segunda-feira, 10 de julho de 2017

Campia, hoje e sempre na mó de cima. Eis aqui um texto de Fevereiro de 2015: a terra do ouro verde...

Campia, a terra do ouro verde, com visto para o futuro O título que encima esta notícia é uma espécie de montagem de dois tempos: há anos largos, em trabalho de reportagem sobre esta terra, Campia, em conversa com António Ferreira e um grupo de outros amigos, vendo tanta riqueza florestal, logo pensei em associar esse factor, ao ouro, verde, aqui; hoje, passado todo este tempo e por força da dedicação de muita gente, ao longo dos séculos, o futuro está a ser escrito, nesta freguesia, com bons e sólidos alicerces e muitos projectos com larga visão. Desta forma, venham os anos, que a vida está assegurada. E com saúde. Muito embora assim seja, a sua principal matéria-prima, as pessoas, está a fugir, principalmente, desde os anos sessenta do século passado, em que se contavam cerca de dois mil habitantes, quando agora, no Censos 2011, apenas ali víamos a viver 1558 boas e laboriosas almas. Mal do interior, nem o arreganho de quem por aqui anda a sonhar com melhores dias de amanhã consegue fazer estancar essa terrível e mortífera doença. Mas, se não fosse essa vontade de aqui teimar em fazer a sua vida, seria muito, muito pior. Acontece que Campia, pela sua centralidade, pela sua importância, pela vinda de novos investimentos, tem tudo para dar a volta e, de novo, vir a atrair mais gente, que bem a sabe acarinhar e integrar. Com pouco mais de 36 quilómetros quadrados, as povoações de Adside, Albitelhe, Cambarinho, que chegou a pertencer a Cambra, CAMPIA, Cercosa, Crasto, Fiais, Lousa, Malhadouro, Rebordinho, Seixa, Selores e Vales são os espaços onde apetece continuar. Banhadas pelos Rios Alfusqueiro e Lousa, com mais uma boa série de ribeiros e corgas, estas localidades fazem justiça ao seu topónimo especial, Campia, “terra lavradia”, no dizer de Mário João Pereira Loureiro ( in “Toponímia do concelho de Vouzela, CMV, 2008”). Com estas qualidades, vários foram os povos que aqui tiveram interesse em se fixar, como atestam, por exemplo, o Castro do Cabeço do Couço ( Jorge Adolfo Marques – Vouzela, Património Arqueológico, CMV, 2005), as mós romanas de Rebordinho, os vestígios da via também romana da Seixa (Amorim Girão – Antiguidades Pré-Históricas de Lafões, Coimbra, 1921), entre outros pontos patrimoniais de relevo, como sejam também as Casas de Cambarinho e da Ti’ Bernarda, Campia de Cima, estas muito mais tardias, obviamente. Entretanto, numa viagem por milénios de história, fica a saber-se que a sua área encolheu. Veja-se: em 1258, abrangia as “villas” de Alcofra, Campia, Carregal (Destriz), Cercosa, Covelo, Paranho (de Arca), Rebordinho, Reigoso, Selores, Varzielas, para apenas se citarem alguns dos povoados mais emblemáticos dessa época. Alguns séculos depois, em 1527, perdera-se Reigoso, Arca, Alcofra e Varzielas. Administrativamente, pertenceu aos concelhos de Lafões, S. João do Monte, Oliveira de Frades, para se fixar em Vouzela, após o ano de 1871. Cioso da defesa de seus cidadãos, fregueses e paroquianos, o S. Miguel, vigiando, a partir da parte frontal da Igreja de Campia, não pára de zelar pelo interesse de quem também tanto estima este Santo, dedicando-lhe, em Setembro, uma Festa à altura dessa sua imensa devoção. Porém, com corações largos, também Nossa Senhora de Fátima, S. João, S. Tiago, Santa Ana, São Domingos, Nossa Senhora do Milagres e, de certa forma, Nossa Senhora das Neves, em Cambarinho, com uma lindíssima e riquíssima Capela, que ostenta, entre outras relíquias, uma bula papal, gravada em pedra, do ano de 1779 (como escreveu Maria do Carmo Correia, no seu livro “ Campia – História e alma de uma aldeia beirã, CMV, 2005”), são credores de igual entrega à componente religiosa, sinal e marca identitária que se reanima em cada dia que passa. A correr fama localmente e nos arredores, são ainda as comemorações da Semana Santa com as “Endoenças”, uma tradição que se vai mantendo, ano após ano. Sinais de modernidade Com boas vias de comunicação e acesso, Campia foi pilar central da construção do IP5 e da A25, por aí se terem instalado o estaleiro, o escritório e serviços centrais da Empresa Mota e C.ia, responsável por essas monumentais obras. Entretanto, em 1802, falara-se na estrada de ligação da Seixa a Cambarinho, EM de 2ª classe (Maria do Carmo Correia), para, já nos