quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Piropar

O meu País vai ser o reino das maravilhas e dos bons costumes. A recente punição dos piropos é a tábua de salvação para a boa educação. Adivinho: ninguém, eles ou elas, abrirá a boca para dirigir uma qualquer palavra a outrem. Apenas, um seco "bom dia". Se os abusos e as ofensas não podem passar impunes, não sejamos, no entanto, mais papistas que o Papa. Sinceramente, não é duma sociedade proibicionista de tudo que precisamos. O que é necessário é elevar, por dentro, em cada um de nós, o sistema de valores. À chicotada, não vamos a lado nenhum. Dito de outra forma: que os legisladores se preocupem com questões de fundo, estruturantes, amigas das igualdades e da justiça e deixem que as pessoas se comportem bem em si mesmas e nunca por medo da cadeia...

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Quase no fim do ano

Hoje dei comigo a pensar que, se me descuido, ainda tropeço na velocidade do tempo com que se está a esgotar este ano de 2015. Falta pouco para ele arrumar, de vez, as botas. Deixa saudades? Nem por isso. A nível nacional, apanhámos com mais um banco pelas costas abaixo com mais efeitos negativos que um calhau que rebole pela minha Serra do Ladário de lá de cima do Pico das Cruzes até ao fundo da encosta. Foi-se embora um Governo, veio outro. Deste pouco se sabe o que irá fazer. Do outro, soube-se: conseguimos sacudir a canga da Troika, mas com custos elevadíssimos para todos nós. Por isso, não teve a maioria de que precisava para continuar no seu posto. É a vida. Dentro de dias, já no novo ano, teremos eleições presidenciais. Agora, é esperar para ver. Na esfera internacional, o terror impôs a sua lei. Anda isto tudo baralhado sem se saber em que pontas pegar, porque, por cada retaliação levada a cabo, outras pontas nos aparecem. A raiz do problema é funda e é a ela que temos de chegar. Como? Não sei. Até o tempo, aqui por Oliveira de Frades, anda às avessas, com sol a mais e frio a menos, com seca continuada e falta de muita chuva, apesar de 195 países terem chegado a acordo para alterar, a muito longo prazo, a magna questão das alterações climáticas. A tão grande distância, temo que não chegaremos a bom porto a tempo de evitar mais tragédias como o tsunami de há cerca de dez anos e outros fenómenos extremos que tais... Puf! Assim não são animadores os dias que aí vêm...

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Acordar estremunhado

Acabado de entrar no Inverno, o frio gelado veio de dois lados, logo ao levantar, estremunhado, meio zonzo: da estação do ano em si, que até tem andado avariada aqui pela minha Serra do Ladário, no concelho de Oliveira de Frades, com calor a mais e chuva a menos para Dezembro, e chegou sobretudo do choque ainda não bem digerido de ter mais uma conta a pagar, aquela que o BANIF, ao tombar, fez chegar a nossas casas, enquanto contribuintes assíduos e chateados, revoltados, tramados dos pés à cabeça, que não param de custear de seu bolso asneiras e bagunçadas feitas por outros, uns poucos, os da banca falida para povo pagar depois de alguém ter ficado com a parte de leão das verbas realizadas ao longo dos tempos. Isto é demais. 14 mil milhões de euros, ou coisa que o valha, em poucos anos, é desaforo a mais imposto aos portugueses, a cada um de nós. Bem falaram ontem os meus Amigos, no programa Trilogia das Ideias, da VFM - Rádio Vouzela, que está no ar desde 2009, quando disseram que isto tem de parar: basta de dar corda aos relógios que outros usam em seu favor com o nosso dinheiro. Uma vida assim é o cabo dos trabalhos. Depois, regateiam-se uns curtos euros dados a quem ganha o salário mínimo nacional. Natal assim não é Natal. Nem para lá caminha...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A memória de um de meus dias bons

Há anos, em 1976, por estas horas do dia 17 de Dezembro, estaria eu na velha Maternidade de Viseu à espera da melhor das novidades: o nascimento de uma FILHA. E assim aconteceu cerca das 22 horas, quando, olhando, para a RTP a preto e branco, assistia a um filme do Sandokan. Não o vi todo e não me lembro sequer das cenas desse dia, porque a CENA maior acabara de acontecer. Acabara de ser pai e essa sensação não se descreve: é muito pessoal e intransmissível. As mãos da Irmã Marinho fizeram com que aparecesse no meu mundo algo de maravilhoso. Hoje, trinta e nove anos depois, vamos assinalar este dia com alguma contenção, porque outros, muito mais tristes, foram acontecendo ao longo dos tempos e um deles muito recentemente. Eu, a Mãe, a Irmã e a Avó aqui estamos, mas não há velas nem champanhe. Mas muita alegria, isso sim, vivida interna e intensamente. Sem grandes palavras, mas com muito sentimento e um forte aperto de coração...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Uma má prenda nos nossos tamancos

Há anos, há décadas, não muitas, a pequenada da minha terra, situada na Serra do Ladário, concelho de Oliveira de Frades, pela calada da noite escura, à luz das candeias, tinha por bom costume deixar, junto à chaminé, na véspera de Natal, os sapatos, ou os tamancos para que neles caíssem os parcos presentes de um Pai-Natal bem pobre, por sinal. Hoje, em 2015, nem nos atrevemos a um qualquer gesto dessa natureza: é que estamos sujeitos a arcar com mais uma quase falência bancária, a do BANIF, que nos pode obrigar a irmos aos nossos bolsos buscar uns trocos para cobrir mais esse disparate. Que raio de vida a nossa! Cai-nos em cima o BES, dizem que pode vir agora a desabar o tal BANIF, ainda andamos a pagar o BPN e outros que tais. isto é: não ganhamos para pagar o que outros esbanjam. Destes mal, Deus nos livre. Destes e doutros. Até das promessas não cumpridas de cortar 50% em todas as sobretaxas do IRS em 2016 e outro tanto em 2017, quando agora o que está em cima da mesa é um projecto às pinguinhas!... Bem prega Frei Tomás!... Assim, não temos mesmo bom Natal, nem talvez bom ano novo. Azar nosso!...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A família sempre presente

É assim o dia oito de Dezembro de cada ano: com a Festa de Nossa Senhora da Conceição, nas Benfeitas, em Capela com umas das pinturas, no tecto, das mais notáveis que há por aí, acontece sempre um convívio familiar que me é muito querido e a que, por norma, não falto - uma almoçarada em casa do Abílio, ex-emigrante na Suíça, agora regressado de vez. Se o pitéu é uma delícia, a amizade não tem classificação. É amizade, ponto final. Dão gosto estes encontros. E muito mais quando a família está toda ali. O pior, como aconteceu este ano, é quando vemos lugares vazios que nunca mais voltam a ter gente nossa. Isso é que dói. Doeu também a não vinda da Sónia e do Paulo, dois filhos da casa que, lá na Suíça, ganham seu pão. Mas foi gratificante estar com a Luísa e o Hélder, sempre numa trabalheira danada. Prometo: em 2016, se tudo correr bem, lá estarei de novo. É que o convite, eu sei, é plurianual, eterno mesmo, diz o Abílio. E eu cumpro. Obrigado, em meu nome e dos meus familiares mais chegados...

domingo, 6 de dezembro de 2015

Dezembro frio e quente

Anda aqui a minha malta entusiasmada com o Natal. Da minha Serra do Ladário, em dias de frio, não se augura nada de bom. Com as mãos frias, até os cumprimentos esfriam os corações. Mas há um SINAL que é sempre uma boa ESTRELA: quando a UMJA - União Musical Juventude e Amizade - da Sobreira se põe a trabalhar, isto aquece. Ainda hoje assim aconteceu com a vinda e actuação do Grupo de Cantares de Cambra (em que o Pedro Serrano, não renegando o sangue das suas origens, dá ali uma preciosa ajuda, ao mesmo tempo que é Maestro da mesma UMJA, jogando por isso em casa), que encheu de canções a sede desta Colectividade da minha terra. Foi o calor que sabe sempre bem em tardes frias. Ontem, em Vouzela, o ACTIVO III trouxe também um ânimo ao conhecimento e à necessidade de se olhar para os cuidados a ter com a obesidade das crianças e jovens em idade escolar como urgência a não esquecer. Na quinta-feira, a ASSOL, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, mostrou a excelência de suas práticas, ao apresentar os resultados de um projecto que, com a o apoio financeiro desta mesma FCG, enquanto porta voz do EEGrants, foi possível pôr de pé. E que foi isto? A aplicação das práticas da ASSOL para além dos seus territórios de origem que tanto sucesso têm tido em apoio a pessoas com deficiência, no plano da sua autodeterminação em contexto geral e em trabalho. Lafões está em grande. Mas Lisboa esquece isto vezes demais...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Programa de Governo

Confesso o meu interesse: declaro-me profundamente chocado com as políticas públicas de há séculos e de há décadas. Todas elas afundaram o Interior do meu País. Desconfio que ainda não é desta vez que me vou ver livre dessa triste sina. Fala-se no Programa de Governo, que hoje começa a ser discutido, que, no campo da valorização do território, se vai olhar para (e por) estes espaços. Temo que se não saia do papel e das boas intenções. A par de outras bandeiras ali elencadas, esta, cá para mim, é das mais importantes. A não ser que se queira que o Litoral rebente e o Interior desapareça de todo...

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Em Paris com o coração e a razão

Continuo por Paris, depois de por ali ter andado em pensamento dorido e coração desfeito desde 13 de Novembro. Por lá continuo, agora até ao dia 11, para mostrar ao mundo que desejo ardentemente soluções para os perigosos efeitos possíveis das alterações climáticas. Aqui, nesta minha terra de Oliveira de Frades, com chuva e sol mais ou menos quando é preciso e expectável,é assim que quero continuar e viver. Mas se nada for feito para travar as ondas de destruição do Planeta, temo deixar de perder este Paraíso. Falando assim, comporto-me como um duro egoísta. É que eu sei que, no mundo, há já muita gente a sofrer com as condições climáticas que para essas populações empurramos. Nós, muitos de nós. Urge travar os excessos à medida grande e com pequenos actos. Cada um de nós tem a sua quota parte de responsabilidade. Isto é CONNOSCO, malta!...

domingo, 29 de novembro de 2015

Um poema, uma riqueza do Dimas

O Dimas é uma pessoa que a ASSOL apoia. Assim como muitas outras centenas de crianças, jovens e adultos com deficiência. Nascido em Lisboa, mas a viver em Ribeiradio, lançou, com o patrocínio desta Instituição, com sede em Oliveira de Frades e a espalhar-se por Vouzela, S. Pedro do Sul, Castro Daire, Tondela, Vila Nova de Paiva, Mortágua, Amarante, Sintra e tantos outros locais, um livro de poesia "Não consigo descobrir". Por entre a riqueza de toda a sua criação poética, extraímos esta pequena parte, também como homenagem ao seu Professor e Orientador, o Pancho, funcionário da Casa, e seus colegas de ofício: ".... À volta desta mesa tudo trabalha/Trabalha o Pancho e também o Simões/Trabalho eu e o Pereira/O Tiago dorme e também trabalha/Está a fazer silêncio/Somos uma equipa/Todos trabalham na oficina do Pancho/Tudo labuta nesta oficina/Tudo vai trabalhando/Pois a oficina é um local de trabalho/Onde tudo trabalha/Até eu que trabalho/Faço parte da oficina do Pancho... " E ainda: "... O paraíso/Não sei se existe/O paraíso/ É um mistério por resolver/O paraíso/É algo enraizado na cabeça das pessoas/As pessoas/Criaram o paraíso/Paraíso/És o maior/Ou um dos maiores mistérios/Da natureza... ". Este livro foi apresentado na livraria "Leituras (In)Esperadas", Vouzela, no passado dia 27 deste mês de Novembro de 2015, sexta-feira, um bom dia de sorte...

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Novo Governo em acção

Quando era meio da tarde, com tendência para anoitecer, em Lisboa, na Ajuda - bom lugar para se pedir que tudo corra bem! - e as cadeiras se enchiam com quem ia entrar e quem ia sair, em bom sinal para a democracia, acabou de tomar posse o novo Governo, sob a alçada de António Costa e umas almofadas que o amparam. Como português, desejo-lhe toda a sorte do mundo. Como lafonense, peço: que as políticas públicas passem a olhar para o interior de uma outra maneira, valorizando-o e dando-lhe instrumentos para sair da cepa torta. Custa-me viver num Portugal a duas e três velocidades, sendo que aquela que por aqui se segue não passa de um quase ponto-morto. Valha-nos agora Santo António, que o Senhor dos Passos já teve o seu tempo. Por enquanto, convém acrescentar-se!....

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Eureka!

Temos Primeiro-Ministro. Anunciam-se os Ministros. Um deles caiu antes de se ter levantado: o da União Europeia, ou coisa parecida. Caras novas, poucas. Vistas há muito, várias. Conhecemos muitas delas aqui em Oliveira de Frades, a sul da Serra do Ladário. Agora, o que se quer é que GOVERNEM bem. Ah! E que não tirem os microfones das mãos dos outros. Felicidades, nova malta de S. Bento. NOTA - Este escrevinhador, após ter caído o Governo em que votou, não esperava outra solução, porque é defensor da democracia até ao tutano.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Obrigado, mercados agora amigos

Por aquilo que sabemos aqui em Oliveira de Frades, o nosso País foi à procura de dinheiro e encontrou-o com taxas negativas. Desta vez, os mercados foram nossos amigos e marimbaram-se para a aborrecida apatia com que o Presidente Cavaco Silva olha para esta questão do próximo Governo, assobiando para o lado, quando DEVERIA agir em tempo mais do que útil, urgentíssimo. Temos uma Europa em chamas, um mundo aos trambolhões, e nós, no nosso cantinho, damo-nos ao luxo de nem (?) governo termos. Isto brada aos céus, Senhor!Precisamos de pôr fim a esta indefinição e ter juízo nas decisões a tomar. Se não há soluções óptimas, nada fazer é o pior de tudo. Valha-nos Deus em tão delicada situação. Haja quem berre aos duros ouvidos de Cavaco Silva e lhe faça ver isto...

sábado, 14 de novembro de 2015

Querida França

É a França a terra de gentes de mil nacionalidades, em espaço territorial de grande acolhimento. Mais de um milhão de nossos conterrâneos ali constrói dia a dia a sua vida. Ontem, em noite negra, o terror espalhou-se por muitos locais de Paris. A dor dos franceses é a nossa dor. Agora e sempre, quando a LIBERDADE não pode deixar de ser defendida. Como reza a tradição destas nossas terras de Oliveira de Frades, paz à alma de quem partiu. Força para os feridos. Solidariedade para quem sofre, os próprios, os seus familiares e amigos. Estamos com toda esta nossa gente. Um abraço solidário e votos de muita coragem.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Com acordos em cima da mesa, vamos olhar para um nosso escrito que fala de " Uma luz que vem de Roma", publicado há tempos...

