quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Termas de S. Pedro do Sul vai ter nova represa

Represa nas Termas de S. Pedro do Sul Há um bom princípio ambiental, cada vez mais premente, que é o de pouparmos hoje para não sofrermos amanhã. Ou para não tirarmos ao nosso próximo aquilo que para essa gente é fundamental e que nós usamos como se fôssemos donos e senhores de um mundo que, sendo de todos nós, deve ser gerido em termos de coesão e sustentabilidade social, abrangente e solidária. Neste contexto, é com agrado que vemos ser anunciada a perspectiva de vir a ser construído nas Termas de S. Pedro do Sul um açude que faça guardar água e que permita, ao mesmo tempo, ser fonte de lazer e prazer social. Numa terra que tem na água, mais na quente que na fria, a sua imagem de marca, tudo quanto se faça para valorizar a sua importância tem todo o sentido e deve merecer os nossos vivos elogios. Por aquilo que temos vindo a ler, com este projecto tem-se em vista matar com uma só cajadada dois coelhos: armazenar água para os tempos em que ela costuma escassear e coordenar os caudais invernosos quando cai o Carmo e a Trindade nos nossos rios e neste Vouga em particular. É com vistas largas que se devem gerir os nossos territórios e estas iniciativas, aproveitando até ao tutano fundos comunitários e outros, que, ou se usam hoje, ou morrem para sempre (?), são sempre bem vindos. Fala-se em cerca de um milhão e meio de euros de investimento. Seja. Se com esse montante se vierem a conseguir os tais dois objectivos, tudo é aproveitado, nada se perde e tudo se transforma. Um espelho de água, para além dos efeitos que tem no controle dos caudais, traz sempre benefícios acrescentados: amplia ângulos de boas paisagens e atrai mais visitantes. Boa aposta. Numa visão global e Lafões tem de pensar assim, olhamos para montante e vemos o açude de produção eléctrica, ali para os lados de Drizes. Descemos para jusante e damos de caras com esse imenso lençol de água, o da Barragem de Ribeiradio. Numa estratégia de vendas turísticas, este pacote integrado ( mais o da possível e sonhada Barragem do Pisão) tem sempre um melhor preço e é disso que temos de saber falar em economia moderna e de escala. Sempre temos defendido, em várias intervenções e fóruns, que Lafões, quanto a turismo, jamais pode ou deve fugir-se das Termas como seu centro estrutural. O açude que aí vem não deve desviar-se destas premissas, pensamos nós... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 2018

Ver os números para compreender o nosso futuro

Falar de números para melhor nos entendermos As análises qualitativas e quantitativas são fundamentais para sabermos de onde viemos e para onde vamos. É assim (ou pelo menos essa é a regra da boa prática) que as políticas públicas devem ser planeadas e colocadas nos diversos terrenos que as motivaram. Com dados na mão, é mais seguro decidir e mais sério agir. Por isso mesmo, deixem que vos diga que, por mais respeito que tenhamos pelos nossos ilustres deputados – e, às vezes, nem sempre isso acontece, sendo que os culpados são eles próprios – entendemos que às suas opiniões, em muitos casos, falta o respaldo científico. O que se passou, recentemente, com o probema das vacinas brada aos céus. Deixemos isso, mas a preocupação fica connosco... Andando sempre às voltas com documentos e outros instrumentos de conhecimento da nossa sociedade, nem recuámos muito no tempo, tendo feito apenas uma viagem até aos anos noventa. Visitámos as informações da Comissão de Coordenação Regional do Centro, onde não se brinca com as estatísticas, antes se levam muito a sério, e logo deparámos com notas preocupantes e outras nem por isso. Por razões de pertinência territorial, pegámos apenas nos três concelhos de Lafões: Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela, por ordem alfabética. Em linhas muito gerais, o campo da população, desde 1864 a 1991, deixa muito a desejar nos três casos, nuns mais que noutros. Asssim, a evolução do número de habitantes processou-se desta maneira: Oliveira de Frades – ano de 1864 – 8657 residentes; 1960 – 10858; 1981 – 10391; 1991 – 10854; S. Pedro do Sul – ano de 1864 – 20372 hab; 1960 – 24273; 1981 – 21220; 1991 – 19985; Vouzela – ano de 1864 – 13407 res; 1960 – 15641; 1981 – 13407; 1991 – 12477. Olhando para estas tabelas, S. Pedro do Sul e Vouzela apresentam-se com maiores preocupações, tão grandes são as tendências para o despovoamento. Num e noutro destes concelhos, o ano de 1960 é aquele que regista um maior número de residentes, mas depois o descalabro não pára de se acentuar. Quanto a Oliveira de Frades, as oscilações mais serenas mostram uma certa estabilidade. No que toca às referências sobre a estrutura do trabalho e sectores da sua distribuição, quanto ao ano de 1991, eis os resultados apurados: - Oliveira de Frades – Sector primário – 1854 pessoas ocupadas; secundário – 1158; terciário – 1341; total – 4353. - S. Pedro do Sul – Primário – 3577; secundário – 1690; terciário – 2581; total – 7848. - Vouzela – Primário – 1850; secundário – 1695; terciário – 1459; total – 5004. Indo agora para a ocupação do solo, desde logo nos surge uma fragmentação da propriedade que nunca deixou de ser um problema, mal os morgadios foram extintos por razões de ordem de equilíbrio e justiça social nas heranças. Resolvida essa equação, outras questões se levantaram, como se está a ver. Em agicultura e floresta, a propriedade apresenta estes números: - Oliveira de Frades – Explorações agrícolas (1989) – 1564; nº de blocos – 9336. - S. Pedro do Sul – 2716; 14929; Vouzela – 1878; 13466. Sendo imensos os quadros de análise, desta feita não vamos além destas reflexões. Ficam aqui motivos para umas tantas preocupações e a maior delas tem a ver com o facto de constactarmos que a nossa região tem vindo sempre a perder população, facto que se não atenuou neste século XXI, antes até se agravou. Queixamo-nos sempre de que, entre outros males, a floresta arde e as árvores não chegam a crescer para darem quaisquer resultados palpáveis. Sem força humana não é possível defendê-las nem cuidá-las desde à nascença à sua morte prematura e cruel, porque as chamas não perdoam. Em circuito vicioso, vão-se as pessoas, morre com esse êxodo o trabalho dos campos e tudo o resto foge em marcha acelerada. O nosso mundo é deveras padrasto para as nossas zonas de baixa densidade. Quem nelas viu a luz do dia, a certa altura daqui sai à espera de melhor futuro. Lá em cima, ninguém olha por nós. Somos gente, mas somos poucos em dias de eleições e esse é que é o nó górdio deste nosso dilema. E cada vez estaremos pior. Infelizmente. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Dez 2018

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Tragédias atrás de tragédias...

Ainda o desastre de Borba estava bem presente nas nossas memórias e logo nos surgiu a queda de um helicóptero do INEM, na zona de Valongo (Porto), após o socorro prestado a um doente transportado para o Hospital de Santo António. Na fatídica viagem de regresso, com destino marcado para Macedo de Cavaleiros, mas que terminou, infelizmente, muito antes, perderam a sua vida, salvando a de outros na sua nobre missão, a enfermeira Daniela Silva, o médico Luís Vega, o piloto João Lima, com fortes ligações a Viseu, e o co-piloto Luís Rosindo. Decorrem por esta altura as necessárias investigações, envoltas em mistério, contradições e outras dúvidas. Que a verdade se esclareça a bem da justiça e da dignidade de quem tudo deu em favor da humanidade, incluindo o seu próprio sangue. Obrigado. Que descansem em paz!...

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Arouca e S. Pedro do Sul sempre lutaram por boas comunicações

Ligação S. Pedro do Sul e Arouca, sempre vizinhos mas bastante separados Entre os municípios de S. Pedro do Sul e Arouca há uma vizinhança natural. Está no sangue de cada um destes concelhos esta atracção mútua. Do lado de Covas do Rio, espreitam-se estas paisagens de um lado e de outro. De Manhouce, idem. Do Candal, nem se fala. Santa Mafalda, tentacular, estende a sua influência pelos dois lados das montanhas, desde os primeiros tempos da nossa monarquia. A natureza, a cultura e a história assim falam. A incapacidade e a teimosia dos homens, ao longo dos tempos, teimaram em impedir boas ligações. Se os nossos antepassados foram capazes de avançar com caminhos e veredas por essas distâncias além, os tempos modernos, quanto a estradas, têm sido uma lástima. A Nossa Senhora da Lage, algo perto de Manhouce e a pouca distância de Albergaria da Serra (outrora, das Cabras), o pulo a dar entre os limites de Covas do Rio e o vizinho concelho de Arouca, os passos que ficam entre as minas dos dois concelhos e tantos outros aspectos e factores são pontos de encontro e desencontro que têm demorado milénios a unirem-se. Em termos de ligações pedestres, aceitam-se as propostas feitas e colocadas em prática ao longo dos séculos. Mas, ao falarmos de vias modernas, isto tem muito que se lhe diga e não passa de uma lástima. Ano após ano, palavreado tem havido, mas obras, nem por isso. Rebuscando fontes diversas, como o saudoso “Tribuna de Lafôes”, quase nunca faltaram ideias e muitas hiópteses de estradas passaram pela cabeça dos dirigentes de um lado e outro destas serras. Definiram-se, inclusivamente, traçados, mas pouco se avançou. Há mapas que nos dizem que, em linha recta, apenas 24, 49 Km separam as duas sedes de municípios, S. Pedro do Sul e Arouca, esta uma terra predilecta de Santa Mafalda, que todos os anos, no mês de Maio, faz encher esta vila de peregrinos e devotos, idos de todos os lados e, muito especialmente, das paróquias dos concelhos de S. Pedro do Sul, Castro Daire e de outros em redor. E o seu Mosteiro é lugar de todos e muitos encontros religiosos e culturais, desde há séculos. Mas nem Santa Mafalda fez o grande milagre de pôr em contacto digno estes territórios. Aliás, o mesmo se diga quanto às ligações com Castro Daire, que se viu contemplado com obras na via que uniria Alvarenga a esta vila a partir do ano de 1917, mas que cedo perderam gás e deixaram de ser concluídas, para serem apenas retomadas em 1946, após a passagem e a destruição de duas grandes guerras mundiais. Com Arouca a construir, há poucos anos, a EM desde Portela-Moldes a Cabreiros, foi a vez de a Câmara Municipal de S. Pedro do Sul de, nos últimos anos, pôr em prática a variante ao Candal que, finalmente, estabeleceu uma rede de vias com tendências de modernidade e alguma eficiência para os tempos que correm. Em territórios de montanhas mágicas, os laços constroem-se com boas vias de comunicação. Se, num rio, as pontes unem o que a natureza separou, nos montes são as estradas e os caminhos a desempenharem esse bom papel. O norte e o sul podem e devem aqui ser ligados por infraestrutras rodoviárias de vistas largas e com horizontes de futuro. Os tempos dizem-nos que isso já deveria ter acontecido há séculos. Se assim não aconteceu, deixemos de lado as discussões e vamos às obras. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 8 Nov18

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Debate sobre os nossos territórios em Oliveira de Frades

PSD promoveu debate sobre o território Num tempo em que as assimetrias regionais atingem o Interior e o levam ao definhamento, a Comissão Política dp PSD de Oliveira de Frades promoveu, no passado dia 26, no Auditório da Biblioteca Municipal, uma conferência subordinada ao tema “ Gestão territorial – desafios para o futuro”. Perante uma sala cheia, com mais de oito dezenas de participantes, abriu os trabalhos o Presidente da Comissão, José Baptista, que aproveitou esta oportunidade para se referir às recentes tomadas de posição, em comunicado, contra o anunciado encerrramento da estação dos CTT e sua substituição por um posto. Saudando os presentes, nomeadamente o Presidente da Câmara Municipal, Paulo Ferreira e sua vereação, vários Presidentes de Juntas de Freguesia e as Concelhias de Vouzela, S. Pedro do Sul e Vouzela, passou a palavra a Rui Ladeira, na sua qualidade de moderador. Deram o seu contributo a esta acção Miguel Poiares Maduro, professor universitário e Ex-Ministro do Desenvolvimento Regional, António Louro, Vice-Presidente da Câmara de Mação e Presidente do Forum Florestal e Fernando Farreca, Comandante dos Bombeiros Voluntários locais. Não compareceu Pedro Alves, Presidente da Distrital, por afazeres entretanto surgidos. A seu modo, cada um destes oradores pegou nas deixas sugeridas, que tinham como pano de fundo a necessidade de identificar os problemas com que se debatem as nossas comunidades, tentando ali apontar uma série de sugestões a esse nível, sobretudo ligando as condições actuais à tragédia dos incêndios de Outubro de 2017, que fez aumentar as dificuldades que já vêm, no entanto, de longe. Procurou-se definir um quadro e um projecto de desenvolvimento que tenha em conta as necessidades de cada espaço e suas condições específicas, partindo de modelos de gestão mais eficientes e mais modernos. Em suma, ali foi dito bem alto que urge encontrar soluções para o abandono destes nossos territórios de baixa densidade, a causa e o efeito do êxodo rural que se tem notado nas últimas décadas e que tem de ser encarado de frente e em força por parte de todos os poderes com capacidade de intervenção nestas matérias de uma gravidade que, a não ser travada depressa, pode dar cabo da vida no mundo rural. Com a consciência de que há muito a fazer, ficar-se parado é a pior das soluções. Foi contra essa apatia que esta Conferência se realizou e que contou ainda com uma fase de debate e um Porto de Honra, a finalizar. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 31 Out 18

