terça-feira, 14 de julho de 2015

A boa música de Lafões na RTP

Nlafões6jul15 Lafões a dar sempre boa música Há poucos dias, a RTP 2 passou um excelente programa sobre a música polifónica em Lafões, tendo abrangido vários espaços geográficos e mostrado um formidável número de grupos a cantar, quase de uma ponta a outra desta nossa Região. Disse quem sabe que este património cultural é de uma valia incalculável, a merecer ser divulgado, preservado e classificado. Leigos nesta matéria, sabemos, no entanto, avaliar a qualidade do que temos de bom nos nossos territórios. E não é difícil descobrir que esta arte popular tem muito que se lhe diga, em saber construído ao longo dos tempos, passando de geração em geração. A recolha feita, obra de muita gente boa e ineressada, teve em Paulo Pereira a sua grande alma e uma enorme capacidade de sistematização e boa explicação. Gostámos também de ver malta nova a abraçar esta causa, cantando com seus “avós”, assim pegando naquilo que se não pode deixar morrer. Com esta acção, a RTP cometeu, todavia, um pecado mortal: ao atirar para a RTP 2 esta jóia musical, retirou-lhe amplitude em audiência, reduzindo-a em grande medida. Essa é a pena maior que temos. Aproveitando esta oportunidade e sem tirar uma ponta de brilho a este programa, que foi altíssimo o seu valor, rebuscámos os nossos arquivos pessoais e fomos pescar uma obra monumental, o “Cancioneiro Regional de Lafões”, com recolha e coordenação de José Fernando Monteiro de Oliveira, editado no ano 2000, pelo Alafum – Grupo de Cantares de Lafões. Ao revermos esta aturadíssimo trabalho, ali encontramos canções populares de toda a natureza e com diversas proveniências geográficas, também à escala de Lafões. Para além das pautas musicais, houve o particular cuidado em passar para o papel os dizeres, tal como são ouvidos, deste nosso povo, o que acrescenta valor e rigor a esta investigação. Em mais de 600 paginas, a que se junta um CD, a nossa arte está ali bem estampada. Dividindo-se por várias temáticas, temos os “Cantares de carácter religioso e profano”. As recolhas foram feitas em Cambra, Candal, Fataunços, Fermontelos, Ferreiros (Serrazes), Figueiredo de Alva, Figueiredo da Donas, Moçâmedes, Nespereira Alta, Pindelo dos Milagres, Ribas, Ribeiradio, S. Félix, S. Martinho das Moitas, S. João da Serra, S. Pedro do Sul, S. Vicente de Lafões, Sobral-Pinho, Adopisco-Sul, Valadares e Vila Maior, a partir de uma boa série de informantes. Com o citado programa televisivo e este livro, sabe-se o que existe, assim como já muito se conhecia através das pesquisas de Michel Giacometti, há umas décadas. Agora, há que procurar outros altos voos e o da abertura de um processo com vista a uma classificação como património imaterial da humanidade pode ser , e é, um bom passo a dar. Haja quem dê o pontapé de saída. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Julho 2015

quarta-feira, 8 de julho de 2015

A felicidade não mora aqui...

A felicidade não mora aqui Com verdades que se separam da água como o azeite, uma delas tem a ver com o conceito de felicidade. Só que nos aparece com um manto negro, com uma carga negativa, o que se traduz no seu total oposto, a infelicidade. Tendo esta por companhia, a sua boa rival não mora aqui, talvez mesmo em lado nenhum. Acresce a isto que a política também não ajuda nada a que se inverta esta situação de descrença, de desânimo, de dor e de aflição em muitos casos. Portugal e o mundo trilham caminhos complicados e isso é uma determinante do nosso actual destino que se encontra demasiado enraizada nas nossas percepções e vivências. Se há indicadores preocupantes, aqueles que acabaram de ser revelados no “ Roteiro do Futuro 2015”, promovido, em jeito de Conferências, pela Presidência da República, falam por si e gritam alto que se farta. Ouçamo-los, que é uma pressa! Com cerca de 65% dos portugueses insatisfeitos com a democracia (valores de 2011, mas que não são hoje melhores), sendo que o nosso País é aquele que, no seio da União Europeia esta tendência é das maiores e das mais preocupantes, não podemos concluir que se possa sorrir. Nem por sombras. Cruzar os braços? Bem pior seria se tal acontecesse. Em cima desta tristeza, os jovens situam-se ainda, a este propósito, em patamares mais elevados de descrença total. Em 2015, apenas 17.3% da nossa juventude é de opinião que a democracia funciona bem em Portugal e a média geral ainda é mais baixa: 16.6%. Será que estas lambadas não doem na cara de todos os políticos? Não têm estes de mudar de rumo e de atitude se não quiserem perder o maior dos nossos capitais, que são as pessoas e, nestas, os mais jovens? Com o País a afundar-se em confiança e credibilidade, o cepticismo campeia por aqui. Associando-se a este sentimento, temos, a disparar em flecha, a fuga para o lado de tudo quanto seja participação em cidadania, como demonstram as votações nos vários actos eleitorais, a muitas milhas dos quase 92% de ida às urnas em 1975. Enquanto assim se resvala para o abismo, e pré-campanha não augura nada de substancialmente melhor. Talvez até esteja a acontecer o contrário. Logo, é preciso buscar outras práticas, antes que seja tarde demais. Em Portugal, na Europa e no Mundo. NOTA: Acrescentando algumas linhas a este texto, escrito e publicado há uns tempos, cada vez mais a felicidade está longe de nós. Com a Europa e fazer contas demais e a ter gente a menos na sua cabeça, jogando sempre para cima da mesa as tabelas e as estatísticas, as dívidas e os poços em que todos estamos metidos, não se pode ser feliz. Tememos que a desgraça, um dia, nos bata à porta e escaqueire as nossas casas e as nossas vidas. Querendo a Grécia connosco, não a podemos escorraçar, ainda que lhe façamos ver que todos temos esforços a fazer. Deixá-la cair é erro que se vai pagar caro, muito caro. Sabemos que a Dra. Maria Barroso, que tanto lutou pela liberdade, deve ter partido muito triste com tudo quanto estamos a viver. Saudades e sentidos pêsames. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Barragem de Ribeiradio, Jornal Público, Junho 2004, com um pingo de vaidade pessoal

