quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Adeus com lenços brancos

Logo, à meia-noite, não pego em passas, mas em lenços brancos de despedida de um ano que não gosto de ver repetido. Com o copo de champanhe, vou tentar afogar aquilo que correu mal e esquecer dores e arrelias próprias de um país desencontrado consigo mesmo e zangado com os seus cidadãos. O país, não, os seus responsáveis, claro. Fico, no entanto, com uma esperança: que isto corra melhor, mas temo que tal não venha a acontecer. Quero, em suma, que seja dada a volta a isto, mas desconfio que ainda não será em 2015 que teremos melhores dias. Entretanto, com a pedalada que Lafões está a ter, em Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul, desejo que, em conjunto, sejamos capazes de dar futuro aos nossos jovens e não os deixar ir embora. Já perdemos gente demais, desde 1960 para cá. Temos hoje muitos milhares de pessoas a menos, muitos milhares mesmo. Voltem, amigos!... Um abraço. Bom ano novo...

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Um dos maiores golpes de 2014

Comarcas, perder o que tanto custou a ganhar Nesta última decisão governamental, que levou ao encerramento de 20 Tribunais e à classificação de 27 como “secções de proximidade”, a incluir Oliveira de Frades e Vouzela, na nossa região de Lafões, foi-se longe demais em matéria de desrespeito pelas comunidades locais e pela sua necessidade de não perderem nada daquilo que faz subsistir, como elementos resistentes de um espaço territorial português em vias de perigoso despovoamento e desertificação, estas terras. Sem meias palavras, com esta medida, que se segue a outras com o mesmo sentido de delapidação das nossas riquezas, como o encerramento de valências na área da saúde, a que se podem juntar, eventualmente, as Finanças e não sabemos que mais, estamos perante um grito de alerta que não pode deixar caladas as populações afectadas por estas grossas asneiras. Infelizmente, este é uma luta com tiques de continuidade, num ir e vir que incomoda e faz pensar na ideia de que somos demasiado descartáveis ao sabor dos ventos e das circunstâncias. Num sistema judicial português, que tem sofrido esquemas e oscilações várias ao longo dos tempos, vamos tentar enquadrar, na história, esta mesma questão, de uma forma grosseira e bastante incompleta, que nos virá a ocupar, uma vez mais, noutras edições. Em primeiro lugar, em termos de divisão administrativa, o nosso espaço tem andado com a casa às costas como o caracol. Já fomos um só concelho, Lafões, com duas cabeças e algumas excepções pelo meio, passamos depois por uma só sede, perdendo parte dele, aparecemos com três municípios na actualidade, desde, sensivelmente, o último quartel do século XIX. No entanto, a justiça, no concelho de Lafões e nos Coutos, sempre teve, em geral, um juiz de fora, um juiz dos órfãos, tabeliães e ouvidirias, em cada uma dessas unidades geográficas. Pegando agora nos anos 30 e tempos posteriores do século XIX, relativos aos actuais municípios de Oliveira de Frades e Vouzela, agora defraudados neste capítulo de extrema importância para as nossas comunidades, podemos dizer que, pelo Decreto-Lei de 16 de Maio de 1832, passou a haver distritos judiciais, comarcas, julgados, juízos de paz e juízes eleitos, sendo que, em virtude do Dec-Lei de 21 de Março de 1835, se instituiu o Julgado de Lafões, a englobar os concelhos de Alva, Banho, Vila Maior, Lafões ( SPS/VZL, a então bicefalia reinante), Oliveira de Frades, Sul e Santa Cruz da Trapa. Logo a seguir, por força do DL de 29 de Novembro de 1836, a Comarca de Vouzela passava a ter os concelhos de S. João do Monte, Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul, Tondela e Vouzela, como era lógico. Porém, no ano de 1840 – DL de 28 de Dezembro, já só tinha Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul, Sul e Vouzela, tendo sido criada a Comarca de S. Pedro do Sul em 20 de Setembro de 1890, com a sua área geográfica e a de Sul, concelho extinto em 1855, de acordo com fontes do Arquivo Distrital de Viseu, em “ Câmara Municipal de Lafões”. No que diz respeito a Oliveira de Frades, de um modo particular, a luta maior deu-se, sobretudo, em finais do século XIX e princípios de XX, quando o seu julgado municipal foi criado em 10 de Março de 1887 pelo Ministro Conselheiro Veiga Beirão ( Ver “ Monografia”, 1991, CMOF), para ser extinto em 7 de Setembro de 1895. Antes, porém, tal como referimos, havia os juízes de paz, citando-se os deste concelho, de Cambra e de Arcozelo das Maias, em 1858, entre muito outros. Quanto à Comarca, a situação foi mais complicada: criada em 31 de Maio de 1900 pelo Ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, Conselheiro José Maria Alpoim, viria a cair pouco tempo depois, a 19 de Julho. Caberia a este mesmo estadista, em 9 de Novembro de 1904, a sua restauração, que se manteve até 2014 (?), até ver… Símbolo da liberdade, a justiça e os pelourinhos sempre foram pontos altos dos nossos concelhos. Hoje, dos segundos, rezam as memórias e da primeira, pouco mais do que isso, numa clara ofensa às nossas gentes. Quanto a Vouzela, a perda da sua Comarca, em 1927, quando tombaram 37 destas unidades, e a sua reconquista em 1973, foram aspectos de uma dura e continuada refrega, que motivou uma acesa defesa dos seus direitos, perdidos de uma forma tão inglória. Aliás, a notícia da vinda gloriosa da Comarca, em 10 de Abril de 1973, conhecida pela Televisão, foi assinalada efusivamente por todos os vouzelenses, dentro e fora de portas, por entre abraços, mensagens, foguetes e outras festas que tais. O destaque que lhe foi dado por este “NV”, a 20 de Abril de 1973, em toda a primeira página e no seu interior, mostra a alegria, o carinho, o entusiasmo que veio a despoletar, vindo a reflectir-se em edições posteriores. Entre os nomes sonoros de então, temos o Ministro Professor Dr. Almeida Costa e o Eng. Armínio Quintela, Governador-Civil de Viseu, à altura dessa boa-nova. Mas há muito mais gente a ser obreiro desta vitória, a quem nos referiremos daqui a dias. Entretanto, perante os tristes factos de hoje, com a perda da importância dos nossos Tribunais, com pena nossa, não se vê a garra de outrora na sua defesa. E isso não é bom sinal… Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Fevereiro, 2014, para recordar um dos rudes golpes de 2014