Vouzela perdeu um de seus mais notáveis cidadãos - O Dr. Simões

Vouzela perdeu um dos seus maiores vultos Partiu o Dr. Simões mas fica para sempre connosco No domingo passado, dia 21, Vouzela e Lafões acordaram com uma das mais tristes notícias, a da morte do Dr. António Simões. Cidadão exemplar, médico sempre pronto para acudir todos aqueles que dele se abeiravam em busca da cura, o que fazia com o seu enorme saber e dedicação, juntando-lhe uma palavra amiga, durante cerca de setenta anos doou-se por inteiro a essa nobre causa da medicina e a uma intensa vida social. Nas colectividades, na Câmara Municipal, neste seu e nosso jornal, nunca deixou de arranjar tempo para todas as múltiplas tarefas em que se empenhava. Franzino de corpo, mas de uma alma do tamanho do mundo, nele tivemos, todos, o ombro amigo, o clínico cheio de ciência e de vontade de ajudar. Nascido no ano de 1925 na freguesia de Paços de Vilharigues, onde fez a instrução primária, era ainda criança quando continuou os estudos no antigo Colégio Lafonense, em Oliveira de Frades, antes de ir para o Liceu de Viseu. A Faculdade de Medicina, no Porto, foi o seu próximo destino, de onde sai, em 1951, como novo médico. De imediato, tomou a decisão de optar por exeercer as suas funções, numa autêntica missão sacerdotal, nas terras que o viram nascer e crescer. Instalou-se num pequeno consultório na vila de Vouzela. Num tempo de imensas dificuldades, praticamente sem estradas e sem luz, com poucos telefones, jamais regateou as idas aos locais mais remotos, desde Manhouce ao Caramulo, dia ou noite, fizesse sol ou chovesse aos trambolhões. A certa altura, exerceu clínica na Santa Casa da Misericórdia, instituição que tanto acarinhou ao longo de toda a sua vida, até há bem poucos anos, antes de enveredar na função pública para onde entrou pela via de serviços prestados na Caixa de Previdência. Foi ainda Sub-Delegado de Saúde. Ao Hospital da Misericórdia dedicou grande parte do seu tempo. Notável e impressionante é o número de partos, cerca de 5000, e assistência às mães que desempenhou na sua longa carreira médica. A sua casa, um verdadeiro porto de abrigo para quem, alguma vez, sofreu de um qualquer mal, foi outro dos locais onde salvou tantas vidas. Com a porta a abrir-se a qualquer hora, tarefa de que, muitas vezes, se incumbía sua dedicada esposa, a Dra. Clara, tanto atendia gente destas bandas como de tantos outros locais. Conhecido de uma ponta a outra desta nossa zona de Lafões, espalhava a sua simpatia e ciência clínica por tudo quanto era sítio. Um seu velho amigo e conterrâneo, João de Almeida Costa, em 1992, dizia, neste mesmo Notícias de Vouzela, que “... Todos estaremos de acordo que estas virtudes são atributos do nosso querido médico e amigo, Dr. António Simões, para quem a parte humana, no seu convívio com o doente, não terá menos valimento do que os seus vastos conhecimentos clínicos”, palavras que subscrevemos por inteiro. Um outro de seus amigos, que nos deixou em princípios de 2017, e grande companheiro de tantas de suas lides, o Dr. Telmo Teixeira de Figueiredo, assim falou na altura em que lhe foi prestada uma gigantesca homenagem, das maiores algumas vezes vistas nesta vila: “ ... E tudo isto com uma correcção, uma solicitude, um cuidado inegualáveis. Jamais uma recusa, um momento de enfado, uma mostra de cansaço. Sempre pronto e sempre presente... E ainda encontrou tempo para outras actividades, colaborando nas realizações locais e dando o seu contributo às várias colectividades existentes... “ Para além da medicina O concelho de Vouzela, muito em especial, tem, indo para lá do excelente e dedicadíssimo médico que foi, uma enorme dívida de gratidão para com o Dr. António Simões, um cidadão de causas e com elas nas suas preocupações. Se a Santa Casa da Misericórdia teve no seu enorme coração um bom cantinho, a Associação de Bombeiros, de que foi Presidente da Direcção, também muito beneficiou dos seus contributos, assim como a Associação “Os Vouzelenses” e a sua Banda da SMCR de Paços de Vilharigues e o jovem Centro Social de Cambra, entre outras instituições. Passou ainda por funções autárquicas como Vice-Presidente da Câmara Municipal de Vouzela. Por ter para nós um significado de altíssimo nível, deixamos um parágrafo à parte para falarmos na sua ligação ao jornal “Notícias de Vouzela” de que fez parte desde os anos cinquenta, enquanto elemento do grupo que procedeu à sua reestruturação e nova vida. Sendo então indigitado para seu Director, viu o seu nome vetado nas altas esferas. Um dia, porém, anos mais tarde, veio a ocupar o lugar de Director Adjunto. Aguardando cada uma de suas edições, delas fez uma espécie de tesouro de que nunca se quis desfazer. Conselheiro a amigo, olhou sempre para o nosso jornal como algo que via com muito entusiasmo e alegria. No meio de tantas alegrias, uma tristeza lhe abalou a vida: o fim do SAP – Serviço de Atendimento Permanente, há uns anos. Para compensar, em 1973, tinha vibrado com a restauração da Comarca. A sua vida confunde-se com muitas décadas da existência destas nossas terras e sua evolução. A confirmar este facto, eis que uma Rotunda, bem perto da Misericórdia, ostenta o seu nome, com uma escultura de Luís Queimadela Nascido no dia 16 de Maio de 1925, faleceu a 21 de Outubro de 2018. Deixa viúva a Dra. Maria Clara Fontes Pereira de Melo Simões. Era pai das doutoras Maria Inês Fontes Pereira de Melo Simões e de Maria da Piedade Fontes Pereira de Melo Simões Rosa e avô de Maria Teresa e Maria do Rosário Fontes Simões Ribeiro Rosa. O seu corpo foi velado na Capela de S. Frei Gil, bem perto de sua casa, e o seu funeral, no dia 22, com missa de corpo presente na Igreja Matriz, foi um enorme cortejo de pesar. Está sepultado no Cemitério Municipal. Profundamente consternados com a perda do Dr. Simões, enviamos sentidas condolências a seus familiares e amigos e à comunidade vouzelense que viveu dois dias de luto municipal. Em três anos, esta nossa Casa viu desaparecer três das suas mais notáveis referências: Fernando Lopes Pereira, Dr. Telmo Teixeira de Figueiredo e, agora, o Dr. António Simões. Homenageando-os, vamos continuar a obra que nos legaram. Até um dia, Amigos! Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 25 Out18

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Lafões precisa de novos transportes públicos

Transportes públicos em Lafões precisam de um bom abanão Está na ordem do dia a magna questão da alteração do preço dos passes sociais nas redes de transportes públicos, uma iniciativa que teve a sua origem nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, mas que tem tendência a espalhar-se pelo país todo e só assim se fará justiça e coesão social. Ao ficar-se apenas por aquelas duas zonas, que já são altamente beneficiadas e privilegiadas, o nosso Interior ficaria ainda pior. Com o Governo a declarar que a medida vai ter alcance nacional, esta é já uma boa ideia, mas, por aquilo que sabemos, ainda não contempla as vertentes necessárias, por falar somente em deslocações inter-concelhias, deixando de fora o cerne da questão: as viagens dentro dos próprios municípios e que são as mais relevantes. Na evolução das redes de transportes, começamos logo por um lamento, o do fim da linha do Vale do Vouga e dos serviços que prestava em toda a extensão de Lafões, desde Ribeiradio a Bodiosa, passando pelos três concelhos, suas sedes e muitas outras localidades. Iniciando as viagens nos anos de 1913 e 1914, no que a estas nossa zonas diz respeito, foi perdendo vapor e, em 1990, fechou as portas, de vez. Hoje, funciona, com regularidade, sobretudo entre Águeda e Aveiro. Numa curta resenha, em 1970, existiam 6 ligações entre Espinho/Aveiro e Viseu, em cada sentido, tendo diminuído para 2 circulações em 1985, um perigoso sinal de que algo já por ali corria muito mal. Em fases, foram-se os comboios a vapor (1972), ficaram as automotoras e até estas vieram a desaparecer, tendo sido subsituídas por autocarros, com grande descontentamento das populações residentes no eixo da velha linha. Registe-se que, nos anos gloriosos da via-férrea, uma alternativa, esta em autocarros, ligava S. Pedro do Sul ao Porto, por Carvalhais, Santa Cruz da Trapa, S. João da Serra e aí por diante, com a pomposa designação do “comboio da serra”. Diminnuindo em intensidade, esta corda ainda subsiste, mas já não é o que era, sem dúvida. Falando nas ligações actuais e nas condições em que os transportes públicos por aqui se processam, há que dizer-se que a CIM Viseu Dão Lafões tem uma importante palavra a dizer, porque tem incumbências e responsabilidades neste sector. De acordo com as informações prestadas pelo Presidente da Câmara de Vouzela, Rui Ladeira, essa questão não está esquecida, adiantando que está para breve o lançamento de um concurso para serviços públicos de transportes a nível intermunicipal e mesmo municipal, concelho a conecelho. Ora aqui está um bom princípio para a aplicação dos passes sociais, à imagem e semelhança do que se pretende para as duas cidades sanguessugas, Lisboa e Porto. Esperamos é que não arrefeçam os ânimos e tudo se faça para que assim aconteça. Transportes em Lafões Numa análise ao quadro de carreiras existentes, os três municípios de Lafões continuam com um eixo horizontal, em parte e um tanto parecido com o saudoso comboio, unindo Viseu a Ribeiradio, por Real das Donas, e vice-versa, e estes mesmos pontos pela EN16. Em geral, há quatro circuitos diários e mais dois em tempo de aulas. Falta aqui um aspecto essencial e fulcral que se perdeu: a não ligação a Aveiro, de uma forma directa, nesta linha, e à sua Estação da CP. Em matéria de autocarros internos, das sedes diversas, saem ligações para a maior parte de cada uma das freguesias de cada concelho, no sentido vertical, em princípio. Casos há em que são ainda mobilizados redes de táxi para completarem estas funções públicas. O problema maior é que os horários nem sempre condizem com as necessidades, como por exemplo em Oliveira de Frades: se se pensa nos acessos à Zona Industrial, as oito horas da manhã são determinantes. Se se privilegia o sector escolar (não obstante haver meios municipais específicos), essa hora não se enquadra nos costumes e determinações actuais. Por outro lado, o interface com outros destinos também não é, em geral, bem acautelado. Vejam-se as ligações para Lisboa, Porto e outras, e os desfasamentos e inconvenientes que se notam. A este nível, da região de Lafões partem autocarros diários, estilo rede de expressos, mormente entre S. Pedro do Sul e Aveiro e Porto, Lisboa-Coimbra-Viseu-Oliveira de Frades, pelo Dão, Lisboa-Coimbra-Aveiro-Oliveira de Frades-S. Pedro do Sul, via Albergaria-a-Velha, entre outros, sempre a passarem estas carreiras por Vouzela. Curiosa é a existência de uma carreira que liga mesmo os três concelhos em parte das suas localidades, entre o Vouga e a Serra do Caramulo, partindo de S. Pedro do Sul: passa por Oliveira de Frades, Vilarinho, Cajadães, Cambra (ramificando para Carvalhal de Vermilhas), retomando-se Cambra de Baixo, Pés de Pontes, Paredes Velhas, Campia, Rebordinho, Adside, Covelo, Areal, Arca, Varzielas e, por fim, Caramulo e vice-versa. Curiosamente, entre 1 de Julho e 9 de Setembro, há uma Linha da Praia, que une Castro Daire à Barra, com paragens nos nossos três municípios. Em termos de passes, tomando como bitola valores anteriores a qualquer alteração que se venha a fazer no avanço das negociações decorrentes das tomadas de posição das AM de Lisboa e Porto, temos as seguintes modalidades: passe social, 4-18 A, 4-18 B, Sub-23, Sub 23 – 25%, isto no que se reporta ao ano de 2018. Muito mais haveria a dizer, em pormenores e em linhas de passagens diversas. Sendo uma lista extensa, deixámos apenas estas notas e uma ideia básica, a da exigência do sentido de justiça, equidade e respeito pela coesão social e territorial do país visto como um todo e não apenas como imagens reflectidas nas águas dos Rios Tejo e Douro. Há muitos mais rios por Portugal além, de norte para sul, de leste para oeste. Reclamem-se direitos que são nossos e muito nossos. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Set 2018

É sempre a mesma coisa: o interior perde sempre...