A luz que vem de Roma Nestes nossos trabalhos, com muito pesar, acentue-se, temos aqui trazido pessimismo a mais e optimismo a menos. Esta semana quase que teríamos de seguir o mesmo guião das desgraças, se fôssemos enveredar pelas infelizes conclusões que a sétima avaliação da Troika vieram a produzir. Quanto a estes aspectos, noutras rubricas, bem pode ver-se o ambiente que se vive. Não vale a pena, por isso, avançarmos por aí. Mas não resistimos a deixar aqui umas curtas palavras de desalento: com os números que temos pela frente, Portugal está mesmo numa espiral recessiva, isto é, todos os mil e um sacrifícios que nos têm imposto não lograram melhorar nada o estado calamitoso em que o país se encontra, antes levaram a mais um fracasso. E isto é que é grave, preocupante, aflitivo e temível. Por este andar, o abismo está perto, como diz o Professor Daniel Bessa e tantos outros bons pensadores. O estranho é que, sendo o nosso Presidente da República um conceituado economista, ainda lhe não tenha vindo à cabeça aquilo de que precisamos para sair deste pântano dos pântanos: puxar dos seus galões e dizer a quem o tem de ouvir que temos de alcançar outros caminhos, para subir ao monte de algumas, ainda que curtas, felicidades. A continuarmos assim, pouco mais nos resta do que atirar a toalha ao chão e deixar andar. Por estes temores nos virem à mente, vezes demais, hoje, com total propósito, voltamo-nos para uma luz que parece querer grandemente brilhar a partir de Roma e espalhar-se por todo o mundo. Sendo a religião um campo em que não gostamos de nos meter, tão pessoal ela é, tão íntimo é o laço que une cada pessoa a essa dimensão transcendental, hoje, entendemos, no entanto, enveredar por essa esfera, tão importantes são os novos factos que nos surgem, vindos do Vaticano. A eleição de um novo responsável pela Igreja Católica, o Papa Francisco, por ser quem é e pelas mensagens que nos está a enviar, impõe que dele falemos, abertamente e com toda a franqueza possível. Desarmantes têm sido as suas primeiras atitudes. Rompendo com lugares comuns, com práticas ancestrais de demasiada pompa e circunstância, descendo de todos os pedestais para se encontrar com o mundo, com o seu povo, com crentes e não-crentes, o Sumo Pontífice, eleito há poucos dias, tendo ido do “fim do mundo” para as torres da Roma imperial, está a marcar uma outra agenda do catolicismo, pelo menos a avaliar por estas primeiras impressões. Este Cardeal argentino Jorge Mário Bergoglio, que viveu todas as fases de seu agitado país, que dali saiu para o Vaticano ido, ultimamente, das favelas de Buenos Aires, que vivia despojado de honrarias e benesses, chegou ao mais alto cargo da Igreja e logo nos atirou com um primeiro sinal da mudança que tem na sua mente: jesuíta, primeiro Papa não europeu em mais de mil anos, escolheu um dos nomes mais carismáticos de todos os tempos, em termos de ligação aos pobres – Francisco, o S. Francisco de Assis, o Santo que quis mudar o fausto de um papado cheio de fantasias e riquezas e que viveu a sua vida com os pobres e para os pobres. Se não há opções ingénuas a este nível de decisão, esta opção do Papa Francisco I diz-nos muito acerca da sua personalidade e vontade de fazer algo de novo, útil e necessário, por esta Casa de Deus, que, deixam que diga isto, muitas vezes d’Ele se distanciou demais. Por estas razões, começámos este humilde texto com o título de “ A luz que vem de Roma”. Sendo nossa convicção que o ex-Cardeal Jorge Mário Bergoglio tem algo de muito importante a fazer pela humanidade, nós, que gostamos de apreciar gestos que marquem, vemos nele o farol que a Terra anda à procura. Temos a certeza de que o vai conseguir? Não, de maneira nenhuma. Mas quem já foi capaz de se afirmar desta maneira, cortando com o espavento, falando com simplicidade e respeito pelo outro, por todos os outros, abdicando de uma Bênção universal, por reconhecer que, naquela plateia de jornalistas, podia haver gente de credos diversos, mostrando que pode dispensar vestes com enfeites e jóias a mais e sapatos topo de gama, começa muito bem: dizendo que é Francisco, e de Assis, que na sua Companhia um outro Francisco, o Xavier, companheiro do nosso jesuíta conterrâneo de Vouzela, P.e Simão Rodrigues, que também foi figura determinante, veio, afinal, assinalar um caminho muito mais luminoso. Com uma monumental tarefa em mãos, passando pela necessidade de purificar a própria Igreja, o nosso Papa Francisco promete. Confiantes, ficamos à espera de sua acção em prol dos ideais que em nós fez despertar. Cremos que vai conseguir ir longe. Deus queira que assim aconteça. Carlos Rodrigues, In “Notícias de Vouzela”, há tempos e hoje como forma de aliviarmos a pressão que para aí anda…

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Mais uma noite sem acordo

Do céu apenas vejo cair chuva. Nada como a tragédia de Albufeira e concelhos vizinhos. Mas que cai, cai. Mansa. Como gosto. Aqui em Oliveira de Frades só temos isto em tempo. Fora de tempo, ou nem por isso, anda um tal acordo. Nunca mais chega. E virá? E virá? E virá?... A ver vamos...

sábado, 31 de outubro de 2015

Tradições destas nossas terras de Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul

Nestes tempos em que o culto dos mortos, a recordação de nossos antepassados, povoa todos os nossos pensamentos, registamos uma tradição que, outrora, foi uso e costume no quotidiano fúnebre das terras de Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul, a fazer fé num testemunho ouvido, há dias, em Cercosa: sempre que o cortejo fúnebre passava pelas diversas casas, havia o cuidado extremo em manter levantados todos os animais das casas da aldeia, nem que, para isso, fosse preciso os donos irem aos currais fazer pôr em "pé" esses seus bichos. Isto nos foi confessado, em conversa informal, na semana que está a acabar. Aqui se regista esta prática para memória futura...

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A importância das carnes e cautelas a ter, mas nada de pânico, cremos nós...

Agrupamentos de Defesa Sanitária (ADS) em dificuldades, a nível geral - Oliveira de Frades lá vai resistindo Tempos houve, não há muitas décadas, em que falar-se em Agrupamentos de Defesa Sanitária (ADS) era sinónimo de bem-estar e saúde de nossos animais, porque estes serviços, meio públicos, meio privados, estavam ao serviço dos agricultores e criadores de gado um pouco por todos os concelhos. Em Oliveira de Frades, isso era uma certeza e uma evidência. De momento, se o nível geral é de incertezas, localmente também o panorama não vai muito bem, mas francamente aceitável, para as limitações que tem vindo a sofrer. Constituídos para defesa da qualidade de saúde dos nossos gados, a Portaria 1088/97, de 30 de Outubro, DR nº 252/97, I Série B, que tem a ver com o Regulamento de Constituição e Funcionamento dos ADS, consagrava, nos seus objectivos, para as antigas e novas instituições desta natureza, a necessidade de se assegurar o controlo sanitário, prevenir e combater as doenças infecto-contagiosas, fazer a identificação dos efectivos pecuários, melhorar as suas condições higio-sanitárias nas explorações, dar formação aos criadores, entre muitas outras tarefas inerentes a este importante sector do nosso mundo rural. Durante anos, assim foi acontecendo, salvo um outro pormenor menos bem conseguido. Numa espécie de convicção, por sinais que recebemos de um lado e de outro, não nos parece que se navegue em condições muito saudáveis quanto a estes ADS e isso traz-nos algumas dores de cabeça e é mais uma machada na nossa já frágil agropecuária. Em busca de respostas, fomos bater a algumas portas, onde sabemos que há informação fidedigna, como exporemos, de seguida: Começámos por falar com o Dr, Manuel da Silva Florindo, um oliveirense, veterinário e muito ligado a estas andanças, até na sua qualidade de alto responsável distrital por esta área, que nos disse, logo, que, num problema que está na base da boa saúde pública e respectivos cuidados primários, que devem iniciar-se pela atenção dada aos animais, o Governo tem-se posto muito à margem daquilo que deveria fazer. Para além de ainda não ter pago as verbas referentes aos apoios de 2014 ( e já só comparticipa em 25%), no que se refere ao ano de 2015, tudo aponta para que empurre toda a responsabilidade para os criadores, pelo menos tem sido essa a intenção manifestada nas reuniões em que tem participado. Numa zona em que cada agricultor tem pouco mais de dois a três animais, quando o mínimo para alguma entrada de capitais europeus é de explorações com mais de dez reses, é fácil adivinhar os constrangimentos que estas restrições acarretam: sem meios para custear a ADS, opta-se por andar ao deus-dará e isso não é bom para ninguém. No entanto, como dissemos, no concelho de Oliveira de Frades, o ADS vai continuando o seu caminho, como nos informou Geraldo Almeida, seu funcionário, mas sem o vigor de outras épocas. Com cerca de 400 agricultores inscritos, no campo etário dos cinquenta anos para cima, em regra geral, nota-se uma certa diminuição, sobretudo para quem possui um ou dois animais, a partir do momento em que se começou a falar das inscrições nas Finanças e necessidade de se colectarem. Essa indicação funcionou como um perigoso travão. Apesar destas restrições, estão inscritos e a receber todos os cuidados sanitários cerca de 750 grandes ruminantes (bovinos) e 3500 bovinos e caprinos. Se este último número se destaca, comparando com 1988 ( ver Monografia, 1991), em que havia 1354 cabras e ovelhas, no que diz respeito aos bovinos há uma clara diminuição, passando-se de 3078 (1988) para os tais 750, em 2014. Nessa altura, o gado leiteiro estava na moda e hoje praticamente desapareceu. Com a responsabilidade do médico-veterinário, Dr. Luís Malafaia Novais, duas vezes por semana, vai-se para o campo fazer recolha de amostras e dar apoio aos produtores, atendendo-se ainda todas as solicitações que forem surgindo. A Direcção é constituída por Joaquim Gonçalves Fernandes, Presidente, José Manuel Vieira e Adriano Vicente Ferreira, que, no meio de tantas adversidades, têm conseguido manter vivo este organismo da nossa lavoura, que não pode cair nas ruas da amargura. Por aquilo que, aqui, viemos a descobrir, vá lá: a resistência e a vontade de seus dirigentes e funcionários são a prova de que, com esforço, mesmo num mar turbulento, é possível resistir. Mas as queixas apontadas pelo Dr. Manuel Florindo são, também em Oliveira de Frades, muito sentidas. No dia em que os apoios entrarem nos eixos e o Governo passe a olhar para a nossa agricultura com a atenção que deve ser exigida, tudo pode vir a melhorar. Os animais e a nossa saúde agradecem que assim venha a acontecer. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Agosto, 2014 NOTA – Quando agora se fala tanto em cuidados a ter com certas carnes e suas formas de tratamento, em virtude de um alerta da Organização Mundial da Saúde, temos de analisar estas dicas com o bom senso de sempre: qualquer alimento em doses industriais comido sofregamente é altamente perigoso. Agora, se houver contenção, não nos parece que possamos pensar que as carnes são a causa de tanto mal como se quer fazer crer. Cautelas, sim, pânico, nada disso, palavra de leigo…

