoriais dizem tudo. Ponto final, esclareceu AJS: no PS há candidato a Primieiro-Ministro e a tudo o que quiser nesta área partidária, que a sua demissão abriu as portas à sucessão de uma forma correcta e sincera. Esperava, porém, que no discurso de vitória AC tivesse uma palavra, uma só que fosse, para quem acabara de ser derrotado sem apelo nem agravo. Não gostei do seu silêncio a este respeito. E registo mais dois pontos interessantes e significativos: AC apareceu em palco sem gravata, cravo vermelho ao peito e isso pode fazer crer que essa é a sua marca. Mas falhar nas referências ao seu adversário é coisa que não entendo, nem aceito de ânimo leve. Prefiro estes gestos ao esquecimento propositado. Muito embora, confesso, nada ter a ver com a disputa em questão, há omissões que são mais cruéis que as palavras, isso há. E este foi, a esse respeito, um caso paradigmático. E é pena que assim tenha acontecido...

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Escolas do passado e do futuro

Escola de hoje e de ontem - Uma palavra para um luxo à maneira, em Oliveira de Frades Num Portugal assimétrico, desequilibrado, socialmente injusto, a Educação foi, em tempos idos, um perigoso factor de discriminação negativa. O nosso Interior está a pagar um pesado preço, ainda nos tempos que correm, em herança que vai, infelizmente, continuar no futuro, pelas falhas sofridas ao longo de décadas e décadas de um condenável abandono, imputadas aos poderes públicos, de tempos idos e de agora, que têm sido padrastos demais para as nossas terras. Verdade seja dita que o Estado Novo dotou o território de escolas primárias, sobretudo a partir dos anos quarenta e cinquenta em diante. Fê-lo por razões ideológicas e sociais, mais a pensar na industrialização do litoral e no mínimo de formação que deveriam ter os futuros operários do que nestes lugares em si mesmos. Mas também tem de dizer-se que cortou, quase pela raiz, as boas propostas que a 1ª República tinha instaurado, com modalidades avançadas para a época, que diminuiu a qualidade do ensino em termos de criar os conhecidos postos escolares, que não cuidou dos patamares seguintes como o ensino preparatório e liceal e ainda as escolas comerciais e industriais, atirando estes estabelecimentos apenas para as sedes dos distritos. Esse foi um erro fatal para o desejado desenvolvimento equilibrado que se pretendia para estas nossas zonas. Em busca de melhores condições de vida, despovoaram-se três das quatro partes do território continental e insular. A maioria das nossas gentes fugiu para os grandes centros, aí criando problemas de insustentabilidade habitacional e social do arco- da- velha, sobretudo em Lisboa e arredores, quando se encetou também a debandada para o estrangeiro europeu, aos milhares e milhares de emigrantes por ano, ora legalmente, ora a salto e haja o que houver, seja o que Deus quiser. Poderia não ter sido assim, se tivesse havido mais políticas públicas em favor das nossas Regiões. Não as dotando de serviços, infraestruturas e equipamentos, o poder central de então lavrou a sentença atroz: sair do Interior custe o que custar. Foi o que aconteceu, em massa durante os anos cinquenta, sessenta, sobretudo, para se ressuscitar, na actualidade, esse lamentável perigo das idas sem retorno de nossos jovens e demais pessoas em desespero de causa. Ontem, por umas razões, hoje, por essas e outras. Se olharmos para o facto de, em Lafões, o ensino pós-escola primária ( é este o termo mais conhecido pelo nosso povo) só ter aparecido com uma certa força nos anos sessenta, em Vouzela e Oliveira de Frades, quando, em S. Pedro do Sul, viera uns curtos anos antes, mercê da iniciativa privada em avançar com os Colégios, temos a prova de que se não andou a tempo de evitar o desastre. Pelo meio, convém dizer-se que, em Oliveira, houve uma outra experiência do mesmo género, de boa memória, em décadas anteriores. O Estado, a medo e às pinguinhas, só aqui entrou no sistema já praticamente em setenta e tais, primeiro com o 2º Ciclo, alargando para o 3º e só muito mais tarde se atreveu a criar, nos três concelhos, o 10º. 11º e o 12º anos ainda, neste caso, muito mais devagar. Dir-se-á agora que as