domingo, 28 de janeiro de 2018

O homem, o oliveirense, o médico, o cirurgião, o cidadão de alma grande

Tratamento de doentes com elefantíase Cirurgião de Oliveira de Frades leva o seu saber à Guiné-Bissau Nascido em Cajadães, Oliveira de Frades, o Dr. Celso DANIEL Rocha CRUZEIRO, é um conceituado médico que, durante toda a sua vida profissional, se tem dedicado à sua especialidade de Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética, sobretudo no tratamento de doentes queimados e outros pacientes com lesões da sua área de trabalho. Licenciado pela Universidade de Coimbra, é nesta cidade, em especial, que desempenha as suas funções e actividades sociais. De momento, deixou o conforto citadino e partiu para a Guiné-Bissau, em missão de solidariedade e cooperação pessoal e institucional, onde estará durante quinze dias, para já. Num país lusófono com imensas dificuldades de toda a ordem, o seu espírito de ajuda e a boa vontade tudo vencem. Foram esses os valores que ali levaram o Dr. Daniel Cruzeiro, para além da sua comprovada e reconhecida experiência em lidar com estas e outras doenças. Além disso, o seu contributo a causas sociais em Portugal, deram a outra parte do empurrão necessário, porque, disse, “... sempre me dediquei a algumas acções de solidariedade, nomeadamente em auxílio às vítimas de queimaduras, sendo fundador e actual presidente da Associação Amigos de Queimados, uma IPSS (de nível nacional) “. Desta vez, quis ir mais longe para levar os seus conhecimentos e a sua dádiva a quem precisa. Explicou-nos que escolheu a Guiné, uma vez que “ em Coimbra existe um ex-Professor da Faculdade de Medicina, Norberto Canha, que prestou serviço militar naquele território e que se tem ocupado do tratamento da fílaríose, uma doença das regiões tropicais, com muita incidência naquele país, a que se chama localmente Catimbó”, partindo dessa influência o seu gosto em ser útil às populações afectadas. Também conhecida por elefantíase, provoca nos doentes alterações profundas nos membros inferiores, que carecem de enormes e grandes cuidados médicos e de cirurgia. Só que, numa terra onde falta tudo e onde “ o ambiente é de extrema necessidade – acrescentou – fazendo com que os doentes para serem operados tenham que levar para o Hospital inclusivamente o soro, as agulhas, os fios e outros materiais”, grande parte da população afectada por esta doença pôe de lado o seu tratamento, com todos os inconvenientes daí decorrentes. Felizmente para quem teve a sorte de ser escolhido por esta Missão, tal problema se não coloca, já que “ oferecemos tudo, desde o transporte à alimentação, passando pelo pagamento aos profissionais locais que nos ajudam”. Como foi ali parar o Dr. Daniel Cruzeiro, para além do exemplo colhido no seio da comunidade médica em que se integra? É que uma parceria permitiu que pudesse realizar este sonho, ao juntarem-se “ algumas associações e instituições, tais como a Água Triangular, a União Fraternelle de Portugal (AUFP), a que se juntou o patrocínio do Governo da Guiné e do Hospital Simão Mendes”. Desta forma, para ali partiram dois cirurgiões, contando, localmente, com mais quatro médicos, a quem “pretendemos ensinar estas práticas, preparando-os para que possam continuar este nosso trabalho”. Com fortes impactos no bem-estar e na recuperação de dezenas de pessoas, aparece ainda esta vertente da formação que promete ser boa semente em solo tão carenciado. De qualquer modo, se a Missão se prolonga por 15 dias, não está posta de parte a necessidade de ali voltar para observação dos doentes agora operados e para dar continuidade a uma cooperação consolidada. À partida, tinham como objectivo realizar 24 cirurgias. Felizmente que este patamar foi largamente ultrapassado, com grande espírito de sacrfício e total dedicação à nobre causa que ali os levou. Como paga, “ basta-nos sentir a enorme gratidão vinda de quem operámos e tratámos”, expressa nos rasgados sorrisos com que recebem quem tudo fez para lhes dar, de novo, a alegria de viver. É grande alma do Dr. Celso Cruzeiro e de quem o acompanha nesta Missão e é vastíssimo o seu curriclum, de que extraímos apenas dois ou três aspectos, a saber: Especialista de Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética, ex-Director de Serviço de Cirurgia Plástica e da Unidade de Queimados dos HUC, fundador e ex-Presidente da Sociedade Portuguesa de Queimados e de Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética, Co-Director da Clínica Sanfil, presidente, como vimos, da Associação Amigos dos Queimados. E muito mais haveria a dizer. Por fim, adiantamos que é com muito orgulho e uma pontinha de vaidade que vemos sair deste concelho de Oliveira de Frades gente desta envergadura e com um coração do tamanho do mundo. É assim o Dr. Daniel Cruzeiro. Carlos Rodrigues, in “ Notícias de Vouzela”, 25 Jan18