terça-feira, 20 de outubro de 2015

OLiveira de Frades e seus fluxos populacionais

Dinâmicas populacionais em Oliveira de Frades Esta é uma terra, que estando situada em zona de charneira, entre o litoral e o interior (sendo que, por exemplo, no A25, nó de Reigoso, a distância quilométrica entre Aveiro e Viseu é precisamente a mesma), não sofre tão corrosivamente os efeitos do despovoamento e da desertificação característicos do interior, puro e duro. Se as coordenadas geográficas ditaram esta boa localização, se o vale dos rios adoça o clima, se a floresta ajuda a que chova, tudo isto, naquele prisma, seria em vão se os homens não tivessem cuidado deste chão com o carinho e a dedicação que ele merece. Com a sua acção, olhando para uma agricultura a esvaziar-se ao longo dos tempos e desde há décadas, a busca de outros meios e vias de subsistência levou a que se acautelasse, na medida do possível, o futuro. Devido a essa pró-actividade, que teve nos peixeiros e nos avicultores, antes da fase da industrialização, o vento benfeitor que empurrou o progresso, as populações não debandaram em grau idêntico ao que aconteceu noutras paragens. Mesmo assim, nem tudo foram rosas por aqui. Em termos de habitantes com menos de quinze anos, notou-se uma diminuição significativa entre os censos de 1960 e 1991, que é o espaço temporal que estamos a analisar, com base em “ A situação social em Portugal, 1960-1999, volume II, Indicadores sociais em Portugal e na União Europeia, António Barreto (Org), Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa, 2002”. São estas as percentagens, em decrescendo de 10 em 10 anos: 1960 – 29.1%; 1970 – 27.9; 1981 – 24.9% e 1991 – 22.2%, com a média do Continente a mostrar estes números: 28.8%; 28.1%; 25.3% e 19.7%. Ficando Oliveira de Frades a ganhar em 1991, no geral nunca se distanciou muito daquele padrão mais geral. Mas há uma dedução óbvia: é flagrante a perda de importância da população infantil e juvenil de ano para ano, o que faz tilintar todas as campainhas demográficas, não apenas por aqui, mas em muitos outros locais por esta Europa fora. Dos 15 aos 64 anos, nos mesmos intervalos temporais, seguiu-se uma linha praticamente inversa, muito embora com variações não muito acentuadas, como se pode ver: 1960 – 59.1%; 1970 – 57.8%; 1981 – 59.2 e 1991 – 60.5%. Analisando o Continente, é este o panorama. Vejamos: 63.1%; 62.2%; 63.3% e 66.6 %. Ou seja: Oliveira de Frades, neste ítem, fica bastante abaixo destes valores. Razões: talvez a fuga de pessoas em idade activa para outras paragens, o que revela uma situação algo preocupante. Mais idosos por aqui Avançando para outros patamares, o de mais ou igual a 65 anos, aqui os sinais vermelhos, quanto a novas necessidades, são bastantes e de fácil, mas dramática leitura. Há mais população idosa nesta terra, se vista à luz do restante país. Com 11.5%, 14.2%, 15.9% e 17.3, opomo-nos a um Continente com 8.1%, 9.7%, 11.5% e 13.7%. Sem acreditarmos que a esperança de vida é em Oliveira de Frades muito superior às outras terras, temos aqui um sinal de que há uma fuga de habitantes em outras idades e uma atracção, ou uma não saída, nestes escalões etários. Associando os índices de envelhecimento, 40.5%, 51%, 63.6% e 77.9%, neste concelho, contra os 28%, 34,7%, 45.4% e 69.5%, a nível continental, constata-se que há um pendor para as pessoas em idades mais adiantadas aqui do que noutras paragens. Importa, por isso, que se proporcione bem-estar e qualidade de vida a estes idosos, o que apela a correctas políticas públicas de índole social. Com10858, 10080, 10391 e 10584 habitantes, desde 1960 a 1991, prova-se então que Oliveira de Frades teve a virtude de prender a sua densidade demográfica. Mas, com tanta indústria, esperava-se bem mais. Sem aqui aludirmos aos censos de 2001 e 2011, podemos acrescentar que a população não variou muito, nem para melhor. Se virmos que houve concelhos e perderem 1000, 2000 e mais habitantes, este feito já merece a nossa consideração. Agora, importa fazer com que a situação se altere para outros valores bem mais agradáveis e era dessa revitalização destas zonas de baixa densidade que gostaríamos de ouvir os nossos políticos em campanha a esfarraparem-se, em esforços, nesse mesmo sentido. Infelizmente, as suas atenções continuam demasiado presas no litoral cheio de gente e nós por aqui com tão pouca. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Setembro, 2015

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Amuada anda esta gente

Aquilo por Lisboa nem o vento faz despertar os ânimos: casmurros, todos teimam em guardar o seu cantinho. Esquecendo-se que o País não aguenta tantos amuos e decisões que só olham para o umbigo, daqui de Oliveira de Frades partem para esses negociadores valentes puxões de orelhas. Ou umas sapatadas em sítio que o bom senso nos leva a não referir. Aqui, no meu concelho de Oliveira de Frades, se se falasse em dois tabefes, toda a gente os compreendia e perdoava. Mas, beirões que somos, não chegamos a Lisboa e esta cidade-capital pouca atenção nos dá. Mas esta barafunda não augura nada de bom. Brincar à política é coisa que não é do nosso gosto...

sábado, 17 de outubro de 2015

Um apelo ido de Oliveira de Frades

Não se pode dizer que ande muito animado. Nada disso. O céu anda assanhado, mais a sul que a norte, a política está acesa. As decisões adivinham-se algo atribuladas. Ninguém sabe o que vem por aí. Aqui, em Oliveira de Frades, espera-se que haja calma, bom senso e muita perspicácia, caldeada com um sentido de realidade. No meio de uma tempestade, o pior que se pode fazer é desprezar a cautela e a capacidade de avaliar os riscos, para os evitar. O meu País vive momentos de um tempo muito conturbado. Do céu cai água, da terra há raios e coriscos. O que espero disto? Que haja a escolha do melhor caminho e só vejo, em boa prática política, que se chame o chefe do boletim meteorológico que mais acertou nos resultados, que se deixe ver como é que ele consegue arranjar o esquema para sair da tempestade e, se o não conseguir, que seja chamado quem, tendo falhado, pode ainda, com muletas, encontrar um caminho qualquer. Sem saber bem onde vamos ter, que Deus nos ajude com o bom sol, mais cedo ou mais tarde. Haja o que houver, negar estes passos fundamentais é não saber nada de tempo. Sol e chuva alternam-se e até o vento nos visita. E assim vamos vivendo. Esperava melhores dias? Isso esperava. Mas a realidade é o que é. Pronto.

sábado, 10 de outubro de 2015

Reflectir a sério sobre os cenários pós-eleitorais

Eu sei que a vitória da Coligação foi curta, mas corresponde a mais votos e ao primeiro lugar. Sei que o PS ficou em segundo, que o BE alcançou, com mérito, o terceiro lugar e a CDU, aumentando a sua votação, segurou o seu universo eleitoral. Sei que o PAN entrou no Parlamento. Sei tudo isto e muito mais: sei que o meu País está num tempo em que as decisões não são fáceis. Nem o PR pode agir. Sei que há possíveis cenários para encontrar um Governo. Sei que todas as soluções são periclitantes. Sei que o PS balança entre dois mundos. Sei que as suas gentes estão profundamente divididas. Sei que quem votou PS o fez por saber que é Partido pró-europeu. Sei que BE e PCP, a esse nível, nem por sombras. Também sei que dentro do PS há quem se incline para uma ligação a estes dois Partidos e que António Costa é, nestes momentos, um homem no meio de uma ponte que treme por todos os lados. Sei que, modestamente, lhe posso dar uma ajuda: se olhar maduramente sobre o território português, verá que o nosso espaço tem duas manchas distintas - até ao Tejo, cores quase só da Coligação, distrito a distrito. Daí para sul, na realidade o panorama muda de figura, com tons mais avermelhados. Só que a primeira coloração advém duma opção segura em propostas concretas, as do PàF, que disse ao que vinha. A sul, há três projectos bem distintos em cima da mesa. Quem votou em cada um destes Partidos olhou para cada um deles e não para o seu conjunto. Aliás, as diferenças e as oposições entre eles são óbvias. Logo, não é líquida a leitura que quer fazer crer que representam uma única alternativa. Se o quisessem fazer, fossem a jogo em conjunto. Assim, duvido que seja linear um certo raciocínio que para aí circula. Se é legítimo, em termos constitucionais, que sejam chamados a poderem entrar em acção, mesmo com essas visíveis diferenças (Ver a demissão de Sérgio Sousa Pinto, por exemplo) em segunda "convocatória", primeiro tem de ser seguida a postura mais correcta: dar voz a quem venceu. Claro que assim é. Com a vida que temos, pede-se aos Partidos que saibam ler bem o futuro. Este não dá para se brincar muito aos governinhos. Nada mesmo.

sábado, 3 de outubro de 2015

Este gajo está em reflexão e nem o SLB me escapa. Amanhã, creio eu, não vou ao meu estádio, o Café Larides, na minha Sobreira. Culpados? Em primeiro lugar, a Liga que teve esta ideia estapafúrdia de marcar jogos de futebol para este dia tão especial. Seguidamente, eu próprio que, em dia de eleições, não sou capaz de deixar de ouvir falar do futuro do meu País. Entre um jogo de futebol, mesmo que a envolver o meu SLB, e os resultados de um Portugal ainda em apuros, é a minha nação, a grande, que mais me motiva. Temos de saber relativizar as nossas opções. Quem me merece uma boa palmada é a Liga. Com mão pesada. Boa votação, eis o meu desejo.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

O interior e as PPP

Este meu interior é fértil em PPP. Tem muitas e todas de fazer corar quem quer que seja. PPP há-as para aqui aos montes e a muitos níveis. Só que estas PPP designam uma outra coisa e muito grave - POUCAS POLÍTICAS PÚBLICAS. Com essa falta, com a fuga em massa para o litoral, isto ficou vazio. Perigosamente despovoado. Por falta de PP. Muito por isso. Keynesiano? Seja. Culpando o estado por estes desmandos, a não existência destas PP deixa-me com os cabelos em pé e com a garganta seca de tanto gritar... E os políticos em plena campanha nem tocaram ao de leve nestas matérias... Eles não sabem nem sonham que assim se destrói um País...

domingo, 27 de setembro de 2015

Os medicamentos com alguma certeza e aqueles de que duvidamos: com os primeiros, arriscamo-nos a continuar; com os segundos, nem por isso. Passa-se assim com a saúde e com a política. Ontem e hoje e sobretudo nestas eleições de 2015!...

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A propósito, "Um mundo para lá da dívida", um escrito de 2014...

Um mundo para lá da dívida Nestes últimos anos, pouco mais se tem falado para além da dívida. São os governantes, é a oposição, são os opinadores profissionais, são os sindicatos, são as polícias, são as escolas, são as instituições, é a União Europeia a massacrar-nos o juízo, é o FMI a dar o dito por não dito e a matar-nos, sempre, a esperança, são os jornais, nós mesmos, são as rádios e as televisões, isto é, anda meio mundo a pensar nesse monstro e outro meio cheio de medo dos tempos de hoje e a hipotecar o seu futuro, destruindo-o, por esses pavores, à nascença. Somos todos culpados quanto a estes temas. Com os olhos muito perto desta desgraça, caímos no abismo, ainda que haja hipóteses de dele se fugir. Criando um mundo em que o dinheiro impera, vivendo modelos que fazem do prazer e da riqueza imediata objectivos únicos, não descortinamos um palmo para lá desse denso nevoeiro. Com razões para que assim seja, porque a miséria e a fome são más conselheiras e já batem demasiado a nossas portas, estas são horas para sairmos destas tormentas. Num breve exercício de refrescamento da nossa memória, este País de 871 anos, mais uns tantos pozitos, que antes de o ser já o era, desde que D. Teresa começou a olhar demais para a Galiza e o gaiato do seu filho, o ainda Afonsinho, já olhava de lado para essa quebra de compromisso com a memória de seu Pai, o Conde D. Henrique, sempre foi capaz de vencer tempos difíceis. Resistiu a questões internas, D. Sancho II e D. Afonso III, D. Afonso IV e D, Pedro, D. Miguel e D. Pedro, tendo ainda, em circunstâncias adversas e muito penosas, sido capaz de se livrar da alçada dos actuais nossos amigos e vizinhos espanhóis, numa primeira fase, com Aljubarrota, posteriormente com a Guerra da Restauração, depois de seis décadas de perda da independência. Cheios das ambições de Napoleão, nem sequer o deixámos pôr, aqui, pés em ramo verde. Mesmo aquele grotesco episódio do Junot, a pensar que mandava, foi um equívoco: com o Rei no Brasil, continuámos de pé, ainda que curvadinhos quase até ao chão. Nesses tempos anteriores às invasões, só temos uma pedrota no sapato, que é Olivença, uma terra com duas mães e filhos de dupla identidade. Mas isso é mal que suportamos com uma perna às costas. Perdendo a Monarquia, que caiu de pôdre em 1910, tal como o Estado Novo, que tombou, andando a desfazer-se aos poucos, no 25 de Abril de 1974, soubemos encaixar a saída das ex-Colónias, assumindo a integração plena de centenas de milhar dos nossos compatriotas, que vieram, de novo, para suas terras e nelas teceram hinos de resistência e coragem, que ainda hoje são o nosso orgulho. Fizemos o percurso para adesão à Comunidade Económica Europeia, após dois outros resgates bem sucedidos. Ultrapassámos as dores do Terramoto de 1755 com milhares e milhares de mortos e um rasto de destruição que chegou de Lisboa ao Algarve, a Salamanca e a tantos outros locais. Corremos os mares todos e estivemos em Malaca, Luanda, Rio de Janeiro, Beira, Cabo Bojador, Cabo das Tormentas, Macau, Goa, Bissau, Timor, Terra Nova, talvez a Nova Zelândia e a Austrália, negociámos em Bruges, levámos elefantes ao Vaticano e hoje, meio anestesiados, quase vacilamos perante uma crise de austeridade que, sendo severa, dura, iníqua, injusta e nada solidária, não será, no entanto, o fim do mundo. Com a memória de nossos feitos, que são sempre pilares que não podemos desperdiçar, muito embora o actual sistema de ensino não lhes dê nenhuma importância ( um crime, esse, sim, que se pagará caro), somos gente para avançar, de peito feito e cara levantada, dentro de meses, assim o cremos. Com uma governação meio à deriva que, hoje, segunda-feira, dia 17 de Março, se senta à mesa com a oposição, quando dela nunca se deveria ter afastado mais do que as meras contingências a que a política obriga, estamos na altura de lhe reafirmar a verdade que sempre nos acompanha: esta é a hora de encarar os tempos que aí vêm com ânimo e determinação. Tendo umas eleições para o Parlamento Europeu já em Maio e a saída deste Programa também nesse mês, achamos que há que pôr toda a carne no assador das propostas, dos debates, das batalhas, das conquistas a empreender. Mas com jeito. Por esta última razão, ficamos de fora, por opção, do Manifesto dos 74. Não seremos o número 75. Mas somos, de certeza, férreos opositores do olhar vesgo com que o nosso Governo encara estas situações, atirando austeridade para cima dos problemas, quando era a economia que deveria a estar a puxar pela recuperação de que tanto precisamos. Ainda temos esperança. Quanto mais não seja, por sabermos um pouco daquilo que a História nos ensina… Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela, Março, 2014”

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Vivinhos, apesar de tudo

Depois de alguns tempos de ausência, este Frei do Gozo continua bem vivo, mas triste e apreensivo com o que se passa por esse mundo fora e por uma União Europeia que, nesta gritante questão dos REFUGIADOS de guerra, está, infelizmente, mais desunida que nunca. Uma lástima. A nossa vocação solidária está moribunda. É um esqueleto ambulante a cair para o lado mal venha uma lufadita de vento. Uma tristeza. Uma desgraça. Um monumental murro no estômago. Até quando? Assim não vamos a lado nenhum. E o sonho europeu cairá por terra, mais dia menos dia. Uma pena. Um pavor.

domingo, 23 de agosto de 2015

Os protestos contra o BES

Começo por dizer que a minha relação com o velho BES e o Novo Banco é quase de efeito zero. A meu favor, creio ter neste último cerca de 5 a dez euros, mais ou menos, como resultado positivo. Dito isto como registo de declaração de interesses, acho que já são horas de se ver resolvido o problema das contas que motivam a chuva de protestos a que temos assistido e que têm por base questões de natureza menos clara, quer no nosso País, quer nas nossas comunidades de emigrantes. Sem saber se houve algo nebuloso, parece-me que o dinheiro entrou no antigo BES e que muita gente dele precisa para viver. Há uma outra razão de peso para pôr tudo isto a limpo: com tanta movimentação de polícias, em cada saída à rua, sinto que cada vez somos mais nós, os contribuintes, que estamos a custear despesas privadas com dinheiros públicos, que têm como base os nossos impostos. Chega de desbaratar aquilo que tanta falta nos faz para criar riqueza, desenvolvimento e coesão social...