O litoral come-nos tudo Em matéria de grandes projectos lançados em Portugal na útima década, seguindo uma perigosa tendência de há centenas e dezenas de anos, a sua grande maioria foi, uma vez mais, para as regiões do litoral, as mesmas, as do costume. Em 443 dessas iniciativas, apenas 26, 4% se fixaram em todo o Interior. Mais de setenta por cento, praticamente três quartos encaminharam-se para a beira-mar. É quase sempre assim. Por cada queijo que recebamos, 80% do território recebe uma pequena fatia e a grande dose vai para os pontos que todos nós conhecemos, sobretudo as áreas de Lisboa e Porto. Por isso, não nos podemos admirar quanto ao estado em que o país se encontra: despovoado nas nossas zonas, atafulhado de gente, a acotovelar-se por todo o lado, nas citadas cidades. Ainda há dias, o JN trazia uma listagem que bem ilustra a argumentação que aqui estamos a registar, desde 2008 a 2018, em investimentos tidos como grandes projectos e são abismais as diferenças. Vejamo-las: 2008 – Litoral, 25; Interior, 5; 2009 – 45/17; 2010 – 38/20; 2011 – 28/9; 2012 – 20/10; 2013 – 41/13; 2014 – 21/11; 2015 – 18/6; 2016 – 51/19; 2017 – 22/2 e 2018 – 17/5. Não é preciso fazer grandes contas para logo percebermos o alcance desastrado destas medidas. Quando Pedrógão, em Junho de 2017, e o Centro do País, em Outubro, foram dizimados pelos mais dramáticos incêndios de sempre, apregoou-se por todo o lado que as discriminações positivas não deixariam de aparecer. E o que vemos? Um ano de 2018 com um acentuadíssimo desnível de 17 para 5. Isto é política que se possa aceitar? Por nós, não, de maneira nenhuma. Vem agora uma certa consolação, de acordo com a mesma fonte: mais de 70% do novo alojamento turístico local localizou-se fora dessas metrópoles e os resultados estão à vista, com a este sector a mostar, na região Centro, uma vitalidade assinalável. Só que esta vertente á muito pequena para equilibrar a balança que pende a toda a hora para o mesmo lado, o litoral. Diz-nos Suzanne Daveau (Portugal geográfico, Livraria Figueirinha, Porto, 1995) que” O profundo desequilíbrio e a instabilidade espacial que caracterizam hoje Portugal tornam muito problemática qualquer tentativa séria de ordenamento do território, ainda que a necessidade de repensar a organização administrativa do país seja fortemente sentida... “ (p. 131). E as consequências estão à vista, acrescentando que “ A gente pobre amontoa-se à volta das grandes cidades”. Em 2018, teima-se em seguir os perigosos figurinos de há anos. O que nos trará o Orçamento para 2019? Ficamos à espera, mas pouco animados, infelizmente... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 3 out 2018

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Oliveira de Frades cantou e bailou em Festival de Folclore

No passado doimngo Festival folclórico trouxe vida e animação a Oliveira de Frades Na tarde quente do dia 26, domingo, o centro da vila de Oliveira de Frades encheu-se de gente em virtude da realização do Festival Folclórico que a Câmara Municipal pôs em marcha e com bastante sucesso, acrescente-se. Além dos três grupos concelhios, as atenções voltaram-se também para os visitantes com as suas vistosas danças minhotas e do litoral centro. Numa organização que privilegiou as actuações descentralizadas, em três palcos, por onde passaram, em cada um deles, todos os ranchos participantes, foi assim possível assistir a diversos espectáculos em locais e ambientes diferentes, na “Praça das Finanças”, no Jardim Sá Carneiro, em palco montado no canto próximo dos Paços do Concelho e junto ao Museu Municipal. Entretanto, tudo começou com a recepção oficial no Salão Nobre da Câmara Municipal, em cerimónia presidida pelo Presidente, Paulo Ferreira, tendo comparecido ainda a representante da Assembleia Municipal, &&&, os vereadores Carlos Pereira e Clara Vieira e o Presidente da União de Freguesias, José Cerveira. Seguiu-se um desfile, em conjunto, até ao primeiro dos palcos acima citado, local escolhido para a saudação geral, ao ar livre, feita por Paulo Ferreira, antes de por aí desfilarem todos os ranchos convidados. Esta parte do programa permitiu, desde logo, fazer-se uma espécie de apreciação global e abrir o apetite para as danças e cantares que se iriam espalhar pelos outros sítios. Se o concelho se fez representar pela totalidade do seu folclore, saudaram-se assim o Rancho Floclórico da ACRENE – Nespereira, o de S. João da Serra e as Danças e Vozes da Aldeia, de Santa Cruz. De fora, vieram as Cantarinhas de Buarcos – Figueira da Foz e o Grupo Folclórico de Viana do Castelo. Sendo esta uma primeira experiência a este nível e nestes moldes, prova-se que o êxito dos espectáculos apresentados e a metodologia seguida têm pernas para andar no futuro. Uma garantia fica já no ar: se se verificar a tendência desta edição de 2018, público não faltará em próximas ocasiões. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Agosto, 2018

81 anos em cima de um tractor por parte de João da Silva Reis, Vilharigues...

Em Vilharigues João do Tractor não mais perdeu o nome Com 81 anos de idade, João da Silva Reis nasceu em Vilharigues, Vouzela, e nesta aldeia tem passado quase todos os seus dias. A certa altura, a aquisição de uma máquina agrícola conseguiu mesmo mudar-lhe o nome, passando a ser conhecido por João do Tractor. Do rapaz que serviu à mesa mais de uma dezena de anos na hotelaria das Termas de S. Pedro do Sul, haveria de renascer o homem que, ao volante da sua viatura, revolveria a terra dos campos agrícolas da sua aldeia e das redondezas e faria milhares de viagens em transportes diversos, desde a madeira aos materiais de construção. Com oitenta e sete contos amealhados, comprou, aí pelos anos de 1972/73, um Fergusson 135. O pior é que, sem dinheiro para mais, aquela peça não lhe servia para quase nada. A salvação veio da sogra que lhe ofereceu uma centena de pinheiros para adquirir dois carroços. Este era, vê-se, um tempo em que a floresta era um bom mealheiro, a tábua de salvação para fazer frente a bolsos vazios. Sem ser o primeiro tractor da freguesia, que José Bica, em meados dos anos sessenta, já se lhe tinha antecipado (talvez a ser pioneiro destas andanças mesmo no concelho de Vouzela) com a compra de um também Fergusson 30, mas para seu uso exclusivo, apenas ao João da Silva Reis estava destinado que assim começasse a ser conhecido até aos nossos dias. Ao fazer do seu novo e útil brinquedo um instrumento de trabalho, cedo o pôs ao serviço da sua economia pessoal: desde então começou a lavrar os campos seus e de quem requisitava as suas funções, passando para o transporte de madeiras, pedras, aterros, materiais de construção e tudo quanto um tractor pudesse executar. Correndo montes e vales, andou por Ventosa, Covas, Fornelo do Monte, Póvoa dos Codeçais, Vila Chã do Monte, Queirã, Moçâmedes, Lourosa da Comenda, Serra da Arada, Carvalhais e por tantos outros lados. Noite e dia fundiam-se num só tempo, porque queria muito angariar umas massas para a casa em construção e para a sua vida em todas as suas vertentes. Uma longa carreira Fiel à marca com que se celebrizou nas suas novas actividades, há 26 anos trocou de tractor por um outro Fergusson, este 245, que é seu companheiro de praticamente todas as viagens, salvo as idas a Viseu ou outras cidades, pelas redondezas. Com charrua, grade, fresa, malhadeira de milho, arrancador de batatas, charrueco de abrir regos, ceifeira e outros equipamentos mecânicos, agora vai-se entretendo que os trabalhos para fora começaram a escassear há uns anos. Os subsídios europeus e a invasão de novas máquinas em quase todas as casas ditaram a sua nova sorte, uma espécie de chave para o descanso forçado. Do alto dos seus 81 anos e de uma vasta experiência sem um único acidente, ao falar daqueles que por agora vão acontecendo, atribui-os à velocidade e ao descontrolo, à falta de treino e cuidado. E disse-nos que os travões destas máquinas também não são muito de confiar. A caminhar para os cinquenta anos da sua nova profissão, depois da passagem pelas Termas e pela loja de Vilharigues, onde foi empregado comercial, ainda está para a curvas. Este nosso amigo João do Tractor é assim mesmo: unha e carne com o seu veículo de quatro rodas, é pau para toda a colher nestes serviços, mas, nestes dias, mais para seu uso próprio. Os anos de trabalho louco já lá vão. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Agosto, 2018

A fusão dos Bombeiros em S. Pedro do Sul...

Fusão de Bombeiros brevemente em S. Pedro do Sul No recuado ano de 1885, nasceu no concelho de S. Pedro do Sul a primeira corporação de Bombeiros, os Voluntários. Começando por umas instalações provisórias, fixou-se posteriormente no actual local para nunca mais dali sair. Ao responder a um apelo do associativismo então em fase de crescimento, curiosamente tinha-se deixado ultrapassar pela Banda Filarmónica Harmonia, que vira a luz do dia vinte anos antes em 1865. Mas apareceu quando pôde e nada mais há a dizer. Durante anos, até 1925, viveu sozinha a Associação dos Bombeiros Voluntários de S. Pedro do Sul, convivendo, ao lado em termos de vizinhança com a de Vouzela, que em Oliveira de Frades este fenómeno só viria a despertar perto dos anos trinta do século passado. Um dia, sabe-se lá como, mas presume-se que por divergências internas, arrancou-se nesta terra sampedrense para mais uma entidade desta mesma natureza: assim, em 2 de Fevereiro de 1925, veio para a rua o Corpo Voluntário de Salvação Pública, instituindo-se como que os bombeiros de cima, mais antigos, e os de baixo, os novatos. Com vidas próprias, lá se foram organizando, como puderam e quiseram, ao longo destas dezenas de anos, muito embora nem sempre tenham sido muito pacíficas as relações entre as duas Corporações. Irmãs nas funções, mas nada de confusões. Pelo meio, despontou ainda, no concelho, uma nova Associação, a de Santa Cruz da Trapa, pelo que, depois desse facto, tudo foi disputado a três. Para o Município, se se vê enriquecido com mais um agente de prestação de serviços de apoio às populações, as dores de cabeça triplicaram: a partir desse momento o bolo tinha se ser repartido por três entidades da mesma área e esfera de actuação. Do mal, o menos. Quis a força do destino que, na sede do concelho, se começassem a esboçar esforços para a criação de um Agrupamento comum de Bombeiros, o que se concretizou, logo em 2010, com a criação dos respectivos estatutos. Agora, fala-se já no seu efectivo lançamento para o próximo mês de Setembro, quase como que uma experiência piloto a nível nacional. Não é virgem, porém, esta tipologia de organizações: temo-las, por exemplo, nas escolas e nos centros de saúde. Mas, diga-se, em abono da verdade, que, nestes casos, nem sempre com aplausos generalizados. Oxalá que, com os Bombeiros, tudo corra pelo melhor. No historial destas duas casas, a de cima e a de baixo, há muito que contar. Entre tantas notícias, reportagens, comentários e opiniões, uma boa fonte, a do cinema, traz-nos um magnífico relato da vida da Associação dos Bombeiros Voluntários de S. Pedro do Sul, relativa a uma festa do dia 1 de Janeiro de 1927. Foi realizador dessa película Artur Costa de Macedo (1894/1966), e, há uns anitos, um nosso conterrâneo de Fataunços, José Alexandre Cardoso Marques, um grande entusiasta e historiador destas artes cinematográficas, presenteou-nos com esta preciosidade, tendo-nos sido permitido ver uma cerimónia de distribuição de dinheiro aos pobres, uma corrida em simulacro de incêndio para acudir a uma casa em chamas, os bombeiros em azáfama pegada a empurrarem um velho carro e até a Banda a tocar pelas ruas da vila. Se estes são dados que enobrecem e enriquecem o nosso património, a verdade é que a história actual nos mostra que tudo isto está em grande aceleração para novas caminhadas como esta do Agrupamento que está prestes a nascer a sério. Oito anos depois de ter sido passado para o papel, agora já com Comandante nomeado, Carlos Matos, com o projecto do novo Quartel comum aprovado, sendo seu autor o Arquitecto Paulo Loureiro, tudo ponta para que este seja um processo irreversível. Num concelho com cerca de 350 quilómetros quadrados e com 16900 habitantes, o que denota uma penosa sangria populacional, ter uns Bombeiros operacionais em meios, em pessoal e em organização, é sempre uma boa aposta. Aponta nesse sentido a criação desta nova estrutura, o citado Agrupamento. Convém não perdermos de vista nem esquecermos que, por mais que, em Lisboa, às vezes assim se não pense nem actue, os Bombeiros foram, são e serão sempre a espinha dorsal de todos os esquemas de protecção civil que se pretendam lançar no terreno. Fugir desta regra é mesmo má política e um desconhecimento da força e dedicação que os nossos Voluntários têm neste mecanismo de apoio às nossas populações. Por tudo isto, este novo passo dado em S. Pedro do Sul pode vir a ser um bom caso de estudo e uma forma de ficarmos a saber que todas as divergências, mais tarde ou mais cedo, pode ser resolvidas a bem do interesse comum. A fusão da Associação dos Bombeiros Voluntários de S. Pedro do Sul com o Corpo Voluntário de Salvação Pública aí está a chegar, em casamento que se saúda e ao qual se deseja longa vida!. Dizem que a boda acontecerá em Setembro. Assim seja. Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Lafões”, Agosto, 2018

A desconfiança nas ofertas para as vítimas dos incêndios, em Pedrógão...