escolas de outrora estão a fechar e a esvaziar ainda mais as nossas povoações. Essa é uma verdade incontestável, mas os factores que a isso conduziram têm raízes nos tempos que antecederam a actualidade. Se as pessoas tivessem ficado, apesar da diminuição da natalidade, não teriam havido muitos dos cortes que, a esse nível, estamos a sofrer. Com excessos condenáveis, é óbvio que alguns ajustamentos eram necessários, mas não na dose cavalar com que foram concretizados. Em termos gerais, falharam as escolas, a saúde, as vias de comunicação, os equipamentos sociais e culturais, sendo que muitas ligações e infraestruturas destas, que hoje por aí existem, são fruto dos poderes locais democráticos posteriores a 1976 e, sobretudo, são filhas dos fundos europeus. Até estes momentos, era a miséria que sabemos, que se estendia a fracas condições de habitabilidade, à tardia vinda da energia eléctrica e estas são verdades que doem e nos têm atormentado sempre. Por isso, Lafões viu fugir a sua maior riqueza, os seus habitantes. E, agora, que fazer para fazer inverter este negro quadro?... Oliveira de Frades, uma Escola de outra galáxia Feitas estas considerações, passemos a uma outra constatação, a de que, no oito e no oitenta, o concelho de Oliveira de Frades, veio a herdar uma das melhores e maiores escolas secundárias executadas pelo “Parque Escolar” nos últimos anos. Fala-se na ideia de que é a segunda, logo atrás da “Quinta das Flores” em Coimbra, nesta última fase. Pelo que vimos, não nos custa acreditar que assim seja. Em visita agendada com o Professor José Viegas, que acompanhou a par e passo estas obras, e levada a cabo pela Directora, Dra. Jorgina Rolo e sua Colega de gestão, Dra. Ana Paula, por ali andámos parte de uma enriquecedora tarde. Olhos arregalados, para nós que ali leccionámos pouco tempo depois de ter sido inaugurada a velha-nova Escola, em 1987, nem queríamos acreditar no que víamos em extensão, em profundidade e em aspecto (fora alguns pormenores que deixam bastante a desejar, como as portas, etc, etc,), porque aquilo é obra de nos fazer crescer água na boca, que ali apetece ir e ficar. Eis alguns bons tópicos: uma sala por turma, mais salas específicas para actividades diversas, laboratórios topo de gama, a fazer inveja a muita universidade, pavilhão desportivo cinco estrelas, instalações para professores, trabalho e tempos livres, com uma qualidade invejável, sendo que o nosso termo de comparação tem cerca de trinta anos, campos de jogos vários, bom refeitório e loja de produtos didácticos, oficinas de mecânica e carpintaria de bom nível, salas de directores de turma e para encarregados de educação, serviços de secretaria com apreciável aspecto, um tamanho que dá para projecções optimistas a vários anos. Enfim, uma obra que vale a pena ver e desfrutar. Mas também tem manchas negras, como sejam o diminuto espaço aberto para os cerca de mil alunos que ali têm aulas, para tempos de Inverno, a qualidade de alguns materiais nas portas que deixa muito a desejar – a vimos algumas delas a caírem, literalmente -, um anfiteatro enorme horizontal, que nega a boa observação de quem nele se sentar, sinais estes de que nem tudo foi bem pensado e concretizado. Para terminar, uma Escola destas merece que a população a faça usar até ao limite das suas capacidades e que todos os que a “habitam” sejam dignos da qualidade que ostenta, porque perto de 19 milhões de euros ali gastos falam por si. Oliveira de Frades pode orgulhar-se deste empreendimento, que tem razões para isso. Ainda bem. Carlos Rodrigues, NV, 2014/09/18

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Pedido de desculpa de S. Pedro

Meus caros amigos aí debaixo: quero pedir-vos desculpa pela chuva que vos tenho enviado, mas vou tentar remediar a situação dentro de dias. Já agora, um esclarecimento: a razão deste meu desabafo colhi-a nas recentes declarações dos Ministros portugueses da Educação e da Justiça que criaram mais tempestades que eu próprio e tiveram a "coragem" de tomar idêntica atitude. Dou-lhe os meus parabéns por isso, mas no Céu só entram se, agora, forem capazes de desfazer o mal feito... Palavra de S. Pedro, o detentor das chaves do Paraíso...