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Festas do Castelo, com cem anos, em Vouzela já no ar...

Festas do Castelo/Julho 15 Festas do Castelo com um século de vida na sua versão moderna Com as comemorações dos 100 anos das Festas do Castelo, que este ano decorrem de uma forma bem vincada e ampla, importa que procuremos na memória do passado as suas reais e fundamentais raízes. Numa primeira abordagem, a sua designação faz com que olhemos lá para o alto, para o Monte que lhe conferiu o próprio nome, porque é esse marco da natureza que está na sua base. Juntamos mais um argumento de peso, o das referências históriacas às festividades de Nossa Senhora da Esperança que ali se assinalavam desde há séculos, o que motivou uma boa referência na Revista “Baú de Recordações - 100 anos das Festas do Castelo, Relatos e Memórias”, da autoria de Ana Beatriz Gomes Ferreira, recentemente vinda a público. Para Geraldo J.A. Coelho Dias (Faculdade de Letras, Universidade do Porto), nestas devoções populares temos sempre de ver as dimensões da fé e da cultura de nossos povos e comunidades, ele que nos fala dos Santuários Marianos, sendo que o da Senhora do Castelo se inclui no registo que é padrão para o seu conhecimento e foi escrito há muito perto de trezentos anos. Ou seja: neste local privilegiado, onde a paisagem e a contemplação se unem para nos fazer observar a grandeza da região em que nos inserimos, a Nossa Senhora da Esperança, abrigo de um Santuário Mariano, jamais desapareceu da memória identitária das gentes vouzelenses, que a veneram a 15 de Agosto. Está neste culto o ADN das actuais Festas do Castelo, que praticamente só se emancipam, como manifestações laicas, precisamente há cem anos, em 1915, dizendo-se que esse seu avanço teve em Manuel Ferreira Coutinho um pilar essencial, o que esteve na base das homenagens que, posteriormente, lhe foram tributadas em em 1954 e já na década de sessenta. No entanto, em boa harmonia e mesmo concórdia, tentam sempre não esquecer a componente matricial e religiosa. Pensamos que este começo de“corte” mais desafiador tem algo do novo espírito republicano que por aqui se começou também a entranhar. Porém, para equilibrar as diversas sensibilidades, convivem as duas práticas, porque não seria de ânimo leve que se davam tão atrevidos passos, quando estavam presentes, em todas as iniciativas litúrgicas da vila, como o Corpo de Deus, S. Frei Gil, Senhora do Carmo, Senhora do Rosário, Sexta-Feira Santa, entre outras, os andores de Nossa Senhora da Esperança e Senhor da Agonia, de acordo com um documento datado de 1889. Com o andar dos anos, na realidade, estas vindas acabaram por se eclipsarem de todo, assim como os aspectos religiosos, que se mntêm muito tenuamente, até porque o Bispo de Viseu, um dia, lhes viria a dar, ainda que indirectamente, o golpe de misericórdia. Nesta medida, com uma programação cada vez mais virada para a vertente profana, que tinha sido despoletada em 1915, as Festas do Castelo começam a ganhar vida própria e a afirmarem-se como uma das mais acentuadas manifestações culturais da época de Verão na Região de Lafões. Para este sucesso, muito contribuíram dois factores de peso: a passagem do comboio do Vale do Vouga, que se converteu em seu poderoso aliado e parceiro, a provocar sadias mobilidades, e o avanço do Grémio Lafonense/Casa de Lafões, que aparecendo em 1911, tinha na colónia vouzelense um de seus grandes esteios. Sendo essa uma evidência, a vinda dos conterrâneos à sua Festa tornou-se como que uma obrigação anual. Iniciadas já num contexto em que o Largo da Feira fora dividido pela imponente nova Ponte ferroviária, entre o aglomerado central da vila e a Igreja Matriz, sucedem assim, talvez, a outros festejos que por ali se faziam mas sem o esplendor envolvente da actual Alameda D. Duarte de Almeida. Três fases na sua organização Por razões de classificação, dividimos o modelo de organização e responsabilidade pela realização das Festas do Castelo em três fases bem distintas: a primeira, com uma predominância essencialmente popular, desde 1915 a 1977, a mais longa de todas, teve nas sucessivas Comissões populares a sua bandeira marcante; a segunda, de 1977 a 2000, pertenceu ao reino das Associações, iniciando-se com a entrada em cena da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vouzela, que aceitaram tal incumbência, seguindo-se-lhe outras Colectividades, ora em exclusivo, ora em parcerias entre si; por fim, a partir do ano 2000, a Câmara Municipal e a Associação Cultural e Recreativa dos Trabalhadores desta mesma autarquia. Quer pela longevidade da sua acção, quer pela solidez com que se empenharam nestas tarefas, as citadas Comissões (que tudo faziam, desde a programação à execução, passando pelas angariação de fundos, em complicadas e árduas caminhadas e contactos por todo o concelho e arredores, sem esquecer as campanhas lançadas nas comunidades vouzelenses, sobretudo em Lisboa, no Rio de Janeiro - Brasil, em Luanda – Angola e Beira – Moçambique, para só citarmos aquelas que consideramos mais relevantes), foram, assim, as grandes obreiras de todo o figurino que, este ano, em 2015, se está a tentar reliplicar, pormenor a pormenor. A tradição assenta nas criações dessa gente, com a cerimónia da “Erguidela do Mastro”, no alto do Monte do Castelo, no mês de Julho, a anunciar o tempo das Festas, com a Capucha, um baile típico e característico que se iniciou em 1961, um de seus anos difíceis, devido ao despoletar da Guerra do Ultramar, com as Exposições e actuações, em festivais, dos Ranchos Folclóricos e das Bandas Filarmónicas, sendo que estas, nos tempos iniciais, eram o seu prato mais forte, com as homenagens como a de 1954, em que se destacou a figura de João Ramalho, com os Concursos Pecuários e das Quadras Populares, com as Gincanas diversas, com os Torneios Desportivos. Em suma, descoberta a pólvora por estes grupos de dedicados vouzelenses, as posteriores inovações vieram a acontecer porque assim tinha de ser. Na essência, tudo se devia a estes mesmos antecessores. Estamos em crer que o surgimento das Associações na condução destes difíceis trabalhos teve a ver com a dificuldade que se começou a sentir em arranjar pessoal disponível, sendo que, se cotejarmos as várias listas anuais, há nomes que se repetem anos a fio, como, aliás, se pode comprovar no vídeo que este ano foi gravado e que vai para o ar, numa primeira apresentação ao público, no próximo dia 3 de Agosto. Este aspecto, ligado ao facto de as Colectividades em causa necessitarem de obter fundos, fizeram com que esta mudança se tivesse verificado. Mas esta modalidade também se esgotou em pouco mais de dez anos, de 1977 a 2000, como vimos, já que, neste último ano, passou a Autarquia a assumir tais funções. Entrava-se, deste modo, na municipalização das Festas do Castelo, sem apelo, nem agravo, fruto de tempos novos e também dos novos conteúdos em competências e meios que as Câmaras vieram a receber e a adoptar. Entretanto, para esta edição dos “100 anos das Festas do Castelo, 100 dias em Festa”, entendeu-se por bem chamar de novo a sociedade civil com a acção da Comissão Executiva que, para esse efeito, foi constituída, a partir destes nomes: Carla Maia e Paula Figueiredo Carreira, da Câmara Municipal, Alexandra Carvalho, Celeste Carvalho, Vera Milheiro, Luís Paiva, Carlos Rodrigues e Raquel Ferreira. Outros destaques Numa poderosa máquina organizativa que fez tudo isto rodar durante cem anos, há factores que não podem ser esquecidos, a começar pelo mais importante que é o da componente humana e a acabar em muitos outros. Pelos sucessivos anos em que aqui prestaram serviço, é devida uma palavra especial a Guilhermino Almeida, primeiro iluminador e ornamentador, como prata da casa, sucedendo-lhe J.C. Pinho, de Pindelo – Oliveira de Azeméis, cabendo o monumental fogo de artifício a Manuel Figueiredo, de Nespereira Alta – S. Pedro do Sul, que deixou uma marca indelével, a do fogo preso e da cachoeira na Ponte do Caminho de Ferro. Em transportes com carreiras dedicadas e este evento, temos os comboios da Linha do Vale do Vouga e os autocarros da União do Sátão e Aguiar da Beira, das Empresas Claras e Guedes e Filhos. Associada às Festas como seu pontapé de saída, a Feira de Agosto, primeira quarta-feira do mês, é ponto fulclral, porque significa o arranque dos espectáculos e outras actividades. De relevo tem sido também a constante participação das Freguesias e Colectividades do concelho nestas mesmas Festas, sob a mais diversas formas e graus, em desfiles, em exposições e muitas outras iniciativas. Como que a afirmarem o seu peso internacional, o ano de 1969, com a vinda de Ranchos Folclóricos espanhóis, trazidos por António Liz Dias, então a desempenhar funções em Madrid, foi determinante, uma vez que, a partir daí, por aqui passaram muitos outros países dos quatro cantos do mundo. Neste ano de 2015, para além de um rico programa que se vai desenrolar nos próximos dias, há que registar-se que tivemos a aprovação do respectivo logótipo, da autoria da jovem Joana Simões, de Mogueirães, o lançamento da marca “100 anos” em toda a correspondência oficial do Muncípio desde e1 de Janeiro, as Exposições da Comunicação Social e do Baú das Memórias, a gravação de um vídeo do passado para memória futura, o Concurso de Quadras Populares, intgrando ainda toda uma vasta panóplia de outros acontecimentos e eventos que por todo o concelho se foram efectuando. Em recuperação de tradições, muito se fez. Aos duzentos anos, assim o esperamos, os nossos sucessores bem podem servir-se destes testemunhos, tal como se andaram a recolher aqueles que nos legaram os nossos antepassados e que, no “Notícias de Vouzela”, como reconheceu Ana Beatriz Ferreira, na obra citada, tiveram um poderoso e duradouro instrumento de divulgação. Firma-se assim, vincadamente, o nosso estatuto de pilar de desenvolvimento que nos orgulhamos de ser e que as Festas do Castelo tanto contaram connosco, assim como poderão indiscutivelmente vir a contar no futuro, como parceiros de uma boa caminhada conjunta. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Julho 2015

terça-feira, 14 de julho de 2015

A boa música de Lafões na RTP

Nlafões6jul15 Lafões a dar sempre boa música Há poucos dias, a RTP 2 passou um excelente programa sobre a música polifónica em Lafões, tendo abrangido vários espaços geográficos e mostrado um formidável número de grupos a cantar, quase de uma ponta a outra desta nossa Região. Disse quem sabe que este património cultural é de uma valia incalculável, a merecer ser divulgado, preservado e classificado. Leigos nesta matéria, sabemos, no entanto, avaliar a qualidade do que temos de bom nos nossos territórios. E não é difícil descobrir que esta arte popular tem muito que se lhe diga, em saber construído ao longo dos tempos, passando de geração em geração. A recolha feita, obra de muita gente boa e ineressada, teve em Paulo Pereira a sua grande alma e uma enorme capacidade de sistematização e boa explicação. Gostámos também de ver malta nova a abraçar esta causa, cantando com seus “avós”, assim pegando naquilo que se não pode deixar morrer. Com esta acção, a RTP cometeu, todavia, um pecado mortal: ao atirar para a RTP 2 esta jóia musical, retirou-lhe amplitude em audiência, reduzindo-a em grande medida. Essa é a pena maior que temos. Aproveitando esta oportunidade e sem tirar uma ponta de brilho a este programa, que foi altíssimo o seu valor, rebuscámos os nossos arquivos pessoais e fomos pescar uma obra monumental, o “Cancioneiro Regional de Lafões”, com recolha e coordenação de José Fernando Monteiro de Oliveira, editado no ano 2000, pelo Alafum – Grupo de Cantares de Lafões. Ao revermos esta aturadíssimo trabalho, ali encontramos canções populares de toda a natureza e com diversas proveniências geográficas, também à escala de Lafões. Para além das pautas musicais, houve o particular cuidado em passar para o papel os dizeres, tal como são ouvidos, deste nosso povo, o que acrescenta valor e rigor a esta investigação. Em mais de 600 paginas, a que se junta um CD, a nossa arte está ali bem estampada. Dividindo-se por várias temáticas, temos os “Cantares de carácter religioso e profano”. As recolhas foram feitas em Cambra, Candal, Fataunços, Fermontelos, Ferreiros (Serrazes), Figueiredo de Alva, Figueiredo da Donas, Moçâmedes, Nespereira Alta, Pindelo dos Milagres, Ribas, Ribeiradio, S. Félix, S. Martinho das Moitas, S. João da Serra, S. Pedro do Sul, S. Vicente de Lafões, Sobral-Pinho, Adopisco-Sul, Valadares e Vila Maior, a partir de uma boa série de informantes. Com o citado programa televisivo e este livro, sabe-se o que existe, assim como já muito se conhecia através das pesquisas de Michel Giacometti, há umas décadas. Agora, há que procurar outros altos voos e o da abertura de um processo com vista a uma classificação como património imaterial da humanidade pode ser , e é, um bom passo a dar. Haja quem dê o pontapé de saída. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Julho 2015

quarta-feira, 8 de julho de 2015

A felicidade não mora aqui...