Incêndios, dádivas, dúvidas e revolta Temos por norma acreditar sempre na bondade dos homens e das instituições. Se, quanto àqueles, ainda podemos ter algumas desconfiançazitas (?), no que a estas diz respeito, valha-nos Deus, Nosso Senhor, nada a temer. Recordamos os trágicos acontecimentos de Pedrógão Grande de Junho de 2017 e a imensidão de dor e destruição que por ali aconteceu. Quando se lançou aquela fantástica e fenomenal recolha de dádivas e apoios, recordamos sempre as palavras que dirigimos a muitos amigos, no sentido de os estimularmos a participarem nessa campanha. Veio Outubro e fomos nós a precisar dessas boas vontades, que as calamidades não escolhem nem local nem raças, nem cores, nem credos. Por aquilo que, agora, descobrimos, na comunicação social, falhámos redondamente. Devemos, por isto pedir desculpa, a quem induzimos em erro. Foi com uma dor profunda no nosso coração que viemos a saber que, em Pedrógão, muita coisa falhou e trafulhices, assim mesmo, apareceram um pouco por todo o lado, mesmo em quem jamais imaginávamos tais comportamentos. Impossível, mas dizem que aconteceu. Inacreditável! O nosso dinheiro, as verbas do Estado não podem servir estes fins hediondos. Quando nos dispomos a abrir os cordões à bolsa é com a melhor das intenções que o fazemos, nunca para sermos cúmplices em jogadas de mau gosto e de aldrabices pegadas. Assim, tudo se perde, mesmo a confiança e esta é a derrota maior. As desgraças nunca podem ser a tábua de salvação para oportunismos doentios e expedientes perversos para dar cabo de fundos comuns. Se, acima de tudo, têm coberturas ao mais alto nível (ainda que municipal), está tudo estragado. Quando tal sucede, há que agir em termos judiciais e cíveis até às últimas consequências. Sem quaisquer espírito judicialista, longe disso, há situações que bradam aos céus e esta, a de Pedrógão, é uma delas. Quando a revolta se apodera destes casos, tanto pior. Estranhamos mesmo que, da parte de quem se diz que, estando por dentro do sistema e se fala em que tem alegadas culpas no cartório, não venha a agir em conformidade. Os cargos implicam responsabilidade e dignidade. Perdidas estas premissas, pouco mais há a fazer que não um profundo pedido de desculpas públicas e um adeus às funções até então desempenhadas. Isto é o mínimo que se exige numa sociedade e numa democracia sãs. Não podemos é deixar que a desconfiança total mine a nossa sociedade de alto a baixo e que a solidariedade seja posta de lado. Uma nódoa, por mais negra que seja, tem de se conseguir limpar. E esta tristeza de Pedrógão em malbaratar o dinheiro de todos nós não pode nem ficar impune nem levar a que a desistência em colaborar com quem, na realidade, precise do nosso apoio, se venha a impôr! Com a vergonha estampada no rosto por mais estas tropelias, acreditamos, apesar disso, nas virtudes de cada um de nós. E só assim descobrimos que o futuro comum seja cada vez melhor.... Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Lafões”, Agosto, 2018

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Convívio na Pedra da Broa, Oliveira de Frades, com dezenas de anos

No sábado, dia 11 A velha e renovada tradição da Pedra da Broa São dezenas e dezenas de anos a virarem-se as sardinhas de uma forma muito especial e numa operação feita por gente que sabe da poda. Por tudo isto, a Sardinhada da Pedra da Broa tem uma fama que chega longe, às terras de Lafões e às nossas comunidades espalhadas pelo mundo. No segundo sábado de Agosto, os diversos GPS apontam para aquele destino, tal como aconteceu no passado dia 11. Junto a uma decrépita Casa do Guarda Florestal, um local mítico, dezenas e dezenas de pessoas ali passam uma boa tarde em almoço e convívio bem saborosos. Para que tudo aconteça sem grandes sobressaltos, a Comissão incumbida de realizar todas as tarefas preparatórias e em cima do acontecimento, não se poupa a esforços para que nada faltasse. Nas semanas anteriores, como manda a tradição, nas reuniões de Oliveira de Frades e de Arcozelo das Maias, tratou-se de todos os pormenores, nomeadamente a escolha do segundo prato, o da carne, que, neste ano de 2018, constou de um apetitoso arroz de feira, uma homenagem aos almoços da Feira de Oliveira de Frades, que se comiam nas respectivas tascas. Imprevistos e alterações Se a programação é feita atempadamente, os imprevistos acontecem por vezes. Este ano, por exemplo, devido às restrições impostas em matéria de proibição de quaisquer operações em que se usasse o lume e as brasas, lá tiveram as sardinhas que andar de um lado para outro, tendo sido assadas a alguma distância em instalações fechadas. Em carrinhas, foram transportadas em sucessivas levas para preservarem a sua habitual frescura e sabor de modo a não perderem pitada da tradição de sempre. Esta foi uma alteração de fundo. Quanto às restantes operações, a azáfama de sempre para pôr as mesas, para limpar o espaço, para fazer as saladas e os molhos especiais, para cozinhar o já citado arroz de feira, para fazer a respectiva distribuição, chegada a hora da refeição, executaram-se nos moldes do costume, sem faltar as boas regadelas do terreno em causa e à sua volta. De tudo isto, cuida a Comissão em tarefas já bem estudadas e desempenhadas por equipas especializadas. Infelizmente, que já nem toda a gente pode dar o seu contributo, ou porque nos deixou de vez em profunda saudade, ou porque a sua saúde já não o permite. Por isso mesmo, a renovação vai acontecendo, mas sempre no respeito por quanto se foi aprendendo ao longo dos tempos. Em democracia e com contas à moda do Porto, primeiro satisfazem-se os estômagos, contando-se depois os pagadores para por eles dividir as despesas feitas. Geralmente, a aceitação dos valores a cobrar é a regra geral. Como aqui, neste evento, o lucro não está nas intenções de quem o organiza, a não ser amealhar uns tostões para equipamentos e problemas que impeçam a sua realização em cima do acontecimento, como, por exemplo, uma tromba de água ou outros problemas de maior, as receitas e as despesas pautam-se pelo equilíbrio sustentado. Uma Associação a caminho Olhando para tanto tempo de realização do Convívio da Pedra da Broa em modos algo improvisados, agora decidiu-se dar um salto para um novo e institucional enquadramento desta situação: a Comissão resolveu constituir a “Associação dos Amigos da Pedra da Broa”, com o objectivo de valorizar este almoço e alargar o seu âmbito ao campo da defesa da floresta e o do ambiente. No imediato, estão a elaborar-se os necessários estatutos para oficializar e respectiva escritura. Futuramente, outros sonhos estão já na forja, que a seu tempo serão anunciados. A intenção aqui descrita foi aceite em documento provisório, no passado dia 20 de Julho, por 16 dos elementos que têm estado na base da Sardinhada em causa e outros virão a aderir por certo. Visando ser uma colectividade aberta, espera-se que a participação nesta Associação venha a ser uma realidade cada vez mais alargada porque são arrojadas as tarefas que se têm pela frente. A Casa do Guarda, o antigo viveiro, a floresta e o ambiente no seu todo esperam pelo nosso contributo. É essa a ideia da Associação que está, neste momento, na forja, assim a ajudem as entidades oficiais. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Agosto , 2018

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

As lições de Monchique a seguir a tantas outras, tristes e trágicas....

Monchique a arder e a espalhar brasas por todo o lado Durante uma semana o concelho de Monchique, tal como em 2003, foi varrido pelas chamas, apesar de, há bem pouco tempo, ter sido apontado, com pompa e circunstância, pelo Primeiro Ministro, António Costa, como um exemplo de excelência em operações de protecção e defesa da floresta. O pior é que, quando o lume arde a valer, todo o passado em lições parece ter sido pouco, ou mesmo nulo: face à força da natureza e do avanço do fogo, a impotência (talvez com alguma incompetência nos comandos) manda e contra isso nada há a fazer. Não nos querendo armar em peritos de nada, mas como observadores atentos e empenhadíssimos na defesa do papel dos nossos Bombeiros Voluntários, por sermos um deles sem farda (Oliveira de Frades) e, por isso, nada imparciais, muitas das mazelas que temos vindo a descobrir, nas altas esferas, é o desprezo a que têm votado os homens de cada uma de nossas terras e no conhecimento que delas têm. Com o poder a ter demasiadas componentes centralizadoras, algo tecnocratas, perde-se proximidade e, talvez por essa distância, o descontrole passa a ser a regra, quando devia não passar da excepção. Neste grande fogo do Algarve, o maior da Europa por estes dias, assistimos a atropelos na cadeia de comando que nada nos agradam: de um dia para outro, Faro foi atirado para o lado e Lisboa pôs-se ali a gerir aquele mar de chamas. Posteriormente, quando por lá passaram o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o Primeiro-Ministro, António Costa, recebidos com poses militares, os Bombeiros foram postos de lado, atirados, barbaramente, para o caixote do lixo. E isto é INADMISSÌVEL. É mesmo. Com 27 mil hectares ardidos, em três concelhos, 50 casas destruídas, 41 feridos, 49 desalojados, felizmente não houve mortos a registar e esse é um facto que TEM de ser realçado. Sabendo tudo isto, como alguém que tem no seu sangue a força dos Bombeiros Voluntários, estes mesmos, deste gigantesco incêndio de Monchique retiramos algumas lições: a primeira é aquela que nos leva a não gostarmos nada de ver a nossa gente desviada de todo este processo; a segunda é que ainda temos muito a aprender e a concretizar em termos de correcto planeamento florestal; a terceira é que não podemos esquecer o efeito de ricochete que estes fenómenos causam, por exemplo, ao nosso turismo e à imagem que, negativa, podem construir e ampliar. Por último, a percepção de uma certa descordenação não abona nada a nosso favor. Nada mesmo. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Agosto 2018

domingo, 12 de agosto de 2018

Os nossos comboios estão a morrer de morte macaca...

Comboios em marcha atrás Desinvestimento leva ao retrocesso Numa época em que se procuram alternativas ao consumo de combustíveis fósseis, em que se pregam boas doutrinas quanto ao uso de energias renováveis, em que o combate às alterações climáticas está na ordem do dia, é com manifesta estranheza que estamos a presenciar o brutal declínio do investimento ferroviário em Portugal. Quando era necessário modernizar esse sector, electrificando-o em grande escala, o que tem acontecido vai precisamente no sentido inverso: encerram-se as linhas e ponto final. Ou cortam-se as circulações diárias. Com a qualidade a descer, a procura retrai-se e gera-se um efeito bola de neve: quanto menos passageiros, menos respostas se colocam para uso público. Daí até ao fecho do sistema, a demora é curtísima. Se os séculos XIX e XX apresentaram grandes sucessos, desde que, a 28 de Outubro de 1856, se fez a primeira ligação de Lisboa ao Carregado, desde 2000 para cá praticamente só se tem recuado, a ponto de Nuno Miguel Guedes Teixeira, em 2016, na sua dissertação “ Sistemas de Transportes Ferroviários”, ter dito que “ ... O desinvestimento, em contraciclo com o resto da Europa, foi algo marcante do século XXI”. Olhando para os primeiros anos do seculo XX, vem-nos logo à memória o esforço heróico desenvolvido pela nossa comunidade lafonense em Lisboa, que, em geral, se empenhou a fundo na reivindicação da passsagem da Linha do Vale do Vouga por todas as nosssas terras. Nasceu dessa sua luta, coroada de glória, a criação do Grémio Lafonense em 1911, hoje Casa de Lafões. Ao ter-se encerrado e desmantelado esta via, já em finais do século passado, foi uma enorme desfeita que se fez a essa nossa valente gente. Entretanto, todo o sistema começou a fraquejar e as linhas a caírem uma atrás da outra e sempre a penalizar o Interior. Se, nos anos 50, tínhamos 3750 quilómetros de vias e hoje andamos pelos 2630, a maioria dessas perdas afectou as ligações para as pequenas cidades e vilas do nosso Portugal. O mapa amputado da rede ferroviária mostra isso mesmo. O pouco que ainda se vai fazendo situa-se em redor dos grandes centros e na orla do litoral. Por exemplo, na Linha do Norte, que tem obras de Santa Engrácia, que nunca mais acabam, lançaram-se os comboios alfa e intercidades, a estenderem o seu serviço a caminho do Algarve, do Minho e da própria Beira Alta. Rápidos, agradáveis, cedo conquistaram a sua malha de passageiros. Agora, corta-se no ar condicionado, suprimem-se horários e circulações e as queixas surgem de todo o lado. Fala-se bastante na Ferrovia 2020, um programa de 2000 milhões de euros para investimentos futuros. O tempo anda e as obras desandam. Com o desinvestimento em manutenção do material circulante e das vias, o desfecho afigura-se-nos negro. E triste. Mas ainda temos esperança em dar a volta por cima. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 9 ago18

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Aeroporto de Beja, uma boa bofetada na cara de quem tem vindo a decidir o nosso destino...

