quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Às voltas por Pinho - S. Pedro do Sul

Pinho e Pinhosão na ordem do dia Na nossa ronda pelas terras deste concelho de S. Pedro do Sul, até por julgarmos que o facto de aqui trazermos a freguesia de Pinho faz cada vez mais sentido por se voltar agora a falar de novo e com acrescida insistência na Barragem de Pinhosão, partimos então para essas paragens. Quando a trovoada pede que se ergam as nossas preces a Santa Bárbara e os incêndios trágicos e devastadores que se abateram sobre nós na fatídica noite de 15 para 16 de Outubro a isso apelam, ao clamar-se por água, que a seca extrema e severa que vivemos faz pensar em soluções mais estáveis e seguras para o futuro, pensa-se logo em aproveitar o que temos andado a desperdiçar. O Rio Vouga pode trazer aquilo que falta e estas localidades, lá no fundo, no seu leito, têm soluções que devem vir a ser aproveitadas. Disso falaremos em próximos parágrafos. Esta freguesia, que se estende pelos lugares de Amieiros, Carreira de Pinho, Igreja, Moinhos, Moldes, Mosteirinho, Passareira, Passos, Pinho, Pinhosão, Rendufe e Sobral, tem assim trunfos que não podem ser desperdiçados. A tão propalada Barragem é um deles. Aliás, com a sua população em declínio mais notório desde 2001 até 2011, tudo o que se faça para criar dinâmicas de desenvolvimento por estas zonas tem de ser agarrado com as duas mãos e com todas as forças que possamos ter. Essa é uma missão que cabe a cada um de nós, às autarquias, ao governo central, à União Europeia, porque esta morte agressiva e acentuada do nosso Interior não pode deixar ninguém a assobiar para o lado. No citado ano de 2011, Pinho ficou, pela primeira, vez abaixo da fasquia de 1864, em que aqui existiam 837 habitantes. Neste último recenseamento do século XXI ficámos pelas 777 pessoas. Vejamos o quadro geral: 1864 – 837; 1878 – 852; 1890 – 873; 1900 – 867; 1911 – 886; 1920 – 977; 1930 – 1010; 1940 – 1028; 1950 – 1139; 1960 – 1065; 1970 – 978; 1981 – 1050; 1991 – 977; 2001 – 983 e 2011- 777. Os números falam e estes gritam, tanto como muitos outros. Para responder a estes veementes apelos, atira-se para cima das medidas tomadas mais uma série de comissões e grupos de trabalho, incluindo algumas delas com nomes pomposos todos eles cheios de intenções, mas, infelizmente, repete-se, muitas vezes, mais do mesmo. Precisamos de abanar tudo isto, dar murros na mesa e andar a sério em termos de alteração de práticas e políticas públicas. Mais um gabinete ou outro não resolve grande coisa. O cerne da questão passa sempre e a fundo por mudança de rumos e isso custa a entrar em cena. Numas aldeias como estas, que até não estão muito longe da sede do concelho, S. Pedro do Sul, cidade, não nos podemos entregar ao fatalismo de vermos os nossos habitantes a fugirem para todo o lado e ficarmos mudos, quedos, chorosos à espera de milagres. É de acção que se carece, mas ao mais alto nível e já se parte com séculos de atraso. Com as suas riquezas naturais e culturais, Pinho oferece atractivos para aí se viver. O mal está noutros patamares. Com um património muito agradável, com a sua Igreja Matriz, em honra de S. João Baptista, com os São Gonçalo, Santo Amaro e Santa Eufêmia a intercederem por esta gente, com a Fonte dos Abados e da Capela para serem apreciadas e utilizadas, com os seus moinhos, o lagar de azeite, o Castro da Mata de Pinho e o recordado Convento de Pinhosão, muito há para ser visto e valorizado. Num outro nível, também não faltam iniciativas actuais da sociedade civil, vendo-se por ali o Rancho Folclórico de Pinho e as Bailarinas do Sobral, o Grupo de Cantares desta aldeia, a velha e reconhecida Banda Musical Aliança Pinho/Vila Maior, o seu campo de futebol, o que denota participação popular e vontade de pôr a mexer as suas populações em diferentes actividades próprias de variados gostos e idades bem diferenciadas. No início deste trabalho, começámos por aludir, de uma forma muito particular, a Pinhosão. Não o fizemos por acaso. É que a Barragem que lhe anda associada volta, nestes dias, a ser muito falada entre as medidas que se preconizam para combater, por um lado, o duro problema da falta de água e, por outro lado, de, com ela, criar mais um decisivo pólo de desenvolvimento, o que pode vir a fazer toda a diferença. Um e outro destes aspectos são motivos mais do que suficientes para que se pegue neste tema e não mais se largue até ao momento em que ele possa reter as águas do Rio Vouga e delas fazer as morcelas de que tanto se precisa. O sangue está lá, no Rio, pronto a ser usado, assim o queiram os homens das decisões. A Barragem de Pinhosão Entre as várias comissões a que nos referimos atrás, aquela que trata do Acompanhamento dos Efeitos da Seca defendeu, ainda há bem pouco tempo, a necessidade de construção de novos pontos de retenção de água, em que se incluem as barragens e a de Pinhosão foi expressamente citada. Aliás, nas mais variadas ocasiões, sempre ela foi falada, nomeadamente no Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico no ano de 2011, com uma potência prevista a instalar de 77 MW e uma produção anual, em Gwh, estimada em 106 unidades desse âmbito ( se a compararmos com Ribeiradio/Ermida, não lhe fica muito longe, quanto a valores em termos de aproveitamento, pelo que é um empreendimento de grande alcance). Entretanto, já antes, em 2008, fora lançada a concurso, tendo, porém, este ficado deserto. Previa-se um investimento a rondar números altamente divergentes, entre 100 e 170 milhões de euros, talvez tendo estado nesta oscilação e indefinição – estamos a especular – a razão para que não tenham aparecido interessados em levá-la por diante. Falava-se então numa área a inundar na ordem dos 250 hectares em território dos concelhos de S. Pedro do Sul e Viseu. No meio disto tudo, surge aqui um dado novo que é o de se saber que, há poucos meses, uma série de municípios, com Viseu à cabeça, englobando ainda, na região de Lafões, S. Pedro do Sul e Vouzela, assinaram um documento e um projecto de intenções, visando construir um reservatório de água de vistas largas. Deve pôr-se, neste momento, uma questão na mesa das hipóteses a considerar: são dois empreendimentos diferentes a terem cada um a sua vida, ou devem antes ser equacionados em conjunto, de modo a não se desperdiçarem energias e recursos que tanta falta nos fazem? Sem estarmos na posse de dados que nos permitam analisá-los ao pormenor, temos uma vaga ideia que, antes de se dar um ou outro passo, ninguém deve avançar sem saber que estas duas ideias têm andado a serem faladas. Limitamo-nos a deixar estas considerações porque duas cabeças pensam mais que uma, por mais brilhante que ela seja. Tendo Pinho um passado de séculos, trazendo-se, nestas alturas de seca e de tragédias, ao de cima a sua Barragem de Pinhosão, o seu futuro pode muito vir a ser valorizado com a sua construção. Mas, para que isso aconteça, não se pode andar no triste jogo do avança uma casa, recua duas, ou mesmo pára por aí. Já se viu que esse foi um caminho errado e que, agora, se retorna à casa de partida com outros dados e estes, os de hoje, não são nada agradáveis, que a falta de água pode-nos ser fatal. Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Lafões”, Novembro, 2017

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