A felicidade não mora aqui Com verdades que se separam da água como o azeite, uma delas tem a ver com o conceito de felicidade. Só que nos aparece com um manto negro, com uma carga negativa, o que se traduz no seu total oposto, a infelicidade. Tendo esta por companhia, a sua boa rival não mora aqui, talvez mesmo em lado nenhum. Acresce a isto que a política também não ajuda nada a que se inverta esta situação de descrença, de desânimo, de dor e de aflição em muitos casos. Portugal e o mundo trilham caminhos complicados e isso é uma determinante do nosso actual destino que se encontra demasiado enraizada nas nossas percepções e vivências. Se há indicadores preocupantes, aqueles que acabaram de ser revelados no “ Roteiro do Futuro 2015”, promovido, em jeito de Conferências, pela Presidência da República, falam por si e gritam alto que se farta. Ouçamo-los, que é uma pressa! Com cerca de 65% dos portugueses insatisfeitos com a democracia (valores de 2011, mas que não são hoje melhores), sendo que o nosso País é aquele que, no seio da União Europeia esta tendência é das maiores e das mais preocupantes, não podemos concluir que se possa sorrir. Nem por sombras. Cruzar os braços? Bem pior seria se tal acontecesse. Em cima desta tristeza, os jovens situam-se ainda, a este propósito, em patamares mais elevados de descrença total. Em 2015, apenas 17.3% da nossa juventude é de opinião que a democracia funciona bem em Portugal e a média geral ainda é mais baixa: 16.6%. Será que estas lambadas não doem na cara de todos os políticos? Não têm estes de mudar de rumo e de atitude se não quiserem perder o maior dos nossos capitais, que são as pessoas e, nestas, os mais jovens? Com o País a afundar-se em confiança e credibilidade, o cepticismo campeia por aqui. Associando-se a este sentimento, temos, a disparar em flecha, a fuga para o lado de tudo quanto seja participação em cidadania, como demonstram as votações nos vários actos eleitorais, a muitas milhas dos quase 92% de ida às urnas em 1975. Enquanto assim se resvala para o abismo, e pré-campanha não augura nada de substancialmente melhor. Talvez até esteja a acontecer o contrário. Logo, é preciso buscar outras práticas, antes que seja tarde demais. Em Portugal, na Europa e no Mundo. NOTA: Acrescentando algumas linhas a este texto, escrito e publicado há uns tempos, cada vez mais a felicidade está longe de nós. Com a Europa e fazer contas demais e a ter gente a menos na sua cabeça, jogando sempre para cima da mesa as tabelas e as estatísticas, as dívidas e os poços em que todos estamos metidos, não se pode ser feliz. Tememos que a desgraça, um dia, nos bata à porta e escaqueire as nossas casas e as nossas vidas. Querendo a Grécia connosco, não a podemos escorraçar, ainda que lhe façamos ver que todos temos esforços a fazer. Deixá-la cair é erro que se vai pagar caro, muito caro. Sabemos que a Dra. Maria Barroso, que tanto lutou pela liberdade, deve ter partido muito triste com tudo quanto estamos a viver. Saudades e sentidos pêsames. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Barragem de Ribeiradio, Jornal Público, Junho 2004, com um pingo de vaidade pessoal

O conturbado processo da Barragem de Ribeiradio, a construir entre Sever do Vouga e Oliveira de Frades, deverá conhecer novos desenvolvimentos no próximo dia 29. Isto porque os presidentes das câmaras de ambos os concelhos se deslocam a Lisboa para um encontro com o secretário adjunto do ministro da Economia. Um dos objectivos dos autarcas é tomar conhecimento do estudo financeiro encomendado pelo ex-ministro do Ambiente, Amílcar Theias, à Caixa Geral de Depósitos. Um estudo que visava apurar a viabilidade de um modelo de construção e exploração da obra assente na iniciativa privada, em substituição do investimento público inicialmente previsto. Todavia, a entrada de Arlindo Cunha para o Ministério do Ambiente reacende a esperança do financiamento governamental.Da reunião agendada para o próximo dia 29 deverão sair, pelo menos, esclarecimentos sobre o futuro do equipamento reclamado há mais de meio século pelas populações dos distritos de Aveiro e Viseu. Contudo, as expectativas dos autarcas de Sever do Vouga e Oliveira de Frades, respectivamente Manuel Soares e Carlos Tavares Rodrigues, vão mais longe e os responsáveis mantêm acesa a vontade de ver o Governo realizar a obra que visa regularizar o caudal do rio Vouga. "O novo ministro ainda não deve ter tido tempo de analisar o problema, mas acho que ele não vai ficar parado e deixar de aproveitar a Barragem de Ribeiradio", augura o social-democrata Tavares Rodrigues.No entanto, em cima da mesa mantém-se a hipótese da estrutura vir a ser construída pelo sector privado. Um modelo que implicaria, porém, uma alteração legislativa, uma vez que a actual legislação apenas permite o aproveitamento de 10 megawatts como limite máximo (uma mini-hídrica), o que ficará aquém das expectativas privadas. "Isso não dá para nenhum privado ir buscar o que investiu", confirma o socialista Manuel Soares, revelando que a barragem tem capacidade para produzir mais de 40 megawatts. "A alteração da lei para que a EDP fosse obrigada a comprar mais de 10 megawatts não me parece viável. Seria como os touros em Barrancos", argumenta o autarca de Sever do Vouga, alegando que "o processo será moroso". "Cheira a esturro", comenta.Opinião diferente tem o presidente da câmara de Oliveira de Frades. "É fácil alterar a lei, ainda mais quando é uma lei lacunar e cega como esta", defende Tavares Rodrigues, reclamando: "Estou-me marimbando para o chapéu jurídico que arranjem para a barragem. Eu quero é a obra feita". "Seja por financiamento misto, por parceria público-privada, pela alteração da lei ou pelo desdobramento em duas mini-hídricas, a obra tem que ser feita", insiste o autarca, lembrando que "a barragem é para toda a região e o país é que está a perder com isto".Igualmente determinados na defesa do projecto estão os deputados Miguel Ginestal e Afonso Candal, duas das figuras do Partido Socialista que mais se têm batido pela construção da barragem. "Uma coisa é corrigir o que está mal, mas o que este Governo fez foi abandonar uma prioridade, que era a construção da barragem. Se é por falta de verba, então que explique por que se propõe avançar com barragens novas em outros pontos do país. Não há justificação que explique esta decisão", protesta Miguel Ginestal. "A barragem de Ribeiradio é uma prioridade para os distritos de Aveiro e Viseu. Mas a verdade é que já vamos no terceiro ministro e a barragem foi esquecida", continua Ginestal, reclamando "uma posição clara dos autarcas, designadamente do de Oliveira de Frades". "Fizemos propostas para a inscrição do investimento em PIDDAC, nos orçamentos de 2003 e 2004, mas o Governo fez ouvidos de mercador e avança com outras barragens. Vamos continuar a pressionar o Governo", garante o deputado."É uma obra de grande relevância para Sever do Vouga e até para a regularização das águas da zona de Águeda", recorda, por sua vez, Afonso Candal, lamentando que "o Governo tenha abandonado a obra ao fim de dois anos, a fingir problemas". "Dois anos de atraso mostram falta de vontade política", critica Candal, considerando que uma eventual alteração legislativa "não demora dois anos". "Esta não é uma batalha perdida, a barragem não está feita, mas vamos ver. Não há passos sem retorno", conclui."A alteração da lei para que a EDP fosse obrigada a comprar mais de 10 megawatts não me parece viável. Seria como os touros em Barrancos"Manuel Soares, presidente da Câmara Municipal de Sever do Vouga"Estou-me marimbando para o chapéu jurídico que arranjem para a barragem. Eu quero é a obra feita"Carlos Tavares Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Oliveira de Frades

terça-feira, 30 de junho de 2015

Educação, um pedagogo de Lafões

Educação Integrar pessoas com deficiência no sistema de ensino, uma tarefa da ASSOL No vasto campo de suas actividades e espírito de missão, a ASSOL – Associação de Solidariedade Social de Lafões – tem exercido uma muito meritória tarefa, em parceria, sobretudo, com o Ministério da Educação, no encaminhamento e apoio dado às pessoas com deficiência, de modo a integrá-las, com sucesso, no dito sistema normal de ensino. Neste campo de acção, desenvolve trabalhos nos domínios da Intervenção Precoce na Infância e dá vazão ao Projecto Integrado, assim se designa essa mesma valência. Num e noutro caso, é fundamental, como agente financiador, o papel do citado Ministério da Educação e do Ministério da Solidariedade e Segurança Social. Mas não se fina por aqui a sua intervenção, quanto a este capítulo: pode acrescentar-se ainda a Formação Profissional e Integração em Mercado de Trabalho, assim se ficando com uma ideia mais ampla e alargada daquilo que está a ser feito nos três concelhos de Lafões e ainda em Tondela e Castro Daire. Num dos documentos orientadores desta Associação pode ler-se, no que reporta à Intervenção Precoce: “… A ASSOL participa na Equipa Local de Intervenção dos concelhos de Oliveira de Frades, Vouzela, S. Pedro do Sul e Tondela, as quais são constituídas por uma educadora de infância, um enfermeiro e/ou médico e um técnico de serviço social…” Quanto ao Projecto Integrado de inclusão escolar, tendo como base esse mesmo documento, “… A participação da ASSOL no apoio à integração social e escolar de crianças ou jovens é definida no artigo 1º da Portaria nº 1102/97 como um conjunto de «actividades de apoio a escolas do ensino regular, em parceria com as esquipas de coordenação dos apoios educativos»… “ A partir desta norma, criou-se o Projecto Integrado de Lafões, que se estende, como vimos, a Tondela e a Castro Daire. Da área de influência da ASSOL, estão abrangidos agrupamentos desses concelhos, através de protocolos, atrás referenciados, num processo que, aliás, já estava no terreno desde 1991 e tem mantido sempre um ritmo crescente, a ponto de não haver um único aluno, que se saiba, sem respostas adequadas. Melhor do que estas palavras, os números são deveras elucidativos acerca das acções desenvolvidas, extraindo do Relatório de Actividade de 2011 estes indicadores, por rubricas: - PROJECTO INTEGRADO - Terapia da Fala – 2010 – 97 alunos atendidos; 2011 – 99; Psicologia – 2010 – 150 casos; 2011 – 145; Transição para a vida adulta – 2010 – 45; 2011 – 37; Intervenções Sociais – 2010 – 16; 2011 - 15 - FORMAÇÃO PROFISSIONAL E INTEGRAÇÃO EM MERCADO DE TRABALHO – Inscrições recebidas: 2010 – 52; 2011 – 137; Novos candidatos admitidos: 2010 – 34; 2011 – 61; Programas individuais de formação realizada: 2010 – 69; 2011 – 99 Numa outra escala, em número de utentes apoiados, é notório o factor de progressão, ano a ano: - INTERVENÇÂO PRECOCE: 2008 – 20; 2009 – 20; 2010 – 30; 2011 – 40 - PROJECTO INTEGRADO: 2008 – 120; 2009 – 130; 2010 – 288 e 2011 – 296 - FORMAÇÂO PROFISSIONAL: 2008 – 50; 2009 – 50; 2010 – 55 e 2012 - 99 Numa escola para todos, estas componentes nunca podem ser descuradas. Não há uma verdadeira educação se houver alguém que, pelas suas limitações, não tenha acesso ao sistema geral. Deste modo, a ASSOL, com as operações no terreno prático e numa autêntica dimensão de solidariedade, é parceira de um valor incalculável. Uma sociedade será tanto mais justa quanto menos olhar para o lado, para alguém que tem algo que o diferencia, por absurdo que pareça: no dia em que aceitarmos todos os nossos irmãos como iguais e nem dermos pelas suas diferenças, o caminho da vitória humana estará muito mais aplainado. Essa é a visão da ASSOL e um de seus objectivos principais e, no campo da educação, é assim que se comporta e actua. Parabéns!... Carlos Rodrigues

Educação por via da integração, o papel da ASSOL

Educação Integrar pessoas com deficiência no sistema de ensino, uma tarefa da ASSOL No vasto campo de suas actividades e espírito de missão, a ASSOL – Associação de Solidariedade Social de Lafões – tem exercido uma muito meritória tarefa, em parceria, sobretudo, com o Ministério da Educação, no encaminhamento e apoio dado às pessoas com deficiência, de modo a integrá-las, com sucesso, no dito sistema normal de ensino. Neste campo de acção, desenvolve trabalhos nos domínios da Intervenção Precoce na Infância e dá vazão ao Projecto Integrado, assim se designa essa mesma valência. Num e noutro caso, é fundamental, como agente financiador, o papel do citado Ministério da Educação e do Ministério da Solidariedade e Segurança Social. Mas não se fina por aqui a sua intervenção, quanto a este capítulo: pode acrescentar-se ainda a Formação Profissional e Integração em Mercado de Trabalho, assim se ficando com uma ideia mais ampla e alargada daquilo que está a ser feito nos três concelhos de Lafões e ainda em Tondela e Castro Daire. Num dos documentos orientadores desta Associação pode ler-se, no que reporta à Intervenção Precoce: “… A ASSOL participa na Equipa Local de Intervenção dos concelhos de Oliveira de Frades, Vouzela, S. Pedro do Sul e Tondela, as quais são constituídas por uma educadora de infância, um enfermeiro e/ou médico e um técnico de serviço social…” Quanto ao Projecto Integrado de inclusão escolar, tendo como base esse mesmo documento, “… A participação da ASSOL no apoio à integração social e escolar de crianças ou jovens é definida no artigo 1º da Portaria nº 1102/97 como um conjunto de «actividades de apoio a escolas do ensino regular, em parceria com as esquipas de coordenação dos apoios educativos»… “ A partir desta norma, criou-se o Projecto Integrado de Lafões, que se estende, como vimos, a Tondela e a Castro Daire. Da área de influência da ASSOL, estão abrangidos agrupamentos desses concelhos, através de protocolos, atrás referenciados, num processo que, aliás, já estava no terreno desde 1991 e tem mantido sempre um ritmo crescente, a ponto de não haver um único aluno, que se saiba, sem respostas adequadas. Melhor do que estas palavras, os números são deveras elucidativos acerca das acções desenvolvidas, extraindo do Relatório de Actividade de 2011 estes indicadores, por rubricas: - PROJECTO INTEGRADO - Terapia da Fala – 2010 – 97 alunos atendidos; 2011 – 99; Psicologia – 2010 – 150 casos; 2011 – 145; Transição para a vida adulta – 2010 – 45; 2011 – 37; Intervenções Sociais – 2010 – 16; 2011 - 15 - FORMAÇÃO PROFISSIONAL E INTEGRAÇÃO EM MERCADO DE TRABALHO – Inscrições recebidas: 2010 – 52; 2011 – 137; Novos candidatos admitidos: 2010 – 34; 2011 – 61; Programas individuais de formação realizada: 2010 – 69; 2011 – 99 Numa outra escala, em número de utentes apoiados, é notório o factor de progressão, ano a ano: - INTERVENÇÂO PRECOCE: 2008 – 20; 2009 – 20; 2010 – 30; 2011 – 40 - PROJECTO INTEGRADO: 2008 – 120; 2009 – 130; 2010 – 288 e 2011 – 296 - FORMAÇÂO PROFISSIONAL: 2008 – 50; 2009 – 50; 2010 – 55 e 2012 - 99 Numa escola para todos, estas componentes nunca podem ser descuradas. Não há uma verdadeira educação se houver alguém que, pelas suas limitações, não tenha acesso ao sistema geral. Deste modo, a ASSOL, com as operações no terreno prático e numa autêntica dimensão de solidariedade, é parceira de um valor incalculável. Uma sociedade será tanto mais justa quanto menos olhar para o lado, para alguém que tem algo que o diferencia, por absurdo que pareça: no dia em que aceitarmos todos os nossos irmãos como iguais e nem dermos pelas suas diferenças, o caminho da vitória humana estará muito mais aplainado. Essa é a visão da ASSOL e um de seus objectivos principais e, no campo da educação, é assim que se comporta e actua. Parabéns!... Carlos Rodrigues