A aterragem do maior avião do mundo na pista do novo/morto aeroporto de Beja, que agora mostra saber ressuscitar, é uma tremenda reprimenda em toda a gente que tem vindo a mandar (???) nestas coisas do desenvolvimento. Com uma galinha dos ovos de ouro ali colocada há anos, esqueceram-se delas anos a fio, deixaram de lhe dar milho e mataram-na sem apelo nem agravo. Uma vergonha! Agora, hoje, dia 23 de Julho, ali aterrou com êxito o maior avião do mundo. Que grande bofetada, um forte chapadão, na cara de tanta gente! Se as políticas de investimento público no nosso país são isto que vemos, que gente é essa que ocupa os bancos do poder? Porra!!! Com umas dezenas de passageiros que ali aterraram em tantos anos, quanto desperdício foi feito ao longo dos tempos? E agora: será que esta lição vai ter sucesso? Esperamos que sim. Ou então o mundo, o nosso, está mesmo virado do avesso....

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Boa comunicação é precisa e urgente....

Cada vez mais necessária uma boa comunicação social O ser humano andou milénios ao sabor dos sons e símbolos mais próximos, pouco ou nada sabendo do que acontecia além do seu círculo restrito de amigos e vizinhos. Prosseguiu a aventura da comunicação com o exterior mais distante por meio de sinais de fogo, por gritos nos cimos das montanhas, por tudo quanto fosse acessível ao ouvido e ao olhar de uma forma muito simples e rudimentar. Descoberta a escrita, os mensageiros começaram a correr pelos montes a transmitir novidades, mas a um conto acrescentavam sempre um ponto. Nós somos filhos desses estádios de civilização, que teve, nos últimos séculos, um papel activo nos almocreves e noutros agentes informais. Com a divulgação da era de Gutenberg (cerca de 1450) e sua prensa de tipos móveis, operou-se uma revolução e as alterações sucedem-se, em livros publicados e, no que à comunicação mais diz respeito, em jornais, alguns deles muito simplórios e pouco exigentes nas suas regras e métodos de informação, mas com títulos altamente pomposos, como este, o primeiro em Portugal no ano de 1641, “Gazeta em que se relatam as novas que houve nesta e que vieram de várias partes”, posto a circular, em doze páginas, no dia 3 de Dezembro. Cingindo-nos à nossa nação e a esta nossa região, até ao século XIX pouco se avançou neste campo da comunicação social. Com a revolução liberal, a partir de 1820, com a necessidade de as várias forças partidárias e ideológicas expandirem as suas opiniões, os jornais aparecem quase como cogumelos, com cores variadas e textos para todos os gostos. A imprensa, até então a caminhar muito devagarinho, começa a fazer corridas cada vez maiores. A sua força mede-se em termos políticos e é esta vertente que a bitola. Longe ainda estávamos da rádio, muito mais da televisão e a milhas dos actuais sistemas de comunicação em massa por via digital. Para se ter uma ideia do peso dos jornais e da sua proliferação a partir dos anos de 1800 em diante, anotem-se estes títulos que se localizaram nas nossas terras, numa distribuição por concelhos e com eventuais falhas: Oliveira de Frades – O Lafões(1892), Mocidade de Lafões, O Azorrague, Ecos de Lafões, O Lafonense, Jornal de Lafões, O Ribeiradiense, Oliverdade, Rádio de Oliveira de Frades (1986); S. Pedro do Sul – O Lafonense (1891), Jornal de Lafões, A Comarca, O Vouga, O Progresso, Voz da Beira, Ecos do Vouga, O Innonimado, Povo da Beira, A Democracia de Lafões, a Tribuna de Lafões, Gazeta da Beira (duas fases), Correio de S. Pedro do Sul, Ecos da Gravia, Notícias de Lafões, Rádio Valadares e Rádio Lafões; Vouzela – Aurora do Vouga (1887), A Democracia de Lafões, O Beirão, A Revista de Lafões, O Presente, O Echo de Lafões, Aurora de Lafões, O Vouzelense, Correio de Lafões, O Lafões, Alvorada, O Lafões, Correio de Vouzela, Notícias de Vouzela, Vouga Livre, Rádio Regional de Fataunços, Rádio Vouzela – VFM. Esta alinhavada lista bem acentua quanto a comunicação social tem sido importante ao longo dos tempos. E hoje muito mais do que nunca, por estranho que pareça. Como seres consumidores de informação, cada vez estamos mais ávidos de a ela termos acesso. Respondendo a este crescente apetite, os últimos tempos têm gerado carradas e carradas de uma dita comunicação, em blogues, em redes sociais, em novos meios de divulgação de notícias e opinião, falada, vista e mista. Mas tem-se perdido em matéria de conhecimento e em fontes seguras de informação. Nesta avalanche de dados que nos invadem o quotidiano e quase nos sufocam, tudo se confunde: verdade e mentira convivem à mesma mesa e isso é altamente perigoso. Para a verdadeira e real destrinça de tudo isto, separando o trigo do joio, cada vez mais é necessária uma imprensa, uma comunicação social de referência, com valores, com ética, com rigor, com verdade, com respeito pelo cidadão e seus direitos a uma correcta e credível comunicação. É aí que, no nosso caso, os jornais têm de se posicionarem para virem a ter futuro e a assegurarem o próprio futuro das nossas comunidades. Na bagunça em que vivemos, ninguém ficará a lucrar. Essa é que é a verdade. Por isso, impõe-se uma regra de ouro: que cada jornal, que cada rádio, que cada televisão se afirmem pela honra do trabalho que fazem. O resto é conversa da treta. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 19 Jul 18

Uma sopa, a de Alcofra, que é um hino às tradições

Alcofra faz gala da sua Sopa Seca V Mostra Gastronómica CR Pela quinta vez, o espaço envolvente à Torre de Alcofra encheu-se de gente para apreciar um pitéu de alta qualidade e com um enorme valor identitário, a Sopa Seca. Recordando tempos difíceis, os das migrações, em grupos e às centenas, para o Alentejo, dali veio esta iguaria, ontem alimento dos pobres, hoje colocada no pedestal da nossa gastronomia regional. Neste ano de 2018, o apetite recebeu uma boa pedalada com a realização do Passeio Pedestre – Por terras de Alcofra, que levou aos seus caminhos rurais e pontos turísticos de excelência um bom número de entusiastas das boas caminhadas. A par das paisagens, entre muitos motivos de interesse, destacou-se a visita a um Lagar de Azeite tradicional e a um moinho de água em plena tarefa de moer o milho, assim se preservando ainda os saberes de outrora para os mostrar a todos nós, em autênticos museus vivos. Esta foi uma das boas novidades, mas outras nos apareceram e, desde logo, há a destacar a presença dos dois restaurantes locais que mais e melhor preservam e divulgam este prato de eleição, a Sopa Seca de Alcofra. Partilha e cooperação ali se evidenciaram. Não sabendo se é da água ou da sopa, o certo é que a cultura desta terra também está em alta e isso viu-se no palco com a animação do Grupo de Cavaquinhos da Casa do Povo, com o Grupo de Concertinas, ambos desta terra, e ainda com o Grupo Girafoles, de Viseu, à tarde, e o Grupo Típico Baile da Eira, de Cedrim, à noite. Corpo e alma saíram dali bem alimentados, até porque o artesanato, os produtos endógenos e os petiscos completaram as boas ofertas culturais ali presentes, como destacaram o Presidente da Junta de Freguesia, Celestino Vaz e da Câmara Municipal de Vouzela, Rui Ladeira, na cerimónia de abertura. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 19 Jul 18

Dos apontamentos à História de Lafões

Apontamentos que nos levam ao conhecimento de Lafões Das crianças enjeitadas aos novos cemitérios, passando pela justiça Cada uma de nossas terras tem escondidos muitos testemunhos e, alguns deles, vão surgindo por mero acaso. Quando aparecem, é mais uma luz que se acende no mundo do conhecimento. Sem falarmos, sequer, naquilo que a arqueologia nos faz chegar, é frequente toparmos com novos documentos e pistas que nos abrem horizontes até então meio obscuros. Há anos, tivemos o privilégio de recebermos a transcrição de um manuscrito que tinha sido encontrado pelo bom amigo e saudoso José Guilherme Cruz numa de suas casas, em Ventosa, referente ao século XIX. Pegando nesses importantes papéis, António Lopes da Costa, infelizmente também já desaparecido, dactilografou-os e assim chegou às nossas mãos essa gentil oferta, numa altura em que os três partilhávamos os bancos da Assembleia Municipal de Vouzela. Bons e recuados tempos foram esses! Agora, quando andamos às voltas com a nossa papelada, demos de caras com esta relíquia, estas folhas avulso. Filho sem pai e sem data de nascimento, a existência deste documento não nos diz tudo, mas deixa muita coisa no ar e viabiliza a entrada, por indução, em novos caminhos. A história é, muitas vezes, este exercício solitário da aventura da descoberta de hipóteses que podem ou não ser verdadeiras. Tentamos, no entanto, ir ao fundo daquilo que nos fazem despertar e tirar delas algo de útil para melhor sabermos de onde viemos e com que linhas foi cosido o tecido do nosso passado. Pisando os nossos montes, foi assim que Amorim Girão desvendou segredos sem fim a nosso respeito. Sem grande método, nesse material é feito um passeio por vários pormenores da vivência dos princípios do século XIX, que nos mostra, por exemplo, a dura realidade dos “enjeitados”, crianças colocadas na roda para serem recebidos por alguém, ficando à mercê de possíveis boas vontades. Esta foi uma prática muito usual em tempos que não estão assim muito longe de nós, talvez nem duzentos anos. Em Oliveira de Frades, a toponímia local atesta esta crua realidade e o seu Arquivo Municipal está cheio de situações dessa natureza. Aliás, o Arquivo Distrital de Viseu cita o “Guia de entradas dos expostos” dos anos de 1874 e 1875, deste concelho, nessa altura já com a designação de “hospícios”. Para melhor contextualizar esta matéria, acrescente-se que as “casas da roda” partiram de uma determinação de Pina Manique, de 10 de Maio de 1783, que as tentou espalhar por todo o país. Ainda com base em Oliveira de Frades, na reunião da Câmara de 26 de Março de 1900, foi analisada a cópia do auto de abandono duma criança do Olheirão, tendo este órgão municipal mandado baptizá-la, arranjando-lhe uma ama e respectivo pagamento, chegando a questionar-se mesmo um subsídio de lactação. Entretanto, diz-se nas folhas aqui citadas que “ No fim de sete anos de criação e, às vezes, mais tarde, são os enjeitados entregues a lavradores para os servirem, ou a mestres de ofícios para os ensinarem”. Entretanto, neste meio tempo entre esse passo e a anterior colocação na citada roda, cabia às Câmaras custear parte das despesas com o apoio a dar a estas crianças abandonadas, como vimos no parágrafo anterior, constatando-se, porém, que em muitos casos “havia bastante desleixo nas despesas “efectuadas. Num outro dos capítulos desta papelada, fala-se muito em coutos, num tom bastante depreciativo para estas instituições e, sobretudo. em matéria de aplicação da justiça, critica-se fortemente um dos inconvenientes aqui aflorados, porque “ se vê com evidência as delongas e estorvos que sofrerá nas suas execuções, sendo preciso fazer deprecadas, porque cada Juiz tem jurisdição ordinária”, o que quer dizer poderes muito próprios. E pergunta-se: “ Que tempo e que despesas farão as partes litigantes, vexadas com tantas demoras, não havendo mais que uma audiência por semana?”, adiantando-se mesmo que a “Justiça dos coutos é justiça dos compadres”. Não se pense, à luz dos tempos actuais, que fazemos maus juízos, mas o que aqui se relata, mais coisa, menos coisa, ainda hoje tem semelhanças que chegam a bradar aos ceús. Desta forma, quase podemos afirmar que, neste campo, há manchas que custam a sair. Aventa-se, nestas folhas, que o concelho de Lafões, extintos os tais coutos, pode formar dois julgados, cujas capitais serão Vouzela e S. Pedro do Sul, separados pelo Rio Vouga: na margem esquerda, Oliveira de Frades, Covelo, parte do Banho, Arcozelo e S. João do Monte, para Vouzela; à direita, Goja, Rio de Mel, parte do Banho, Trapa, Ribolhos, Mões, Sul, Reriz, Alva, Gafanhão, para S. Pedro do Sul. Uma outra grande parte deste trabalho é dedicado a um tema então em acesa discussão que era o dos enterramentos nas Igrejas e seus inconvenientes de ordem médica e higiénica, o que motivou a criação de cemitérios públicos por legislação de 21 de Setembro de 1835, no governo de Rodrigo da Fonseca. Pelo meio, esta determinação gerou intensa polémica a até uma revolta generalizada, a da Maria da Fonte, aspecto a que nos dedicaremos em próxima edição, porque estas folhas ainda têm pano para mais mangas. (Continua)... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 19 Jul18

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Peixes e animação em Campia...