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Um amigo da COISA pública

Ao sabermos que o FISCO já lançou, até agora,2,3 milhões de ordens de penhora, gostaria de ver o Estado tão ligeiro em pagar a quem deve. Mas essa é outra história. Como me sinto amigo da COISA pública, que é algo que pertence a todos nós, deixo aqui um desafio, que é um lamento e um desabafo ao mesmo tempo: que os poderes centrais se apressem em rentatibilizar uma boa parte do seu património que anda para aí a cair aos bocados, começando pelas Casas dos ex-guardas florestais, essa preciosa gente, pelas dos Cantoneiros, pelos Cartórios Notariais, pelas Casas dos Magistrados (que, a nosso ver, até são, em muitos casos, dos Municípios)e, já agora, pelos Tribunais, alguns deles ainda a cheirar a tinta nova, recentemente encerrados. Estas, sim, estas é que são boas medidas, mas isso dá trabalho e, então, liga-se-lhe pouco, ou nada. Triste estado a que o Estado chegou!...

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Um mau/bom conselho...

Tal como temos dois bancos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, um bom e outro mau, também me sinto no dever e no direito de expressar a minha opinião, boa para uns, má para outros, atrevida para uns tantos, estapafúrdica para outros, e que é esta: ao começar um novo ano lectivo, que nasça nas nossas Escolas, de alto a baixo e da esquerda para a direita e vice-versa, um MOVIMENTO que passe a usar o VELHO ACORDO ORTOGRÁFICO e que mande dar uma volta a asneira oficial que para aí grassa, para mal da nossa cultura. Por mim, enquanto puder, é assim que actuo, teimosamente à antiga portuguesa...

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Terras com gente no Verão, despovodas no resto do ano