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Vouzela, uma vila animada e mimada

Nvouzela18jun15 Vouzela no centro de Lafões A meio da encosta do Monte Castelo e de seu irmão Lafão, que, juntos, segundo se crê, deram origem à própria designação desta Região, a de Alafões, ou Lafões, mais especificamente, fica a vila de Vouzela, a terra de Vaucella, com o Vouga aos seus pés. Com este Rio como sua marca, uma outra se lhe cola na perfeição, a da sua profunda ligação à Serra do Caramulo. Com uma grande antiguidade, a sua história está cheia de dados de extrema importância, daqui tendo saído alguns dos mais prestigiados obreiros do nosso passado nacional, local e regional e até em termos de além-mar. Sede de freguesia, por si só, desde há muitos anos, agora faz parte da União que congrega também Paços de Vilharigues, que, com sua Torre, nesta tem um bom farol, a indicar tempos de outrora, renovados recentemente, estabelecendo um bom diálogo com a Nossa Senhora do Castelo e com o Monte Gamardo. Partindo nós de uma recolha de dados que remonta a a 1889, esta terra de S. Frei Gil, D. Duarte de Almeida, João Ramalho, Padre Simão Rodrigues de Azevedo e Morais Carvalho, entre tanta outra gente de peso, distribuía-se então pela Vila, Igreja (sic), Valgode, Caritel e os casais de Linhares, Cabrela, Ribeirinha, Candeeira, Pombal, S. Paio, Foz, Crujo, Ermida, Cavada, Pinheiro, Matas e Costeira, contando ainda com as Quintas da Sarnada (?), Continha, Lamas, Costeira, Matas, Regadas, Caritel, Poldras, Portelo, Porto-Salto, Cavalaria, Valgode, Avelar e Linhares, falando-se apenas da freguesia dessa época. Na vila, duas praças, a de Cima, a Velha, e a de Baixo, a Nova, rivalizavam entre si, isto é, a Praça da República e o Largo Morais Carvalho eram os centros que aqui se distinguiam. Entre estes espaços e a Igreja Matriz, ficava o Largo da Corredoura, local da Feira de então, pensando nós de que se trata da actual Alameda. Por estes sítios, ganhavam o seu sustento alguns comerciantes, dois farmacêuticos, ferreiros, serralheiros, sapateiros, alfaiates, havendo ainda oficinas de tecelagem de panos de linho, de estopa e burel, quatro fornos de poia (pão) e pisões nos Rios Vouga, todo o ano, e no Zela, em época de fortes caudais. Com uma boa centralidade política, a associação, por exemplo, do Pai de S. Frei Gil à corte e à “Câmara” de Coimbra, de D. Duarte de Almeida aos homens do D. Afonso V, de João Ramalho à colonização do Brasil, do Padre Simão de Azevedo à fundação da Companhia de Jesus e de Morais Carvalho à fina flor do Liberalismo fazem com que todas estas evidências sejam disso um testemunho indesmentível. Num tempo em que os aspectos religiosos também andavam de mão dada com as forças políticas, justificam-se as Igrejas e Capelas que por aqui foram existindo ao longo dos tempos: Igreja Matriz, da Misericórdia, de S. Frei Gil, Capela de Nossa Senhora do Castelo, de S. Sebastião, de S. João (Casa das Ameias, em preocupantes ruínas), de S. Pedro (Valgode), de Santa Catarina (Quinta da Sarnada). Em monumentalidade, porém, há muito mais a citar: Ponte, na Rua do mesmo nome, toda ela um património incalculável, Fonte da Nogueira, edifício da Antiga Câmara (Biblioteca Municipal), Museu Municipal, Estátua de Morais Carvalho, casas senhoriais e brasonadas, sendo por isso quase lícito afirmar-se que se está perante uma Vila-Museu. Assim sendo, se é importante valorizá-la e preservá-la, não menos determinante é, para um seu futuro sustentável, rasgar-lhe outros horizontes fora de muros, se assim se pode falar. Como é reduzido o espaço a ocupar, fiquemo-nos com estas datas e respectivas evocações, extraídas de um desdobrável das Festas do Castelo: 1093 – um dos primeiros documentos escritos sobre esta vila; 1307 – criação da Feira; 1436 – concelho de Lafões, D. Duarte; 1882 – estátua Morais Carvalho; 1885 – fundação dos Bombeiros; 1904 – ponte sobre o Rio Vouga; 1926 – Mercado Municipal; 1927 – extinção da Comarca, restaurada em 1973; 1929 – iluminação eléctrica; 1929 – Associação os Vouzelenses; 1931 – em segunda fase, Sociedade Musical Vouzelense; 1935 – Notícias de Vouzela; 1959 – Hospital da Misericórdia; 1962 – Colégio de S. Frei Gil; 1964 – Cooperativa Agrícola de Lafões; 1966 – Quartel dos Bombeiros/Prédio das Colectividades. Para se conhecer esta terra e toda a região de Lafões, entre muitos outros valiosos contributos que têm vindo a surgir, não podemos deixar de referir o papel do Professor Amorim Girão, que, em toda a sua vida académica, com uma notável obra realizada na Universidade de Coimbra, em torno da Geografia e da Arqueologia, sobretudo a partir dos anos vinte do século passado, se tornou pioneiro na divulgação da história e património destas nossas localidades de Lafões. Devem-se-lhe descobertas e análises registadas para a posteridade de um valor incalculável. Foi tal a sua importância neste campo científico que a atribuição de seu nome a um qualquer espaço, não perecivel no tempo, como uma sala da Biblioteca ou algo do género, seria uma boa ideia e um acto de justiça. Indissociável da região em que se insere, Lafões, nela sempre permaneceu, podendo até dizer-se que chegou a ser, em certa medida, um de seus lugares cimeiros. Por este facto, recebeu, por exemplo, uma das primeiras Misericórdias do País, mal D. Leonor criara em Lisboa, em 1498, esta preciosa Instituição. Com uma área de cerca de 193 quilómetros quadrados, tem hoje 9 freguesias por força de uma legislação algo sem pés nem cabeça, que, esvaziando ancestrais órgãos de governação local, fez desaparecer, integrando-as, as restantes três. Com essa medida, por mais que nos esforcemos em ver vantagens, muito se perdeu e pouco se ganhou. Mas em termos de perdas e fugas de serviço, corariam D. Dinis, D. Duarte e D. Manuel que tanto fizeram em aqui acrescentarem mais-valias, desde a Feira, já citada, a outras benesses. Cabe aqui uma palavra de muito apreço em louvor de todos aqueles – e muitos foram – que tanto fizeram pelo recuperação da Comarca, que teve, assinale-se, no então Governador Civil de Viseu (1973), Eng. Armínio Quintela, uma alavanca essencial. O mesmo se diga de quem fez erguer o velho Hospital, de construir um novo Palácio da Justiça que, depois de pouco mais de duas décadas de serviços prestados, está praticamente às moscas, em mais um desacerto governamental de todo o tamanho. Se uns tiram, outros semeiam e a vinda do IP5/A25 é um pilar essencial para o desenvolvimento deste concelho, que tem os melhores pastéis do mundo e é parceiro de um espaço onde podem pastar as nossas famosas vitelas de Lafões. Em matéria de equipamentos, importa também lamentar os cortes na Saúde, outra facada nas nossas costas que ainda sangra a bom sangrar. Já agora, diga-se que, ao falarmos de desaparecimentos cruéis, temos de recuar muito no tempo, porque o Covento aqui existente outrora quase não deixou rasto, o mesmo tendo acontecido com as muralhas do Castelo no sítio do mesmo nome. Triste sina é a desta terra. Ficam, no entanto, vivas e imortais as suas belezas e memórias, que ninguém mais vai apagar. Do passado recente, muito anda por aqui escrito. E dos tempos de outrora fica quase tudo por dizer, mas não é possível ir mais longe, por agora. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Cambra, terra de encantos e (en)cantares

Cambra28mai15 Cambra com história forte e lenda também Nisto da etimologia não é fácil afirmar certezas, porque são pantanosas as teses em que nos podemos apoiar. Em Cambra, quando à sua designação, assim acontece. Fiquemos, porém, por aquela teoria que nos parece mais lógica, a da sua ligação ao Rio Cambar, hoje Alfusqueiro, por nos merecer um certo ar de autenticidade, ainda que muito tremido. Se, em nome, ficam as dúvidas, em história e lenda, temos por aqui matéria aos montes. Com base em documentação história antiga, esta de 1147, fala-se num testamento de Maria Rabaldes (sabendo-se que os Rabaldes têm uma profunda ligação a esta nossa Região), que faz ligar Cambra ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, então ainda em fase de afirmação, porque havia nascido na década de trinta desse mesmo século. Em lenda, a do Lobisomem chega para dar e vender. Com a sua caverna ao lado do Rio Couto, as suas façanhas perduram pelos tempos fora, em noites de lua cheia, sobretudo em casas em que não havia nem Custódios, nem Custódias, Bentos e Bentas, como era “exigido” ao sétimo filho ou filha em termos de nome. Em curtas linhas, todo o espaço é pouco para se conhecer esta freguesia e paróquia de S. Julião, que tem uma das mais imponentes Igrejas por estas bandas, com as suas duas torres, uns caixotões de uma riqueza evocativa e cultural de alto valor, felizmente agora restaurados, uns azulejos encantadores e um espaço envolvente, como Centro Histórico, que nos merece todos os elogios nas suas obras de beneficiação e restauro, estas com origem nos poderes públicos com apoio popular, a que se deve acrescentar quanto de bom foi feito no Solar que engrandece todo este lugar. Numa terra que tem no passado fortes motivos de orgulho, estendendo-se este ao seu animado ritmo cultural e associativo, são notórias as marcas que farão história por muitos e muitos anos, daqui para a frente. Não parando no tempo, as actuais gerações ali criaram a Extensão do Centro de Saúde, o Centro de Dia e Lar, o novo Jardim de Infância e Escolas, as sedes da velhinha mas saborosa Verdi Cambrense, da quarentona ACRC e tantas outras iniciativas que criaram novos marcos, os da actualidade. Com S. Julião como Padroeiro, em Cambra, o Espírito Santo e a Santa Combinha, uma notável devoção e romaria que originou uma das peças mais famosas do nosso cancioneiro, jamais podem ser esquecidos. Temos ainda o Santo Antão, em Caveirós de Cima, a Santa Luzia, em Tourelhe, a Nossa Senhora das Dores, em Pés-de-Pontes, mostrando uma religiosidade que é factor de forte identidade. Freguesia agora unida a Carvalhal de Vermilhas, recordando tempos de outrora, fez parte do concelho de Lafões, do de Oliveira de Frades, até 2 de Novembro de 1871, data em que passou a integrar, até aos nossos dias, o de Vouzela. Com uma notável Torre senhorial num recanto de sonho, ali em Cambra de Baixo, junto ao Rio Alfusqueiro, em área territorial sobe à Serra do Caramulo, de onde se avista um bonito panorama. Tendo 1244 habitantes em 2011, nota-se uma diminuição populacional que urge fazer inverter, tal como em muitos outros lados deste nosso esquecido Interior de Portugal. Completando estas parcas linhas, nada melhor que ouvir as melodias que por aqui se cantam, em espólio musical e cultural que é nosso encanto e orgulho. Ouçamo-las sempre!... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”

terça-feira, 23 de junho de 2015

Assembleia Municipal de Oliveira de Frades em "Dia aberto"