inícios do século XX, se terem dado, neste sector, importantes saltos com a EN 333, 333-2 e outras vias rodoviárias de alcance e dimensão estruturantes. Em todo o século XIX, escreviam-se, como forma de alicerçar o futuro e avançar para a modernidade, muitas e boas linhas quanto à educação, com o arranque das primeiras escolas, até se chegar aos tempos de hoje, em que é predominante o raio de acção da actual Escola Básica Integrada, uma obra nova, que não apaga, porém, uma outra triste evidência: o encerramento das saudosas “primárias”, agora em fase de despedida de suas tão nobres funções. Com uma inegável capacidade para agarrar as pontes que se necessitam para se não parar no tempo, o serviço público de autocarros aparece em 1953, o telefone em 1939, os Correios em 1958, a electricidade em 1969, sendo esta fundamental para o sucesso empresarial, bem patente em cerca de uma centena de empresas, espalhadas por toda a freguesia, vindo, de seguida, o Parque de Leilão de Gado, como que sucessor da antiga Feira, a Casa do Povo, a Extensão de Saúde, a Segurança Social, os Bombeiros, o Centro Social com Lar e Creche, sem esquecer a Mini-Hídrica de Cercosa. Forte sob o ponto de vista comercial, em Campia são muitos os locais onde esta actividade é exercida, tendo-se mantido, apesar de todas as vicissitudes, bem segura durante décadas e décadas, podendo mesmo dizer-se que a inovação é aqui palavra a ter muito em linha de conta: a nova Farmácia, a Agência da Caixa de Crédito Agrícola, os restaurantes, a Agência Funerária, as lojas de diversos produtos atestam esta nossa afirmação. Também os serviços se destacam, desde as cabeleireiras à óptica, passando por várias outras áreas de inegável interesse. Lá bem no alto do pódio, temos a dinâmica e crescente Zona Industrial, que tem a acompanhá-la ainda outras unidades empresariais de relevo, em diversas localidades desta freguesia, algumas delas com um bom e longo historial. Na base destas iniciativas, há agentes empreendedores que merecem toda a nossa consideração e aplauso. No plano de aproveitamento sustentável de recursos naturais, vemos esta terra dotada de um aprazível Parque Fluvial, que foi muito dinamizado em finais da década de setenta, em Porto Várzea, no Rio Alfusqueiro. Porém, o seu selo maior, em matéria de espécies muito apreciáveis, em biodiversidade, com projecção e destaque mundiais, temos a Reserva Botânica de Loendros, em Cambarinho, espaço de uma beleza ímpar sobretudo no mês de Maio. Vida social e associativa Desde criança, sempre temos ouvido dizer que Campia não deixa os seus créditos por mãos alheias, quanto ao gosto e dedicação a causas sociais. Comprovamo-lo ao longo dos tempos, por conhecimento próprio e por outros meios e testemunhos. Recordamos a notória Associação Cultural, que se lançou em cheio na criação do citado Parque e Praia Fluvial, assistimos ao nascimento do primeiro Rancho Folclórico, hoje com a designação de Recordações de Campia, vemos e vimos como singrou o Grupo Desportivo, descobrimos os Bombos de Cercosa, os Escuteiros, o Clube de Caça e Pesca, o Grupo de Amigos de Cambarinho, o Grupo Carnavalesco e sua expansão e afirmação, para mostrarmos quanto aqui se valoriza o associativismo e suas dinâmicas. Neste contexto, é impossível esquecer o esforço de todos os seus dirigentes e dinamizadores e os muitos apoios que têm vindo a mobilizar. A este propósito, há dois nomes que não podem deixar de aqui se registarem em nomes gravados a letras douradas: Amadeu %%%% e António%%%%%. Activos empresários na Venezuela, a sua Campia está-lhes na alma e no sangue. Ao falar destes beneméritos, saltam-nos aqui muitas de suas obras. Uma delas, do foro religioso, assume particular destaque: a imagem de Nossa Senhora Milagrosa, lá bem no alto com os seus 15 metros de altura, perto das Malfartas, que evoca a saúde recuperada de Teresa Rodrigues, em gratidão de seu Pai, Amadeu Rodrigues, que ali imortalizou a sua devoção. Em terra deste quilate, com homens e alma a sério e a valer, como diriam Maria Glória Carvalho, Francisco Cunha Marques e Teresa Tavares, autora esta que é de Campia, que foram obreiros do livro “ Vouzela – A terra, os homens e alma, CMV, 2001”, é fácil esperar então por um futuro risonho. Assim o esperamos e desejamos. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Fevereiro de 2015

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