Em Campia, de 6 a 8 de Julho Mostra de Peixe do Rio em oásis de verdura Em redor, ainda impera a cor negra numa vasta área a envolver o Parque Fluvial de Porto Várzea, em Campia, que ocupa as duas margens do Rio Alfusqueiro. Do incêndio devastador de Outubro, ficaram as marcas que teimam em apresentar-se por todo o lado. Lá no fundo, o verde das árvores e da relva e o azul do lençol de água, que uma represa põe à disposição dos amantes da natação e dos passeios em barcos, é jóia de uma enorme beleza. É este o espaço em que se desenrolou a Mostra Gastronómica do Peixe do Rio, em terceira edição, este ano de 6 a 8 de Julho. Se o peixe dá o mote, a cultura local tem aqui uma primazia, com destaque para a tarde de domingo em que actuaram os Ranchos Folclóricos de Fornelo do Monte e de Carvalhal de Vermilhas e o Grupo de Cantares da Associação “ Os Amigos de Levides”. Com o calor a ser bom companheiro, vieram da terra em festa e das redondezas centenas de pessoas, que aderiram com entusiasmo a esta programação. Na sexta-feira e no sábado, a temperatura e a meteorologia foram mais madrastas, com o aparecimento do nevoeiro e uma espécie de orvalho que deu ao chão molhado um quase ar de chuva. Mesmo assim, a Revista à Portuguesa, na sexta, e o grupo Hd Musik, no sábado não deixaram de ter os seus públicos especificos. Porém, se as condições atmosféricas tivessem sido outras, como nos confessaram o Presidente da Câmara Municipal, Rui Ladeira, e a Vereadora da Cultura, Carla Maia, talvez ali se tivesse sentido a presença de muito mais gente. Apesar de tudo e com a boa tarde de domingo, o balanço é bastante positivo, mesmo em termos de “negócio” para as instituições que ali se fizeram representar: os Escuteiros, o Grupo Desportivo, o Rancho Folclórico “ Recordações de Campia”, a Associação “ Os Castros” e o Grupo Carnavalesco. Com as trutas e outras espécies a fazerem as delícias de quem se sentou à mesa, bem regadas, as refeiçoes, em família, que ali se degustaram deixaram no ar o desejo de voltar em próximas edições. No relvado, ora se dormitava, ora se punha a conversa em dias em magotes de malta bem animada. No Rio, nadava-se e passeava-se de barco. As crianças, em grande animação, lançavam-se à água ou escapavam-se para os equipamentos infantis que para elas foram concebidos. “ Corvos do Alfusqueiro” assinalaram 18 anos de vida Aproveitando este evento da Mostra Gastronómica do Peixe do Rio, o Moto Clube Corvos do Alfusqueiro fez jus ao seu nome e, à beira do Rio, terminou o seu passeio por Lafões, ali convivendo em saboroso almoço de confraternização por mais uma comemoração do seu aniversário, o 18º. Cerca de 40 motards, vindos de Aveiro, Estarreja, Viseu e de outras localidades, com destaque, como é óbvio, para as gentes da casa e arredores, passaram pela Barragem de Ribeiradio, em Sejães, pela vizinha vila de Oliveira de Frades, pela Virgem Milagrosa, tendo a bênção das motas sido feita na Igreja Paroquial de Campia. Apagadas as velas, cantados “Os parabéns a você”, fizeram-se votos para que o Clube continue a ter sucesso e a seguir em frente. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 12jul18

Com tractores e vontade pessoal também se faz solidariedade...

Um passeio solidário Tractores rolam pelas serras em favor dos Bombeiros Pela terceira vez consecutiva e sempre com o objectivo de apoiar instituições da região de Lafões, a gerência das Bombas da BP, de Paços de Vilharigues, organizou mais um passeio de tractores, no passado domingo, dia 8, a que compareceram cerca de 40 participantes e mais do dobro no almoço de angariação de fundos, que se lhe seguiu. Nesta edição de 2018, foi a Associação dos Bombeiros Voluntários de Vouzela a entidade contemplada com cerca de 700 euros. Com um percurso mais inclinado para as estradas alcatroadas, que a habitual Serra da Penoita ainda mostra recordações tristes e negras em virtude dos incêndios de Outubro de 2017, tendo sido por isso evitada e também porque os caminhos estão bastante degradados, a opção deste ano foi, assim, mais meiga para as máquinas e seus condutores. O espírito continuou, no entanto, o mesmo. Os fins solidários desta iniciativa, que teve a apadrinhá-la o próprio Presidente da Câmara, Rui Ladeira, movem muitas boas vontades e isso nota-se nas vias por onde passam os tractores e, muito em especial, no almoço e convívio, actividade animada com jogos e sorteios com vista à obtenção de mais verbas. Pelo meio, este ano, junto ao Quartel dos Bombeiros, o Padre Ricardo procedeu à bênção das máquinas, instrumentos de trabalho, fazendo votos para que nunca nos tragam tristezas, como, infelizmente, tantas vezes tem acontecido. Por isso, ali se orou pelos vivos e por quem já nos deixou nas citadas circunstâncias. A caminho, em Ventosa, a homenagem prestada no Cemitério a um participante de todas as horas passadas marcou também, em emoção, este encontro. É de realçar-se o carácter filantrópico destes gestos que, pegando em peças da nossa vida agrícola e outras actividades, as colocam ao serviço destas causas sociais, a deste ano com um significado muito especial: o apoio aos Bombeiros em tempos de dolorosas memórias. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 12 jul 18

Ponto II: Oliveira de Frades com mais uma valência social

Uma nova valência social em Oliveira de Frades Nasceu o Campo de Formação Escutista e Juvenil Situado num local de onde se avista toda a vila de Oliveira de Frades e grande parte da Serra da Gralheira, o Campo de Formação Escutista e Juvenil José Rodrigues Pinto de Magalhães, nome de um dos principais doadores do terreno onde foi constuído, já começou a ter vida própria e uma certa autonomia. Ocupando uma área de cerca de quatro hectares, nasceu do sonho do Padre Manuel Fernandes, assistente do Grupo de Escuteiros local, e de sucesssivas ofertas de espaços florestais, a partir da primeira dádiva de Maria da Conceição. No passado sábado, dia 7, foi inaugurado e benzido pelo Bispo Dom Ilídio Leandro, em fase de despedida de suas funções. Esta obra contou com um sem número de boas e generosas vontades, quer na obtenção global de todo aquele vasto espaço, quer na sua vedação, construção dos primeiros equipamentos e infraestruturas, tais como água, luz, acessos, quer ainda no apoio logístico que tem vindo a ser conseguido para as várias actividades que por lá já se vão fazendo. Do sonho de outrora à obra de hoje, como acentuou Dom Ilídio, a realidade ali está viva e para o futuro. Momento alto na vida dos Escuteiros, os promotores desta iniciativa que contou, desde o primeiro dia com o empenho da Paróquia e da sua Comissão Fabriqueira, estrutura de onde saiu toda a logística e em todas as fases, desde as escrituras aos trabalhos vários, ali estiveram em peso. Associaram-se ainda o Presidente da Câmara, Paulo Ferreira, a Vereadora Clara Vieira, também com alma escutista, o Presidente da Junta de Freguesia, José Cerveira, o Grupo 1313 de Oliveira de Frades e outros das redondezas e da diocese, bem como o Grupo de Jovens que muito colaborou nas cerimónias religiosas. Significativa foi a presença dos ofertantes dos terrenos e dos colaboradores, tantos eles foram, em todo este projecto e grande empreendimento. A inauguração e a bênção A presidir a todas estas cerimónias esteve o Bispo Dom Ilídio Leandro, actual Administrador Apostólico da diocese, como que a despedir-se daquela sua gente e onde passou todo o dia, desde estes momentos ao Crisma e até à bênção do monumento dedicado a Nossa Senhora, já a tarde fugia, no Bairro do Olheirão. As boas vindas foram dadas pelo Padre Manuel Fernandes junto ao rochedo e placa que eternizam esta obra, referindo que tudo foi feito e erguido de baixo para cima, que deste lado para baixo nada veio, isto a nível nacional. A seu lado e à sua frente, se postavam todas aquelas pessoas que, grão a grão, tudo isto fizeram. Deu-lhe continuidade o Bispo, Dom Ilídio, para acrescentar que perante todos os nomes citados não se pode esquecer o do Padre Manuel Fernandes e de todo o entusiasmo que pôs ao serviço desta causa desde a primeira hora. Para o Presidente Paulo Ferreira, o concelho ficou muito mais rico com esta infraestrutura, que se fica a dever aos muitos contributos de tanta gente. Finalizou o Chefe Jacinto, para realçar que, de agora em diante, se pode realizar melhor o desenvolvimento integral de todos os escuteiros do concelho e de muitos outros locais, que esta é uma obra de portas abertas. No pavilhão já instalado naquele local se celebrou a Missa Solene, em que os Escuteiros se dedicaram de corpo e alma tendo construído mesmo com as suas técnicas próprias, madeiras e cordas, o altar-mor. Para alimentar o corpo, seguiu-se um grande almoço e convívio, para festejar quanto se conseguiu até este momento. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, 12jul18

sábado, 7 de julho de 2018

Momentos altos hoje em Oliveira de Frades

Em maré de despedida de seu cargo apostólico, infelizmente, por razões de saúde, o Bispo de Viseu, Dom Ilídio Leandro, passou hoje, sábado, dia 7 de Julho, todo o seu tempo na vila e concelho de Oliveira de Frades, tendo começado, pela manhã, com a inauguração do Campo Escutista e Juvenil da Paróquia local, prosseguindo com o Crisma de mais de uma centena de rapazes e raparigas, para terminar, já ao cair da tarde, início de noite, com a bênção do Monumento em homenagem a Nossa Senhora de Fátima, no Bairro do Olheirão, desta vila, construído e inaugurado há uns meses pelo Presidente da CM, Paulo Ferreira. Esta foi uma jornada de emoções duplas: por um lado, o adeus a Dom Ilídio, enquanto Bispo desta nossa diocese, tem um sabor muito amargo, por outro, a razão da sua vinda mostra a vitalidade desta terra e suas gentes. Finalmente, resta-nos a consolação de sabermos que o nosso Bispo vai continuar a sua missão noutros campos de missão. E esta é mais uma boa notícia... Sem dúvida....

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Bombeiros de Oliveira de Frades recordam S. Marçal e o seu 2º CMDT....

Bombeiros de Oliveira de Frades em festa e homenagens José Santos recebeu o crachá de ouro pelos seus 47 anos de actividade O mês de Julho iniciou-se em Oliveira de Frades com a festa de S. Marçal, padroeiro dos Bombeiros, pelo que foi a Associação local a promover, uma vez mais, este evento. Este ano contou com várias mudanças, como a da localização provisória do quartel na Escola Comendador Manuel Fernandes Gomes e o almoço-convívio em local descentralizado: Chão do Vintém, Arcozelo das Maias. Um outro dado a reter é que as cerimónias começaram em Junho, dia 30, com a procissão a levar S. Marçal da sua sede para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, tendo regressado às origens já em Julho, dia 1. Nesta mesma data, se procedeu a uma sentida homenagem aos bombeiros e seus familiares já falecidos em romagem ao Cemitério. A missa, a seguir, foi outro destes momentos altos com a corporação e as entidades oficais a marcarem presença, assim como a Fanfarra de Oliveira do Hospital que muito animou o desfile e a procissão de domingo. A sessão solene também foi objecto de alterações em relação aos anos anteriores, na medida em que se realizou em pleno almoço e já em Arcozelo das Maias. Em todo este programa, se viram o Presidente da Câmara, Paulo Ferreira, os vereadores Carlos Pereira e Clara Vieira, a representante da Assembleia Municipal, Sónia Nogueira, vários presidentes de Junta de Freguesia, bem como o 2º comandante do CODIS, Humberto Sarmento, o Vice-Presidente da Liga, Comandante Requeijo e o Presidente da Federação Distrital, José Amaro, estando ainda na mesa de honra os órgãos sociais da Associação em festa, incluindo o presidente do Conselho Fiscal, Luís Gouveia. Neste acto oficial, intervieram o Comandante Fernando Farreca, o presidente da AG, Carlos Rodrigues, o presidente da Direcção, Armando Bento, os responsáveis nacionais e distritais, encerrando o Presidente da CM, Paulo Ferreira. Entre as várias promoções e distinções conferidas, sem dúvida que o apogeu se sentiu quando foi chamado, pelo representante da Liga, o 2º Comandante José Santos para receber daquela instituição a mais alta condecoração, o crachá de ouro. A sua folha de serviço, com 47 anos de dedicação a esta causa, atesta a justiça desta homenagem. Foram para ele, por isto, as mais sonoras e sentidas palmas naquela tarde em que S. Marçal esteve sempre presente. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Julho, 2018