Dia aberto trouxe Zona Industrial para debate No passado dia 12, a Assembleia Municipal de Oliveira de Frades avançou com o seu plano dos Dias Abertos, tendo este último sido consagrado a debater a Zona Industrial e a vida empresarial do concelho, em geral. Para presidir aos trabalhos, a Mesa foi constituída pelo Presidente deste órgão autárquico, Dr. Abel Dias, Presidente da Câmara Municipal, Dr. Luís Vasconcelos, representante da Direcção da Escola Secundária, local escolhido para este evento, Eng. José Viegas, participando ainda com seu testemunho, como convidado, o Eng. Paulo Bastos, da firma Portax. Com uma plateia, onde se viam, maioritariamente, vários investidores e autarcas, a mostrar a sua opinião e sugestões, os trabalhos andaram à volta das propostas feitas pelo Presidente da AM, referindo que este era um encontro informal, não deixando de mostrar o seu orgulho e contentamento por poder falar de uma ZI com a dimensão e importância da que existe neste Município, ao mesmo tempo que, em jeito de justificação para a opção pela Escola, pôs em destaque a sua componente formativa em cursos profissionais e tecnológicos. Logo que começou a sua intervenção, o Eng. Paulo Bastos disse que a vinda da Portax, há cerca de 25 anos, para esta terra se revelou uma boa decisão estratégica, acrescentando mesmo, a certa altura, que “ este concelho é um conselho que dou” a toda a gente na hora de instalar uma qualquer empresa. Considerando-o como não enquadrável no conceito restrito do “interior”, tão bons são os seus acessos, não quis evitar, porém, dois ou três factores que, a seu ver, são obstáculos em termos de competitividade: a falta de atractividade para quadros superiores e médios altamente qualificados, que têm de vir de fora, a inexistência de gás natural (algo que se revela como um ponto negativo, por exemplo, agora que o seu Grupo vai investir milhões de euros num novo projecto nesta ZI), as portagens na A25 e respectivos reflexos no custo dos transportes. Apesar destes contratempos, essa nova aposta vai mesmo ser concretizada, adiantando o Presidente da Câmara que já foram disponibilizados dois hectares de terreno a custos praticamente simbólicos, tendo em conta o alcance e natureza deste novo investimento, aproveitando esta sua intervenção para indicar que os esforços que estão a ser feitos em educação, equipamentos sociais e infraestruturas várias vão no sentido de criar condições para a fixação e atracção populacional, sobretudo de jovens e bons quadros, assim como se disponiblizou para prestar apoio, a todos os níveis, a quem queira investir sustentadamente. Chamou, todavia, a atenção para a necessidade de o mercado laboral oferecer maior estabilidade e mais confiança no futuro. Para o Eng. José Viegas, a Escola tem conseguido, nos citados cursos, que os alunos a eles acedam por vocação, o que só valoriza a qualidade do ensino que aqui se pratica, um bom meio para, em parceria com o tecido empresarial, lhe proporcionar bons profissionais. Só que, disse, há um período temporal de três anos que inviabiliza respostas rápidas, antes de se atingir a velocidade cruzeiro. Em maré de debate, abordaram-se as questões do associativismo, das incubadoras de empresas, da futura existência de um Gabinte de Apoio a disponibilizar pela CM, dos transportes, da ética e da necessidade de intervenção social por parte de todos os investidores. Ponto também focado foi o da necessidade de se olhar especificamente – e muito – pelas pequenas e médias empresas, que têm os seus problemas muitos particulares. Com a consciência do peso local, regional e nacional desta ZI, a falta de sinalética foi outra das críticas que ali se ouviram. Enfim, em cerca de duas horas de boa conversa, foi reforçada a ideia de que a veia empreendedora do concelho de Oliveira de Frades tem condições para, se tudo correr de feição, ir ainda bem mais longe. Assim se escreva nas esferas da economia e das finanças públicas a vontade de aliviar quem tudo faz para produzir riqueza e bem-estar. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Junho, 2015

terça-feira, 9 de junho de 2015

O cheiro pestilento do meu futebol

Tenho andado a adiar este desabafo público, mais um, aliás. É de futebol que vou falar em dois tons, um bem perfumado, outro em horrível cheiro pelo que se aconselha a que se tapem os narizes. PONTO UM - Este ano, com a vitória do meu GRUPO DESPORTIVO DE OLIVEIRA DE FRADES, subindo nos seniores, aos nacionais, havendo ainda mais escalões com igual sucesso, sinto-me bem, muito bem. Acrescento a este bom estado de espírito o feito da GD de TONDELA que ascendeu ao escalão maior da nossa Liga. Eis outro apetecível cheiro. Cautela, vem aí o PONTO DOIS - É uma vergonha o que se passa na alta roda, ao nível da FIFA, é uma miséria de atitudes aquilo que se vive na Luz, em Alvalade e em Braga (?). Comentemos: que Jorge Jesus tenha saído do meu SLB, lamento, mas aceito, que remédio!...Que a sua cara tenha sido retirada dos fotografias das glórias conquistadas, acho de um muitíssimo e condenável baixo nível, eu que sou SLB de cima a baixo. Intolerável. Continuemos: o que se passa no SCP com Marco Silva e em Braga (?) com o seu treinador parece-me, no mínimo, uma forte estupidez e algo que deveria envergonhar o dirigismo desportivo. Com tudo isto a cheirar mal, vou já embora. Até outro dia!...

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Recordar respostas escolares num País assimétrico: Colégio de S. Frei Gil, 1962

Colégio de S. Frei Gil assinalou Bodas de Ouro – um testemunho pessoal Desde que, num esforço conjugado e numa iniciativa que se concretizou em reduzido espaço de tempo, o antigo Colégio de S. Frei Gil abriu as portas em Outubro de 1962, passaram-se cinquenta anos. Numa casa que albergou esse mesmo Colégio, uma Secção da Escola Industrial de Viseu, a Escola Preparatória D. Duarte de Almeida e é, agora, a Escola Básica de Vouzela e sede de um Agrupamento Escolar, muitas são as vivências e ricos os contributos que se sucederam em catadupa. Para pôr em evidência tudo isso, a Associação D. Duarte de Almeida e a Comissão dos Antigos Alunos organizaram um programa de comemorações, que contou com dois momentos distintos: um “peddy paper” de descoberta dos monumentos da vila e um almoço-convívio. Com o ponto de encontro centrado na Praça Morais Carvalho, onde o Café Rocha serviu um agradável beberete, em equipas, partiu-se então para a primeira das tarefas que foram propostas às dezenas de participantes. Munidos de uma carta geográfica e de uns tópicos acerca dos locais a visitar e identificar, por ali se andaram duas boas horas, vendo e registando pormenores que não eram facilmente apreensíveis. Com paciência e olhos de lince, lá se foram resolvendo, com mais ou menos êxito, os enigmas constantes do pacote em questão. Esta foi uma maneira, ou de rever pormenores, ou, desvendando-os, de tomar, uma vez mais, contacto com a riqueza monumental desta terra. Em feliz coincidência, puderam estes grupos cruzar-se com um outro grande evento cultural, com pesos internacional, a Bienal de Arte, que, em dia de sol, alegrava ainda mais todo este mesmo espaço. Terminada esta tarefa, a etapa final estava localizada, precisamente, nas instalações do ex-Colégio de S. Frei Gil, onde se haveria de cumprir, então, a segunda parte da agenda que tinha sido enviada para quem quis participar nestas jornadas de saudade, memória e reconhecimento. O edifício inicial, com vários retoques, lá estava a dizer que ali nascera o sonho de muita gente, que, estudando em respostas que o Estado então não dava, foi depois caminhando pela vida fora. Mais idosos, os jovens dessa época, os fundadores, que ali compareceram, os professores, os funcionários, puderam todos, talvez com uma lágrima no canto do olho, recordar tempos que já lá vão, mas que não esquecem. Escusado será dizer-se que, se a escada de acesso ao segundo piso testemunha bem, pelo desgaste que se nota, a passagem dos anos, tudo ali é também diferente: várias gerações ali se cruzam, em termos de instituições escolares e de esquemas de funcionamento e os novos edifícios e interligações entre eles são a marca dessa mesma evolução. Do velho Colégio, felizmente, houve sempre o bom senso de o preservar e integrar na paisagem posterior. Mas, neste momento, aquele espaço tem outros pavilhões e valências, como um magnífico Auditório, e até a antiga Escola Primária faz agora parte deste complexo global e moderno. Ou seja: o passado resiste, não foi engolido por nada e convive, em amena cavaqueira, com tudo quanto ali se foi construindo, que os tempos não pararam e isso é muito importante. Mostra-se assim a vontade de andar para a frente, mas nunca de renegar aquilo que é uma herança viva de quem, em 1962, partiu para esta bonita aventura. Porque, nesta marcha, um dia me coube a honra de por lá ter passado um ano da minha vida, quis estar presente, curiosamente, com duas gerações familiares, como ex-alunas, separadas por décadas, que me acompanharam nesse convívio, que teve também na Escola Profissional outra de suas peças fundamentais. Porque a Lurdes Pereira, noutro local, já falou, e muito bem desta Festa, este desabafo tem apenas o significado de uma vivência particular, que aqui se regista. Entre os muitos momentos que há a evidenciar, um deles tocou-nos particularmente: foi quando o Professor António Girão e a Matilde Figueiredo se referiram ao contributo da Dr.a Clara Simões, homenageando-a, enquanto ex- directora do Colégio, com um ramo de flores, entregue a seu marido, o Dr. António Simões, um dos fundadores ali também sentado à mesa. A vida é feita de gestos e o da solidariedade tem, nela, um papel fundamental, o que ali foi bem evidente. Cinquenta anos já se viveram. Agora, é o futuro que espreita e que seja bem melhor que este presente que estamos a viver. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 2012

terça-feira, 26 de maio de 2015

Falar da minha terra: santos de ao pé da porta não fazem milagres

Pelas nossas terras - Reigoso, terra de solidariedade viva Não é fácil para nós, que temos esta terra como grande matriz e referência genética e social, falarmos de Reigoso sem deixarmos de lado a emoção. Mesmo que assim seja, nesta caminhada pelas “Nossas Terras”, não seria justo passar-lhe ao lado e dela não trazermos aqui toda a sua importância e encanto. Aliás, nunca se deve ser filho ingrato, ainda que a carteira profissional de jornalista nos imponha regras de conduta e ética que nos dizem que não podemos privilegiar nada, nem ninguém acima dos outros. Posto isto e feito este registo de interesses, vamos à obra e há muito que dizer. Em primeiro lugar, começamos por afirmar que, no contexto nacional, há uma outra freguesia de Reigoso, no concelho de Montalegre, que, por acaso, já visitámos, na companhia do bom amigo e colega, Professor Manuel Martinho, aqui há um bom par de anos, mas é desta nossa terra que queremos conversar. As razões abundam, em passado e presente. Recuando no tempo, há que subir aos montes que os maiores testemunhos dessa antiguidade estão estampados no Murado da Várzea, um repositório de antigas muralhas, onde se notam vestígios de um castro acastelado, com um poder de visão estratégica sobre vastos horizontes. Enquadrado este espaço com as Antas da Vessada do Salgueiro e de Antelas, entre outros locais, verifica-se assim a existência de um “continuum” habitável bem expressivo por estas paragens. Com a vinda dos romanos, desce-se para patamares mais baixos, em altitude, e com um potencial agrícola muito maior. Era assim a postura de Roma: criar boas vias de comunicação, cabendo a Reigoso o privilégio de ser rasgado por uma estrada de largo movimento, unindo o mar e a serra, a partir do Marnel (Águeda) e à grande via que ia de Lisboa para Braga e Santiago de Compostela. Estabelecidos estes circuitos, havia que povoar as terras e dar-lhe sustentabilidade em cultivo de cereais, azeite, vinho, animais e outros alimentos e equipamentos básicos. Com vestígios palpáveis desta via na Ponte e em Entráguas, os seus marcos miliários podem ver-se no Museu Municipal de Oliveira de Frades, em grande plano. Percorrendo toda a Idade Média, é por esta altura, aí a partir dos séculos X a XIII, que “Radicosu” atinge todo o seu esplendor e funcionalidade. Criada a ALBERGARIA de Reigoso, em que teve papel preponderante o Alcaide Cerveira, que a cede ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, assim como manda sagrar a respectiva Igreja, estava dado mais um bom tiro de partida para altos voos. Para memória perene, neste templo, da invocação de S. Lourenço, padroeiro, uma placa regista estes factos e feitos. Foi tal a importância desta Albergaria – Hospital que, à beira da estrada se haveria de erguer um padrão (também existente no citado Museu) em que se pedia, muito claramente, aos peregrinos que ali se dirigissem, porque lá havia casa, cama, água, azeite e sal. Fazendo parte da rede de apoios aos caminhantes de Santiago e todos os demais, esta infraestrutura durou praticamente até ao século XX. Com ligações aos concelhos de Lafões e S. João do Monte, Reigoso pertence hoje, desde meados do século XIX, a Oliveira de Frades, sendo que, como freguesia, faz parte, na actualidade, mercê da Lei 11-A/2013, da União das Freguesias de Destriz e Reigoso. Com uma marcha populacional bastante descendente, anotemos os respectivos números: 1911 – 419 habitantes; 1940 – 444; 1960 – 471; 1970 – 420; 1981 – 402; 1991 – 390; 2001 – 375 e 2011 – 341. Com duas povoações de maior dimensão, Sobreira e Reigoso, há ainda os povoados da Ponte, Feira, Entráguas e Várzea, sendo que um dado curioso se pode citar que é o de Entráguas ser, muito provavelmente, a terra do concelho com maior percentagem de novas construções. Condenada a desaparecer e a deixar o Santo António sozinho, hoje tem uma série de novos moradores, estando assim assegurado o seu futuro. Dotado este espaço de uma Zona Industrial, mostra alguma apetência pelos investimentos, a nível geral, sendo de destacar as empresas Ramos e Ramos, Levi Carvalho, Cisfra, Avizela, Autojac, Violantecar, Café Larides, Emílio Rodrigues (mel), entre outras. Associativamente, evidencia-se logo a UMJA – União Musical Juventude e Amizade, havendo ainda a ARCUSOPOF, a AJOR, devendo referir-se que em 1929, 1946 se falava na Sociedade Musical Agrícola Reigosense, assim se provando uma boa apetência pelas Filarmonias desde tempos antigos, passando ainda pela mais recente Reigravo e sua sucessora, desaparecida há algumas décadas. A fazer fronteira com o distrito de Aveiro, estas terras têm, assim, uma posição geográfica de alta importância estratégica, facto que foi amplamente dilatado, primeiro com o IP5 e, mais tarde, com a A25, que aqui tem um nó central. Com pergaminhos aos montes, com estas novas vias, Reigoso tem tudo para almejar um bom futuro. Deus queira que assim aconteça. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Maio 2015

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Quando se pensava navegar no Rio Vouga...