O conturbado processo da Barragem de Ribeiradio, a construir entre Sever do Vouga e Oliveira de Frades, deverá conhecer novos desenvolvimentos no próximo dia 29. Isto porque os presidentes das câmaras de ambos os concelhos se deslocam a Lisboa para um encontro com o secretário adjunto do ministro da Economia. Um dos objectivos dos autarcas é tomar conhecimento do estudo financeiro encomendado pelo ex-ministro do Ambiente, Amílcar Theias, à Caixa Geral de Depósitos. Um estudo que visava apurar a viabilidade de um modelo de construção e exploração da obra assente na iniciativa privada, em substituição do investimento público inicialmente previsto. Todavia, a entrada de Arlindo Cunha para o Ministério do Ambiente reacende a esperança do financiamento governamental.Da reunião agendada para o próximo dia 29 deverão sair, pelo menos, esclarecimentos sobre o futuro do equipamento reclamado há mais de meio século pelas populações dos distritos de Aveiro e Viseu. Contudo, as expectativas dos autarcas de Sever do Vouga e Oliveira de Frades, respectivamente Manuel Soares e Carlos Tavares Rodrigues, vão mais longe e os responsáveis mantêm acesa a vontade de ver o Governo realizar a obra que visa regularizar o caudal do rio Vouga. "O novo ministro ainda não deve ter tido tempo de analisar o problema, mas acho que ele não vai ficar parado e deixar de aproveitar a Barragem de Ribeiradio", augura o social-democrata Tavares Rodrigues.No entanto, em cima da mesa mantém-se a hipótese da estrutura vir a ser construída pelo sector privado. Um modelo que implicaria, porém, uma alteração legislativa, uma vez que a actual legislação apenas permite o aproveitamento de 10 megawatts como limite máximo (uma mini-hídrica), o que ficará aquém das expectativas privadas. "Isso não dá para nenhum privado ir buscar o que investiu", confirma o socialista Manuel Soares, revelando que a barragem tem capacidade para produzir mais de 40 megawatts. "A alteração da lei para que a EDP fosse obrigada a comprar mais de 10 megawatts não me parece viável. Seria como os touros em Barrancos", argumenta o autarca de Sever do Vouga, alegando que "o processo será moroso". "Cheira a esturro", comenta.Opinião diferente tem o presidente da câmara de Oliveira de Frades. "É fácil alterar a lei, ainda mais quando é uma lei lacunar e cega como esta", defende Tavares Rodrigues, reclamando: "Estou-me marimbando para o chapéu jurídico que arranjem para a barragem. Eu quero é a obra feita". "Seja por financiamento misto, por parceria público-privada, pela alteração da lei ou pelo desdobramento em duas mini-hídricas, a obra tem que ser feita", insiste o autarca, lembrando que "a barragem é para toda a região e o país é que está a perder com isto".Igualmente determinados na defesa do projecto estão os deputados Miguel Ginestal e Afonso Candal, duas das figuras do Partido Socialista que mais se têm batido pela construção da barragem. "Uma coisa é corrigir o que está mal, mas o que este Governo fez foi abandonar uma prioridade, que era a construção da barragem. Se é por falta de verba, então que explique por que se propõe avançar com barragens novas em outros pontos do país. Não há justificação que explique esta decisão", protesta Miguel Ginestal. "A barragem de Ribeiradio é uma prioridade para os distritos de Aveiro e Viseu. Mas a verdade é que já vamos no terceiro ministro e a barragem foi esquecida", continua Ginestal, reclamando "uma posição clara dos autarcas, designadamente do de Oliveira de Frades". "Fizemos propostas para a inscrição do investimento em PIDDAC, nos orçamentos de 2003 e 2004, mas o Governo fez ouvidos de mercador e avança com outras barragens. Vamos continuar a pressionar o Governo", garante o deputado."É uma obra de grande relevância para Sever do Vouga e até para a regularização das águas da zona de Águeda", recorda, por sua vez, Afonso Candal, lamentando que "o Governo tenha abandonado a obra ao fim de dois anos, a fingir problemas". "Dois anos de atraso mostram falta de vontade política", critica Candal, considerando que uma eventual alteração legislativa "não demora dois anos". "Esta não é uma batalha perdida, a barragem não está feita, mas vamos ver. Não há passos sem retorno", conclui."A alteração da lei para que a EDP fosse obrigada a comprar mais de 10 megawatts não me parece viável. Seria como os touros em Barrancos"Manuel Soares, presidente da Câmara Municipal de Sever do Vouga"Estou-me marimbando para o chapéu jurídico que arranjem para a barragem. Eu quero é a obra feita"Carlos Tavares Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Oliveira de Frades