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Saudades, uma ova

Quase a despedir-se o ano de 2014, dele saio sem grandes saudades. Vi ir embora a Troika, mas as sua pegadas, de má memória, por cá vão durar. Vi falir um banco, mais um (o BES/GES), e este com um enorme e ainda desconhecido estrondo, a sobrar, muito provavelmente, para nós pagarmos.Vi os Tribunais a condenarem ou a lançarem suspeitas sobre gente dita importante e isto só mostra, se forem verdade as acusações feitas, que o sistema está podre. Vi fugir os CTT e quase definhar a PT e a TAP. Por tudo isto, saudades, uma ova. Em contraponto a este estado de desânimo e revolta, gostei muito de ver a Barragem de Ribeiradio/Ermida a crescer e a encher-se de água. Dela, creio eu e faço votos para que assim aonteceça, muito se irá falar. O meu concelho, Oliveira de Frades e Sever do Vouga, vizinho e amigo, terão muito de bom a esperar deste notável empreendimento. Que mais dizer? Devo fazer recordar que a Ministra da Justiça nos tirou os Tribunais ou lhes deu uma mortal facada, a ponto de os converter, Vouzela e Oliveira de Frades, em qualquer coisa que não é nada, ou pouco mais do que isso. Saudades, uma ova... Mesmo assim, que 2015 seja um Bom Ano... Um abraço, malta amiga...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Couves para a panela

Estão a ficar despidas as hortas da minha aldeia,a Sobreira-Oliveira de Frades, que as couves correm para as panelas. Do saco de bacalhau sai o pitéu que vai alegrar as nossas mesas nocturnas, em Ceia de Natal, com toda a tradição. O azeite foi escolhido a dedo. O vinho, também. A doçaria não falta. A Família disse sim a este apelo irresistível: compareceu. Infelizmente,agora, há gente muito querida que não aparece, mas, não estando, está sempre connosco. Faz anos em que me despedi, em 1975, de meu irmãozito, o Tonito. Que saudades! Hoje, como é costume, é Viseu a terra escolhida para uma doce consoada. Lá estaremos daqui a bocado, mas com pena, repetimos, de quem partiu. Ao invés, saudamos as novas gerações, estas a receberem prendas em festa animada. Esta é a tradição. Que assim se mantenha por muitos anos...

