terça-feira, 25 de novembro de 2014

Um comentário que faço sem gosto

Este gajo da Serra do Ladário, concelho de Oliveira de Frades, eu próprio, é avesso a comentar mundanices, por formação, convicção, vontade e postura. Isso é matéria que muito pouco me diz. Se não gostei do espectáculo montado em redor da detenção de José Sócrates, há factos e factos. Supostamente, é, judicialmente, grave o seu caso. Sendo assim e se há razões para esta prisão domiciliária, tudo certo. Dispensando o folclore, os atrasos nas decisões, o veredicto, a avaliar por aquilo que para aí consta, não é de estranhar-se, sobretudo quando se fala em alta corrupção, presumindo que com base em dinheiros públicos, nossos. Se assim foi, há que pagar por isso. Mas uma decisão destas têm de ser bem suportada em presunções seguras quanto às razões que a levam a decretar. Como não foram ditas, ficam as dúvidas e era bom que os Tribunais as venham a tirar. No meio disto tudo, o que me dói é um País a desfazer-se no que respeita aos valores, à dignidade da política, em práticas que o enterram vivo. Foram o BPN, o BES, os vistos Gold e toda a trapalhada que por aí abunda. Isto não pode continuar assim. Não pode. Não pode. Não pode. A política tem de se refrescar e renascer para outra figura e outra capacidade de ser criadora, séria, honesta, moralmente justa e solidária. Assim, com isto tudo, mata-se a esperança e a confiança. Pior, estas morreram já. Porra. Chega. Basta...

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A fome e a fartura, alguns meses depois...

A fome e a fartura No dia 18, domingo, mesmo depois da Troika se ter ido embora, numa saída enganadora, que essa malta por cá vai andando uns pares de anos a fio, olhámos para o sol e não sentimos haver diferenças, sendo que a melhor luz só apareceu, para nós, quando ele ia a caminho do ocidente, ao tombar para lá das nossas serras, no momento em que o SLB venceu a Taça de Portugal, a juntar, em feito inédito, aos dois títulos já anteriormente conquistados. De resto, tudo na mesma. Respeitando todos os adversários, muito especialmente o digno Rio Ave, esta é a nossa opinião e assim se expressa. Dizemos mal, que houve outros sinais. É que, no rescaldo de um Conselho de Ministros Extraordinário, foi-nos oferecido, em documento com 65 páginas, um novo “ Caminho para o crescimento” e o PS brindou-nos com as suas oitenta medidas e outros tantos compromissos. Ou seja: da fome anterior ao dia 17, por influência de uma devastadora crise e de um Programa de Ajustamento que nos deixou a pão e água, passámos para a fartura das ideias, das propostas, das sugestões tendentes a proporcionarem-nos um futuro melhor. Pelo menos assim falam o Governo e a Oposição, em tempos, curiosamente, de plena campanha eleitoral para o Parlamento Europeu, que nos está a passar completamente ao lado. Neste início de semana, já estivemos a passar os olhos por essa papelada, como convém a quem queira estar informado, até para ter sustentabilidade aquilo que, aqui, se vai escrevendo. De um lado, no tal “ Caminho para o crescimento”, topámos uma espécie de fusão e síntese do Documento de Estratégia Orçamental (DEO) e do Guião da Reforma do Estado, intenção que, aliás, é descrita logo nas primeiras páginas, de forma a unir “ um conjunto disperso de medidas e reformas apresentadas noutros programas”, tais como infraestruturas, fomento industrial e estratégia nacional para o mar. No outro, temos uma série de promessas, oitenta ao todo, com maior destaque para quinze tidas como mais importantes, aclarando António José Seguro que “… Só prometo aquilo que posso cumprir”, adiantando que o “ Voto não é um cheque em branco. O voto vincula os governos ao cumprimento das suas promessas eleitorais… “ Sabendo que vivemos em clima de debate europeu, aproveitou-se este ensejo para nos serem oferecidas receitas nacionais, vivendo-se em Maio de 2014 com o pensamento já focado no acto eleitoral legislativo de 2015, sendo este momento a sala de visitas desse mesmo edifício já em acesa construção. A Europa que espere, que fique lá onde está, distante das nossas preocupações, mesmo sendo nessa União Europeia que se escreve o nosso destino todos os dias e o Parlamento Europeu a ser o único órgão da UE verdadeiramente democrático e representativo dos nossos povos. Mas essa é matéria que interessa pouco discutir. Lamentável e quase criminosamente, diga-se com frontalidade e clareza. As eleições europeias Por mais que nos apeteça pegar nestas duas peças políticas e delas falarmos, isso seria uma traição às nossas convicções, preferindo antes pôr em cima da mesa o que é determinante nestas alturas até ao dia 25 de Maio, porque, na próxima vez que aqui nos encontrarmos, já as eleições são parte do passado e o veredicto estará registado para sempre. Temos, à partida, um enorme e fundamentado receio: a abstenção será medonha, pelo menos assim projectamos o que irá acontecer. A história, aliás, mostra-nos uma clara tendência nesse sentido, desde 1989, ano das primeiras eleições universais, até 2009, o que se constata com estes números, expressos em votação: 1989 – 49.7% de votantes; 1994 – 35.7; 1999 – 40; 2004 – 38.6 e 2009 – 36.8%. Este ano, com o silêncio que se nota a esse respeito e com a descrença nos políticos e na nobre arte da política, em geral, com uma certa sensação de que não vale a pena ir às urnas depositar as nossas convicções, todo este panorama se pode vir a agravar, perigosamente. Está nas nossas mãos fazer inverter essa prática. Actuemos nesse sentido. É que temos pela frente um Parlamento que, sobretudo depois do Tratado de Lisboa, de 2009, tem a incumbência de escolher o Presidente da Comissão, vendo ainda os seus atributos alargados em matéria de Orçamento Comunitário, de mais poder na área da agricultura, da política comercial, liberdades cívicas, protecção do consumidor, transportes e investigação, não lhe passando ainda despercebida toda a vida da União Europeia e nos seus 28 membros. Num universo de cerca de 500 milhões de habitantes ( meia China menos um grande bocado), serão eleitos 751 deputados, sendo 21 portugueses. Colocados, actualmente, em sete grupos políticos-base, têm a sua origem em mais de 160 partidos políticos nacionais. Cabem-nos as seguintes forças políticas: BE, PCP-PEV, Aliança Portugal/PSD/CDS, Livre, MAS, PND, MPT, PS, PCTP/MRPP, PDA, PNR, POUS, PAN, PPM, PPV e PTP. Por onde escolher, não faltam hipóteses. Sendo essa uma tomada de posição que cabe a cada um de nós, a liberdade é total. Com o acto eleitoral a começar hoje mesmo, dia 22, em alguns países, a sua finalização só acontecerá no dia 25, data consagrada à divulgação oficial dos respectivos resultados, ainda que possam ter o seu início alguns dias antes, como vimos. Com o fito numa visão estratégica e política, num desígnio humano com vontade de construir um futuro melhor, com a esperança numa segura linha de rumo e em objectivos de base sólida e duradoura, serena e construtiva, declaramos solenemente que IREMOS VOTAR. Não queremos deixar a nossa vida de amanhã nas decisões de outros, por mais que confiemos na bondade humana, mas os direitos e deveres de cidadania não os alienamos, nunca … Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Mulheres ao poder...