Reis e rainhas em Lafões

Monarcas em Lafões a começar por D. Afonso Henriques A história desta nossa região é rica em visitas, estadias e tomadas de posição por parte de muitos dos nossos reis e rainhas ao longo dos séculos. Território a motivar bons interesses, a dar vultos de relevo para a construção da nossa sociedade, recebia por um lado, dava pelo outro: aqui vinham os responsáveis pela monarquia, a esta fornecíamos gente de peso. Sem irmos mais atrás, muito embora haja referências a fazer ao Conde D. Henrique e sua mulher, a rainha D. Teresa, desde logo, a Lafões se dirige o nosso primeiro Rei, D. Afonso Henriques, não uma, mas várias vezes. Estão documentados vários contactos, um deles em 1152, quando concede ao Banho o seu primeiro foral. Antes, porém, declara o Cónego José Simões Pedro ( in “ A Trapa – Monografia histórica da antiga povoação e couto real do Mosteiro de S. Cristóvão de Lafões, 1990”) que o citado Conde D. Henrique estivera nestas nossas terras em contacto com João Cirita, tido como um dos fundadores do Mosteiro em causa, ele que “recuperara a velha ermidinha já quase em ruínas” (p. 18). Em jeito de conclusão, refere mesmo que o próprio D. Afonso Henriques também por ali passara, mas não deixa grande margem de manobra documental. É de notar-se que, ao conceder ao Mosteiro de S. Cristóvão os Coutos da Trapa (1161), Valadares e Paçô, não se deve estranhar, assim, que por estes sítios tenha andado ainda antes das suas estadias no Banho. Sem grandes dúvidas, tal como assegura António Nazaré de Oliveira, sabe-se que nas Caldas do Banho esteve, em 1152, o rei D. Afonso Henriques, aliás, por alturas da concessão do respectivo Foral, como já dissemos. Estando muito ligado a Coimbra, a então capital do Reino, nem eram muito complicadas as vindas a estes territórios. Há ainda um outro dado a reter: a presença no seu círculo e cúria de fidalgos lafonenses como o pai do S. Frei Gil, alcaide daquela cidade, entre outras individualidades, nomeadamente D. João Peculiar (também muito ligado à fundação do nosso Mosteiro), arcebispo de Braga e uma das traves mestras da suas ligações internacionais. Se esta foi uma viagem anotada nos anais da história, mais famosa ficou, porém, a que fez (e aqui permaneceu por uns meses) no ano de 1169, após o desastre de Badajoz. De Setembro a Novembro desse ano, em Lafões lavrou importantes documentos, entre os quais se destacam: - Escritura de doação de terras em Fafe. - Carta de entrega de bens à Ordem do Templo. - Doação feita à Sé de Zamora. - Carta de Couto passada à Sé de Coimbra de metade da vila de Midões. - Uma outra carta de confirmação da doação do Couto de Oliveira de Frades a Santa Cruz de Coimbra. Adianta António Nazaré de Oliveira que com o Rei, em 1169, também estiveram nesta nossa região os seus filhos D. Sancho, seu herdeiro da coroa, e D. Teresa. Ao assinarem a tal carta, assinala-se ainda a presença nesse acto de Sancho Nunes, Governador de Lafões, do Alcaide Cerveira, fundador da Albergaria de Reigoso em 1195, de Suarez Fernandes, Juíz de Lafões, e de Mendo Pedro, arcediago e presbítero de S. Pedro do Sul. Além desta aludida presença de D. Sancho, enquanto filho do nosso primeiro Rei, tendo em conta que o testamento deste segundo monarca se encontra na Sé de Viseu, de acordo com Alexandre Herculano, na sua “História de Portugal, IV, Livro III, 1185-1211, Ulmeiro, Lisboa, 1983”, não é de se pôr de lado suas novas e possíveis vindas as estes sítios lafonenses, sobretudo depois da saga vivida a sul, no Alentejo e no Algarve. Está escrito que, em 1198, andaria por Trás-os-Montes, o que não invalida, antes consolida, estas nossas suposições. A nossa boa fonte, com uma poderosa marca de S. Pedro do Sul, aponta também a permanência por alguns tempos e talvez várias vezes, dos reis D. Dinis (ver Carta da Feira de Vouzela, 1307), de D. João I, de D. Duarte (Foral de Lafões, de 1436), de D. Pedro, do Infante D. Henrique e de D. Manuel I (Forais novos do Banho e de Lafões), sem esquecer, já em finais do século XIX, 1894 e 1895, a Rainha D. Amélia e seus filhos, D. Luís Filipe e D. Manuel, o nosso último Rei. Numa mais detalhada pesquisa, sobretudo pelos diversos itinerários reais, estamos certos que muito mais informação se poderá colher. Ficam, para já, estes breves apontamentos como aperitivo para outros estudos mais aprofundados. NOTA – Neste campo, tal como publicámos há tempos, não deve esquecer-se que em Moçâmedes e Bordonhos viveu o Rei Ramiro, de Viseu e de Leão, muito antes da nossa própria nacionalidade... Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Julho, 2018

Boa onda em energia geotérmica nas Termas de S. Pedro do Sul

Energia geotérmica com grande potencial em S. Pedro do Sul A água quente das Termas de S. Pedro do Sul encerra muito mais potencialidades que aquelas que, desde há milénios, delas têm vindo a ser tiradas. Sendo a saúde um de seus pratos fortes, a que se associam o lazer, o turismo e, mais recentemente, o aproveitamento comercial da Linha Aqva, o calor que sai das entranhas da terra pode ter – e isso já se iniciou – outros bons fins. A energia geotérmica é a valência que se segue. No dia 29, feriado municipal, em ambiente de festas da cidade, o Secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches, e o seu Director-Geral, Mário Guedes, vieram apresentar um novo programa, o FAI – Fundo de Apoio à Inovação – no âmbito específico da “Apresentação de medidas de incentivo financeiro que promovam projectos de geotermia”, com uma dotação de 2.1 milhões de euros, quase que a dizer-nos que este é fato à medida desta terra.. Entre os muitos aspectos referidos, nomeadamente a ideia essencial de que S. Pedro do Sul tem condições de eleição para o arranque deste e doutros tipos de projectos, destaca-se o lançamento de uma brochura “ Geotermia – Energia renovável em Portugal”, da Direcção Geral de Energia e Geologia, que é um bom repositório científico desta riqueza natural. Por ser um instumento de grande importância para esta nossa zona, que possui, neste capítulo, o seu epicentro nas Termas, dele colhemos alguns tópicos que aqui tentaremos reproduzir e elencar. Em primeiro lugar, dá-se, em termos de potencialidades territoriais, a coincidência de nos situarmos numa das falhas, a que liga Penacova a Verin, passando por esta zona e pela Régua, o que permite fazer toda a diferença entre as onze que se localizam em espaço português, viabilizando 61 ocorrências geotérmicas de várias ordens de grandeza. Neste campo, o norte e o centro capitalizam a maioria desses pontos. Destas, 45 são classificadas como águas minerais naturais e apenas sete, onde se incluem as nossas Termas, abrangem uma dupla valência, a da citada água, a que se acrescenta o destaque que motiva estas linhas - o do seu uso como recurso geotérmico, o que implica o termalismo e a geotermia. Dividindo-se, de acordo com a temperaturas obtidas, este panorama em muito baixa e baixa entalpia, a primeira a situar-se entre os 20 e os 29º e a segunda no intervalo compreendido entre 30 e 73º, sendo que as Termas andam à volta dos 69º(68.7º, mais concretamente) e já com princípios do uso desta força de energia geotérmica, em balneários e e alguns projectos de climatização, incluindo da indústria hoteleira, o que se pretende é alargar a área destas fontes de calor a outros patamares. Com uma ampla “sustentabilidade ambiental e social”, como foi bem acentuado na cerimónia de apresentação das medidas que estão na calha para sair, o concelho de S. Pedro do Sul foi escolhido para este lançamento em virtude de duas variáveis, uma de cariz pessoal, a da persuasão e persistência que o Presidente da Câmara, Víctor Figueiredo, tem posto em cima da mesa, outra de feição natural, que se prende com o facto de as Termas serem mesmo um caso muito especial a merecer todo o apoio que lhe possa vir a ser oferecido. Com a fasquia colocada bem alto, agora é preciso que se passe da palavra à acção: se a geotermia é a viola que se põe na mão do tocador, que os dedos não faltem, nem ela avarie. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, Julho, 2018

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Nódoas negras de ontem e de hoje

Nódoas negras, em pano branco, por Lafões Numa região que tem tudo para se ser feliz, assim saibamos compreender o mundo e a sua marcha, Lafões ainda não é uma entidade perfeita. Mas para lá pode (continuar a) caminhar, se não se esquecerem de nós. A natureza, com um trabalho de casa muito bem feito, espalhou a sua arte por tudo quanto é sítio: fez serras, amainou os vales, sulcou estes com rios, regatos e ribeiros que nos encantam, dotou-nos de águas quentes e frias, deu-nos pedras e rochas que fazem erguer sonhos de arte e conforto, deixou crescer as árvores e a urze, o tojo e as flores. Acrescentou-lhe um mar por perto e um clima bem agradável. Vieram os homens, andaram pelos altos, esconderam-se entre penedos, construíram abrigos, aproveitaram esses cursos de água, colheram das courelas parte do seu sustento, caçaram, pescaram, até que, um dia, cansados dessa azáfama em locais de tanta tormenta, canseira e poucos proveitos, aproveitaram a deixa para descer às zonas baixas e aí fazer vida. Nasceram desta opção as nossas aldeias, vilas e a cidade de hoje. São fruto dessa civilização romana, que se sucedeu aos castros de outrora, um outro tempo ainda mais recuado, os vestígios de estradas, os marcos miliários, as pontes, a língua, talvez o vinho e muitas culturas que nos sustentam e perduraram até à actualidade. Com essa localização sólida, mostraram que era possível ter a imponente Roma e todos os outros lugarejos, por mais distantes e dispersos que estivessem. Pensando num Império e em cada uma de suas peças, tiveram então um cuidado extremo: fazer com que todo os caminhos chegassem à Capital, numa teia com marca própria e muita utilidade. Sonharam com grandes e médios centros, edificando-os, mas não esqueceram outras traves mestras de seu esquema de povoamento global. Os nossos reis dos primeiros tempos da dinastia afonsina seguiram essa mesma bíblia. E assim se construiu uma nação que ia do norte ao sul, do leste a oeste, mais ou menos com os pontinhos todos preenchidos. O litoral e o interior completavam-se, o rei tinha por hábito andar de terra em terra e esse exercício de itinerância, se era pesado em termos de custo de estadia, tornava-se compensatório por se saber que daí resultaria um certo equilíbrio territorial. Essa gente, que nos antecedeu e teve visão de estadista, deve merecer-nos todo o respeito e até inveja: a ela se deve o País que somos, melhor, que fomos. Chaves, Viseu, Egitânia, Coimbra, Lisboa, Aveiro, Braga, Bragança, Castelo Branco, Beja, Barrancos, Oliveira de Frades, Vouzela, S. Pedro do Sul, Portimão, etc, etc, tiveram nome e importância, foram locais de fixação e atracção de gentes, geraram personalidades que se passeavam pela Corte e conviviam com quem mandava. As vias de comunicação eram mais ou menos equilibradas, as valências políticas e sociais, à escala da altura, apresentavam-se com uma certa dose de bom senso. Hoje, num tempo em que tudo se mede pela velocidade da luz, em que a riqueza cresceu, mas está muito mal distribuída, somos muito mais desiguais: vemos perderem-se serviços, taxam-nos aquilo que poderia ser uma diferença positiva, deixam que as grandes metrópoles se atafulhem, enquanto por aqui se definha. Neste reino em que tudo poderia – e deveria – ser muito mais branco, transparente e ao alcance de todos, equitativamente, persistem nódoas cada vez mais negras e a do desencanto é a maior de todas. Não sabemos o que aí vem, em concreto, em sede de reorganização administrativa, mas tememos que a visão de Roma se deixe vencer pela estreiteza de vista de quem, no Terreiro do Paço, só sabe olhar para o Tejo, esquecendo os Vougas que há por todo este querido Portugal. Gostando imenso desse Rio, de onde partimos para sermos maiores num mundo que ajudámos a globalizar-se, não podemos esquecer, no entanto, que Pedro Álvares Cabral era de Belmonte e que as naus e caravelas foram erguidas com a madeira de uma nação inteira. Esta é a missão de quem nos governa: saber que somos um todo, bem espalhado por tudo quanto é sítio, e não um monte de gente num beco, mesmo que se chame Lisboa. Carlos Rodrigues, há anos, no “Notícias de Vouzela”

terça-feira, 26 de junho de 2018

Futebol e sardinha

Com a sardinha a viver em maré de festa, a nossa Selecção de Futebol, aos estremeções, lá se vai aguentando e já passou aos Oitavos. Agora, é andar em frente, jogo a jogo. As contas fazem-se no fim. E eu tenho uma espécie de meia fé. E com ela vou vivendo...