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Boas Festas

Com medo ainda do ano que vem, apesar disso, quero enviar Boas Festas e o desejo de um Bom Ano de 2015 para toda a malta. Aqui, na Serra do Ladário, lado sul, concelho de Oliveira de Frades, a tradição ainda tem muito do que era. E o Natal é tempo quente, por excelência, por mais frio natural que esteja. A estas terras acorrem os nossos amigos e familiares e as casas enchem-se de tudo, de alegria a mesa farta. Mas há dores que não passam. E o facto de sentirmos que a União Europeia anda a meter demais o bedelho nas nossas coisas, como esta de puxar as orelhas ao Governo por estar a alargar um pouco os cordões à bolsa (ordenado mínimo, etc) é receita que já incomoda. Se a austeridade gerou ondas de pobreza e de choque social, vê-se que essa não é política a seguir e esta teimosia tem de, um dia, acabar. Ou acabamos todos num poço sem fundo. Entretanto, porque é Natal, BOAS FESTAS...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Lafões, terra com Imperadores, com mais segredos desvendados

Num seminário, "Lafões, um património com futuro", organizado pela CM de Vouzela, no âmbito das comemorações dos 500 anos do Foral de Lafões, e em que tive a felicidade de participar como moderador, ficámos a saber, desde esse dia 15 de Dezembro, que esta Região tem mais motivos para afirmar a sua identidade e importância estratégica ibérica. Pela avalizada voz do Dr. Manuel Real, foi dito, e sustentado em fontes credíveis, que nestas terras, no Paço de Moçâmedes, viveu, de 900 a 912, o Príncipe Ramiro, futuro "Imperador" de Leon e, talvez, "Rei" de Portucale e de Viseu. Com muito ainda por descobrir, este período da Alta Idade Média, agora divulgado, mostra quanto esta nossa zona foi importante em tempos idos, um pouco por toda a parte, mas sobretudo em Moçâmedes, como vimos, e em Bordonhos... Fico feliz por saber que assim foi...E, eu que tenho a História como irmã de caminhada, desconhecia estas preciosidades: confirma-se então, cada vez mais, que nunca se sabe tudo. Longe disso...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Carros eléctricos e pontos de abastecimento, um bluff...

Choque eléctrico com carros parados Há ideias que se revelam acertadas e parecem acompanhar o ritmo dos tempos que vivemos. Algumas delas ultrapassam mesmo essa velocidade, como aconteceu, há décadas, com o nosso amigo Dr. Virgílio Borges, infelizmente já desaparecido, que sonhou com a energia fotovoltaica, a estudou em Doutoramento e a aplicou na sua moradia no Estoril e no relógio do Monte Castelo. Sonhador, tempos antes, quisera fazer da Quinta de Valgôde um sucesso empresarial agropecuário. E conseguiu-o, ainda que parcialmente. Desviando-nos do fim que tínhamos em vista ao iniciarmos estas linhas, só aqui colocamos o parágrafo anterior para homenagear quem assim antevê o futuro. E o Dr. Virgílio Borges foi um homem desses. Estávamos para falar dos carros movidos a electricidade e é disso que vamos tratar. Primeiro ponto: um cartão vermelho para a MOBI-e, entidade a quem temos vindo a solicitar dados para alinhavar esta espécie de estudo e nunca nos respondeu. Nem um linha sequer. Fazendo-nos falta essa voz oficial, ficamos com outras pistas, talvez não tão acertadas, mas as possíveis. Segundo ponto: por aquilo que sabemos ( e é, infelizmente, muito pouco) isto foi um bluff, desculpe-se a expressão, de todo o tamanho. Em 1026 postos de abastecimento espalhados pelo País – dados de 2010 a Fevereiro de 2012 - , estilo um que conhecemos junto à Biblioteca Municipal de Viseu, poucos préstimos tiveram. Temos uma vaga ideia que foi quase nulo o uso que deles se fez… Nesse mesmo período, a nível nacional, tinham sido comercializados 231 veículos, alguns deles para o Governo de então mostrar algum trabalho de casa. Pouco mais. Terceiro ponto: o facto de terem de ser abastecidos sensivelmente de 120 em 120 quilómetros, por um período de cerca de seis horas, não é trunfo que possa surtir efeito agradável. Quarto ponto: o preço exorbitante do seu custo inicial põe muita gente a fugir dessa solução, sendo que, valendo à volta de dez mil euros, chegam a atingir os mais ou menos 40000 euros, o que é um absurdo e um disparate de cabo de esquadra. Quinto ponto: desconfiança de todo esse sistema, que só agradará muito mais quando descerem esses valores e se puderem carregar as respectivas viaturas, por exemplo, em casa. Sexto ponto: pode estar para breve o retorno a esse caminho, uma vez que a Nissan Leaf tem para venda 50000 carros, mas, mesmo assim, longe das nossas bolsas, por custarem em Portugal cerca de 32990 euros. Espalhando-os por 17 países, conta já com cerca de 7000 proprietários, pensando nós que nenhum no nosso país Sétimo ponto: creiam que muito gostaremos de aceder a estes veículos e a esta energia limpa. Mas, por enquanto, parece que há mais choques eléctricos que cheques em circulação. E isso é que é pena. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Fevereiro de 2013, talvez ainda actual em Dezembro de 2014