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Património e obras de arte em Lafões

Um solar que nasce da afronta da passagem de uma estrada - De Santa Cruz da Trapa para Serrazes Aquilo que é visto pelas populações como uma boa aquisição para a sua mobilidade e o seu bem-estar, como seja a construção de uma estrada, pode também levar a profundos desgostos a duras contestações, provocando mesmo o desânimo em algumas pessoas. Assim aconteceu com o Solar dos Malafaias, ou da Gralheira, em Santa Cruz da Trapa, que foi construído na segunda metade do século XVIII, falando-se até na interferência, como projectista, de Nicolau Nasoni ( havendo muitas dúvidas sobre esse facto), que veio a ser abandonado pelo seu último proprietário, Joaquim Telles de Malafaia Freyre de Almeida Mascarenhas. Como razão para essa decisão, apontou a passagem da estrada de ligação entre S. Pedro do Sul e o Porto. Destruído o seu sossego e devassada a sua privacidade (veja-se que ele se localiza algo distante do aglomerado populacional e da própria Igreja Paroquial), com as charrettes a fazerem barulho à sua porta, pegou nas malas e ofereceu ao concelho de S. Pedro do Sul uma outra obra notável, mais um Solar dos Malafaias, ou Casa das Quintãs, desta vez a beneficiar a localidade de Serrazes. Estamos em crer, e damos isso praticamente como certo, que este último edifício, pelo menos na sua traça e envergadura senhoriais, nunca ali seria levantado. Ganhou-se num lado, perdeu-se no outro. A derrota foi para Santa Cruz da Trapa, a vitória ficou a pertencer a Serrazes, mas com uma mancha dolorosa, anos mais tarde, que nunca mais desapareceu, a do crime ali cometido em 22 de Julho de 1917, comemorando-se daqui a um ano o primeiro centenário desse trágico acontecimento. Se deste aspecto falaremos mais abaixo, agora queremos centrar-nos naquilo que julgamos essencial nesta nossa ideia de trabalho para o jornal “Notícias de Lafões”: a perda lastimável de um património que se degrada de dia para dia. Pensando que aquele Solar não pertence ao domínio público, antes é propriedade de particulares, chegamos a ter suores frios quando ali passamos e nos confrontamos com tão grande abandono e com tamanho desperdício de um valor arquitectónico e histórico que, visto da estrada que o começou de “matar”, não pode deixar ninguém indiferente. No painel de motivos que o “Experimenta S. Pedro do Sul” ostenta, este local bem pode – e deve – ser assinalado com um destacado ponto negro. Situado em local estratégico, em vila agradável e atractiva, Santa Cruz da Trapa, está a curta distância da sede do concelho e também das Termas. Quando agora (e muito bem, como há dias frisámos) se tem na mira a recuperação do antigo Balneário Romano, ter esta mancha a dois passos não é assim muito agradável, para além de constituir um prejuízo cultural incalculável. Dir-nos-ão que as entidades oficiais pouco podem fazer. Talvez. Mas dar uns fortes empurrões, no sentido de ainda agarrar naquilo que pode ser salvo, também é verdade que temos de o aceitar e defender. Continuarão a argumentar: quem está de fora, não racha lenha. Seja. Mas em Lafões o que cá temos é muito nosso e a dor de ver desaparecer mais uma de nossas jóias atormenta-nos. Ao vivo, é esta sensação de perda que nos assalta quando por ali passamos. Olhando para o muito que se vai escrevendo e fotografando sobre esta matéria, temos os mesmos sentimentos, um pouco arrepiantes até. Foi isto que nos aconteceu quando pegámos no blogue “solaresebrasoes.blogspot.com” e descobrimos um álbum de fotografias que são um poderoso e monumental grito de alerta contra a apatia reinante. E um murro no estômago de todos nós. Ver as pedras, os símbolos, o brasão em situação de total derrocada não é flor que se cheire, mas é denúncia que deve merecer a nossa atenção. Se aqui, em Santa Cruz da Trapa, é este o deplorável ponto da situação, em Serrazes, a imagem do crime que lá aconteceu há quase cem anos também dificilmente se apaga, apesar de, em aspecto exterior, o Solar dos Malafaias (II), Casa das Quintãs, nos parecer ainda com bom aspecto e com ares de querer durar e prolongar-se pelos tempos fora. Pelo meio social em que se desenrolou, pelos contornos de que se revestiu, o acto cometido por José Bettencourt e Fernando Novais correu mundo e fez gastar muita tinta e verbo pelos Tribunais. Alegando que actuaram em abono e defesa da honra de Eugénia Malafaia, que diziam ter sido motivo de afronta por parte de seu primo, Dr. Augusto Malafaia, ali foram tirar-lhe a vida. Com quatro tiros, segundo as crónicas da época, deixaram-no cadáver e arrancaram para longe. Apanhados e condenados, numa primeira versão, em degredo e prisão para toda a vida, viram ser-lhes comutada a pena para 20 anos, numa outra instância e época, acabando, alega-se para aí, por aqui refazerem suas vidas, cumpridos que foram os anos de privação da liberdade. Com este tema a não ser bem conta do nosso rosário, remetemos os nossos leitores para o muito que então – e depois – se escreveu sobre este escaldante processo. Quanto a nós, ficamo-nos pelas vertentes patrimoniais, culturais e históricas de carácter mais geral, apesar de vermos neste episódio algo de muito grave, como facilmente se compreende. Uma morte é sempre uma morte e, quando a ela se chega pela violência, os nossos padrões filosóficos tremem por todo o lado. Por isso, nada mais dizemos por hoje. Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Solidariedade a valer para sempre...