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Mais dados sobre a saúde em S. Pedro do Sul, século XIX...

De novo, a saúde em S. Pedro do Sul O tema da saúde nunca se esgota em matéria de análises e reflexões diversas, nem nos tempos idos, nem na actualidade. Dissemo-lo já que, durante milénios e mesmo nos tempos que mediaram entre a fundação de Portugal e o século XX, esta viveu uma marcha muito lenta quanto a tratamentos, meios e pessoal ao seu serviço. A ciência, enquanto tal, tardou a chegar a este sector e, quando apareceu, fê-lo timidamente e com muitas falhas, mas também não se podia exigir mais. Muito fizeram os pioneiros que agarraram no seu manancial de ensinamentos e progressos para os porem ao benefício das populações. Fazendo o que podiam, muito se lhes fica a dever. Quanto ao que a S. Pedro do Sul diz respeito, acrescentando, sobretudo, aos textos que para este jornal elaborámos mais alguns tópicos, temos vindo sempre a aprender. Com Manuel Barros Mouro fizemos uma marcha pela oferta e peripécias diversas ligadas ao velho Hospital de Nossa Senhora do Amparo; com António Nazaré de Oliveira vimos como evoluiu o Hospital Real das Caldas da Lafões e, já muito antes, com António Pires da Silva, andámos às voltas com a Cronologia Medicinal das Caldas de Alafoens, em linguagem, concretamente, do ano de 1696. Com estas fontes, escrevemos, em Dezembro de 2011, “ Um hospital que nasceu da oferta de António José de Almeida” e, por estes dias, a 7 de Junho de 2018, avançámos com “ A saúde em Lafões desde há séculos”, para além de, em trabalhos sobre as Termas e a Misericórdia de Santo António, ter havido notas várias sobre este mesmo ponto da nova vida social e assistencial. Hoje, porém, com base na sempre utilísima revista Beira Alta, vamos debruçar-nos especificamente sobre “ A influência da cultura positiva na arquitectura hospitalar: o Hospital de Nossa Senhora do Amparo de S. Pedro do Sul”, da autoria de Vera Magalhães, (Beira Alta, volume LXXIV, 2015, 1º semestre). Ao realçar que se começou a fazer uso dos “postulados higieno-sanitários e biomédicos e dos princípios da funcionalidade, racionalidade e classificação do doença”, onde começou a imperar a ciência, adianta que os planos e construções hospital vieram a reflectir essas novas exigências e normas. Vera Magalhães fala até em conceber estas instalações, a criar, como “máquinas de curar” ou “cabanas do higienista”. Aponta o médico António Augusto da Costa Simões como o grande obreiro destes recentes paradigmas que o engenheiro e militar Francisco de Figueiredo e Silva tentou aplicar à risca no projecto que concebeu para S. Pedro do Sul. Pegando-se na oferta de António José de Almeida (não confundir com o grande vulto da primeira República com o mesmo nome), antes, diversos locais foram estudados, tarefa de que se encarregaram, nos anos de 1882 e 1883, Manuel Lourenço Torres e Aureliano Pinto, por parte do Município. Vê-se assim que esta causa já era uma preocupação da Misericórdia e entidades locais. Analisadas as propostas da Cruzada, de Ansiães, da Negrosa, de dois locais distintos em Negrelos e na Quinta de Beirós e ainda da Cancela, o opção foi a de se privilegiar sítios fora dos aglomerados populacionais, para evitar possíveis e eventuais contaminações. Apesar dos estudos então feitos, em Abril de 1884, de acordo com esta nossa fonte, ainda não havia qualquer decisão tomada. Face a esse impasse, a Mesa da Misericórdia começou a pensar no Monte de S. Bernardo, mas também esse local não foi avante, incluindo-se ainda outras opiniões como aquelas que o jornal “ A Liberdade”, alguns tempos depois, em 6 Outubro de 1893, faria referências. Vieram também ao de cima a Quinta de Além da Fonte, nas Carvalhas, uns terrenos em Pouves,, mas tudo a ficar como que em águas de bacalhau, pois que, em Abril de 1887, nada surgira de concreto. Dois anos após, em 1889, olha-se então para o testamento de António José de Almeida, que falecera a três de Abril desse ano. Nesse documento se alude à “fundação e manutenção de um Hospital destinado ao tratamento de doentes, que terá a designação de Nossa Senhora do Amparo. Alega-se que este benemérito nascera em Nespereira Alta, que partira para o Brasil onde chegou em 1837, e que deveria exercer o ofício de barbeiro, o que contraria, ou completa, a nossa anterior informação de que seria médico dentista. Fica a correcção ou mais uma adenda para se aprofundar melhor este caso. Também Vera Magalhães nos diz que a opção para a construção do novo hospital recaiu sobre o Quinta da Negrosa de Cima. Com as obras a iniciarem-se em 1890, sob projecto do citado engenheiro Francisco de Oliveira e Silva, a empreitada foi entregue a José Pereira, de Santiago de Cassurrães, Mangualde, sendo Provedor da Irmandade José de Almeida Reis de Vasconcelos. Os trabalhos viriam a ficar concluídos em Fevereiro de 1898. Em conclusão, acrescenta esta autora que “ Pelo que atrás se expande, o edifício de S. Pedro do Sul integrava a moderna geração de hospitais tardo-oitocentistas, partilhando com estes características absolutamente fracturantes quanto ao modo de planificar e de administrar” (p. 97). Comparando os textos anteriores com este, constata-se que há neste uma série de novas informações e até alguns aspectos que podem colidir com algo que naqueles fora dito. É assim o mundo da investigação: nunca se pode dar nada por completo, nem por definitivo. Tanto melhor, porque da discussão nascerá a luz e é isso que pretendemos, acima de tudo. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 21 Junho 2018

Uma deputada e presidente da JSD com origens em Lafões...

MARGARIDA BALSEIRO LOPES Uma voz na Parlamento com marca lafonense A Presidente da JSD sem papas na língua Margarida Balseiro Lopes, a nova Presidente da Juventude Social Democrata (JSD) e Deputada do PSD pelo seu círculo eleitoral desde 2015 , transporta na sua carga genética uma forte e total componente da nossa região de Lafões, apesar de ser natural da Marinha Grande, Leiria, e de aí se ter afirmado no mundo da juventude e da política. Sendo seu Pai natural de Sejães e sua Mãe do Covelo, Valadares, as águas do Vouga são a corrente que lhe deu o ser. Criada num meio onde o campo do debate das ideias tem um palco privilegiado, a que acresce o facto de, pelo lado paterno, se respirar em sua casa um ambiente de jornalismo regional, Margarida Balseiro Lopes fez desses trunfos a sua escada para a vida que tem vindo a seguir. Defensora das suas ideias, por elas se bate com denodo e perseverança. Sem pestanejar, tem avançado pelo trilho das suas convicções, mesmo em terra onde tal não parecia ser muito fácil. Nada disso lhe tem metido medo. Passo a passo, tem dito sempre presente quanto às causas em que se empenha. Líder juvenil, entende que a sua voz não se pode ficar apenas pelos temas que a esse grupo etário dizem respeito. A seu jeito, quer mesmo marcar a agenda do seu partido e não teme, se for o caso (e tal já chegou a acontecer), remar contra a maré. Em termos de uma entrevista rápida, que logo colheu a sua boa vontade em connosco colaborar, assim se expressou ao “Notícias de Lafões”: - O que representa para si ter-se "metido" nestas andanças de dirigir a JSD? Como é que chegou à conclusão de liderar um grupo partidário de jovens, sendo, ao mesmo tempo Deputada, e com que objectivos? Sempre falámos muito sobre política em casa. Envolvi-me na associação de estudantes da escola secundária e foi aumentando o meu gosto pela atividade política. A oportunidade de liderar um grupo de jovens permite-me falar de temas que realmente importam à juventude e promover propostas que melhorem a vida das pessoas. - O que é ser jovem, mulher, militante partidária e representante do povo (gosto de ver os Deputados nestes prismas de ideias) em pleno século XXI? Há ainda algum paternalismo mas que é ultrapassado pela forma como desempenhamos os nossos mandatos. - Que desafios encontra em tão altas e nobres funções? A necessidade de falar de temas que importam realmente às pessoas, a urgência de utilizar uma nova linguagem que seja compreendida por quem nos ouve e uma nova forma de estar na política. - Tendo lido que vê a política no seu sentido nobre, valorizando as diferenças e os pontos de contacto e/ou convergências, sente que essa sua visão pode fazer caminho? Para mim é esse o caminho. Para credibilizar a atividade política e para fazer com que as pessoas voltem a acreditar que a política tem mesmo a capacidade de mudar e melhorar a vida dos outros. - Que objectivos tem como metas políticas da JSD e de si como pessoa? Continuar a ser a mesma Margarida que sempre fui. Independentemente daquilo que fizer ou dos cargos que desempenhar. - Como é que olha para a nossa política nacional? Precisa de se reinventar. Os poucos maus exemplos acabam por prejudicar os muitos bons exemplos que existem. - A terminar, como é que uma conterrânea nossa, com o Pai de Sejães e a Mãe do Covelo, vê o "Interior" e o seu futuro? Com grande preocupação pela falta de respostas para os problemas que o interior atravessa. São necessárias medidas de discriminação positiva que permitam fixar quem nasce a ficar nas suas terras e a atrair mais pessoas e sobretudo jovens para aí viver. Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Lafões”, 21 Junho 2018

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Um almoço com um sabor especial

Hoje, o meu almoço tem mais encanto. Fruto dos fusos horários, o jogo entre Portugal e Marrocos disputar-se-á às nossas treze horas, pelo que os olhos estarão mais na televisão que propriamente no prato. Tenho cá uma fezada que até me vou esquecer de comer para festejar os golos que se desejam. É isso que espero e não me importo de, se for necessário, ficar com alguma fome desde que, em alegria desportiva, seja devidamente compensado. Confiante na vitória, não penso sequer noutro resultado. Assim seja!.....

terça-feira, 19 de junho de 2018

Festas do Corpo de Deus em Oliveira de Frades e Vouzela com muitos pontos de interesse

Em Vouzela e Oliveira de Frades Festa do Corpo de Deus com a fé e o carinho de sempre Retomada a tradição de o Dia do Corpo de Deus se comemorar na sua altura própria, à quinta-feira, por voltar, finalmente, a ser feriado nacional – e não compreendemos a razão da sua extinção -, as vilas de Vouzela e Oliveira de Frades encheram-se de fiéis para viverem ou presenciarem as costumadas cerimónias, com destaque, num lado e noutro, para as respectivas procissões. Importa ainda que se diga que em cada paróquia também esta data foi devidamente assinalada, sob a designação da Festa do Senhor. À escala local, este dia tem mais brilho e encanto em cada uma de nossas terras, pelo que a sua importância é sempre de relevar-se. Acontece ainda que os horários, em regra, são organizados para, de tarde, se não faltar à concentração concelhia, num e noutro destes municípios. É de tal forma grandiosa a participação popular que as duas vilas se enchem de gente, faça chuva ou o sol apareça radiante. Neste ano, por exemplo, o tempo não esteve muito de feição e chegou mesmo a temer-se que as Procissões não pudessem sair para a rua. Felizmente que houve umas boas abertas (ainda que com alguns pingos à mistura), o que permitiu fazer sobressair o brilho e a fé de sempre. Antes desses momentos de grande beleza e devoção, atapetaram-se as ruas de pétalas de lindas flores, em arranjos artísticos que, em Vouzela, cobrem as principais ruas, sendo mesmo um alto cartaz turístico a par da componente religiosa que encerra. Desta feita, encaixou-se ainda nas manifestações florais. Em Oliveira de Frades, há pontos centrais com o mesmo tratamento: em frente aos Paços do Concelho, tarefa que cabe, em longa noite, aos funcionários municipais, havendo ainda uma outra forte ornamentação no espaço em frente à Igreja de Nossa Senhora da Conceição e aquém e além. Este ano de 2018, na vila de S. Frei Gil, em virtude das obras da requalificação urbana, foi necessário alterar um pouco o percurso tradicional, mas este facto não tirou uma vírgula sequer à impressionante arte que por ali se vê a cada passo, fruto de uma estreita cooperação entre todos os habitantes de cada rua ou largo. Numa e outra desta terras, sentiu-se a presença das respectivas comunidades, com as cruzes concelhias, as entidades municipais, as associações, as forças vivas concelhias, o som das bandas filarmónicas, o desfilar aprumado dos Bombeiros e uma excelente movimentação popular. Se Vouzela capta as atenções pelo colorido das suas ruas, Oliveira de Frades tem a particularidade de a procissão ir até aos Paços do Concelho, onde há sempre um sermão oferecido, a partir das janelas do Salão Nobre, a todo o povo presente. Festa religiosa de um grande alcance, o Corpo de Deus é mesmo um dia muito especial, até porque se lhe associam, por vezes, as primeiras comunhões e outras cerimónias que muito engrandecem esta efeméride anual. Que assim se continue e seguir as tradições que tantos séculos de história têm atrás de si! Carlos Rodrigues, in “Notícias de Vouzela”, Junho 2018