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Dezembro com três, quatro ou cinco feriados

Para os puristas da economia dos números, para quem as pessoas pouco valem, isto de Dezembro ter dois feriados antecipadamente, 8, segunda, 25, quinta, um outro agora "decretado", 24, quarta e um hipotético, 26 ( em alternativa a outras duas datas, 31, novamente quarta, ou dois de Janeiro de 2015), é lenha demais para a sua fogueira. Mas, para quem aprecia a vida e as relações pessoais, a produção, em média, não vai perder, porque a motivação faz com que, amanhã, venha a disparar. Boa malha, esta!...

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O que se pedia ao poder central em finais da Monarquia....

Distrito de Viseu com pedidos feitos ao poder central entre 1890/1939 Num espaço temporal que abrange regimes tão diversos como a Monarquia, a Primeira República e uma parte substancial do Estado Novo, foram feitos centenas de pedidos e de representações, por parte de diversas entidades do distrito de Viseu, com destaque para as autarquias locais, com um destinatário comum: o poder central com sede em Lisboa. Tendo como fonte o Fundo do Governo Civil de Viseu, Correspondência Expedida, 2ªa Repartição, Livros nº 369 a 392, integrados na documentação do nosso Arquivo Distrital, é possível analisar muito do que eram as preocupações dos responsáveis locais em matéria de investimentos para suas terras e respectivos processos de desenvolvimento. Comparar essas pretensões com os tempos de hoje é uma forma de vermos como as necessidades e as realidades mudaram. Com muito material para ser analisado, por hoje, afloramos, a nível da região de Lafões, apenas uns pequenos pormenores, que nos permitem ver o que então era preocupação de nossas gentes e como as autarquias estavam desprovidas de qualquer autonomia. A sua reduzida esfera de acção explica também a dimensão e o tipo de tarefas de seus dirigentes e quadros de pessoal. Nada que se possa sequer compaginar com a actualidade, nem em natureza política, com uma democracia a funcionar, nem na tipologia das acções e serviços prestados. Trazemos aqui estas considerações ainda como contributo para a compreensão das autarquias de hoje e sua complexidade. A distância que as separa das suas antepassadas é abismal. Para melhor, muito melhor mesmo. Felizmente. Na pesca de uns curtos exemplos, atente-se ao que então foi solicitado às várias instâncias do poder central: - 20/06/1892 – Paróquia de Pinho/ S. Pedro do Sul – Instalação de uma escola primária – Director-Geral de Instrução Pública. - 28/12/1897 – CM de Oliveira de Frades – Subsídio para lanço de estrada municipal – MOPCI - 18/01/1909 – CM de Vouzela – Que a estrada municipal de 2ª classe nº 3 seja convertida em real – DGOPM Nestes excertos à toa, já se dá uma ideia daquilo que, nesses anos, constituía o painel de “representações” feitas a Lisboa, mas há muito mais. Mostrámos estes factos como meio de então entendermos como era o exercício das funções políticas locais. Para se ter uma ideia mais nítida de tudo isto, haverá um longo caminho de investigação a fazer: o teor dos pedidos, as verbas envolvidas, os prazos em questão, o sucesso ou insucesso de todas estas diligências. Nada disto temos em mãos. Apenas estas listas secas e nada mais. Mas já nos dão que pensar. Carlos Rodrigues , “Notícias de Vouzela”