Uma necessidade em ondas de solidariedade Economia social cada vez mais na ordem do dia Muito embora pareça coincidência com factos negativos e lastimáveis que, dizem, se passam numa determinada instituição, na zona de Lisboa, ligada ao campo da economia social, o certo é que, condenando, se for verdade, vivamente tudo o que ali tem sido praticado, pretendemos com este modesto trabalho tão só e apenas dar conta da acrescida importância deste sector na vida das nossas comunidades, a muitos níveis e em patamares altamente diversificados. Na região de Lafões, em cada um de seus concelhos, são muitos os exemplos, em apoios, que vão desde os bebés à terceira idade, avançando-se ainda para áreas mais especializadas como aquelas que trabalham com pessoas com deficiência. O mesmo se verifica um pouco por todo o país. A movimentar impressionantes números, este também chamado terceiro sector (muito embora haja em todas estas definições algumas arestas a limar, mas, grosso modo, assim se pode falar) constitui fonte de 6% do emprego remunerado em Portugal, representando 2.8% do VAB – Valor Acrescentado Bruto – e espalha-se por vários milhares de entidadesde, a gerar 14 mil milhões de euros em recursos. Nesta onda solidária, 93% das instituições são associações com fins altruísticos, havendo igual percentagem em matéria de IPSS – Instituições Privadas de Solidariedade Social. Há uma outra relevante ideia a reter: em praticamente todas estas instituições, é enorme o peso do voluntariado, talvez mesmo a dever ser considerado o seu facto mais saliente, quanto a modos de organização e funcionamento. Dada a sua amplitude, é óbvio que a economia social não pode suportar-se apenas nessa excelente força humana, porque as suas funções e exigências carecem de pessoal efectivo e, sobretudo, com altas especializações. Mas, em sintonia, a componente voluntária e a profissional fazem o milagre quotidiano de fazer as pessoas, que tanto precisam destes serviços, muito mais felizes e, a uma outra luz, a poderem beneficiar dos direitos que lhes pertencem totalmente, consagrados na nossa Constituição e nas normas internacionais. Uma constelação de esperanças Tal como nos diz Rui Namorado (Faculdade da Economia da Universidade de Coimbra), toda a economia social é uma constelação de esperança, sendo, por isso, um espaço de realização de sonhos de todos e de cada um de nós. Para que tal se torne viável e concretizável, defende o OBESP – Observatório da Economia Social em Portugal – que tudo se tem de processar no respeito pela dimensão humana, no combate à exclusão social, na vontade de promover a realização individual, numa visão democrática e participada de toda a organização, na primazia das pessoas, na defesa da responsabilidade e numa abordagem diferente da actividade sócio-económica dita normal. Porque é de respostas a necessidades socais que se trata, sendo, por isso, algo de bastante melindroso por se relacionar com a fragilidade da pessoa humana, requer cuidados e abordagens muito especiais, muito solidárias e muito generosas. Estando nós em altura de Natal, temo-lo todos os dias nas nossas IPSS e afins, tais como Misericórdias, Centros Sociais, ASSOL, Bombeiros, CLDS, RLIS, associações diversas e outras valências por aqui existentes. Há também que deixar uma palavra de apreço para outras formas de cooperação com o próximo que, não sendo institucionais, são de uma mais-valia sem par: pensamos, neste caso, nos cuidadores onde quer que eles estejam em acção. Com a solidariedade como sua marca indelével, a economia social impõe-se cada vez mais. Hoje, porém, muito diferente do que foi noutras épocas, por aqui e por esse mundo fora, devido aos tempos novos que vivemos. Carlos Rodrigues, 28 de Dezembro de 2017, in “Notícias de Vouzela”