Nlafões13mai15 O Rio Vouga pensado no século XIX com barcos em S. Pedro do Sul Hoje, olhamos para o Rio Vouga e vemo-lo preenchido com uma extensa albufeira, que parte da Ermida-Sever do Vouga, sector mais a jusante, e se prolonga de Ribeiradio para cima, pelo Médio Vouga em grande parte de seu percurso, até aos limites das freguesias de Sejães, Valadares e Souto de Lafões, esta um tanto de raspão, ou nem por isso, tudo isto devido às novas Barragens. A paisagem e o seu uso mudaram irremediavelmente. Das águas tumultuosas do Inverno e de um fio apagado no Verão, passamos, agora, para a serenidade de um enorme lençol de líquido azul que, em muitos locais, mais separa, unindo, as respectivas margens. É um novo mundo, este, o que aqui presenciamos e sentimos, a exigir respostas a desafios maiores, como os do turismo e outros que venhamos a encontrar. Deste presente, muito se tem dito e escrito. Nestas páginas do “Notícias de Lafões” é, porém, do passado que queremos falar, para repescar memórias e as trazer ao nosso convívio actual. Uma delas, a de hoje, tem a ver com este nosso Rio Vouga e os frutos que dele se quiseram tirar em pleno século XIX, há cerca de duzentos anos. Se, na actualidade, a ideia de uma navegação deste elo de união entre a zona de Lafões e a de Aveiro nos parece uma miragem e uma mera especulação extra-terrestre, nesse tempo tal foi visto como uma boa hipótese plausível, a ponto de ter merecido legislação oficial, ainda que inconsequente. Vamos aos factos, já a seguir: - Um certo ano, um médico que veio parar a Vouzela nos primeiros decénios do século XIX, Dr. Joaquim Baptista, embalado pelos efeitos previsíveis do novo Porto de Aveiro, acabado do construir, logo se pôs a sonhar com um então desejado notável aproveitamento, em navegabilidade, do Rio Vouga, propondo que se avançasse com uma obra deste arrojo e atrevimento até S. Pedro do Sul, que ele via como o grande entroncamento das estradas em direcção ao Porto e a Coimbra. Esta sua ideia, tendo como suporte “ A Região de Lafões – Subsídios para a sua História, Manuel Barros Mouro, Coimbra Editora, 1996” e, muito especialmente, “Reflexões sobre a navegação do Rio Vouga – 1829, Estante Editora, 1989, Dr. Joaquim Baptista, Introdução e Notas de A. Lúcio Vidal”, não se ficou pelos seus papéis manuscritos, tendo chegado à mesa da Rainha D. Maria II, que, por sugestão dos Deputados João Gualtero de Pina Cabral e Paulo Midosi, lhe dá seguimento através de Portaria de 29 de Dezembro de 1837. Dada a ordem para se andar para a frente com o respectivo concurso, tudo ficou, porém, em águas de bacalhau devido às muitas querelas políticas então existentes, uma constante que sempre exitiu e assim vai continuar, se a democracia, como defendemos fortemente, for sempre o regime político em que nos apoiamos. Para dar sustentabilidade económica a este seu projecto, o Dr. Joaquim Baptista trazia a talhe de foice os produtos que podiam circular pelas águas do Rio Vouga: vindo do Litoral para as nossas bandas, sal, sardinha, louça, cal, ferro, bacalhau, açúcar, arroz, chapéus, papel, vidro, panos de linho, descendo, no sentido inverso, os nossos bens agrícolas e pecuários, os cereais, a lã, azeite, cortiça, casca (?), castanha, fruta, presuntos, coiros, porcos, bois, panos de lã, vinho verde de LAFÕES, vinagre e aguardente, apelando à memória dos decisores dessa época para lhes fazer ver que, aqui, a Companhia da Agricultura do Alto Douro tinha quatro alambiques fixos e alguns volantes, podendo acrescentarmos nós ( Ver monografia “Oliveira de Frades, 1991”) que, em S. Vicente de Lafões, se verificava esta realidade. Em visão estratégica, aproveitando a mancha empreendedora das novas correntes de desenvolvimento, de que vem a sobressair o Fontismo, era assim que se via o Rio Vouga, o mesmo acontecendo, pela pena deste mesmo autor, com o Rio Cértima, ali para os lados da Bairrada. Curioso é sentir-se que a tudo isto presidia uma visão integrada, com o seu eixo fundamental a aparecer com o novo Porto de Aveiro. E, no caso do nosso Rio, porque “.... Entre as terras altas da borda ocidental de meseta hispânica e a campina da Beira-Mar, há um traço de união líquido, o Vouga (Obra II, p.9), em caso de falta de água nos estios, advogava-se a eventual necessidade de transvases com origem no Rio Paiva, sendo que, para ultrapassar desníveis e outras dificuldades de obras, se previa a construção de eclusas. Grande capacidade de pensar Lafões aqui lemos, esta, a que aqui nos trouxe hoje e nos vai alimentar mais uns outros trabalhos, em próximas edições!... (Continua) Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 14 de Maio de 2015

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Mais coesão territorial...

“Coesão territorial não pode ficar no papel” 2 – Uma urgência e uma evidência para salvar o País Dentro de cerca de quinze dias, a Assembleia da República receberá o próximo Orçamento de Estado para 2015, em ambiente político renovado, em função dos resultados das primárias do PS e a subida ao pódium da discussão desta e doutras matérias do Dr, António Costa. Perspectivam-se mudanças na condução da oposição por parte do novo líder socialista e esse facto obriga a que se olhe para as propostas a apresentar pelo Governo, quem sabe, de uma maneira mais assertiva e mais amiga das pessoas, dos portugueses. “Isto” mudou, sem sombra de dúvida. Não perceber esta evidência é esquecer questões elementares e essenciais. Não era, porém, acerca destes temas que queríamos escrever umas curtas linhas, porque tínhamos ( e mantemos essa ideia em mente) a vontade de continuar a falar dos novos fundos europeus que aí vêm para os anos de 2014 a 2020. Mas a nova realidade obrigou-nos a ter de assim começar, porque, como vulgarmente se diz, nada será como dantes. Por outro lado, a ligação ao novo Orçamento de Estado também tem aqui todo o seu enquadramento. Ou este consagra a integração de rubricas condizentes com uma nova forma de encarar Portugal como um todo, à luz das premissas do Acordo de Parceria e Estratégia Europeia 2020, ou, então, mais vale nada levar à Assembleia, por violar o solene e necessário princípio da coesão, isto é, da equidade territorial e social que tardam demais. Sem caminharmos pela via do choradinho, preferimos antes afirmar a defesa de valores que julgamos intocáveis, se se quiser fazer uma política honesta e séria. Também não se trata de qualquer caridadezinha para com os “desgraçados” do Interior, dos espaços de baixa densidade, como agora são vistas as nossas terras e até partes de muitas de nossas cidades, nos seus bairros mais antigos e tradicionais. Não é uma questão de esmolas, mas, sim, de justiça social, de dignidade, de direito. Como o Orçamento deve conter normas para políticas públicas e como no tal Acordo estabelecido entre Portugal e a União Europeia há claras referências a esses aspectos determinantes para a sustentabilidade nacional, negar estes caminhos é trair o próprio povo, que se verá defraudado, uma vez mais, se essas boas práticas não forem aplicadas. Não cremos que os nossos governantes possam cair na asneira de não verem o nosso País com outros olhos, sob pena de não merecerem a confiança que neles depositamos. Mas não basta inscrever piedosas rubricas, à semelhança do que acontecia com os PIDDAC de anos anteriores, em que, para agradar às comunidades locais, lá aparecia o anúncio de obras e investimentos que só serviam para inglês ver, porque nunca mais se concretizavam, em muitos casos. Estes são tempos de claras exigências de compromisso em termos de criação de políticas que vejam a nossa nação como um espaço a povoar de medidas que sirvam para equilibrar o que tão inclinado tem andado e sempre com os pratos da balança a penderem, abusivamente, para as grandes metrópoles de Lisboa e do Porto, ou outras curtas manchas do litoral. Reconhecendo-se no Acordo de Parceria 2014/2020 que há significativos desequilíbrios territoriais, é necessário passar das intenções aos actos, concretos e palpáveis. Com novas abordagens, com prioridades bem calibradas, com um correcto Programa Nacional de Políticas de Ordenamento do Território ( e não é por falta de documentos, nessa esfera, que estamos como estamos), com a incidência objectiva no Desenvolvimento Rural, que está muito para além do mundo agrícola, com a aplicação exaustiva dos Regulamentos Comunitários relativos aos diversos Fundos Europeus de Políticas de Coesão, em mobilização de recursos e pessoas, em busca de energias positivas endógenas, locais, a combinar com os apoios externos, numa lógica de subsidiariedade, conseguir-se-á inverter o quadro em que nos temos movido e muito mal, por sinal. Já agora, temos de ser criteriosos no uso dos vários instrumentos que teremos ao nosso dispor. Ao olharmos para tempos recuados, e não é preciso virar muitas folhas dos calendários, em termos, por exemplo, de FSE – Fundo Social Europeu – e de outros, incluindo o FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, facilmente concluiremos que os desperdícios são uma vergonha e uma desgraça. Não é disso que estamos à espera, nem o desejamos. O que queremos é que haja seriedade na atribuição dos fundos e regulação apertada nos seus usos, para bem de todos nós. Com cerca de 26 mil milhões de euros ( mais do que os 21 mil milhões previstos inicialmente) para serem gastos entre 2014 e 2020, com a Região Centro e ter de gerir, só por si, dois mil milhões, mais aqueles que saem do bolo nacional, com a PME – Pequenas e Médias Empresas – a serem dotadas de 800 milhões de euros, isto é obra. Mas de pouco pode valer, em valor acrescentado, se não for bem atribuído e melhor controlado. Numa visão abrangente e minuciosa, com um novo modelo de governação destes bens públicos, é preciso criar a convergência nacional, combatendo as assimetrias regionais, em pactos para o desenvolvimento e em cooperação benéfica para todos nós. As entidades locais têm nas mãos muito a fazer. Esta é a sua hora. E não parece haver outra igual tão cedo e tão boa… Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela” Coesão territorial não pode ficar no papel 1 – Passar do folclore aos investimentos é o caminho a seguir Por mais que esgravatemos nos compêndios e nas estatísticas, há dados que são manifestamente evidentes e o do despovoamento do Interior vem logo na linha da frente, para mal da Região em que nos situamos. Em poucas décadas, sensivelmente a partir de 1950/1960, os nossos concelhos perderam milhares e milhares de habitantes, mesmo entre 2001 e 2011, os dois últimos Censos realizados por todo o lado. Aquelas que foram as migrações em massa de há anos, regressaram, de novo, agora, com fato chique e formação de alto grau. Numa sina negra, as nossas terras estão sempre a perder os seus melhores trunfos, as pessoas. Em cima da mesa, para os anos de 2014 a 2020, temos aí um Acordo de Parceria, assinado entre o nosso Governo e a Comissão Europeia, no passado mês de Julho, que vale mais de vinte mil milhões de euros em apoios e comparticipações. Precisamos, nestes momentos, é de boas unhas para tocar tão importante guitarra. Face ao quadro que vivemos, anotamos aqui uma premissa, muito pessoal, que deve ser seguida: isto não vai lá com operações de cosmética, com tamanquinhos e pipinhos artesanais, com mantas e tigelas de cerâmica, com compotas e docinhos, ou coisas equivalentes, que são o regalo das televisões em passeio pelos “museus” do Interior, mas que pouca riqueza e valor acrescentado fazem aparecer. Ou somos capazes de gerar investimento forte, produtivo e sustentável, mas a sério, ou esses paninhos quentes só servem para adiar a sepultura dos territórios em que gostamos de viver. Como o mercado, só por si, não consegue fazer a inversão de que precisamos, cabe ao Estado, sem meias palavras, avançar com boas e eficientes políticas públicas. Distante de nós anos e décadas a fio, agora está na hora de ele actuar. Estamos convictos que nos vão apelidar de keynesianos, mas isso que importa se se trata de lutar pela salvaguarda de mais de 75% das terras nacionais e do seu espaço geográfico? Alega-se nesse documento estruturante que, com dados de 2012, mais de 50% do PIB português e 41.7% da nossa população se concentram nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, em exíguos 5.1% do nosso espaço continental. Culpados desta situação: os governos de sempre, desde a Monarquia à República, com ligeiras excepções, como as dos nossos primeiros Reis, tal como já registámos neste mesmo jornal. Ninguém aprendeu as melhores lições a seguir, num desastre total. As divergências, longe de se esbaterem, acentuam-se, pelo que o PIB per capita, por exemplo, desde 1995 a 2005, não deixou de fazer ainda maiores feridas num corpo já todo dilacerado, e esta tendência, de antes e depois, não deixa de nos dar cabo do juízo. Reconhecendo-se, no citado Acordo de Parceria, que há activos territoriais que poderão “sustentar estratégias de crescimento (confessamos que gostamos mais de falar em desenvolvimento) … na fileira agroalimentar ou no sector do turismo… “, entre outros pilares, a coesão social e a todos os níveis ainda não foi encontrada. Nesta medida, subsistem “… os desequilíbrios territoriais…”, impondo-se, em políticas públicas, ser-se capaz de corrigir essas assimetrias, arrancando com projectos de desenvolvimento integrados, aqui se devendo incluir a vinda de indústrias sustentáveis, de comércio de vistas largas, de centros de altas tecnologias, disseminando a sua implantação pelo todo nacional, o que só é possível e viável se, como base, houver o cuidado em erguer e trazer equipamentos à altura das prementes necessidades aos mais diversos níveis, desde as infraestruturas à cultura, educação, lazer, saúde, justiça, etc, etc, para alimentar o desenvolvimento das capacidades e oportunidades de nosso tecido populacional. Só que, em movimento abismalmente oposto a este caminho, pouco nos dão, muitos nos tiram. E isto não tem classificação, nem perdão. No documento em análise, na Estratégia Europa 2020, a “Política de desenvolvimento económico, social, ambiental e territorial” é moeda forte em cima da mesa, mas apenas está escrita e, agora, tem de ser posta a circular. Instrumentos, em intenção, há bastantes, desde o “Desenvolvimento Local de Base Comunitária” (DLBC) às políticas de base territorial, sem deixar de lado outros programas temáticos e regionais. Escasseiam é, até ao momento, as passadas decisivas que nos tirem desta apatia, isto é, faltam as políticas verticais e horizontais que ponham tudo a mexer e a andar para a frente, em partilha e cooperação tanto quanto possível e desejável… Sendo esta uma matéria que tem muito para ser analisado, este trabalho é apenas a primeira parte de algo com âmbito mais lato, que será continuado em próximas edições. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”