terça-feira, 6 de junho de 2017

Ter ou ser, eis a questão...

A importância do ser Na abertura do ano lectivo, retomando ciclos temporais com séculos de história, apetece-nos deambular pelo mundo dos valores, que da Escola, da Família e da Sociedade têm andado, infelizmente, muito distantes. Vivendo épocas em que se endeusa demasiado a dimensão do ter, facilmente se esquece que o “ser” é muito mais importante. Podendo ter-se muito, pode ser-se extremamente vazio de conteúdo pessoal e social, o que traz severos prejuízos para a nossa Humanidade. Que razão nos leva, nesta perspectiva filosófica, a iniciar estas linhas com uma referência ao ano lectivo? Uma e uma só: a ideia de que à Escola cabe muito mais do que transmitir saberes, por mais pertinentes e relevantes que sejam e são-no de certeza. Quando, por estes dias, nos estabelecimentos escolares se solidificam os projectos anuais, estes ficarão amputados da sua essência se neles não houver espaço, tempo e vontade para incluir a necessidade de se falar em valores, em ser-se pessoa, antes de se ter a ambição de querer agarrar este mundo e o outro. Com os exemplos que temos vindo a dar às nossas crianças e jovens, em que se arrastam questões em que se trata quase sempre de abordar a banca, as finanças, os impostos, a mercado, as compras e vendas, escasseiam as referências de base, aquelas que são o alicerce fundamental de todo o SER humano: ser este capaz de se olhar de uma outra forma, fazendo sobressair qualidades de bondade, de solidariedade, de respeito, de dignidade, de civismo, de cidadania, de partilha, de ver no outro um eu que se prolonga para além de nós. O conhecimento é parte integrante da nossa formação. Mas não é tudo e pode ser mesmo quase nada. Quando a família, em alteração estrutural, chega a não ter tempo para estar com os seus rebentos, quando as comunidades andam atarefadas em sobreviver, resta a ESCOLA como reduto de aprendizagem, sim, mas muito como meio de EDUCAR, sem medo, sem vergonha de se assumir esta mesma dimensão. Este paradigma, o da educação, não pode nunca dissociar-se das funções que aí se desempenham. Perdendo-se este fio condutor, a Escola entra em falência e leva ao colapso dos tempos futuros. Com gerações à deriva, vêm os comportamentos desviantes e sabe-se quanto esse perigoso estado de alma sem alma pesa num mundo que, agora mesmo, tem motivos de sobra para se interrogar. Ser, eis a questão. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Setembro, 2014

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