Aí está mais um dado sociológico em crescimento: a merecida subida ao poder por parte das mulheres. Agora, na Administração Interna, devido ao pedido de demissão de Miguel Macedo ( uma atitude que aplaudo, pelo seu significado político), vamos ter Anabela Rodrigues,com três facetas de que muito gosto: tem um bom sobrenome, é mulher e está academicamente ligada a Coimbra. Adivinho: vai ter uma espinhosa missão. Prevejo: não tem muito tempo para se afirmar. Desejo: para bem do País, que tenha sucesso. Gostava: que outros Ministros tivessem seguido o (bom) exemplo de Miguel Macedo. Perdi: o PM não foi na conversa dos meus anseios e optou pelos serviços mínimos. Nem sequer ouviu Marcelo Rebelo de Sousa. E que razão tinha eu para acreditar que me seguiria? Nenhuma. Pronto, viva a nova Ministra, Rodrigues, mulher e "de" Coimbra...

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Ponto final

Eu sei: a mensagem chegou direitinha aqui à minha terra, na encosta da Serra do Ladário, Oliveira de Frades e bem ouvi dizer que as eleições são a seu tempo, ponto final. Quem o disse foi o mais alto Magistrado da Nação, que também se pode enganar. É que, às vezes, nas voltas que o mundo dá, a verdade de hoje pode o não ser amanhã. Mas não é bem isso que me importa. O que é preciso é que haja CONSENSOS de base, essenciais e necessários como pano para a boca, para evitarmos ter de andar sempre a levar raspanetes de quem eu gosto muito pouco, mesmo quase nada, a Troika. Entendam-se, malta!...

domingo, 9 de novembro de 2014

O petróleo a toldar as mentes

A minha última entrada nestas páginas, que vou alimentando com alguma irregularidade, mas com a verdade como mestra, falava dos preços dos combustíveis. Nem de propósito. Hoje vou pegar num assunto que muito me dói, o da expulsão dos Magistrados portugueses que prestavam serviço em Timor. Segundo consta, há a maléfica acção das fontes petrolíferas no meio desta decisão timorense. Não sei nada sobre as razões que sustentaram tão dura sentença. Consta, e é nessa convicção, que o petróleo foi o detonador desta bomba política que muito lamento. E digo porquê: há anos, chorei lágrimas de dor pelas atrocidades que recaíam sobre este território tão afectivamente ligado a todos nós. Escrevi muitas linhas, em artigos de jornal, a associar-me, de corpo e alma, a esta causa nossa e de todo o mundo, a defesa de Timor independente. Inscrevi o meu nome em tudo quanto se relacionasse com este tão quente e tão candente problema, defendendo a integridade deste território até ao limite. Ao lado de Xanana e suas ideias, sofrimentos e dores, estive sempre, sem medo, sem vacilações, com firmes convicções. Por tudo isto e pela solidariedade que Portugal sempre mostrou, activamente, em relação a este novo País, o mais novo, nascido no início deste milénio, não gosto de ver aquela Terra a tratar-nos assim, mandando para casa, em 48 horas, gente de nossa gente. Este não é comportamento que eu aplauda. Nem por sombras. Razões, dessas não quero saber para já.É o gesto brusco que me amachuca, que me diz que não se "paga" assim a solidariedade demonstrada em tempos de morte e dor. Sendo irmãos, não se dão assim bofetadas, sobretudo quando é Xanana Gusmão o Primeiro-Ministro de Timor, de que tanto gosto e de que não quero perder pitada das boas ligações que temos tido. Um nódoa apareceu agora. Mas a lixívia tem de lavar tudo isto e Xanana deve bater com a mão no peito e pedir-nos desculpa. O peso do dinheiro de petróleo não pode matar a emoção do coração. Nunca.