Terras com gente dentro, estando fora Se parece um paradoxo este título, cremos que faz todo o sentido aplicá-lo no contexto em que o projectámos. Estando a lembrar-nos daquelas nossas povoações, desertas praticamente quase todo o ano, mas com carradas de vida e sorrisos pelo menos em Agosto, está explicada a razão de ser desta escolha jornalística. Migrantes em partes infindas, cá dentro, ou lá fora, há razões do coração que os atraem, ano a ano e, agora, felizmente, até mais do que uma simples visita de 365 em 365 dias, e os puxam para suas terras de origem. Este é um segredo do comportamento humano que é de difícil compreensão. É assim e assim mesmo. Em viagens por diversos locais, no foro interno, aquilo que, outrora, chegou a ser “condenado”, porque ofensivo de padrões de construção tradicionais, hoje é marca sagrada de quem aqui quis vincar parte da cultura bebida por onde se anda. As casas dos emigrantes trouxeram novos traços, materiais diferentes, conceitos arrojados e impuseram-se nas várias paisagens. Com elas vieram opções de dignidade e conforto, que agora são indiscutíveis. Recuando, também o estilo manuelino chocou com padrões então existentes e o próprio Mosteiro dos Jerónimos deve ter posto muita cabeça a ferver. Por aqui, talvez a Ponte do Caminho de Ferro, em Vouzela, e a sua irmã de Pinheiro de Lafões, ou a de S. Pedro do Sul, muito provavelmente, também foram vistas como elementos a mais no tecido arquitectónico destes aglomerados populacionais. Impondo-se, ninguém as discute, todos as acarinham e gostam de valorizar. Porque são já emblemas e selos inseparáveis de cada uma destas paragens. Neste momento, porém, nem é destas obras que pretendemos falar. São as acções, materiais e imateriais, desenvolvidas por esta boa gente, que nos fazem evocar estes pensamentos. Ao vermos que, por exemplo, numa pequenina povoação, Póvoa das Leiras/Candal, foi possível erguer uma nova Capela dedicada à Nossa Senhora da Paz, pegando no xisto ali existente, que também foi usado no Palco e vedações daquele espaço, com o incrível esforço de quem partindo, nunca dali saiu, temos um vivo testemunho daquilo que pode o amor ao chão sagrado que todos transportam consigo por esse mundo fora. Impressionados com a beleza daquele lugar, com as suas muitas casas restauradas, muitas delas com o xisto preto como cobertura, em louvor da identidade local, com o arranjo, nos anos de 2012 em diante, daquele espaço festivo tão agradável, tentámos inquirir se ali havia gastos municipais ou afins. A nossa fonte, clara e abertamente, logo nos disse, com um brilhozinho nos olhos, que nada disso acontecera. E o milagre deu-se. Uma migalha francesa, outra lisboeta, alemã, suíça, luxemburguesa, brasileira, americana ou portuense, todas, em conjunto, foram o suporte para aqueles feitos. Em Agosto, para vincar a ligação ao berço, há festa na aldeia com o seu alto patrocínio e apoio activos. Trazido aqui este apontamento, é certo e sabido que pode replicar-se por muitas outros de nossos povos. Em qualquer sítio por onde andemos, muitas são as obras públicas em que há contributos deste género, muito embora com gradações diferentes, mas todas elas a fazerem-nos ver que a emigração é um passo para o enriquecimento de nossas comunidades. Ainda bem que assim é. Devemos um enorme respeito a toda esta gente. Quase ninguém saiu por gosto. Muitos tiveram de abalar porque o solo pátrio lhes foi padrasto agreste, seco, duro e indesejável, aqui não podendo dar azo a suas capacidades e potencialidades, que o Estado também não se tem portado à altura com estes espaços do Interior, bem pelo contrário. Apesar de terem de se ausentar por falta de condições, não subsiste nenhum azedume, nenhuma dor de alma por assim ter sido, mas um enorme desejo de se ser útil a cada terra hoje em risco de um atroz despovoamento. Havendo orgulho nas origens, dando-se tudo pelo sucesso pessoal e profissional, cada português, em regra, é a prova de que, com outra organização, se é dos melhores entre os melhores. E isso deve pôr-nos todos a bater palmas e a bendizer estes nossos irmãos que, ano após ano, aqui voltam, coração apertado, mas muito aberto. Mas não é dos últimos tempos este sentimento de entrega a causas locais. Andando uns centos e muitos anos para trás, topamos logo com o Conde de Ferreira e as escolas que criou por todo o nosso Portugal. A uma escala local, lembramo-nos do Comendador Manuel Martins Gomes e a sua acção em prol das Bibliotecas escolares de Lafões e a construção do edifício imponente do ensino primário na vila de Oliveira de Frades. Grandes homens foram estes e outros!. Aqui perto, em Campia, os irmãos António Salomão Dias e Amadeu Rodrigues Tavares, que vivem na Venezuela, são um claro e evidente testemunho de quanto pode o gosto activo em ajudar a sua terra. Sem querermos enumerar muito do que ali têm ajudado a pôr de pé, a lista seria imensa. Num outro patamar e tocando apenas nalgumas referências muito pessoais e muito amigas, não se pode esquecer o trabalho que os nossos emigrantes fazem nas terras que os acolheram. De raspão, citamos dois vultos e estrelas de primeira grandeza: o Comendador José Ferreira Trindade, no Luxemburgo, e Fernando Almeida, em Augsburgo/Alemanha, onde chegou a desempenhar cargos de topo municipal e regional. É com gente esta fibra, uns cá e outros lá, que se tece a manta quente da nossa emigração. Um grande abraço para todos. Carlos Rodrigues, “Notícias de Vouzela”, 4 de Setembro de 2014