quinta-feira, 1 de março de 2018

300 anos do Ducado de Lafões, 1718/2018

Título do Duque de Lafões com trezentos anos A 13 de Fevereiro de 1718, D. João V, um mãos largas, como se viu pela obra que mandou erguer no Convento de Mafra, premiou seu familiar e afilhado, Dom Pedro Henrique de Bragança, com uma prenda de encher o olho e as algibeiras, oferecendo-lhe o título oficial, e pela primeira vez, de Duque de Lafões. Assinalam-se, agora em 2018, trezentos anos desse acto solene, que viria a ser confirmado por carta de 5 de Novembro desse mesmo ano. Nascia então a figura do nosso 1º Duque. Numa história que se foi construindo ao longo destes três séculos, esta realidade jamais deixou de fazer parte do nosso dia a dia. Era seu pai D. Miguel de Bragança que já detinha este ducado, por tradição, e que, por sua vez, era filho legitimado do rei D. Pedro II, a partir de uma relação extra-conjugal com D. Ana Armanda de Vergé. Tendo-se casado D. Miguel com D. Luísa Casimira de Sousa Nassau e Ligne, filha única da 5ª Condessa de Miranda, 2ª Marquesa de Arronches, 29ª Senhora da Casa notabilíssima de Sousa, tendo ainda muitos morgados e padroados, como se nota em “ Inventário de Lisboa, 1719, Norberto de Araújo, fasc. VIII, CML, 1950”, tudo se vinha a conjugar para a edificação de um enorme império senhorial e territorial. Com uma continuidade que ainda perdura, muito embora de uma forma algo simbólica, que a República, a partir de 1910, extinguiu estes cargos e distinções da monarquia, ao Ducado de Lafões se associou, sobretudo num vasto período de alguns séculos, um invejável património, tendo mesmo sido uma das grandes casas reais de então. Se do lado paterno havia alguns pergaminhos, o grosso da coluna, em bens, gera-se na fonte materna de D. Pedro Henrique de Bragança, que vem a herdar os morgados pertencentes à Casa de Arronches, passando a ser o I Duque de Lafões, III Marquês de Arronches, VII Conde de Miranda, Senhor do Concelho de Lafões e das villas de Miranda, Corvo, Folgosinho, Soza (Vagos), Podentes, Vouga, Oliveira do Bairro, assim como detentor das Comendas de S. Vicente de Vila Franca de Xira, Santa Maria da Golegâ, Nossa Senhora das Olhalhas, Santa Maria da Marmeleira, da Alcaidaria-Mor de Tomar, dos dízimos dos moinhos da Ilha da Madeira e de muitos outros haveres nos Açores, em Braga, no Porto, na Guarda, em Coimbra, em Évora, Aveiro, Gouveia, bem como se tornou Regedor das Justiças da Casa da Suplicação, entre outros cargos e funções. No meio deste universo patrimonial, Lafões ocupa um lugar de destaque e entra na alta roda da riqueza do seu primeiro Duque com título oficial dado pela própria casa real. Como D. Pedro faleceu sem deixar descendentes, veio a suceder-lhe (1761) seu irmão D. João Carlos de Bragança Sousa e Ligne, talvez o mais destacado dos nossos Duques de Lafões. Para começar, tropeçou logo na teimosia do rei D. José I, por pressão do Marquês de Pombal, em conceder-lhe o título (2º Duque) em causa. Sem ficar de cara à banda, amuado e a lamentar-se, D. João Carlos fez desta desventura o ponto forte da sua vida e da sua formação. Armado de uma grande força de vontade de viajar e continuar a aprender, ele que cursara direito canónico em Coimbra, parte para a Europa e deste vasto continente faz mais uma universidade da sua vida. Aventureiro, foi para a Inglaterra, onde o seu Royal Society o elegeu como sócio. Daqui, deu um salto para a Áustria, onde lutou contra os exércitos de Frederico II da Prússia na Guerra dos Sete Anos. Conviveu ainda com artistas, músicos e a fina flor das academias por onde andou, o que, mais tarde, lhe viria a ser muito útil. Nunca contente com os lugares que foi conhecendo, a ânsia da descoberta atirou-o para a Suíça, Itália, França, Egipto, Trácia, Grécia, Frígia, Lídia, Tessália, Mesopotâmia, Prússia, Polónia, Suécia, Dinamarca e Lapónia, entre outros locais. Verdadeiro cavaleiro andante, cada viagem foi aproveitada para acrescentar novos saberes à sua já cultura enciclopédica. Tudo isso lhe deu bagagem acrescida, no plano da ciência e do conhecimento, na hora do seu regresso a Portugal, o que veio a acontecer já no reinado de D. Maria I, a Viradeira, como veremos numa próxima edição. Cheio de garra, a sua vida ainda vai dar muito que falar... (Continua) Carlos Rodrigues, in “Notícias de Lafões”, 1 Mar2018

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